Será que a fisioterapia pode potencializar sua performance no trabalho?
Claudio Cotter
“Ergonomia” e “ginástica laboral” eram termos comuns quando se pensava em fisioterapia dentro das empresas, assim como ““Choquinho” para dor, protocolos repetitivos de exercícios direcionados para grupos de pessoas com diagnósticos parecidos nas clínicas e tratamentos nada personalizados, este pode ter sido o cenário da fisioterapia que você conheceu por alguns anos, mas é um cenário que para muitos já faz parte do passado.
A abordagem biopsicossocial extrapolou todas as áreas de conhecimento e não poderia ser diferente com a fisioterapia! Embasado em conhecimento de diversas áreas, como a antropologia, neurociência e epigenética, hoje tratamos de questões profundas, que envolvem mudança de padrões de comportamento para curar dores crônicas, que acompanham as pessoas por longos anos.
É importante salientar, que apesar de muitas pessoas acharem que conviver com dores seja um aspecto natural da vida, na verdade não é! Dores crônicas, são registros que ficam no nosso corpo em forma de memória, muitas vezes já não existe lesão tecidual e as dores permanecem por anos, pelo simples fato de ter sido gerada por um trauma físico ou psíquico muito intenso ou por repetição de maus hábitos, que podem ser desde hábitos alimentares até de postura ou movimentação, passando ainda por padrões de comportamento ligados à personalidade, que podem ser trabalhados a partir de processos de conscientização e hábitos angulares.
Mas o que isso tem a ver com sua performance no trabalho?
Tudo!! Os hábitos angulares, são pequenos hábitos positivos, que podemos cultivar durante o dia, os quais organizam o ambiente e por consequência influenciam todas as nossas ações sem necessariamente estejamos conscientes disso. Diversos estudos mostram que crianças que arrumam suas camas tendem a tirar melhores notas na escola, assim como é fácil perceber que pessoas que organizam melhor suas agendas são mais produtivas, tanto na vida pessoal, como no trabalho. Além disso, em ambientes de trabalho mais organizados os funcionários de empresas tendem a serem mais produtivos.
Tomar consciência destes padrões de comportamento já é um começo, diversos estudos mostram que apenas por entrar em contato com a informação e perceber que determinado hábito gera uma doença já é suficiente para que muitas pessoas mudem de comportamento. Esta é a base de programas, como o Vigilantes do peso, que perceberam que ao anotar tudo que comem as pessoas normalmente começam a emagrecer por perceber que realmente estão comendo em excesso.
São inúmeros os casos de pacientes que se apresentam nas clínicas com queixas de dores crônicas, as quais os impedem de produzir tudo o que poderiam no trabalho, muitas vezes levando a decisões até mesmo de mudança de trabalho com menor remuneração, pois não possuíam condições físicas de lidar com tanto estresse no ambiente de trabalho anterior.
A fisioterapia hoje funciona como um potencializador do seu corpo para lidar melhor com o estresse do mundo corporativo. Pensando no físico, alguns hábitos simples como girar a coluna quando muito tempo na frente do computador ou mudar de postura trabalhando no computador parte do dia em pé em uma bancada mais alta, podem ser os fatores primordiais para chegar na terceira idade com uma coluna saudável. Compensar as horas sentado com movimentos de qualidade, atividades voltadas não só a condicionar o corpo, mas também a diversificar movimentos, pode ser o grande segredo para aumentar a adaptabilidade do seu corpo para aguentar rotinas de estresse no trabalho. Claro que isto tudo não elimina a necessidade de, em certos casos, tratamentos psicológicos, mas um corpo resiliente é capaz de aumentar a autoconfiança e mudar o comportamento de uma pessoa, de uma empresa e até mesmo de um país.
