O experimento mental de Monark e a xenofobia em Boa Vista
Matheus Oliva da Costa*
Logo no início deste ano de 2022 já ocorreram várias polêmicas envolvendo figuras públicas, e um desses casos foi o do criador de conteúdo e comunicador conhecido como “Monark”. No que era o seu podcast de entrevistas, o Flow – que também é um canal do Youtube com quase 4 milhões de inscritos – ele entrou na sua pior polêmica: defendeu que, para combater a ideologia nazista, o melhor seria legalizar partidos nazistas no Brasil. E, pior, sua fala foi uma provocação aos dois deputados federais que eram entrevistados, a Tabata Amaral (PSB-SP) e o Kim Kataguiri (DEM-SP). Enquanto a primeira foi explicitamente contra essa ideia, o segundo chegou a apoiá-la, e, claro, entrou também na polêmica.
Obviamente que tudo isso foi recebido de forma péssima em toda a mídia, e já no dia seguinte Monark estava desligado como sócio e fundador que era do próprio podcast e canal de Youtube que criou. Outros envolvidos, como o deputado convidado que concordou com ele, também sofreram críticas, cancelamentos, e fez diversos pedidos de desculpas e mudança explícita de opinião, caso contrário, poderia até perder o seu mandato – já que a apologia ao nazismo é um crime no Brasil, e em quase todo o mundo. Voltando ao Monark, esse foi o auge que esse comunicador público se encrencou, mas não foi o primeiro, pois ele recorrentemente insistia em ideias como a relativização de frases homofóbicas como “gay tem que morrer”, cogitou que expressão de opinião pedófila talvez fosse aceitável, e, ainda, perguntas retóricas como “ter uma opinião racista é crime?”. Por qual motivo ele defendia ou ao menos aceitava a expressão dessas ideias que são claramente entendidas como crimes? Em nome do que dizia ser “liberdade de expressão”, num sentido radical, de podermos falar absolutamente tudo que quisermos, se não causarmos dano físico a alguém. Claramente, uma visão ingênua e pouco refletida do tema.
Como você pode notar, muitas discussões poderiam surgir das falas pouco refletidas de Monark. No presente texto ressaltamos a seguinte possibilidade. O ato de filosofar envolve vários métodos, como argumentação pautada pela lógica, retórica discursiva, metáforas e analogias, e o experimento de pensamento. Este último, que chamaremos aqui de experimento mental, consiste em imaginar situações em que precisamos tomar uma decisão ou escolher uma posição sobre algum assunto.
Um caso clássico de experimento mental da antiguidade que discuti recentemente com alguns colegas filósofos é o “Anel de Giges”, que está no livro A República de Platão. De modo simples, trata-se de imaginar que você tenha acesso a um anel mágico que o torna invisível e inaudível, ainda que lhe seja possível tocar nas coisas e pessoas. O que você faria com esse poder? Continuaria sua vida agindo normalmente dentro da lei (pressupondo que você segue a lei)? Ou iria naquela loja que tem o que você quer e pegaria o que deseja sem ser notado? Ou aproveitaria para ver pessoas nuas em suas casas, sem que elas notassem? O experimento mental do Anel de Giges nos coloca as seguintes questões: você agiria de forma eticamente correta se seus atos não pudessem ser observados? E esse “agir eticamente” é uma convenção, logo, seu principal critério é sua desaprovação ou aprovação social, ou o ato ético independe desse critério externo e pode ser julgado como aprovável ou não só internamente?
Sobre a primeira pergunta, voltemos ao Monark novamente: percebemos que esse comunicador público, com seus erros, acabou nos instigando a atualizar o experimento mental do Anel de Giges. Quero dizer: em certa medida todos nós já podemos fazer coisas na internet que, mesmo que sejam rastreáveis, são “invisíveis” para nosso círculo social, por exemplo, usando uma conta falsa numa rede social. Você já usou o ambiente virtual de forma anônima para fazer algo que queria fazer publicamente, mas acredita que não pode fazer ou não quer sofrer as consequências por fazer? Se a resposta é sim, você já usou a versão atual do Anel de Giges. E, nesse caso, como você justifica ou defende o seu ato feito de forma “invisível”, mas que seria condenável publicamente se fosse identificado? Se não é defensável, talvez fosse melhor parar de fazer, e usar seu precioso tempo de outra forma. Mas qual seria o critério para saber se é defensável? Defendo um critério relacional, em que a ação eticamente aprovável é dialogada e combinada com as pessoas das suas relações, guardadas, claro, questões básicas como dos Direitos Humanos.
