Opinião

Opiniao 14 05 2016 2425

Um líder respeitado por todos – Erasmo Sabino*Francisco Sabino de Oliveira, um nordestino pobre e rude, não se tornou uma lenda por acaso. Quis o destino que ele se revelasse também uma figura ímpar na política nordestina. Quando trocou a roça pela cidade, levado pela necessidade de dar melhor condição de vida à sua família, que começou a ser formada quando se casou com Severina Batista, seu amor por toda a vida.

Foi então que, vendendo fumo de corda, ele se fez conhecido não só é em Equador, mas também em toda a região. Nasceu ali outro Francisco, que passou a ser conhecido por Chico Fumeiro, alcunha que o inscreveu na história do Rio Grande do Norte. Ao enveredar pela política, foi eleito vereador com mais votos que o prefeito. Estava ali pavimentado o caminho para uma trajetória de homem público que se estendeu por mais de meio século.

Chico Fumeiro sempre cultivou virtudes como a solidariedade, a lealdade e o amor ao próximo. Assim, mesmo depois de morto, foi capaz de arregimentar o respeito sincero e espontâneo de personagens importantes, que se renderam à sua grandeza e fizeram questão de ir à pequena Equador prestar-lhe um último preito.

Chico Fumeiro, como ser humano e homem público, foi reverenciado por importante família de políticos potiguares: Agripino Maia. Na missa de 30º dia pela sua morte o senador José Agripino Maia deixou Brasília num momento da mais alta importância para a vida politica nacional, quando se decidia o destino do País, para ir a Equador exclusivamente a fim de prestar uma derradeira homenagem à família Sabino de Oliveira e àquele que aprendeu a admirar e respeitar ao longo de sua vida.

Desde menino José ouvia seu ai, Tarciso Maia, outro expoente da política potiguar, falar das qualidades de um sertanejo do Seridó. Tarciso e Chico Fumeiro foram correligionários por quase 50 anos. No pouco tempo que passou em Equador, aonde chegou de helicóptero, que em seguida o levou de volta para que pudesse regressar ao Senado Federal, Zé Agripino fez emocionado agradecimento a Chico Fumeiro pela lealdade a seu pai. Destacou ainda a honestidade e a ética que sempre realçaram sua vida politica, virtudes que ele, agora senador, e antes, seu pai, transformaram em símbolos de suas próprias carreiras.

Foi assim que, na última homenagem que recebeu, Chico Fumeiro mostrou porque um sertanejo rude e pobre, mas um homem de retidão de caráter, conseguiu ser um político que manteve sua vida pública sem qualquer mancha e transformada em exemplo para tantas gerações, como a de José Agripino Maia.

*Empresário

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As armadilhas da inteligência – Vera Sábio*

É facilmente comprovado, nos olhares atentos de um recém-nascido, que os bebês ultimamente nascem bem mais espertos e até mesmo inteligentes, do que antigamente. Normalmente, uma criança de 4 ou 5 anos possui habilidade com a tecnologia, muito maior do que os adultos e os idosos. E o interessante é que isso é adquirido naturalmente, simplesmente pelos olhares atentos e a inteligência nata.

No entanto, o que os adolescentes pouco aceitam é que a inteligência não tem grande aplicabilidade sem conhecimento; e, mais ainda, de nada ou quase nada adianta ser inteligente se não for disciplinado, persistente e procurar diversos conhecimentos, os quais estão em constantes mudanças.

Pois essa confiança na inteligência nata torna, muitas vezes, os adolescentes crentes que tudo alcançam sem esforços, acabando assim não buscando os conhecimentos específicos na área que desejam se formar.

Dessa maneira, com tanta inteligência e capacidade, mas sem dedicação e estudos, repetem e ficam atrás de outros que talvez não sejam tão inteligentes, porém são bastante para entender que precisam suar…

Saber filtrar o essencial do excelente é a descoberta extremamente necessária para o sucesso, visto que vários realizam coisas excelentes, mas que nem precisavam ser feitas. Já as tarefas essenciais requerem suar muito. Não é inteligente aquele que se livra do suor, e sim espertalhão. Todavia, com honestidade somente é possível se livrar do suor, bem posteriormente, depois de ter trabalhado diversos anos, já que com ética, dignidade e justiça nunca o sucesso acontece antes do trabalho.

Quem começa de cima só tem um caminho, a decida. Portanto, não viver iludido e confiante que a inteligência lhes basta é procurar nos caminhos das pedras o essencial para o conhecimento seguro que almeja para ter sucesso.

Embutir o quanto antes a responsabilidade pelos seus atos possibilita com que crianças e adolescentes tenham limites e disciplinas. Dessa forma, embora a cabeça esteja nas nuvens, os pés permanecerão no chão, não se tornando próprias vítimas das armadilhas da inteligência.

Afinal, precisamos conhecer o que realmente é essencial para realizarmos com excelência. Não sendo atitude inteligente o tempo jogado fora com aquilo que em nada nos faz crescermos e sermos melhores.

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega CRP: 20/[email protected]. (95) 991687731—————————————–

O moço da camisa rosa – Valdir Fachini*    E lá vinha ele descendo a rua, todo pintoso, cheio de graça e charme com sua camisa cor-de-rosa. Ele gostava dessa cor. Naquela época, homem que usava roupa rosa o pessoal chamava de baitola, maricona e mais uma centena de adjetivos, mas ele não estava nem aí.

As mulheres todas suspiravam por ele, as solteiras o disputavam no palitinho, as casadas se arrependiam de não ter esperado, as velhas se lamentavam por ter que ostentar suas inúmeras rugas, as meninas colocavam enchimento no sutiã para parecer mais velhas, acho que até a alma das defuntas no cemitério tinha uma quedinha por ele.

