Opinião

Opiniao 13 08 2016 2836

Temer pode ser a gota d’água – Jaime Brasil*Nada poderia lembrar mais o Brasil Colônia, do que termos uma festa rica diante da pobreza e da miséria. As Olimpíadas em um país tão desigual são um escárnio.

São bilhões de dinheiro público gastos em um evento privado (sim, porque se trata de um evento particular, do COI), que, para não ter penetra, precisa das Forças Armadas e da Força Nacional na terra, no mar e no ar. Alguém mais meditativo poderia perguntar: e quem irá proteger o povo de Temer?

E a festa segue, enquanto Temer saqueia o bolso dos trabalhadores para alimentar os chacais, raposas e abutres do mercado financeiro.

Não é a pobreza que causa violência. É a desigualdade. E nisso somos medalha de ouro há mais de cinco séculos. Há muitas sociedades com poucas “riquezas” e que são relativamente pacíficas e harmônicas. Mas, a desigualdade ninguém tolera, porque em nenhum lugar está escrito que um nasce para viver bem e o outro para padecer e sofrer até morrer.

Não é aceitável oferecer a um adolescente da periferia de Boa Vista, por exemplo, o argumento de que é justo o fato de que ele teve, e tem, uma educação formal muito pior do que o rapaz da classe média, e, que, por isso, o “destino” dele é trabalhar no pesado, ganhar pouco a vida toda e sofrer até morrer. Quem aceitaria isso?

E não me venham com exceções para justificar a grande mentira das teorias meritocráticas. Este país vive de exceções, de um ou outro que fura o bloqueio da Casa Grande e vai além. Esses são poucos e raros.

Um país não se constrói de exceções, se constrói com regras. E a regra básica deveria ser: educação de qualidade para todos. Isso é o mínimo. Só que isso não vai acontecer tão cedo, porque por mais que trabalhemos e produzamos riquezas para financiarmos uma boa educação pública, os nossos recursos são todos destinados ao pagamento de juros aos banqueiros e especuladores.

Estamos sempre por pagar uma dívida imoral, ilegítima e impagável. Não há dinheiro para nada, somente para o “equilíbrio fiscal”, leia-se “superávit primário”, leia-se tirar dinheiro da saúde, da educação, da segurança, da infraestrutura, dos direitos dos celetistas, dos salários dos servidores públicos, da aposentadoria dos velhos e enfermos, da assistência social, da ciência e da tecnologia, da cultura etc., e mandar para as contas dos banqueiros.

Só há uma coisa sagrada para essa gente que consegue se alçar ao poder no Brasil: pagar a quem lhes paga. Dar dinheiro aos especuladores, banqueiros e grandes capitalistas e receber, em troca, dinheiro para campanhas políticas que, na última hora, compram votos daqueles que eles próprios tornaram miseráveis e pedintes.

Temer não tem vergonha para fazer o que vem fazendo, apresenta com ar professoral as mais absurdas propostas como se nada representassem. Só mesmo um constitucionalista para saber como melhor rasgar a Constituição.

Temer chegou ao poder querendo fazer mais rapidamente aquilo que Dilma havia começado a fazer paulatinamente. Ataca todos os direitos de todos os trabalhadores, de todas as categorias. Ameaça o celetista com a terceirização (precarização) das relações de trabalho; já deu ordem para rever e dificultar o acesso aos benefícios oferecidos pelo INSS; mandou rever o bolsa família com o objetivo de cortar beneficiários; quer colocar todas as garantias trabalhistas abaixo de acordos entre patrões e empregados, inclusive décimo terceiro e férias, quando se sabe que em tempos de crise esse tipo de acordo tem outro nome: chantagem; manteve o inciso I do art. 4º do Projeto de Lei Complementar nº 257 que engessa órgãos e poderes, além de outros artigos que impedem o aumento de investimento em saúde e educação; ameaça dar a última reserva do trabalhador para os banqueiros, com o uso FGTS para garantir empréstimos consignados; apresentou a PEC Nº 241 que promete congelar investimentos públicos em absolutamente todas as áreas, inclusive saúde e educação, por 20 anos. Se já está ruim agora, se os serviços públicos já não atendem às demandas da sociedade, imaginem 20 anos sem concursos públicos e sem investimento real em nenhuma área dos serviços públicos.