*Claudio Cotter é fisioterapeuta com formação no Método Busquet e pós graduado em Medicina Psicossomática
Complexo de Messias
Marco Antonio Spinelli*
Alguns dias depois da bofetada na noite do Oscar, Will Smith internou-se voluntariamente numa Clínica Psiquiátrica para Reabilitação. Um amigo me ligou para me dizer que minha avaliação estava correta. No dia seguinte à cerimônia do Oscar eu escrevi sobre sua atitude e sintomas contidos em seu discurso, para mim indicativos de que ele estava precisando de ajuda com uma certa urgência. Meu amigo e colega leu o texto e me falou que eu iria queimar a minha língua, que aquilo tinha sido uma armação para devolver o Oscar às manchetes. É um programa decadente, que premia uma indústria hoje fragmentada em vários canais de streaming. O escândalo serviria para chamar atenção sobre o evento. A análise que eu fiz viraria piada. Eu achei que não viraria piada, e não virou.
Vivemos numa Sociedade do Espetáculo, onde um mendigo que transa com uma mulher em surto psicótico pode virar uma celebridade e beijar influencers na balada. Não dá mais para traçar a linha entre o Real e a encenação. Tudo parece roteirizado, até a morte. O importante é criar impacto e canalizar a atenção, até o próximo evento escandaloso. Somos uma aldeia global sedenta de cliques e likes.
Denzel Washington, um cara que tem a confluência rara de ser um artista espetacular e um homem íntegro e integrado às suas qualidades e defeitos , chamou Will Smith de canto depois da bofetada e falou, na citação do próprio Will: “Tome cuidado. Você está no momento de maior brilho. É nessa hora que o Diabo vem atrás de você”. Nenhum terapeuta poderia ter falado melhor. Pela lei da Compensação, quando estamos no ponto mais alto que se faz necessária a maior humildade. Não é fácil. O sucesso tem a característica inebriante de fazer seu portador se identificar com ele. O escritor Jorge Luís Borges escreveu: “Bem Aventurado aquele que aceita a vitória e a derrota com a mesma serenidade”. Mais uma vez eu digo: não é fácil. A tendência normal é ficar inflado nas vitórias e destruído nas derrotas.
Um terapeuta junguiano diria que o demônio que possuiu Will Smith é a Identificação com o Arquétipo. Vou traduzir o palavrão.
Arquétipos são matrizes fundamentais de nossa cultura e Psique. Figuras que aparecem em todas as Mitologias: a Mãe, o Pai, o Herói, o Salvador, a Bruxa, o Perseguidor, a Mulher Fatal. Preste atenção a seus sonhos, que esses arquétipos estão sempre por lá. Os filmes, os contos de fada
, os reality shows, as neuroses familiares, todas as metáforas que nos regem derivam dos Arquétipos. A moça em surto psicótico viu uma divindade no homem em situação de rua, possuída por essa inundação psíquica. Os Arquétipos estão dentro de nossa Psique e projetados nas fotos do Instagram. Eles são matrizes de formação de Consciência, e viram monstros quando queremos encarná-los. Esse o sinal claro que Will Smith estava doente. Em seu discurso, ele falou que estava sobrecarregado pelas tarefas que Deus colocava para ele. Ele desejava ser um Rio para seu povo. Uma luz para o mundo. Proteger a sua família dos abusos que sofrem as pessoas relevantes. E por aí foi. Ele estava inflado por essa fantasia de Salvador. De ser a Luz para o Mundo.
Alguém poderia, e deveria perguntar: isso é errado? É errado querer inspirar pessoas, fazer filmes com mensagens construtivas, num mundo em que o Caos parece sempre estar ganhando? Posso encher a boca para falar: isso não é errado, claro que não. Ainda vou escrever sobre as imensas qualidades do filme “King Richard”e da interpretação de Will Smith que lhe deu um merecido Oscar. Sem dúvida que a mensagem transmitida pelo filme é de Esperança e de Mentalidade de Crescimento. Pena que tudo isso foi manchado por uma bofetada num colega vinte quilos mais magro que ele. E por que? Porque ele se investiu da posição de Protetor de sua família. De Portador de Luz para seu povo. Essa identificação, muito provavelmente turbinada pelo seu estado, compatível com um colapso de algumas capacidades psíquicas, geraram a cena que vai ficar marcada, sobreposta ao que seria o ponto mais alto de sua jornada. Ao se proclamar o grande Protetor, acabou deixando todos os seus protegidos expostos ao massacre da mídia. Massacre muito pior que a piada de Chris Rock.
