Opinião

Opiniao 13 12 2016 3379

Amor, antigo amor – Walber Aguiar*Não chores as coisas velhas com lágrimas novas                                                             provérbio gregoFechada a porta, restou apenas o silêncio e a solidão. Mas, aberto o janelão da lembrança, a vida ganhou mais corpo, tessitura, densidade. Isso porque, conquanto dolorosa, a ausência, produto da separação, toca no nervo exposto da fragmentação afetiva. Toda separação é traumática, e todo trauma requer tempo e adaptação. Se fomos feitos para o outro, como seres perdidamente gregários, então é melhor seguir adiante. Depois, durante o percurso, pensaremos no dia seguinte, no ano que vem, no tempo que resta.Ora, o amor é soberanamente delicioso. Ele segue livre e sem rédeas. Feito “cavalo selvagem” no campo do coração, não se deixa domar pelo medo ou domesticar por qualquer tipo de jugo que se apresente. Solto no pasto do sentimento, o alazão que nos habita o peito resfolega com força. E nesse resfolegar intenso, cavalga soberano. Por isso é tão complicado o encurralamento existencial e afetivo. Por essa causa o conforto do lar e a aparente normalidade pode encabrestar a paixão que ama e o amor que se apaixona. Aí, perdido, confuso e sem espaço, ele adoece e morre.Educados pela cultura do casamento, somos empurrados na direção da domesticação e da conjugalidade. A família pressiona, a igreja cobra, a sociedade pede explicações bem definidas. Tal cerco nos encurrala e a felicidade parece resumir-se à união familiar. Felizes para sempre? Nem tanto. Disso infere-se que ser feliz eternamente, talvez seja até muito chato. Porém, a felicidade continua lá, pendurada na parede, na forma de um velho quadro amarelado que já não traduz a realidade. Enquanto o desejo traz o sonho, ainda que mal elaborado, a rotina esmaga com seus compromissos “inadiáveis”. Torneira pingando, menino chorando, casa por limpar, exigência profissional, estudo, competição, falta de tempo, ausência de carinho. Tudo isso converge para o desgaste emocional e para um desenlace quase sempre trágico e doloroso.Por mais que se tente manter as aparências, o coração não se deixa enganar . Ele não suporta a hipocrisia, a plasticidade e o fisiologismo. Ele precisa de ar puro no meio de um relacionamento estreito e sufocante. Mas, o que fazer, se a felicidade não cabe em nossas tradições, peias, doutrinas e ortodoxias? Forçar a barra de um sentimento que já não existe? Por pensar no vazio que enfrentarão adiante, muitos preferem continuar vivendo um “inferno” relacional. Ora, não há Deus ou aconselhamento pastoral que salve um casamento já desfeito. Isso porque o afeto tem que partir do coração de quem ama, e não de um pretenso milagre posto à força diante de Deus, como se ele pudesse nos enfiar o relacionamento goela abaixo. Assim, o melhor caminho a tomar nesse momento é o da “infelicidade”, se assumirmos a via do casamento como a “única” que pode dar sentido e rumo ao existir. Isso porque, ser infeliz em cumplicidade é pior que curtir o desalento da solidão e do abandono. Arrastar duas criaturas na direção do fosso da culpa, do tormento, da inimizade, da aparência, da grosseria, da violência, da privação de afeto, da indiferença, do dedo apontado da igreja, do medo da língua e suas consequências, só para satisfazer à hipocrisia social e/ ou eclesiástica é viver, a priori, o “inferno de Dante”, com seus demônios, garfos e culpas.Ser feliz para sempre é apostar na liberdade, na autonomia, na deliciosa soberania do amor, pois ele jamais pode ser montado, selado, agendado ou encabrestado. O que passar disso é dor, desespero e ilusão. Não amor.   *Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de LetrasE-mail: [email protected]     ———————————–Aprendendo investir em vidas humanas – Marlene de Andrade*“Tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e foste me ver.” (Mateus 25:34-36)Detesto a ideia de cooperar com indivíduos que não querem prosperar e que não desejam e se tornar independentes. Nesse viés, penso que ofertar às pessoas que ficam pedindo esmolas nas ruas de nada adianta, pois tal “ajuda” não coopera com o crescimento de quem quer que seja. Há muitos anos faço um trabalho voluntário cuja motivação tem sido ajudar pessoas em situação de miséria, mas essa minha ajuda é sempre buscando fazê-las entender que devem trabalhar e ganhar seus salários dignamente e não depender de quem quer que seja financeiramente.Ultimamente, tenho ajudado cubanos, venezuelanos e haitianos dando apoio a alguns deles tentando, entre outras coisas, ajudá-los tirar suas carteiras de trabalho e lhes conseguir empregos. Alguns amigos vêm cooperando bastante comigo nesse sentido.  Não ajo dessa forma porque sou boazinha. A Bíblia deixa claro que somente Deus é bom, porém enquanto estivermos vivos, temos obrigação de ajudar nosso próximo. Também não pensem que estou querendo me candidatar a algum cargo eletivo, ou seja, me tornar vereadora ou quem sabe uma deputada. Quanto a isto afirmo: não possuo nenhuma inclinação a esse respeito e vejo como algo detestável candidatos políticos barganharem votos em troca de dinheiro, ou de favores como, por exemplo, quando o candidato é da saúde conseguindo uma consulta médica, odontológica ou a realização de exames laboratoriais. De fato dar esmolas é super equivocado. Não devemos “ajudar”o nosso próximo dessa forma, pois no meu ponto de vista a maneira mais correta de se ajudar alguém crescer na vida é como diz o ditado popular, ensinando-lhe pescar, e não oferecendo o peixe pronto.É verdade, que temos que ter uma atitude caridosa para com aqueles que querem se tornar independentes, porém ficar dando esmolas é um ato, a meu ver, muito equivocado e até humilhante. Ajudar alguém sair da miséria é uma obrigação de cada um de nós, todavia dar esmolas não ajuda ninguém melhorar seu padrão de vida, mas ao contrário, torna a pessoa cada vez mais excluída da sociedade.*Especialista em Medicina do Trabalho/Anamt, pós-graduada em Perícias Médicas e técnica de Segurança no Trabalhohttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade4795 36243445————————————-O forno esquenta – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Toda revolução começa com os idealistas e acaba com os tiranos”. (Louis Latzarus)Quem viveu os momentos antes da revolução de 64, vai entender minha preocupação, nada vã. Lendo, ontem, aqui na FOLHA, as declarações do general do exército Eduardo Villas Bôas, fiquei na corda bamba.

