Opinião

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Migração e a busca por uma vida melhor

Por Bárbara Gil*

Migrantes são aqueles que se movimentam, o que pode ocorrer por diferentes razões e para distintos lugares. Esse traslado pode ser dentro de um mesmo país ou para um novo continente, ser voluntário ou não, e ter causas diversas. Desastres ou alterações de condições ambientais e climáticas; conflitos armados, violência, perseguições culturais, sociais e políticas; ou a busca por condições básicas de sobrevivência e melhoria da qualidade da educação e trabalho. 

Segundo a Organização Internacional para Migrações (OIM), as principais causas de deslocamentos nos últimos dois anos foram conflitos, como na Síria, Iêmen, República Centro-africana, República Democrática do Congo e Sudão do Sul; crises políticas ou econômicas, como as que ocorrem na Venezuela e no Afeganistão; e questões climáticas, como nos apresentam fluxos na China, Filipinas, Bangladesh, Índia, Estados Unidos da América e Haiti. A migração pode ser temporária ou permanente, e depende do contexto coletivo ou individual e da possibilidade de alteração do que ocasionou o fluxo. 

A História revela que esse fenômeno está atrelado à vida em sociedade, desde o surgimento da cultura de diferentes povos, nações e grupos sociais. Fontes da Antiguidade, como a Bíblia, mostram que os primeiros seres humanos já migravam na busca por alimentos, e deixaram de ser nômades quando o desenvolvimento da agricultura gerou a necessidade do cuidado da terra. É a partir dessa nova relação que a migração deixa de ser nosso paradigma para transformar-se em algo excepcional. 

Contudo, mesmo após nos fixarmos na terra, os fluxos migratórios não se tornaram incomuns. Sociedades inteiras foram formadas a partir da união de povos que, muitas vezes, levados pela falta de recursos ou pela busca por riquezas, tiveram como única solução o deslocamento para regiões com melhores condições de vida. Dessa forma, é natural que a escassez de recursos para sobrevivência seja uma das maiores causas para o movimento.

A história de todo o mundo, bem como da América Latina e do Brasil, é marcada por essa realidade. Vivemos em um país que, historicamente, possui regiões de saída e de atração. Um movimento que geralmente tem seu início em locais mais pobres em direção àqueles que têm riquezas e oportunidades, um padrão que se repete quando se trata do contexto de migrações internacionais. 

O número de migrantes em 2022 foi estimado em mais de 281 milhões em todo o mundo. Enquanto 2,8% da população mundial nos anos 2000 era migrante, hoje essa marca chega a 3,6%. Mulheres representam cerca de metade desse número, enquanto as crianças são estimadas em 14,6%. Isso confirma, ainda que de forma superficial, o quadro da vulnerabilidade dessas populações.

A Venezuela, por exemplo, já viu mais de 6 milhões de pessoas deixarem o país nos últimos anos e buscarem refúgio em nações como o Brasil, de acordo com dados da plataforma R4V. A entrada de cerca de 300 mil pessoas em solo brasileiro desencadeou uma resposta do Governo Federal e de organizações, como a Visão Mundial, para garantir meios de vida e inserção socioeconômica a migrantes e refugiados.

Eles se deslocam pelo contexto socioeconômico de seus lugares de origem – seja por crise aguda ou condição de vulnerabilidade. O que é certo sobre esse fenômeno é que a busca por uma vida melhor revela um leque de novas vulnerabilidades que nascem a partir da chegada ao destino. 

Com frequência, trabalhadores migrantes encontram empregos informais e temporários, contribuindo com a realidade de insegurança de se estar em um novo lugar. Ainda que seja em um contexto de migração voluntária, e não se configure o status de refúgio, esta população é vítima de violações de direitos econômicos e sociais. Por isso, é papel de toda a sociedade compreender, acolher e pensar em formas de integração que possam mitigar os riscos desse fenômeno comum e complexo. 

Ser migrante traz consigo uma condição de vulnerabilidade com a qual não se convive no instante do nascimento, a menos que esta nova vida venha ao mundo em trânsito (como nos casos das crianças apátridas). Ao mesmo tempo, os conflitos armados recentes, como na Ucrânia, somados aos efeitos já sensíveis das alterações climáticas e às crises econômicas que temos vivido, podem ocasionar a insurgência de novos e maiores fluxos de deslocamento pelo planeta.

Migrar pode não ser uma escolha baseada na livre agência. E mesmo quando é, o que pauta essa ação é uma permanente necessidade pela melhoria na qualidade de vida de si e dos seus, e que só é possível através da cooperação. Cabe a todos nós acolhermos e protegermos esses migrantes que buscam uma vida melhor. 

* Bárbara Gil – formada em Relações Internacionais e mestra em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Pesquisadora do Gênero e das Desigualdades, atualmente coordena o projeto “Ven, Tú Puedes!”, da organização humanitária Visão Mundial, em Roraima. A iniciativa trabalha pela integração socioeconômica de migrantes e refugiados no Brasil.

São os olhos dos outros

Afonso Rodrigues de Oliveira

“São os olhos dos outros, e não os nossos, que nos arruínam. Se o mundo inteiro, menos eu, fosse cego, não me importaria com roupas finas e belas mobílias”. (Benjamin Franklin)

Se refletirmos bem sobre esse pensamento do Franklin, descobriremos que vivemos mais para os outros do que para nós mesmos. Ontem toquei muito neste assunto, e não citei o Franklin porque não me lembrava que era dele o pensamento. Você não vai para o salão de beleza, a não ser para ficar bonita. Mas não para você mesma, mas para os outros. O que está importando para você é o que os outros vão ver em você. Todos nós somos assim. Faz parte do desenvolvimento humano. Você, certamente, não se preocuparia com seus sapatos, se as outras pessoas fossem cegas. O que indica que ainda temos muito que fazer para sermos realmente evoluídos.

Normalmente os seres humanos vivem maior parte de suas vidas se preocupando com o que não é preocupante. Enquanto isso vamos, a vida toda, nadando em águas turvas, da nossa cultura. Continuamos buscando cultura nas universidades, enquanto ela, a cultura, está do nosso lado. Continuamos ignorando o
que deveria ser bem observado. Ainda riem quando falo do valor da Universidade do Asfalto. Durante o trabalho enriquecedor que fizemos na “TEIA-2008, para a criação das Secretarias da Cultura, nos Municípios, fomos totalmente ignorados pelos brasileiros. E nem imaginamos o porquê do descaso.

Mas o que me leva a esse assunto é quanto descobrimos, nos mais remotos interiores, a grandeza da cultura escondida, no descaso administrativo. Mas não vamos rodar nesse carrossel político. Vamos procurar um meio de fazer tudo para elevar a cultura ao nosso povo, pensando no que poderemos fazer para incluir os interioranos, considerados incultos. Mas não fique preocupado. Apenas procure dar mais atenção às veredas que levam realmente à cultura do povo. Converse sobre isso com seu candidato às próximas eleições. Talvez você esteja ajudando no despertar.

Vamos falar do nosso dia a dia. De como as coisas estão mudando em todos os aspectos. Talvez a pandemia tenha colaborado para que observássemos o que ignorávamos. As pandemias são sempre uma maneira de aprendermos, quando somos capazes para as observar. Sempre que aprendemos amealhamos cultura com nossos conhecimentos. Repassá-los é uma forma de enriquecimento cultural. Mas, é preciso cuidado nos repasses. Nada de exagero. A simplicidade já é uma forma de demonstrar o quanto você é culto. Reflita um pouco sobre o que você é, e seja o que é. Mas não se esqueça de que nem sempre somos o que pensamos que somos. Pense nisso.

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