Sinos que dobram – Walber Aguiar*E o mundo compreendeu, e o dia amanheceu em paz. Chico BuarqueDepois de um tempo a gente tem a mesma percepção do escritor do livro de Eclesiastes. Passamos a vida ajuntando tesouros, brilhos que não eram nossos, árvores que não dão fruto ou dão fruto demais, pessoas que vão sumindo de vista feito canoas apressadas, amores mal resolvidos, pedras falsas, obras que visavam tão somente impressionar os olhos pouco acostumados com projetos nababescos e faraônicos.
Se tudo é vaidade e correr atrás do vento, a vida, como hoje a conhecemos, torna-se uma grande bobagem. Ter demais induz ao consumismo, a tal teologia da prosperidade, ao esvaziamento da alma. Isso porque, ao amealhar, ao encher as mãos com o tudo, sobra-nos o nada a invadir as tardes de terça ou noites de domingo. Ou mesmo todos os dias. E os sinos dobram. Dobram pela nossa alma esvaziada, pelo hermetismo que se concentra nos cantos secos e sujos de nossa interioridade.
Por isso os sinos dobram. Na catedral bem próxima de nós. Na velha catedral de Braga, Portugal. Nas manhãs possuídas pela cultura do romantismo e pelo romantismo da cultura. Daí a vaidade das grandes construções, dos projetos arquitetônicos que saltam aos olhos. Construímos fora de nós o que nossa enorme vaidade impediu que fosse feito dentro. Daí as maravilhas que nos ensoberbecem o coração.
Os sinos dobram pelo bom e inevitável amor. Não o sentimento que adoece, patologiza. Não a obsessão de possuir o outro pela chantagem, ciúme doentio ou força bruta. Isso foge à conquista diária, às flores atiradas sobre a cama, ao companheirismo sóbrio e sadio da conjugalidade, da cumplicidade. No entanto, os sinos não dobram pela exacerbação do sentimento, pois o mesmo vai virando uma doença do querer, uma neurose do desejo. Isso também é vaidade e correr atrás do vento. Isso faz da vida uma grande bobagem.
Os sinos da velha catedral de Braga também dobram pelo conhecimento, pelo racional, pela capacidade de passar para o papel e para a oralidade, a força da razão. Fora isso, apenas o racionalismo árido e sufocante, que tenta aprisionar Deus num tubo de ensaio.
Fazia frio naquela manhã. Os sinos dobravam pela vida e pela morte, pela escuridão e pela luz. Em meio a toda vaidade, ao cansaço e à bobagem de viver, ela me deu um beijo e dormiu novamente…
*Poeta, historiador, professor de filosofia e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected] ————————————Atestados falsos até quando? – Marlene de Andrade*As riquezas conquistadas mediante língua mentirosa são ilusão passageira e cilada que pode levar à morte. (Provérbio 22:8).Médico assinar atestado médico falso é crime, porém há casos em que o trabalhador falsifica a assinatura do médico usando um conhecido que trabalhe em uma unidade de saúde. Tal ato também é crime. Há também casos de o médico emitir atestado para pessoas que estão completamente saudáveis, pois, às vezes, a simulação foi tão perfeita que o médico, na dúvida, acaba emitindo o atestado para não ficar com sentimentos de culpa, ou então por se tratar de amigos ou algo pelo estilo.
Infelizmente, alguns trabalhadores procuram o Pronto Socorro/PS ou um Posto de Saúde para tão somente pegar um atestado gracioso, ou seja, falso. Felizmente, a maioria dos médicos não cai nesse engodo, pois após examinar o paciente percebe que aquela pessoa está bem de saúde e por isso não emite o atestado.
Mesmo assim, alguns trabalhadores insistem em ir ao PS com queixas, por exemplo, de diarreia e vômitos, mal-estar geral e dor de barriga de maneira muito subjetiva. Interessante, essas idas ao PS se dão mais em vésperas de feriados ou em finais de semana e aí o que dizer disso?
