Reforma da Previdência! Uma narrativa mentirosa do Governo do PSL – Fábio Almeida* Parte 2
Com o advento da Constituição de 1988 e a definição das formas coletivas e diferenciadas de financiamento da seguridade, o patrimônio da Previdência começa a solidificar-se novamente. Em meados da década de 1990, surge a mão dura do governo que começa a utilizar os recursos para finalidades diversas. Apesar das restrições existentes na Constituição, a desvinculação de receitas da união (DRU) atinge diretamente a seguridade social, hoje 30% dos recursos podem ser retirados da Seguridade Social. Entre 2005 e 2015, estima-se que foram retirados da seguridade algo em torno de R$ 519 bilhões, recursos do caixa da proteção social foram direcionados principalmente para pagamento de especuladores financeiros e bancos.
Somada a essa realidade de uso indevido do dinheiro da seguridade social, temos também a sonegação das empresas, muitas das vezes além de não recolher a parte patronal sequestram os recursos financeiros deduzidos da parte salarial do trabalhador, não repassando ao INSS. O passivo de débitos com o INSS soma algo em torno de R$ 450 bilhões. Entre os maiores sonegadores, encontram-se a JBS e a Caixa Econômica. O governo sonega recursos para seu próprio sistema de amparo social.
Quando escutamos o discurso do deficit previdenciário propagado pelo governo do PSL, com apoio da mídia televisiva, criamos expectativas negativas. Tendemos a aceitar o encaminhamento de que a culpa é da Previdência. Os recursos para geração de empregos não surgem porque gastamos com a Previdência! Essa é a retórica do governo.
Ao analisarmos os dados disponíveis em relatórios da ANFIP (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), percebemos que o governo mente descaradamente à sociedade brasileira. Analisando a arrecadação da Seguridade Social, onde a Previdência insere-se, entre os anos de 2005 a 2015, os dados foram: arrecadação, R$ 3,38 trilhões, e despesas, 3,02 trilhões. Como percebemos, o saldo positivo na balança é de R$ 360 bilhões. Então, por que o governo anuncia que existe deficit? Lembremos que pouco mais de R$ 500 bilhões foram desviados de finalidade neste período. Essa é a realidade da expropriação feita pelos governos.
Quando o governo expõe suas tabelas, deixa de apresentar como receitas os ganhos financeiros dos fundos existentes na seguridade social, a exemplo do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), recursos estes apropriados pelo governo normalmente no Orçamento Fiscal da União, bem como apresentam como receitas as desonerações dadas às empresas. Apesar dos recursos não comporem as fontes de financiamento da seguridade, pois consistem em operação contábil fictícia, este rombo representa cerca de R$ 165,4 bilhões entre os anos de 2005 e 2015.
Ao vermos, a Seguridade Social sofre um ataque direto de especuladores e empresários que submetem o interesse do povo brasileiro à ampliação de seus lucros pessoais. A DRU e as desonerações impõem prejuízos bilionários à Previdência. Agora, o governo quer impor a conta aos trabalhadores.
*Historiador. Especialista em Gestão Ambiental. Candidato ao Governo de Roraima em 2018 pelo PSOL.
A escola serve para quê? – Jessik K. Custódio Pereira*
Entender a aprendizagem requer um esforço além do trabalho com materiais potencialmente significativos ou a denotação da importância que tem o professor na relação ensino-aprendizagem. A aprendizagem é influenciada pelo que o aluno já sabe, e novas aprendizagens serão consideradas relevantes quando as informações estiverem claras e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo funcionando como ponto de partida para novas ideias e também conceitos.
Analisando aquilo que o aluno já sabe, o profissional deverá se utilizar de etapas para apresentar novas informações para garantir algum tipo de aprendizagem. Há também que se considerar a motivação como etapa zero dessa jornada. Pois, quando considerada a etapa zero, podem-se inferir estímulos que despertem ou agucem a motivação do aluno em querer participar da sequência que foi previamente planejada pelo profissional em sua intervenção.
As orientações prestadas são a mola propulsora para as atividades de cunho educativo. Assim, uma estrutura bem organizada das orientações que o professor vai fornecer, por exemplo, se tornam a peça-chave para a condução de uma gama de ressignificação ou da aquisição de novos conceitos para cada indivíduo contribuindo para um processo de aprendizagem significativo.
Particularidades como desmotivação e incômodo geralmente são apresentados em crianças com dificuldades de aprendizagem, por exemplo, o que pode gerar sentimento de incapacidade levando-as à frustração. Tais sentimentos afetam a percepção do aluno sobre si e o mundo, o que por sua vez implicará em uma aprendizagem com rupturas e sem qualidade. Sabemos que crianças aprendem assuntos diferentes de diferentes maneiras, e há que se considerar também que nem todos os alunos conseguem aprender todos os assuntos com a mesma facilidade. Então, devemos valorizar aquilo que a criança sabe a fim de fortalecer a sua autoestima e despertar o interesse de desenvolver suas habilidades naqueles assuntos que ainda não domina.
A escola é o espaço físico e social onde tudo acontece, indivíduos provenientes de lares com histórias singulares se reúnem num mesmo lugar com objetivo inicial de ensinar e aprender, e espera-se que nesta troca a rede de apoio da sociedade do futuro vá sendo construída atendendo aos preceitos científicos e morais predeterminados. Esses indivíduos, ao se relacionarem, desencadeiam situações diversas que podem gerar o que chamamos de questões sociais, e é em cima destas demandas que a educação pode trabalhar ações pontuais de resolução de problemas.