A segunda pergunta que fizemos nos convida a escolher critérios somente internos ou também externos para saber se uma ação é eticamente aprovável ou não. Outra possibilidade de atualizar o experimento mental citado é pensar que o mundo interior de cada pessoa, sua “mente” ou “consciência”, já contém o poder do Anel de Giges, já que não é possível conhecer plenamente e exatamente o conteúdo mental de uma pessoa. E aqui que volta a pergunta de Monark: pensar de forma racista, somente dentro de si mesmo, sem expressar, não é crime. Contudo, ao contrário do que Monark e seus defensores defendem, expressar opiniões racistas, homofóbicas e que defendem a existência de um partido nazista é, sim, um crime. Para ser justo, o próprio Monark percebeu o erro e se desculpou por essa última opinião (mas não pelas outras).
Aqui, em Boa Vista, assim como em todo o estado de Roraima, é recorrente ouvir opiniões xenofóbicas depois da crise migratória que estamos vivendo, com a imigração massiva de venezuelanos (e outros, como haitianos). Cheguei a ouvir a seguinte frase de um boavistense: “aqui nesse prédio é um lugar ótimo para se morar, pois não tem venezuelanos”. Percebo também que aqui vivemos em alguns lugares uma espécie de apartheid: o prédio mencionado acima era um lugar de brasileiros, ao passo que há vilas exclusivamente para venezuelanos; há lanchonetes de e para venezuelanos quase nunca frequentada por brasileiros; e há locais públicos da cidade em que venezuelanos só trabalham, enquanto brasileiros frequentam por lazer; campanhas políticas da última eleição distinguindo boavistenses de venezuelanos.
Claro que Roraima recebeu e continua recebendo milhares de imigrantes e refugiados, há ONGs, igrejas e o próprio Estado busca os acolher de alguma maneira. Há, sim, pessoas que respeitam como humanos e tratam os venezuelanos com a dignidade que merecem. Não sou ingênuo quanto aos imigrantes: basta ser um humano para cometer crimes, sendo os venezuelanos humanos, podem cometer crimes eventualmente, assim como brasileiros. Mas a opinião xenofóbica ouvida frequentemente em Boa Vista contra venezuelanos parece cometer na verdade, um engano de raciocínio: toma as partes pelo todo, ou seja, tomam alguns venezuelanos que cometem erros de conduta ou crimes como se fossem assim todos os venezuelanos. Trata-se da clássica falácia da composição, um equív
oco de pensamento bem conhecido na história da filosofia, especialmente da área da lógica.
Fica a dúvida: como agir com esses “monarks” de Boa Vista? Como enfrentar a xenofobia de alguns boa-vistenses contra o que pensam (erradamente) ser todos os venezuelanos? Assim como o Monark, eles não estão apenas emitindo uma simples opinião pessoal, mas, além de cometer uma falácia (um erro de raciocínio), eles também cometem um crime. Segundo o art. 140, § 3º, do Código Penal brasileiro, injúrias motivadas por elementos referentes etnia e origem (entre outros motivos) podem acarretar pena de 1 a 3 anos de prisão (“reclusão”), além de multa.
Alguns casos xenofóbicos, como os das campanhas políticas, já são investigados pelo Ministério Público Federal. Mas e a pessoa comum, que frequenta a sociedade de Boa Vista emitindo suas opiniões criminosas? O que dizer deles/as? No meu ver, o caso deles mostra outro problema: não é que eles têm um Anel de Giges para os invisibilizar, mas é que o alvo de seu discurso de ódio é que é invisibilizado juridicamente. Ou seja, muitos migrantes não tem um acesso viável ou sequer sabem o que fazer por aqui, então é como se não houvesse a justiça para eles – ainda que exista nas leis brasileiras, em termos de direito e de instituições. E o que eu posso fazer? Primeiro, buscar não repetir esses atos, segundo buscar dialogar com você leitor: você reproduz esses discursos xenofóbicos? Quando os ouve, o que faz para mudar isso? O que tem feito para mudar essa situação? Lembre-se que assim como as opiniões odiosas e falaciosas podem ser difundidas, as opiniões justas e que defendem um modo de convivência mais harmônico também pode e deve ser divulgado.
*Matheus Oliva da Costa é professor do Curso de Filosofia da UERR
Atitudes têm mais poder do que palavras
Por José Paulo Pereira Silva*
Falar até papagaio fala, já dizia o dito popular. Quem tem boca fala o que quer e pode persuadir, dizer o que achar que deve. Aqueles que buscam desenvolver hábitos de poder em busca de crescimento e desenvolvimento devem ter consciência de que só a fala não basta, é preciso ter atitude. A verdade é que o momento perfeito não existe, devemos fazer agora.
