Opinião

Opiniao 12955

E agora, José?

Walber Aguiar*

A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou.

                                                                             Drummond

Era um dia como outro qualquer. Talvez nem fosse. Afinal era o dia quatro de outubro de 2020. Um lugar especial no calendário. Dia de Josés e Franciscos, de santos e homens colhidos pela luz, pelos pássaros, pela grandiosidade. Dia dos bichos que conversam com gente, de gente que dialoga com cães e gatos, aves e lobos. Dia de luz e festa, ainda que trevas e tristezas estivessem sempre por perto, no afã de roubar nossa alegria, paz e luminosidade.

Era o dia do menino que não foi anunciado por anjos, mas foi acalentado por gente disposta a cuidar e amar, educar e compreender a trilha, o caminho , os conflitos e aventuras marcadas pelos pequeninos pés que se enxergavam agora em perspectiva. Num tempo em que somos açoitados por dúvidas e inimigos invisíveis, José aparece como aquele que apresenta a fé como elemento que robustece o caminhar, como sendo a chama bruxuleante que clareia a escuridão e faz do mundo um lugar, digamos assim, mais suportável.

José não nasceu na manjedoura, mas experimentou a graça dos que por ela foram impactados; entendeu o brilho no olhar de toda aquela gente bonita que o rodeava, num misto de contemplação e alegria. Nascia junto com o menino a celebração. Experimentaria os dias de adversidade, mas a festa jamais acabaria. Embora a luz apagasse e o povo um dia sumisse, José seria açambarcado pela grandeza e sabedoria de um Francisco, de um ser tomado pela estética do imanente, pela beleza da concreção histórica, pela singeleza do transcendente.

Sim, ele nascera no enigmático quatro de abril. Dia de Santos e Silvas, de Franciscos e tantos outros que impactaram e impactam o espaço tempo que ocupamos. O menino gorducho e rosado saíra da geografia uterina e saltara na direção do desconhecido, de um universo frio, mudo e assustador. Naturalmente, seria contemplado pela mão abençoadora dos pais e por todos os cuidados do Deus que amava as crianças e abençoava os mais profundos e ternos traços da inocência.

Era o dia 4 de outubro. Nunca seria um dia qualquer, nem uma data a mais no desgastado calendário. Era o dia de Francisco, o santo; o dia de José Miguel, um menino cheio de vida e renovação de todas as coisas…

*Advogado, poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras

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Amar ao próximo como a ti mesmo

Marlene de Andrade

  

“Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mateus 25: 35- 36). 

Aos domingos, nos cultos solenes da minha Igreja, em vez de sair de lá exultando de alegria, saio cabisbaixa, percebendo que sou uma folhinha seca, voando ao sabor do vento, cheia de mazelas, uma pecadora, pois ainda guardo mágoas e isso é pecado. Essas admoestações me levaram a pensar que é bom sermos estimulados perceber o quanto ainda precisamos crescer para alcançarmos a estatura de varões perfeitos. Eu tento fazer isso, mas, às vezes, percebo que ainda falta muito para eu me aperfeiçoar.  

Um jovem da Igreja, da qual eu frequento, tocou em um assunto que me fez ficar envergonhada diante de mim mesma e profundamente arrependida, pois eu nem olhava para os rapazes que ficam tomando conta de carros nos pontos de estacionamentos de nossa cidade. Eu não estava nem aí para esse segmento de pessoas humanas tão, como disse o irmão, excluídas. Em vez de nutrir por eles o amor ágape, ou seja, o amor incondicional eu os tratava com indiferença achando que eles iriam até me assaltar a qualquer momento. Isso era um pecado oculto. E o pior é que eu nem me tocava que isso era pecado.

  

Que desamor! Por que não me colocava no lugar deles, muitas vezes pobres moradores de rua, tantas vezes vilipendiados, escorraçados e humilhados por pessoas que, como eu nunca pensa em se colocar no lugar deles. Quanto sofrimento passam largados à própria sorte!  Que situação lamentável é agora descobrir que não posso fazer nada por eles a não ser, pelo menos, sorrir-lhes.  

