Dias maus
Marlene de Andrade
“Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” ( Salmo 121: 1e 2)
Nos tempos de Noé, as pessoas eram frias e muito perversas e o caráter das outras gerações só foi piorando. Já na sociedade greco-romana a violência era cultural. Quanto mais matavam, mais se sentiam felizes. Era uma violência obsessiva pelo derramamento de sangue. E hoje? Será que isso mudou? Não mudou, pois os níveis de violência têm alcançado níveis assustadores, visto que há pais matando filhos, inclusive através do aborto e filhos matando pais em grandes proporções.
Nisso tudo, o mais espantoso é ver criminosos sendo considerados vítimas, pois passam a ter direito, quando presos, a saidinha, ajuda de custo mensal, visitas íntimas e entre outras regalias, serem considerados vítimas da sociedade, o que não deixa de ser também uma violência contra a população de bem.
Estupro? Parece até que essa prática virou moda.
E o que mais preocupa é perceber, que a justiça da terra não é justa, pois os assassinos, ladrões, estupradores e tantos seres humanos criminosos, como os políticos corruptos, estão aí soltos e livres como se nada tivessem praticado. Então o que mudou desde os tempos da antiguidade? Quase nada.
É verdade que as sociedades, em geral, sempre foram violentas e a primeira e a segunda guerra mundial mostraram muito bem a capacidade que alguns seres humanos possuem em relação à violência que vem destruindo todo e qualquer valor humano, diga-se de passagem, é o que ocorre hoje em Cuba e Venezuela e, por exemplo, Argentina, pois nesses países as pessoas se matam até por um prato de comida, devido a fome que se alastrou naqueles países comunistas de forma inimaginável.
Sendo assim, fazer o que, se no livro de Mateus está escrito o seguinte: “E por ter multiplicado o mal, o amor de muitos esfriará.” (Mateus 24: 12). Então o que nos resta fazer é ter confiança em Deus e crer que com Ele somos mais que vencedores.
Médica formada pela UFF
Pós-graduação em Medicina do Trabalho-Gama Filho
Especialista em Medicina do Trabalho/ANANT
Perita em Tráfego/ ABRAMET
Perita em Perícias Médicas/Fundação UNIMED
Especialização em Educação em Saúde Pública/UNAERP
Técnica de Segurança do Trabalho/SENAI-IEL
CRM-RR 339 RQE 341
Dias e noites de Cazuza
Walber Aguiar*
Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante.
Renato Russo
Ele vivia naquela casa simples com cadeiras na calçada, com cajueiros no quintal, abacateiros, manguitas, que sempre fazia questão de dar. Passeava quase levitando, na imanência dos dias, com os pés descalços no terreiro cheio de sombra, chicória, cupuaçu, cidreira e capim santo. A casa foi feita para ser o lar de Cazuza e dona Otília. Construída em cima de mirixis e batatas doces que pai-lá plantava, junto com bananeiras; tesouro doce, feito as ingás de dona Inês, bem ali do lado.
Tudo era muito simples, como simples era o homem menino que ali morava. Junto com Joaquim, durante algum tempo, com quem repartiu abrigo e boas palavras, com firmeza e sensibilidade. Um dia vovó partiu, e a casa do bairro de Aparecida ficou ainda maior, pois seu quarto, sempre imexível, ficou enorme feito sua mala centenária, que testemunhou todos os atos e pessoas que por ali passaram.
Depois foi a vez de Joaquim. Ausente o pescador de peixes e de amizades, o espaço foi crescendo, crescendo, absorvendo a figura cheia de ética e grandeza que ali vivia. Um rapaz que amou poucas mulheres, Que fez chorar Eneida e suspirar tantas outras almas femininas. Com uma delas teve um filho, Leonardo, único e intensamente amado, mesmo à distância. Leonardo, que estava com ele na hora final.
Antônio Carlos David. o tio Carlinhos, ou Cazuza, viveu como bem entendeu viver e se vestiu de enorme simplicidade. Pedalava sua monark vermelha, enquanto cruzava a rua Aruaque, na direção da “Folha de Boa Vista”, onde apanhava o jornal todos os dias, bem manhãzinha. Levava o periódico religiosamente até a casa da Coronel Mota, onde desfraldava poemas e palavras diante dos olhos atentos de seu Genésio e dona Maria . E fazia isso com orgulho. Aliás, tudo que ele realizava tinha muito de vontade e satisfação.
Cazuza desenhava muito bem e foi tenor no coral da secretaria de educação, com o maestro Dirson Costa e tantos outros. Seus traços viraram idéias, atitudes e a existencialização do que viria a ser. Passou a limpo o borrão da vida e sorriu diante da saudade e da dor. Colecionou amigos e acumulou tesouros no céu, onde a traça não consome e a ferrugem não corrói. Por onde passava, acenava. No bar do Pará, onde tomava uma cervejinha bem gelada, no trabalho, no lugar onde se ergue o busto de Ottomar de Souza Pinto. Ali era respeitado, querido, amado. Sempre levava um sorriso no rosto e um lanche para os que tinham encarado a longa jornada semanal.
Carlinhos era assim, feito à imagem e semelhança do santo cuja igreja frequentava com muita constância, devoção e alegria: São Francisco, amigo dos bichos, das plantas, do sol e da lua; uma figura sedenta por Deus, cheia de intensa espiritualidade no coração. Se “alguém é tanto mais santo quanto mais humano seja”, então Cazuza era portador de enorme vida com Deus. Era de uma extrema humanidade, desde o ato de botar comida e água pros passarinhos até o cuidado com as feridas dos cães que nem dele eram.
