Opinião

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Pautando a sociedade: Arte contemporânea na fronteira Norte

Evandro Pereira

O estado de Roraima é privilegiado por possuir parte das melhores produções de obras artísticas contemporâneas mundiais. O trabalho de dezenas de artistas, artesãos, artesãs, escultores e escultoras, sobretudo, indígenas que atuam em diversas frentes da Arte Indígena Contemporânea (AIC), há mais de quatro décadas, é importante para a afirmação da diversidade sociocultural brasileira. As possibilidades de construção pedagógica que promovam a cultura regional, em um processo de desconstrução e enfrentamento do que nos foi imposto pela visão neocolonial, possivelmente, seja a maior conquista deste árduo trabalho. É o que os artistas indígenas locais denominam de “Artivismo”, neologismo que reúne complexos conceitos provenientes da cosmopolítica ameríndia, artes que aproximam mundos, deixando a marca da resistência estética e cultural.

A pluralidade cosmológica e a beleza dos sistemas próprios de conhecimento do segmento artístico indígena têm sido positivamente projetados em telas, esculturas, pinturas, literatura, cantos, danças e artesanatos diversos, ganhando o mundo, propondo outras lógicas e visões de mundo nos espaços dominados pelo eurocentrismo, na medida em que o reconhecimento da qualidade das obras, com sua estética e conteúdo, chamam a atenção para a realidade dos desafios dos povos originários, a relação biointerativa com a natureza, o hibridismo cultural, autonomia artística e autodidatismo, com uma potente criatividade telúrica ancestral.

Registra-se que nos últimos dois anos, o Brasil perdeu dois artistas roraimenses que promoveram a arte em várias escalas: Jorge Augusto Cardoso e Jaider Esbell. O artista plástico, Augusto Cardoso, nos deixou em julho de 2020. O escritor, artista, arte-educador, geógrafo e ativista dos direitos indígenas, Jaider Esbell, faleceu em novembro de 2021.  Cardoso, realizou mais de 70 exposições, com um acervo de 1.600 obras, que compõem acervos privados e públicos, Museus e Embaixadas no Brasil, Venezuela, Argentina, Holanda, Japão, França, Canadá, Áustria, e Estados Unidos e o Museu do Vaticano, na Itália. Em seu tempo, criou uma estética caracterizada pela hibridação e polifonia de culturas, permeada de conflitos e disputas de mundos, com espaços geográficos em contestação, relações de poder e saber, com forte apelo à paisagem natural e cultural da nossa fronteira Norte.

O artista visual Jaider Esbell, em conjunto com diversos artistas indígenas, por seu turno, radicalizou e refundou a Arte Indígena Contemporânea regional. Assinalava em suas entrevistas que não faz sentido viver em um mundo pastel, cinza, preto ou branco.  “Preferimos o colorido”. Em entrevista à revista Contemporary And América Latina, em maio de 2021, Jaider Esbell reforçou o papel da cultura indígena e a possibilidade de tradução da tradição. “Meu povo tem tradição oral, somos exímios contadores de histórias. Nossos mais velhos sempre desenharam nas pedras como forma de integrar as potências dos signos para gerar comunicação. Assim viemos caminhando no mundo desde os tempos imemoriais. Para nós, tanto arte como literatura, e mesmo as artes visuais, integram um corpo uno de mídia, que aplicamos em nossas dinâmicas de passagens pelo mundo […]”.

Unidos a Jaider Esbell com o propósito de difundir a AIC pelo mundo, é central reconhecer o trabalho de artistas com mais tempo de militância, como Bartô Thomaz, Emerson ‘Amazoner Arawak’, Isaías Miliano e Mário Flores, assim como os novos talentos, dentre eles, Charles Gabriel, Felipe, Luiz Matheus Patamona, Diogo Lima Makux e Makdones Almeida.

Nota-se que a projeção midiática de mulheres indígenas é decisiva na compreensão da cultura regional. As mulheres são protagonistas de suas histórias, com atuação reconhecida nas artes e, desta forma, merecem nosso reconhecimento e os aplausos da sociedade brasileira. Roraima tem orgulho da saudosa vovó Damiana Raposo (in memorian), matriarca, artesã, ceramista que repassou o conhecimento milenar às novas gerações de mulheres Macuxi.

São herdeiras diretas desse conhecimento ancestral as artesãs: Zilda Fidelis; Olindina Fidelis; Carmelita Felipe Raposo; Cecília Raposo; Lídia Raposo; Joana Fidelis; Iolanda Fidelis (in memorian); Margarete de Sousa Raposo; Ivanir Fidelis; Lelibeth Salazar; Ordazina Afonso; Cecília Afonso da Silva; Adelia da Silva; Lourdes Silva de Sousa e Erlize José de Souza. Vovó Bernaldina José Pedro, falecida em 2020, foi uma das grandes vozes na defesa da cultura indígena. Ela comandava os cantos e danças tradicionais nas rodas de Parixara, assim como realizava os rituais de defumação do Maruai para trazer proteção, saúde e união.