“… o outrora altivo discípulo, segue caminhando, mancando, num ritmo mais lento…; a sua beleza não é espelho de Narciso, antes é reflexo da imagem do Cordeiro projetada ainda que de forma distorcida pela silhueta da sua carcaça, a qual prossegue avante, rumo ao dia da sua redenção final… Hoje eu vi que o peregrino mais uma vez parou e exclamou baixinho, antes de continuar a sua jornada diária e penosa: Bendita a mensagem de esperança, essa mensagem da Cruz!… E assim prosseguiu puxando a sua perna, para mais um dia na sua jornada peregrina nesta terra cheia de sabores e dissabores, palco de tragédias…” (Pastor Raimundo Montenegro).  

E eu, o que me resta a dizer, senão que sou uma pecadora, também peregrina, puxando as minhas pernas espirituais? O que me resta a não ser, aguardar do Senhor a Sua Infinita e Perfeita Misericórdia?  

Título de Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT Técnica em Segurança do Trabalho/SENAI-IEL  

  

 

Sorte ou preparo?

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Engraçado… costumam dizer que tenho sorte. Mas só eu sei que quanto mais me preparo mais tenho sorte”. (Anthony Robbins)

Sempre me pareceu um contrassenso ficar esperando pela sorte. Contar com a sorte é não confiar em si mesmo. É como não confiar em Deus. Quando confiamos em alguém não temos por que ficar lhe pedindo o que ele nos franqueou. A melhor maneira, ou até mesmo a única, é se preparar para o futuro. E o futuro é amanhã. E o produto do que você fará amanhã será resultado do que você aprendeu hoje. Você pode até levar isso em brincadeira, mas aprenda todos os dias, nas observações na renomada e desconhecida, Universidade do Asfalto.

Seja um observador autêntico. Mas, nas observações não perca tempo, prendendo-se ao que não lhe interessa. Mesmo porque o que lhe interessa ou não interessa é sua evolução que vai lhe dizer. Porque só os despreparados perdem tempo com coisas e acontecimentos desagradáveis. A vereda está permanentemente aberta. Vá em frente. Você é o dono do seu destino. “Ninguém, além de você mesmo, tem o poder de fazer você se sentir feliz ou infeliz, se você não estiver a fim”. Leve isso em consideração e você sempre vencerá. E quem vence cresce.

Os pessimistas dizem que a vida é um pandeiro sem fundo. Até pode ser, mas quem sabe tocar não se apoquenta com a falta de fundo no pandeiro. Somos todos iguais. Sabemos que é difícil acreditar nisso. Mas a dificuldade está em não entender isso. Se somos todos da mesma origem, então somos iguais. Sair do fundo do poço depende da capacidade de escalar as paredes. E só aprendemos com o cotidiano. E é neste que estão as veredas que devemos tomar sem a necessidade de perguntar para o sapo, que caminho tomar.

Você nem imagina como eu gostaria de estar caminhando, neste momento, pelas ruas de Boa Vista, observando tudo à minha frente. Com certeza teria algo interessante, para lhe contar. Mas a pandemia me mantém numa prisão domiciliar injusta. Mas isso faz parte da vida. Aí recorro à Mirna Grzich: “Bendita crise que está reciclando tudo”. Porque é com as crises que aprendemos a vencê-las. Vamos vencer a atual com racionalidade, sem blá-blá-blás tolos.

Tenha um dia de razões para ser feliz. Porque oportunidade é o que não vai lhe faltar. É só você estar atento e percebê-las, à sua volta. Aí ponha um fundo no pandeiro e divirta-se com ele, espantando a crise que, com certeza, não é maior do que o poder que você tem na sua mente. É só você aprender a usá-la de maneira adequada para ser feliz. E você pode. Você tem tudo de que necessita para viver a vida na caminhada da racionalidade. Pense nisso.

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