O pacote de malvadezas de Temer não tem fim, e olha que estamos a poucos meses das eleições municipais. Já pensaram o que virá depois?

O fato é que a história tem nos ensinado que é impossível represar a injustiça social eternamente. Estamos lutando por justiça social há séculos, e sempre há retrocessos quando os avanços parecem finalmente acontecer. PT e Cia traíram o povo já no primeiro ano de governo, aprovando a reforma previdenciária de 2003, que nada mais foi do que o aceno aos banqueiros de que o “dinheiro deles” estava garantido. O mesmo que está acontecendo agora com Temer, e o mesmo que aconteceu com FHC que retirou inúmeras garantias dos servidores públicos, e, que, redundou nos Estados reformas parecidas. Aqui foram capitaneadas por Neudo Campos que à época, próximo às festas natalinas, quando ninguém prestava muita atenção, fez passar a atual Lei Estadual Nº053, de 31 de dezembro de 2001, que roubou inúmeros direitos dos servidores públicos estaduais, até então garantidos pela revogada Lei Estadual Nº 010.

Ocorre que a justiça social será feita, por bem ou por mal. Acreditem. Ninguém deve acreditar que a nossa desigualdade será aprofundada, como querem os atuais governantes, sem que nada venha a acontecer.

A desigualdade no Brasil sempre foi abominável e a sociedade muitas vezes esteve prestes a explodir.

Temer pode ser a gota d’água para o caldo social entornar.

A violência já está nas ruas, de forma caótica, disforme, sem direção. São criminosos pobres atacando cidadãos pobres, e outros nem tanto. São criminosos ricos, de colarinho branco, atacando a população pobre e se encastelando em muros altos, carros blindados e cercas elétricas.

A justiça social virá. Mas, antes disso, se não houver uma mudança radical dos caminhos que estamos tomando, muito sangue inocente será derramado, muita ignorância e intolerância será produzida. O ar do Brasil se tornará irrespirável, como já começa a acontecer.

Somente o povo no poder poderá pacificar o próprio povo. A ordem para o povo e o progresso para a burguesia, como querem alguns, apenas alimentará a fogueira da injustiça e, por consequência, da revolta e da violência.

Vivemos tempos decisivos para nós e para as próximas gerações. É preciso que as forças progressistas honestas e comprometidas com as transformações estruturais se reaglutinem e apontem caminhos para sairmos desse labirinto de dor, sofrimento, abandono e injustiça no qual estamos há séculos.

A resposta do povo virá, de um jeito ou de outro.  *Defensor Público——————————————-A TROPA DE CHOQUE DE DILMA – Percival Puggina*Poucos fatos representarão tão significativamente os episódios deste ano no julgamento do impeachment quanto à sofreguidão com que sua tropa de choque tratava de ganhar tempo. Como se o tempo fosse dinheiro. Era um apetite insaciável, que se empanturrava de cada segundo para somar meses, fechar o ano. Tempo, tempo, tempo! Uma voragem. Ele foi caçado assim, como grande tesouro, porque, paradoxalmente, viam-no como se fosse tudo, ainda que a nada mais servisse. A melhor expressão do que descrevo era proporcionada pelo senador Lindbergh Farias, qual menino birrento, quase choroso, gritando ao microfone, sem parar: “Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo! Eu quero o meu tempo!”. Por vezes tive certeza de que um chicabom amainaria aquele surto. O pacientíssimo senador Raimundo Lira entregaria o picolé ao garoto e o afagaria dizendo: “Pronto, pronto, passou…”. Importa menos, no caso, o direito de peticionar o tempo regimental e mais a conduta própria de quem atravessou a infância e a adolescência longe dos limites adequados ao convívio social. Ele não estava só nisso. A tropa de choque que defendia a presidente Dilma na Câmara e no Senado aprendeu a fazer política nos baixios onde a mistificação se exibe como sabedoria, e a mentira, cobrando reverências que a verdade dispensa, é repetida de modo incessante porque não há verdade alguma a ser dita sem imensa desdita.