Um carro, uma moto e uma coleção de amigos. Sidney, Wallace, Carmono, César Baiacu, Raulino, Caboco Clério, Williams, Magno velho e todos os sobrinhos, filhos de tia Zélia, Maria Messias e tia Dica. Também de Francivaldo Galvão, com quem batia longos papos sob as mangueiras mágicas do quintal de dona Otília. sorvendo uma antártica bem gelada. E aqui, peço perdão por não lembrar de todos os amigos, como Índio Bessa, Joãozinho, Eronildes, Patinhas, Cachorrão e toda a gente boa que com ele caminhou na trilha do existir.
Meu tio era indescritível. Indignava-se com a injustiça, a corrupção, o saque, a ladroagem, a opressão com que são tratados os que se vendem por cem reais e os que pagam o pato por se manterem bons, éticos e justos. Cazuza nunca deixou de ser menino. Nunca perdeu totalmente seu sorriso maroto, sua inocência bonita, coisa ingênua e morna que muitos deixaram e deixam pelo caminho.
Era uma tarde morna. Nunca ia lá pra passar uma chuva. Sempre demorava duas, três horas, às vezes a tarde inteira. Creyse e Cleres também iam lá. Creyse levava Renato para conhecer e conversar com o tio, a quem ele chamava de “camaradinha legal”. Penso que o menino Renato deve ter aprendido um pouco da simplicidade daquele homem, daquele jovem que portava um espelhinho oval no bolso e uma escovinha, chamada por seu Gernésio de pente de malandro.
Oferecia suco, água, manguita, um pouco de peixe que sobrava do almoço. Sei que ele tinha muitos livros e um enorme quadro com Wanda, na parede,do qual tinha muito orgulho, feito no auge da juventude dos dois. Sei que ali estão a TV, companheira da solidão e da insônia, o sofá onde ele deitava, o velho ventilador que girava no ritmo em que Cazuza levava sua vida: devagar e sempre.
Cleres sempre estava lá, na tentativa de compensar a ausência de muitos que partiram para o Eterno e a eternidade. Brincava de ser simples com aquele discípulo de São Francisco, que sempre estava ali, entre cachorros , plantas e passarinhos.
Qaulquer dia desses vou passar por ali, na tentativa de reabastecer o espigão de minha alma com as energias da simplicidade e daquilo que se constitui no autêntico existir, no mais amplo significado da verdadeira vida.
Sei que vou lembrar sempre do seu sorriso, do seu olhar franco, como que querendo agradar através de palavras cheias de singeleza e alegria de coração. Lembrarei da bicicleta vermelha, da manga madura, do abacate e, sobretudo, daquele rapaz latino-americano que portava uma escovinha e um espelho oval no bolso…
Adeus menino Cazuza, um dia nos encontraremos nos terreiros celestiais, cheios de sombra, cajueiros frondosos e uma grande revoada de passarinhos…
*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras
A mudança sempre é possível
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Nenhuma vida é tão difícil que não possa se tornar mais fácil pelo modo como for conduzida”. (Ellen Glasgow)
Todas as dificuldades na vida podem ser encaradas como lição. Ou aprendemos com elas ou elas nos vencem. Cada um de nós tem o poder de vencer. É só não se deixar levar pelo pessimismo. Inicie a luta sabendo distinguir o adversário do inimigo. E você pode vencer os dois, sabendo como enfrentar cada um a seu modo. E não devemos esquecer de que nosso maior inimigo está dentro de nós mesmos.
Vamos nos preparar para a vida. Nenhum de nós tem o poder de saber exatamente até quando iremos viver a vida. Então vamos aproveitar cada minuto da vida como ele deve ser vivido. Até mesmo nas horas de trancos não devemos baixar a cabeça. Ficar olhando para o bico do sapato, na hora da luta, é se entregar ao inimigo. Alguém já disse que os covardes e os cachorros sabem quando estamos com medo deles. Se perceberem que você está com medo, eles pisam no seu pescoço; se virem que você não tem medo, eles ficam na deles.
Viva cada minuto do seu dia, hoje. E não se esqueça de que amanhã é futuro. E quando ele se tornar hoje você deve estar preparado para vivê-lo. Simples pra dedéu. Encare sua vida sempre com simplicidade. Nada de ficar complicando. Porque seu problema está vindo de dentro de você, na sua maneira de pensar no que está vendo. As mudanças climáticas, as pandemias, doenças velhas conhecidas, sempre existiram e sempre existirão. Em todas as classes da humanidade e em todas as épocas e eras, os problemas sempre foram os mesmos, apenas com nomes e características diferentes.
O dia, hoje, está chato pra dedéu, mas não podemos nos aborrecer com ele nem conosco. O que devemos é vivê-lo como ele está, já que não podemos mudá-lo. A chuva que está aborrecendo você, está alimentando a plantinha do jardim. Então vamos ver o dia como mais um período a ser vivido. E ser feliz ou infeliz depende de cada um de nós. Pare de reclamar. Sorria sempre que o problema chegar. Ele nunca deve ser maior do que você. Mas será, se você se considerar menor e inferior a ele. Vamos em frente. O futuro está lá na frente e não lá atrás. Nunca deixe de dar bom dia ao dia, logo que você acordar, pela manhã.
Sua presença deve ser considerada como um ato de felicidade. O Bob Marley já disse: “Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida”. A vida é um círculo de vidas. “Somos todos iguais nas diferenças”. O que indica que as diferenças têm que ser respeitadas, para que sejamos iguais. Quem luta ela igualdade é porque se sente inferior. Pense nisso.
99121-1460