Opinião

Opiniao 13009

Minha casa é habitada por minha mãe, plantas, passarinhos, uma gata, ratos, calangos, outros animais esporádicos e um bicho estranho (eu)

Restos de conversas: bom dia! Boa tarde…boa noite…

Louças sujas na pia, roupas para lavar e passar, lixo…

A conta de agua, de luz, IPTU, internet…

Plantas, bichos, mato…pássaros, aves, passarinhos – tem de toda cor: azul, amarelo, verde, preto, branco, laranja…árvores tem de todos os tamanhos – já teve as bem grandes! Mas minha mãe cortou.

Eu, com o tempo criei raízes, brotei também minhas folhas, dei meus frutos…

Às vezes eu me assombro e sou assombrado quando me levanto a noite, vou até a cozinha beber água e encontro as mesmas paredes que insistem em manter-se de pé – mesmo depois desses anos todos, de todas as chuvas, de todo vento, de tudo e de todos que já passaram aqui debaixo desse teto, desse piso pisado por tantos pés que são os meus desses que nasci…as paredes foram tantas vezes pintadas que nem sei mais definir que cor tem hoje.

Ainda hoje ouça a voz da minha mãe gritando por mim no portão!  Coisas de mãe! Eu sempre voltava para casa…a casa com o tempo vai se tornando intima – não é só uma casa, transforma-se num segundo corpo, um corpo etéreo…(é a ermida que sempre me espera).   

O tempo é um inquilino terrível! Terrível porque reside em tudo…em mim, na casa, nos detalhes que a rotina nos chateia, ocupa todos os lugares – sentado no velho sofá, assisti todos envelhecerem – como é bom envelhecer! Só assim saberemos o peso de cada não, de cada sim, de cada beijo.

A casa sim! Ainda insisti está lá, mesmo depois desses anos todos de minha ausência! A teimosia beira o absurdo! Mas permanece lá, com tudo dentro, tudo fora: camas, geladeira, fogão, jarros com plantinhas, formigueiros, folhas pelo chão…tv, garrafa de café, copos, varais de roupa, minha solidão, a solidão da minha mãe…o mesmo número, a mesma rua…

A casa, hoje, é estranha para mim, mesmo depois de meio século habitando ela, com o tempo as coisas vão perdendo o sentido, o sentido de existir, o sentido de que um dia fez sentido…o que povoa a casa, não somos nós, eu, minha mãe, esses bichos todos, as plantas, os moveis…são as lembranças que foram acumuladas e esquecidas nos cantos, atrás dos moveis, em algum lugar no terreiro de casa.

Percebo que os bichos do quintal já não me estranham mais. Já sou seu semelhante! Sou esse grande e desajeitado bicho-homem que rega as plantas, alimenta os passarinhos todas manhãs, enche a lata de água para eles beberem e, depois deito na rede e converso só. Sou esse bicho exótico e “inconvencional” que não se acostumou a padrões, um anarquista contemporâneo avesso a leis e normas, não por desobediência ou rebeldia, apenas não aceito parâmetros sociais – nunca fui perguntado se queria cumpri-los ou aceita-los.

Minha casa, meu reino! Minha velha mãe, sabia e temperamental cuida com muito labor de seu domínio e sua vassalagem todos os dias, conhece toda sua dimensão, sua humilde e singular fauna e flora. A casa é abrigo e aconchego para tias, primos, primas, sobrinhos, netos, filhos, agregados, amigos…roupas, panos-de-cozinha, papel-higiênico, central-de-ar, tiquiris, cajueiro, ateira, roseiras…sofá, guarda-roupas, cadeiras de balanço…sabiás, pardais, sanhaço azul, galeguinhas, juriti, iguanas…tem até os negros-anus, mas minha mãe não gosta.

Sou um ser esquisito, um bicho excêntrico que reside numa casa a tanto conhecida. Com o tempo nem é mais doméstica, nem sei o que é! Mas é ao mesmo tempo estranha e familiar. Agora, eu já quase-velho, as vezes cansado da vida, chego a desconhecê-la, mesmo morando na mesma rua, na mesma cidade, no mesmo bairro, sob o mesmo céu. Mas aos domingos é que tudo se dá, uma espécie de encantamento acontece, é quando fico em casa e percebo o vislumbrar disso tudo: da seriedade da minha mãe, do alvoroço dos passarinhos, dos farfalhas suaves dos galhos das árvores, do arrastar das horas, da preguiça de estender as roupas, do almoço simples em silêncio com minha matriarca – é um pouco de tudo, sei que um dia sentirei saudades disso tudo.

Hudson Romério

Cronista, poeta e escritor

Tel: (95) 99138.1484

E-mail: [email protected]

Vamos transformar

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Os filósofos não fizeram senão interpretar o mundo. Devemos agora é transformá-lo”. (Karl Marx)

Há muito que aprender com os filósofos. Mas há muito mais a aprender conosco mesmo. Vivemos num mundo temeroso. Se prestarmos atenção veremos que praticamente nada mudou, desde o começo do mundo. O comportamento humano continua o mesmo, desde a idade da pedra. Que é, pelo menos, o que conhecemos. E o que conhecemos, conhecemos pelo que nos disseram os filósofos e historiadores. Então já é hora de começarmos a conhecer com o nosso desempenho no crescimento e desenvolvimento da humanidade.

Uma das coisas que mais preocupam no desenvolvimento da humanidade é que não nos desenvolvemos. Crescemos na caminhada que nos é orientada pelos que se julgam mais evoluídos. São eles que nos orientam e, na orientação acabam nos dirigindo. E lá vamos nós, acreditando mais nos outros do que em nós mesmos. Ainda continuamos acreditando nos blá-blá-blás dos que se dizem políticos e que na verdade, são espertalhões que nos fazem marionetes. Que é o que somos, porque sempre fomos, em todo o desenrolar da humanidade.

O Karl Marx tem mais uma que nos chama atenção para o engodo em que vivemos na política mundial. Porque o que somos na verdade é títere dos que vêm navegando na ilusão. Karl Marx diz: “O capital é como o vampiro. Só se anima quando chupa o sangue do trabalhador; e sua vida
será tanto mais alegre quanto mais sangue chupar”. E como povo continuamos ingênuos a ponto de não ver os escândalos dentro da política, na roubalheira permanente e já ignorada.

Vamos parar um pouco com a perda de tempo com o tempo perdido nas discussões vazias e fúteis, enquanto deveríamos estar nos preparando para melhorar nossas vidas que dependem da política. E comecemos parando com essa pantomima de confundir política com esperteza. Não podemos crescer enquanto não crescermos politicamente. Vá pensando nisso enquanto se prepara para a próxima eleição. Valorize-se para poder ser um cidadão de fato. Porque ainda não somos. Ainda votamos obrigados a votar, quando deveríamos, como cidadãos, votar por dever de cidadão e não por obrigação de marionete dos políticos.

Vamos com calma. Não nos esqueçamos de que somos nós os responsáveis pelos desmandos na política. Todos os eleitos foram eleitos por nós. Logo, escolhidos por nós. O problema é que não sabemos, porque não fomos educados, se o nosso candidato merece ser responsável pelo nosso futuro. Vamos nos educar para podermos ser cidadãos. Mas não nos esqueçamos de que nunca seremos cidadãos enquanto não tivermos o voto facultativo. Pense nisso.

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