O significado de estar inserido em determinadas realidades, ou ainda o meio no qual o indivíduo está inserido, remete ao entendimento de que culturas são aspectos das sociedades humanas que são aprendidos e não herdados. Podemos entender que se trata então de quaisquer elementos que venham a ser compartilhados por indivíduos pertencentes a um mesmo grupo, e podemos identificar também que estes mesmos elementos servem de comunicação e expressão para seus membros.
Pontua-se aqui, então, que estes elementos podem ser entendidos como aqueles intangíveis bem como aos tangíveis. Tal classificação nos ajuda a entender como crenças, ideias e valores podem ser considerados características culturais de um determinado povo tanto quanto objetos, símbolos e tecnologias podem representá-los. Todas essas representações culturais são consideradas ao longo do tempo parte da história de um povo e entender o significado dessas representações é entender como podemos ser capazes de ofertar processos de ensino melhores que de fato atendam aos anseios de cada povo, considerando sua singularidade. Esse entendimento afasta as barreiras comumente impostas por grupos preconceituosos e fortalece o uso do diálogo para a construção de uma humanidade mais consciente. Esse entendimento sobre a pluralidade de culturas move ainda uma engrenagem capaz de modificar todo o sistema de valores aprendidos por seus membros e influenciar no resultado final da chamada cultura. Assim, o trabalho daqueles que se debruçam por entender as diferentes culturas e seus impactos nas sociedades não s
e esgota, pois sempre que um dos elementos se modifica, toda a construção de cultura adotada pela sociedade se modifica também.
Diante dessa afirmativa, poderíamos inferir então que apenas os valores construídos em sociedade são os fatores determinantes da cultura de um povo? Estariam todos então sendo guiados por crenças centrais e totalmente norteadoras sobre o modo de vida de todos os indivíduos? Se tais questionamentos resultassem em respostas conclusivamente positivas, os conceitos de identidade perderiam seu valor e, portanto, também sua aplicabilidade. A identidade está relacionada com a percepção que as pessoas têm sobre o que consideram importante. Assim, teremos a admissibilidade da chamada identidade social e da identidade pessoal, entendendo que ambas convergem para a construção da cultura amplamente aceita na sociedade na qual se está inserido. Sendo a escola esse espaço de construções e reproduções sociais, tanto positivas quanto negativas, é nesse mesmo espaço que se rompem e se modificam as estruturas societárias. A escola é capaz de influenciar nas escolhas individuais de seus alunos e estes, por sua vez, romperem com culturas que afetam negativamente seu modo de vida.
*Psicóloga Educacional e Mestranda em Ensino de Ciências pela UERR.
A experiência adquirida – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“A experiência é uma lanterna dependurada nas costas que apenas ilumina o caminho já percorrido.” (Confúcio)
Você nem imagina a experiência que tenho adquirido aqui na Ilha Comprida. O fluxo de turistas é impressionante. E como não consegui, até agora, nem vou mais conseguir, me livrar do hábito de observar as pessoas, vou acumulando experiências. Já enchi a sacola nessas muitas décadas de vivência. Às vezes, a sacola pesa. Mas o mais gostoso é que, pela idade que tenho, estou começando a me esquecer. Às vezes, isso até me faz bem. Muitas vezes me lembro do que deveria ter me lembrado antes, e começo a sorrir, pela rua. Aí, quando chego em casa, sento-me ao computador e fico um tempão tentando me lembrar do que me lembrara na rua. Aí, desisto e falo de algo que não tem nada a ver.
Semana passada, minha filha estava nos visitando, aqui na Ilha. Ela mora no Rio de Janeiro. Ela nasceu ali, de onde nunca sairá. É um desses cariocas que para eles o mundo começa em Nova Iguaçu, acaba em Niterói, e o resto é o resto. À tarde, saímos e fomos à construção do Alexandre, no Balneário Lusitano. Já na volta, fomos bater um papo de praia com o vizinho do Alexandre. As conversas, nem dá pra imaginar. Todos turistas. Um blá-blá-blá de tirar o sono. Muito legal. Até que o vizinho falou do dia em que plantou umas sementes de maracujá. Mas logo que a planta começou a crescer, ele teve que cortá-la porque ela estava subindo pelo muro. E ele não sabia que o maracujazeiro subia pelas paredes. Tive que ficar firme para evitar risos incômodos.
A conversa continuou e percebi que minha filha franziu a testa e ergueu o braço, pedindo a palavra:
– Comigo aconteceu exatamente o contrário. Eu moro no Rio, num apartamento, mas não sabia que o maracujazeiro subia pelas paredes, então resolvi plantar um, na área do apartamento.
Ninguém riu, mas todos ficaram olhando pra ela. E ela explicou:
– Eu não sabia que ele subia, e plantei um. Só que até hoje ele não brotou. Nunca nasceu. Alguém pode me explicar o porquê?
Aí um aventureiro perguntou:
– Como foi que você fez com a semente?
– Não… Foi assim, oh: eu comprei um vaso, adubo e tudo mais. Coloquei tudo no vaso, abri um buraco no adubo, joguei o maracujá no buraco e o enterrei. Mas ele nunca brotou.
O silêncio foi total, nos olhos arregalados. E aí, o mal-educado que eu sou não resistiu ao riso, curvou-se, colocou a cabeça sobre o joelho, e disparou o riso. Aí todos riram, e não foi pouco. Ela arregalou os olhos e perguntou?
– Que foi que houve? Fiz alguma tolice?
– Não… magina… Plantar um maracujá inteirinho é normal.
Pense nisso.
*Articulista [email protected] 99121-1460