Os homens da cidade se descabelavam de ciúme dele, mas até que foi bom, porque eles começaram a se arrumar melhor. O estoque de fazenda rosa da cidade acabou, trocaram as velhas botinas por sapatos de pelica que custavam o olho da cara, passaram a fazer barba e tomar banho todo dia, ficaram até jeitosinhos, alguns até arrumaram namorada depois da mudança.

Teve macho que chegou a dizer que se fosse mulher daria em cima dele.

Uma tarde, bem de tardinha mesmo, quando os últimos raios de sol já se escondiam atrás da montanha, os rapazes e as moças começaram a dar volta em torno da fonte luminosa (naquela época, toda praça em frente à matriz tinha uma). As moças iam por um lado, os moços iam pelo outro, de modo que todos eles se encontravam com todas elas. Só o Tertuliano não ia pra lugar nenhum, ficava parado feito dois de paus.

Numa dessas voltas ele me deu uma olhada comprida, tão comprida que eu me arrepiei. Na segunda volta de novo, na terceira ele repetiu a olhada, na quarta vez eu parei, fui perto dele, cumprimentei e falei só pra ele ouvir… Olha aqui, cara! O meu negócio é mulher, eu não gosto de viadagem não. E voltei a voltear.

Aí eu me toquei. Se eu notei que ele estava me olhando, é porque eu olhava pra ele também. O que está acontecendo comigo? Comecei a me preocupar com a minha macheza, pior foi perceber que as moças do volteio já não me chamavam a atenção. Do outro lado da fonte eu procurava com o olhar pelo moço da vestimenta rosa, mas a maioria dos mancebos já estava usando rosa. Meus passos se apressavam quando eu estava longe, mas quando eu chegava perto. eles iam em câmera lenta.

Alguma tarde depois, eu estava sentado num banco da mesma praça, à sombra de um pé de tamarindo, quando eu o vi se aproximando, confesso que tremi. Ele sentou do meu lado e tentou me acalmar, então com uma voz macia ele me disse… Eu sou mulher.

Eu nasci assim com esse jeito masculino, mas não sou homem e nem quero ser. Isso foi um erro da genética, tenho pelo por todo o corpo e essa barbinha ridícula que eu procuro manter sempre aparada.  Não tenho amigos, tenho medo de ter amigos e depois não ser aceita quando descobrirem como sou de verdade.

Então, eu me propus a ser seu amigo, não sei se por dó ou afeição, mas acabei sendo seu grande amigo e ela minha melhor amiga, talvez a única. Chorei, quando um dia ela se mudou com a família para outra cidade. Fiz festa quando um ano mais tarde ela voltou, muito mais amiga ainda.

Essa história se passou muito tempo atrás, tenho saudades daqueles momentos. Hoje eu estou casado, sou feliz e amo demais a minha esposa e tenho três filhas… Todas barbadas.

*[email protected]—————————————–

‘O Brasil saúda a França a bordo do dirigível Pax’ – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Foi a doze de maio lá na França, sob o puro e sereno azul do céu…”. Todos os anos, e faz muitos anos, eu me preparo pra falar sobre o Augusto Severo, na França, em 12 de maio de 1903. Foi um dia histórico para o Brasil, embora o Brasil não esteja mais nem aí para ele. Foi o dia em que o Augusto Severo morreu, na explosão do seu dirigível Pax, voando sobre Paris. Do dirigível, durante o voo, foram lançados os folhetinhos: “O Brasil saúda a França a bordo do dirigível Pax”. E hoje me pareceu um dia próprio para falar disso. A coincidência me chamou a atenção.

Eu era pré-adolescente e estudava na Escola de Base, na Base Aérea de Natal, em Parnamirim. Todos os anos, no dia 12 de maio, íamos comemorar o dia de Augusto Severo. A comemoração era em Natal, na praça, em frente ao Teatro Municipal. Durante a apresentação recebíamos uns prospectozinhos, lembrando os que foram lançados do dirigível Pax, sobre Paris, em 1903. O lançamento dos folhetos foi pouco antes da morte do Augusto Severo, na explosão do dirigível. Durante o evento, em frente ao Teatro, cantávamos uma espécie de hino, de cuja letra não me lembro mais. Mas começa com essa que está aí: “Foi a doze de maio…”

Lembrei-me disso, ontem, e não pude deixar de tocar no assunto, pela coincidência de data entre a queda do Pax e a saída da Presidência. Pequena, apenas pequenas. Ambos os eventos trouxeram mudanças. Mas as mudanças do início do século XX até hoje foram muitas; as a partir de hoje demorarão décadas e, talvez, até um século. Mas vale a pena esperar com paciência e racionalidade. A saída da presidência não equivale à explosão de um dirigível frágil, mas exige atenção, respeito e consideração. Mesmo porque as coisas não mudam, nós é que mudamos. Então vamos mudar. Mesmo porque tudo depende de nossa força de vontade para fazermos um país construído com esforço e dedicação. Comecemos lutando pela nossa educação. Com a educação que temos ainda não estamos no patamar exigido por uma democracia. Ainda estamos voando em dirigíveis frágeis, rumo ao horizonte que desejamos. Vamos mudar o país, mudando a nós, primeiro. E comecemos convencendo os nossos políticos de que não seremos uma democracia enquanto formos obrigados a fazer o que deveríamos fazer por dever. Lute pelo seu direito ao voto facultativo. Mas primeiro você deve se preparar para ele. E não estaremos preparados enquanto continuarmos confundindo dever com obrigação; baixando nossas cabeças para quem deveríamos olhar nos olhos. Você elege o mau político mesmo não votando nele. Pense nisso. [email protected]    99121-1460