Nessa lista de mulheres guerreiras está o nome de Carmézia Emiliano, artista plástica brasileira contemporânea da etnia Macuxi, atualmente considerada uma expoente da Arte Naïf. Carmézia participou ativamente de quatro edições na Bienal Naïfs do Brasil. A artesã Macuxi, pajé e parteira, Vanda da Silva, é importante ícone da cultura regional. Dona Vanda tem realizado oficinas e exposições em várias partes do Brasil e do mundo, domina o artesanato em miçangas, fibras e sementes.

Centenas de mulheres indígenas em contexto urbano produzem cestos, abanadores, tipitis, braçadeiras, cocares, colares, pulseiras, brincos, enfeites de cabelo, esculturas de madeira, saias de fibra, chocalhos, produtos feitos de sementes, tucumã, penas, palha de buriti, dentre outras matérias-primas. Assim é o valoroso trabalho das artesãs da Associação Kapoi, Grupo de Mulheres de Dança Parixara da Organização dos Indígenas na Cidade (ODIC), da Associação estadual indígena Dunui San Nau, da Associação estadual Indígena Kamuu Kandan (AEIKKERR) e da Associação Estadual Indígena Kuaikri. São representantes dos povos Macuxi, Wapichana, Wai Wai, Taurepang, Ingarikó, Patamona, Sapará, Ye`kuana, Waimiri Atroari e Yanomami.

A força da linguagem percebidas na arte regional é um fenômeno legítimo da capacidade de diálogo e habilidade política dos povos indígenas de Roraima. Seus autores entram na história pela sua arte, sobretudo, considerando suas cosmovisões que educam a sociedade dita moderna, promovendo a convivência entre mundos e deixando seu legado para as novas gerações.

Sociólogo, ex-coordenador da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Indígenas e membro do Comitê Pró-Cultura Roraima.

Somos o que pensamos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A pobreza é resultado direto de um estado de consciência de pobreza, que resulta de um pensar em termos de pobreza, temendo a pobreza e falando de pobreza”. (Napoleon Hill)

Ainda não nos ensinaram, na nossa educação, que somos o que temos como resultado dos nossos pensamentos. E por que ficar pensando e falando em pobreza, o tempo todo? Quando mudamos o rumo da nave descobrimos que a riqueza está na felicidade de viver em paz. Quando nos amamos e amamos a vida, somos felizes. Então vamos mudar o rumo e entender o que é melhor para nos tornar felizes. Simples pra dedéu. Mais o mais difícil é entender a simplicidade da felicidade. Já imaginou quanto você já perdeu, em dinheiro, jogando na lotérica há vinte anos?

Vamos ser mais o que devemos ser, porque somos e não sabemos que somos. Então vamos nos lembrar do pensamento do Victor Hugo: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Quando for a uma feira de artesanato, preste atenção em trabalhos simples que nos trazem alegria. Eu ainda era adolescente quando li essa frase do Victor Hugo, numa exposição de artesanato na entrada do Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Coisas que ficam em nossas mentes, quando lhes damos a devida atenção.

Vamos mudar o rumo da nossa história. E não precisamos fazer guerras nem revoltas que custam caro à humanidade, vendendo a ilusão de vitória. Todo o poder de que necessitamos para as mudanças está em nossa educação. Então vamos nos educar. Vamos ser mais racionais e ver o que realmente nos interessa para o desenvolvimento da humanidade. Porque o que realmente interessa é o que deixamos no que fizemos. Então vamos fazer o melhor que pudermos fazer, no que fazemos no nosso dia a dia. O Bob Marley também nos disse: “Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida”.

Nunca se deixe levar pelos que você acha que são os donos da cocada preta. A verdade está na sua capacidade de reconhecê-la. Então seja capaz. Não encare a política como uma revolução. Ela é um meio de governar o universo. E este só será governado dentro da racionalidade. E esta não é partidária. Alguns pensadores já nos deixaram recados aparentemente irônicos, mas verídicos. O Louis Mchenry Howe falou: “Não podes adotar a política como profissão e permanecer honesto”.

Você jovem que está iniciando sua vida como cidadão, vá com calma e pensando fora do círculo dos mentalmente pobres. Pense positivamente e saia da encruzilhada, entrando na vereda da racionalidade. Você é responsável pelo futuro da humanidade. Acredite nisso e pense sempre positivo. Pense nisso.

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