É necessário esforço e ação, pois as atitudes têm mais poder do que as palavras. Isso é decorrente de uma passagem bíblica, que diz “Quem observa o vento, nunca semeará, e o que olha para as nuvens, nunca segará. Assim como tu não sabes qual o caminho do vento, nem como se formam os ossos no ventre da mulher grávida, assim também não sabes as obras de Deus, que faz todas as coisas” (Eclesiastes 11:4-5).
Ou seja, não devemos esperar o amanhã para colocar um projeto de pé ou para tomar uma decisão na nossa vida. Devemos seguir em frente, pois não existe o momento perfeito, o que existe é apenas o agora. Nós não temos garantia nenhuma do amanhã, por isso não devemos adiar aquilo que nós sabemos que deve ser feito. Não devemos procrastinar para adiar aquele curso que queríamos fazer, aquela decisão na empresa que deveria ter sido tomada.
Devemos realizar agora, porque o depois, em geral, é similar ao nunca. Nós só temos domínio sob o momento presente, o passado já se foi e virou história e o momento futuro não pode ser controlado. Devemos tomar as decisões e fazer acontecer imediatamente, sem deixar para amanhã. É como iniciar uma dieta, que sempre é deixado para a segunda-feira e acaba sempre sendo adiada.
Sabemos que existem pessoas que falam muito. Por exemplo, no mercado de trabalho, existem pessoas que falam bastante sobre si no currículo, prometem mundos e fundos, mas quando começam a trabalhar na empresa, não se desenvolvem. Ou seja, falam da boca para fora. Então, falar não faz sentido se não há entrega de resultados.
O indivíduo mal-intencionado pode até conseguir enganar um pouco de gente durante um tempo sobre algumas coisas. Mas não consegue enganar todo mundo o tempo todo, e sobre tudo. Ou seja, uma hora a fala não vai convencer, a atitude não poderá mais ser procrastinada e a verdade aparecerá.
—
*José Paulo Pereira Silva é administrador de empresas, PhD em Relações Internacionais, CEO do Grupo Ideal Trends e autor de 20 livros, incluindo o lançamento “Segredos do Poder”
Os dois lados da moeda
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. (Ministro Joaquim Barbosa)
Vamos ser mais cautelosos com a atual preocupação no voto do menor, com dezesseis anos de idade. Algo que já deveria ter existido há muito tempo. Mas a moeda só mostrava uma face. Educar a criança para que tenhamos jovens educados é um dever. Mas querer torná-los realmente cidadãos sem educação é perigoso. Jovem com dezesseis anos de idade já tem o direito de ser considerado um cidadão. E o cidadão deve ser responsável pelo seu voto nas eleições. E é por isso que devemos educar a criança. O que não estamos fazendo. Cuidado para não irmos, na política, usar o jovem como tocha de catapulta. Cuidado, jovem.
Ontem fui dormir meio cansado. Passei o dia todo cuidando do quintal, e tive dificuldade para fazer a leitura diária. E olha que estou fazendo um esforço titânico para me livrar da máscara. E olha que tem muita gente, por aí, que me chama de mascarado. E isso sempre que toco em algum assunto, por aqui, que cai como carapuça. Sei que estou me tornando chato. Mas não posso evitar. A culpa não é minha, mas da pandemia. Ela me mantém em prisão domiciliar. Na verdade, nunca estive preso, mas acredito que nenhuma prisão é mais enjoada do que a domiciliar.
Sei que você também está nessa. Mas sua prisão não pode ser igual à minha. Você sai por aí, vai, caminha, e volta para casa com algum assunto tolo, mas assunto. E nem isso eu posso fazer. Tenho uma esposa, dois filhos, uma nora e três netos, dentro de casa. E todos de olho em m
im. Quando me aproximo do portão, ouço logo um grito:
– Vai pra onde?
– Ao supermercado.
– Vai sozinho? Pelo menos leva a máscara? Não demore e traga somente o pão. Nada de trazer sacola pesada.
Há chatice maior do que essa? E olha que só tive a liberdade de seguir, porque estava na hora de comprar o pão para o café da tarde. Sinto-me no mar da inutilidade. E este me afoga sempre. É o verdadeiro mar-de-águas-turvas.
Mas, o tempo está passando mais rapidamente. Embora ainda confundamos a rapidez como resultado da azáfama do dia a dia. Quando na realidade, a azáfama é que é resultado a aceleração do tempo. Mas esse é outro assunto para depois da pandemia. Que é quando iremos nos preparar para a próxima pandemia. E pelo que vejo, ela não vai demorar tanto assim. Vamos viver nossos dias com mais amor, para que possamos ser amados no futuro. E se você tem apenas dezesseis anos de idade, seja mais esperto. Está me parecendo que estão tentando colocar você na catapulta. Valorize-se e seja você. Pense nisso.
99121-1460