Nossa vida pode ser inspirada pelos melhores projetos, pelas melhores intenções. É muito bom que seja assim. Mas é mais protetor pensar que somos instrumentos de uma ideia maior que nós, não que somos a encarnação dessa ideia.
Pode parecer estranho, mas acolher o sucesso com cuidado e simplesmente aceitar que ele veio depois de um longo processo de busca e de aperfeiçoamento é dom muito mais maduro e sutil do que podemos imaginar. No filme, o personagem de Will Smith, Richard Williams, tem uma briga feia com suas filhas depois de uma vitória, pois ficaram contando vantagens no carro, voltando para casa. Ele falou para as meninas, depois de obrigá-las a assistir o vídeo da Cinderela: quando virar uma Princesa, não se esqueça de onde você veio.
*Marco Antonio Spinelli é médico, com mestrado em psiquiatria pela Universidade São Paulo, psicoterapeuta de orientação junguiano e autor do livro “Stress o coelho de Alice tem sempre muita pressa”
Pensa ou pensa que pensa
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Os sonhos se tornam realidade quando o desejo os transforma em ação concreta. Peça grandes presentes à vida e a estimulará a dá-los a você”. “Napoleon Hill)
Sou vidrado nas falas do Napoleon Hil. Sempre que as leio reflito sobre a naturalidade da caminhada para o sucesso. E o difícil está em como você considera o sucesso. Afinal, o que é sucesso para você? Sempre que falo de Cultura Racional alguém se esforça para prender o sorriso. O mesmo comportamento quando falamos de Relações Humanas. Não vou lhe contar, agora, sobre o que encarei quando iniciamos o treinamento para implantação das RH, com os operários de uma grande indústria paulista. E isso foi no início da década de 1964. Já falei disso por aqui. Então vamos mudar o rumo da conversa.
Sempre que vou a um supermercado, shopping ou coisa assim, fico observando o quanto já evoluímos, mas continuamos os mesmos. Ontem assisti a um dos maiores exemplos de como o cidadão ainda tem muito a fazer para se aprimorar nas relações humanas. Ainda não acordamos para o fato de que ela deve estar, tanto no trabalho quanto na família. Entrei na fila do caixa preferencial. Tinha só uma mulher, tentando pagar, e ela nem era idosa. A moça do caixa estava meio preocupada, olhou pra mim e tentou segurar o sorriso. O valor da compra, registrava dezessete reais e setenta centavos.
A mulher falou que seria no crédito. A moça do caixa verificou que não havia crédito. E a mulher continuava digitando no celular. Aí perguntou para a moça, se poderia ser no pix. A moça disse que sim. A mulher, muitos segundos depois, falou que estava faltando uma certa senha. A moça do caixa olhou pra mim e sugeriu que eu procurasse outro caixa, porque aquele era preferencial, mas iria demorar bastante. A mulher nem se tocou e continuou digitando no celular. Retirei-me e a mulher continuou na moleza.
Finalmente entrei noutra fila enorme e nem sei quanto minutos depois, passei pelo caixa preferencial e a mulher continuava digitando no celular. Caminhei até a casa, pensando em como ainda temos que evoluir. Mas pensei que aquela moça do caixa deve ter sido bem treinada em relações humanas. Legal a maneira como ela agiu com uma senhora que não tem o mínimo conhecimento sobre um relacionamento educado, que é uma característica das Relações Humanas, tanto no trabalho quanto na família.
O mais importante em tudo isso é que observando tais deslizes na educação, concluímos que devemos realmente aprender com os erros dos outros. E foi o que a paciência da moça do caixa demonstrou, com calma, sem mostrar o incômodo que estava vivendo. Pense nisso.
99121-1460