Tomara que eu esteja dando uma de João-sem-braço. Mas preocupei-me quando o General disse que o golpe de 64, que seria temporário durou 21 anos. Aí me preocupei, porque eu assisti e ouvi, numa entrevista, na televisão, no Rio de Janeiro, em 1961, o Sargentelli, que ainda não era das mulatas, entrevistando o Marechal Juarez Távora. E o Marechal falou exata e precisamente, isso: “Sempre que os militares assumem o poder neste País, arrumam a casa, põem tudo em ordem e devolvem para os senhores civis. Aí os senhores bagunçam tudo novamente. E quando o País entra na bancarrota, nós, militares, assumimos o poder, novamente. Agora, quando os militares tiverem que assumir o poder, terão que ficar, pelo menos, 30 anos, de forma que os senhores civis não possam mais bagunçar”.     Não estou sendo alarmista, mas é bom que tomemos cuidado, porque ainda estamos devendo 9 anos aos militares que têm a incumbência de pôr ordem na casa. E nós bagunçamos tudo de novo. As pressões que o General Eduardo está tendo são apenas diferentes, mas as mesmas que receberam os Generais daquela época. Vamos abrir os olhos e ficar acordados. Mas com parcimônia, que era o termo usado naquela época, e que ninguém teve. Nada de alarmismo, mas cuidado. A vida é cíclica. Nela a moda e os acontecimentos são os mesmos; apenas com características diferentes. E isso sempre engana os menos preparados. O importante é que nos conscientizemos da nossa responsabilidade na formação do futuro, porque é lá que vão viver nossos descendentes. E o que é que queremos para eles? Preste mais atenção ao desmando que estamos vivendo, e procure analisá-lo, comparando-o com os desmando que já vivemos. São todos iguais apenas vestindo roupas diferentes. Mas os brincos usados pelos jovens de hoje são os mesmos usados pelos das décadas de 60 e 70. Pena que você não tenha vivido aquela época. Se tivesse vivido veria as coisas por um telescópio diferente do que você usa hoje. Pelo menos mais eficiente. E não vá se esquecer de que estamos devendo 9 anos ao programa do Marechal Juarez Távora. E pelo que vejo, ele continua cobrando nossa presença, antes que os militares se façam presentes. Aí a bola vai rolar. E pare de pressionar as Forças Armadas. Elas estão na delas. Nós é que estamos dando uma de bobo e pisando na bola. Pense nisso.*[email protected]