Opinião

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Epidemia, pandemia, endemia. O que esses termos significam?

* Por Sandra Gomes de Barros

 

Da noite para o dia, no início de 2020, a palavra “pandemia” se tornou parte do nosso cotidiano. Muitas pessoas nem conheciam este termo. Após dois anos de Covid-19 no mundo, hoje chegamos a um ponto no qual começa-se a discutir, em todo o planeta, uma nova categorização da pandemia para endemia. Vale, então, sabermos o que cada definição dessas, epidemia, pandemia e endemia, significa.  

  

Uma epidemia é caracterizada pelo aumento de casos de uma doença específica em determinados locais geográficos ou comunidades, e que vão se espalhando para outras localidades além daquela em que foram identificados inicialmente. Um exemplo histórico e assustador de epidemia foi a rápida disseminação do ebola, na África, em 2013 – embora haja diversos casos de doenças com letalidade bem mais baixa que também foram, em algum momento, uma epidemia, como a do H1N1, que ocorreu no Brasil em 2009.  

Muitos fatores podem causar o surgimento de epidemias, como hábitos de higiene precários, hábitos alimentares pouco saudáveis, falta de saneamento básico, poluição, estresse e mutações genéticas.  

   

Como uma epidemia se transforma em uma pandemia?  

  

Quando a epidemia extrapola fronteiras geográficas rapidamente, atingindo pessoas que não possuem imunidade a ela e se disseminando sem controle. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, três pontos são considerados essenciais para se classificar uma pandemia:   

1) o aparecimento de uma nova doença;   

2) uma infecção em humanos que ainda não têm resistência imunológica à doença;   

3) a disseminação rápida e descontrolada. Resumindo, uma enfermidade se torna pandêmica quando atinge diversos países ou continentes, afetando assim muitas pessoas.  

  

No caso da SARS-CoV-2, os primeiros casos registrados surgiram no fim de 2019 na cidade de Wuhan, na China. Em março de 2020, o vírus já havia se disseminado globalmente, levando a OMS a declarar a pandemia. Um outro exemplo bem conhecido de situação pandêmica é a gripe espanhola, que se disseminou globalmente principalmente devido à movimentação de tropas durante a 1ª Guerra Mundial, afetando o mundo todo em 1918 e matando entre 30 e 50 milhões de pessoas.   

  

Porém, a grande dúvida que paira sobre a comunidade médica global, hoje, é: chegamos ao momento de recategorizar a Covid-19 de pandemia para endemia?  

  

  

Uma endemia existe quando uma doença recorrente permanece criando novos casos em uma determinada região, mas sem um aumento significativo no número total de ocorrências e com controle, por parte da saúde pública, da situação. A dengue, por exemplo, é um caso atual de endemia no Brasil.  

  

Dizer, portanto, que uma doença tornou-se endêmica tem relação direta com o controle no número de casos, que deve permanecer em um nível pré-determinado (e que varia de doença para doença), redução de óbitos e uma alta taxa de imunização da população no caso de enfermidades causadas por vírus. Já existe uma discussão sobre se a Covid-19 se tornará uma endemia, mas, para que isso aconteça, é necessário que muitas pessoas estejam protegidas contra o vírus, e o melhor caminho para isso é a vacinação.  

  

Infelizmente, a vacinação em massa ainda não é a realidade de todos os países que sofrem com a Covid-19. Somente o aumento nos níveis vacinais, principalmente no continente africano e em regiões da Ásia, cessará a propagação do vírus e o surgimento de novas variantes, o que, consequentemente, reduzirá os números de hospitalizados e mortos.  

  

Desta forma, cada país terá o seu tempo para se livrar da Covid-19, e somente aí o mundo sairá da situação pandêmica, passando gradativamente para um cenário de endemia. Pois já sabemos que o vírus, assim como o causador da gripe espanhola, o H1N1, não irá sumir. Mas se continuarmos com cuidados contra a disseminação, algumas restrições sociais e imunização de cada vez mais pessoas, chegaremos a um momento no qual a Covid-19 se tornará uma endemia. Conviveremos com a doença ainda por muito tempo, mas já temos vacinas e tratamentos, o que reduz significativamente sua potência letal.  

  

Ainda é cedo para afirmar, com certeza, que veremos o coronavírus tornar-se endêmico. Mas nós, profissionais da saúde, acreditamos que essa mudança é o resultado de um esforço coletivo que ainda está longe de terminar.  

  

 

* Sandra Gomes de Barros é infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa. 

Toda rua tem uma deusa

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A deusa da minha rua

Tem os olhos onde a lua

Costuma se embriagar.

Nos seus olhos, eu suponho

Que o sol em doirado sonho

Vai claridade buscar.”

(Jorge Faraj)

         Essa música foi composta lá pelos anos de mil novecentos e trinta e tarará. E como já sabemos, as encrencas entre compositores, naquela época, eram constantes. Mas o autor da letra foi realmente o Jorge Faraj. Mas o mais importante é que ela foi gravada pelo Silvio Caldas, que nos encantou e continua encantando. O Roberto Carlos a gravou, e nem tão recentemente. O que nos conforta. E isso não significa saudosismo. Apenas indica que o sentimento que brota do amor nos alimenta vida a fora. E lamento que as mudanças de épocas sempre nos sacodem, no alvoroço mental. Sentimos falta das músicas consideradas românticas. E me sinto feliz quando as ouço nos meios de comunicação, e sinto o bem que elas trazem ao ambiente.

         As deusas das nossas ruas serão sempre as deusas. As amazonas, que mesmo sem demonstrar fortaleza física, nos dominam como as da mitologia dominavam. E isso é bom ou ruim? Vai depender de como as vemos. A pena está nas mudanças, que nos obrigam a vê-las como objeto e não como deusas. Já pensou nisso? Já observou como os tolos que continuam pensando que são os Hércules se deixam levar pela futilidade da aparência superficial?

         Pare de nadar em águas turvas, cara. Observe mais a deusa, do que a indumentária dela. Garanto pra você que quando Deus criou a Eva, se é que você acredita nisso, ele não costurou nenhum vestido pra ela. Certa vez assisti, em São Paulo, a uma entrevista, pela televisão, com um oficial do exército. Estávamos no auge da moda-saco. Lembra-se dela? De repente, ingenuamente, a entrevistadora perguntou para o oficial, o que ele pensava da moda-saco. Sem pestanejar, ele respondeu: “Minha filha, o que interessa não é o saco, mas a batata que vai dentro dele”.

         Reflita mais um poço sobre o pensamento do oficial. Procure ver a deusa da sua rua como uma deusa e não como uma exibicionista do próprio físico. O vestido saco pode até ser de saco, mas o que interessa mesmo é quem o veste. Já falei pra você, por aqui, de uma garotinha que estudava comigo, na Escola de Base na Base Aérea, no final da década dos quarentas. Era uma garota extremamente simples, pobre e encantadora. E encantava pela simplicidade. E sempre foi considerada e admirada como uma deusa, até mesmo por quem nem percebia.

         Procure ver e admirar mais, as qualidades de uma deusa que, com certeza, está na sua rua e você nem percebe. Você está mais encantado com o short espalhafatoso, na vitrine da loja. Pense nisso.

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