Claro que o médico deve atender essas pessoas com a mesma atitude profissional como atenderia uma pessoa de fato doente. Mas essa queixa de diarreia e vômito já está muito manjada! É verdade que pode não ser simulação e se tratar de um quadro clínico grave como, por exemplo, apendicite aguda, o qual sempre cursa com dor abdominal e que pode levar o paciente à morte. Nesse caso, a anamnese e o exame físico ajudam muito o médico a detectar se aquela pessoa está mentindo ou não. No entanto, há casos tão subjetivos que esse profissional acaba ficando mesmo na dúvida. Assim sendo, ele emite o atestado e pede ao trabalhador que retorne, caso piore de uma possível doença em curso.
Assim, chegamos à conclusão de que muitas pessoas vão a uma unidade de saúde sem estar doente de fato e que o que querem mesmo é um atestado para poderem ir a uma festa, viajar ou para resolver problemas pessoais. Para que isso ocorra, elas passam a simular uma doença que de fato não possuem. Cabe então a nós, médicos, fazer toda investigação dessa possível patologia. Nesse dilema, a dúvida que se instala é cruel. O que fazer nesses casos? Muitas vezes não temos respostas e assim diante dessa realidade descobrimos que o conflito a esse respeito nos persegue. Que tarefa difícil é ter que atender simuladores!
*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMThttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade473624-3445———————————-Até quando seremos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“O ser humano é o parasita mais monstruoso que existe sobre a terra, em razão dos crimes hediondos que pratica contra as leis naturais”. (Do livro “Universo em Desencanto”)Segundo a Cultura Racional, estamos aqui, na terra, há pouco mais de vinte e uma eternidades. Pelo que sabemos de nossa história como seres humanos, tudo o que progredimos até agora veio através da violência.
Toda nossa história é calcada na violência. E como a Astrologia Espacial nos garante que estamos na iminência de um novo dilúvio, vamos ter cuidado. Mas, conosco mesmo. Cada um com sigo mesmo, se cuidando para poder cuidar dos outros. E pelo que me parece, o próximo não vai ser o último dilúvio. Porque estamos caminhando para trás, em termos de civilidade. Mas pera lá… nem estou sendo grosseiro nem pessimista.
Só estou no foco das coisas, pelo jeito como elas estão acontecendo, em relação ao nosso comportamento como seres humanos.
Nada de detalhes, estou apenas comentando no que estou vendo e sentindo. Esse hediondo crime nos Estados Unidos, matando mais de cinquenta pessoas, não é maior do que o assassinato contra os judeus, na Segunda guerra Mundial. Mas não deveria mais acontecer depois do mau exemplo do Hitler. Mas o que estamos fazendo para evitar isso? Nada do que deveríamos fazer como deveria ser feito. E isso, porque é simples pra dedéu. Se se olhar para a proteção que estamos usando para nos protegermos dos marginais, e analisarmos nosso comportamento, fica fácil de entender o angu. As autoridades não estão tendo competência para nos proteger. E nós estamos nos protegendo baseados na incompetência deles. Enquanto os bandidos estão fugindo despreocupadamente dos presídios, nós estamos tornando nossos lares em verdadeiras prisões domiciliares para nós mesmos. E o mais ridículo é que nos orgulhamos do nosso vexame. E as autoridade batendo palmas e nos incentivando.
Como estamos orgulhosos em poder entrar em casa, trancar as portas, ligar o aparelho de proteção, sentar diante da televisão e ver os bandidos fugindo dos presídios. Aí olhamos para a cerca elétrica e nos sentimos felizes porque seguros. E a pergunta é: estamos, ou não, colaborando para o despreparo dos que deveriam ser e estar preparados para nos proteger? E até mesmo os que raramente prestam atenção a isso não deixam de avisar à família para ela segurar bem a bolsa quando estiver caminhando pelas ruas. Se é assim que pretendemos acabar com a violência, é mais cômodo nos prepararmos para o próximo dilúvio.
Porque no próximo retorno voltaremos com as mesmas fantasias do atual. Pense nisso.