Foram meses disso! Agora, por fim, prenunciam-se os últimos atos de um processo tão volteado e circunvagado no andar quanto retilíneo no objetivo. Tão demorado quanto urgente. Foram meses durante os quais o bem nacional foi desprezado pela defesa de um governo insanável e pela atuação de um grupo político que deixou o constrangimento nos jatinhos das empreiteiras e nas lavanderias do dinheiro mal havido. O povo, o povo simples e humilde, vítima preferencial do desemprego, da inflação e da recessão que o governo petista semeou, plantou e colheu, foi o grande esquecido nas longas e procrastinatórias sessões que a tropa de choque petista transformou em trincheiras contra o Brasil.***Por mais que os próprios senadores favoráveis ao impeachment esqueçam de mencionar, ele nasceu, cresceu e se tornou inevitável na voz das ruas. Por isso, a tropa de choque petista no Senado conseguiu a proeza de falar durante meses a fio sem jamais referir o povo, mencionar a nação ou dirigir uma palavra aos desempregados, às empresas cujas portas se fecharam, aos desatendidos do SUS, às vítimas da violência, nem aos saqueados pela organização criminosa que governou o país.

O Brasil que produz, que quer trabalhar e empreender, que deseja estudar, tem pressa. O cotidiano impõe urgências às famílias! Mas que se danem os brasileiros! A estes jamais foi sensível a arrogante tropa de choque do governo Dilma. Falando por seus representantes no Senado, a Orcrim furtou-nos, segundo a segundo, meses a fio, um tempo tão essencial à nação quanto inútil para quem dele se apropriava. Quando nada mais havia a arrebatar, saquearam-nos um precioso tempo. *Membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org.——————————————Só quando nos amamos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Quando me amei de verdade, descobri que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato”. (Charles Chaplin)Na verdade, nós estamos onde nos colocamos. Quando nos amamos não temos por que estar no lugar errado. Nem sempre estamos livres dos maus momentos. Eles fazem parte da vida. O importante é que tiremos de letra. Mas para isso temos que estar de bem conosco mesmo. E só conseguimos isso quando nos amamos. As coisas boas e belas, tanto quanto as ruins e feias, estão à nossa volta a todos os momentos. Não sei se você tem a mania que tenho, de observar o semblante das pessoas. É no semblante delas que vemos o que elas são. O importante é que você não queira dar uma de leitor de pensamentos ou coisa assim. 

Procure ser uma pessoa feliz. Só assim você transmite felicidade. E isso pode ser simplesmente com sua presença. Quando estamos de bem conosco, transmitimos o bem. E você não precisa se preocupar com isso, basta ser feliz. Basta amar a si mesmo. É difícil, mas sé simples pra dedéu. Ontem dei uma caminhada com a dona Salete, pelas ruas do bairro, pela manhã. E olha só o que aconteceu. Ela vinha caminhando, quando de repente parou, ficou olhando para um bueiro maltratado, na esquina da rua maltratada. Ela se aproximou do bueiro e exclamou, derramando alegria:

– Sinhooo… Olha que coisa mais linda!

Sem querer ser desagradável, já que também tinha visto o que ela vira, falei meio rabugento:  

– Não estou vendo nada de importante.

– Como não? Olha só essa florzinha! Coisa mais linda! Ah, eu quero ela lá no quintal. Daqui a pouco você vem buscá-la e é assim, oh…

Ela ficou minutos a fio, ensinando-me como arrancar a plantinha que é apenas uma erva daninha, dessas que estão por aí, em todos os lugares e nem lhes damos atenção nem importância. Mas a florzinha é realmente um encanto. Daqui a pouco irei arrancá-la e trazê-la para o quintal, antes que a dona Salete comece a me cobrar. Aprendi, mais uma vez, que apesar de todos esses anos de convivência, ainda tenho muito que aprender com ela, na simplicidade da vida. Se daqui a pouco você passar ali pela esquina da rua Gaúcho Dias com a Lobo D`Almada e me vir agachado e arrancando uma erva daninha e colocando-a num saquinho, não ria. Apenas olhe para mim e veja com estou feliz em fazer o que deve ser feito para fazer alguém feliz. A felicidade está em nós mesmos. O importante é que saibamos ser felizes na simplicidade. E isso só se consegue com amor. Pense nisso.*[email protected]