O que é lógica? Uma noção introdutória
Marcos Alexandre Borges
Professor do Curso de Filosofia da UERR
“Lógica” é um termo muito comum, empregado em inúmeras situações e contextos diferentes no cotidiano de muitas pessoas, como quando alguém diz: “isso que você fala não tem lógica”, ou: “é lógico que eu não vou perder a estreia desse filme”, casos nos quais lógica pode significar “coerência” ou “sentido”, como no primeiro exemplo; “evidente” ou “óbvio”, no caso do segundo. “É lógico” que você, leitora ou leitor, já usou uma ou outra das expressões exemplificadas acima (senão ambas) em alguma conversa cotidiana, seja na família, na escola ou universidade, no trabalho ou mesmo em uma conversa entre amigos, com a pretensão de dar um peso ao que pretende concluir, ou simplesmente ao querer afirmar, de forma contundente, que algo “deverá” acontecer, necessariamente.
Além desses sentidos que fazem parte do seu uso comum, “lógica” é uma palavra que dá nome a um ramo do conhecimento desenvolvido e estudado há muito tempo, e que contemporaneamente dá base para diferentes campos do saber, como a Matemática e a Informática, por exemplo. Entre os primeiros pensadores que sistematizaram os conhecimentos de lógica, podemos destacar Aristóteles (384 – 322 a. C.), autor de um conjunto de textos que formam o Órganon, uma de suas obras mais relevantes e que, entre outros assuntos, trata do que passa a ser chamado de “lógica”. A importância desse filósofo na história da lógica é tamanha que, até o século XIX, praticamente toda a base dessa área é aristotélica.
Mas o que significa lógica em seu sentido mais “técnico”, por assim dizer. Em seu Vocabulário técnico e crítico da Filosofia, Lalande, por exemplo, define-a como “a ciência que tem por objeto determinar, por entre todas as operações intelectuais que tendem para o conhecimento do verdadeiro, as que são válidas, e as que não o são” (1999, p. 630). Desta definição, destaco o papel da lógica na tarefa de estabelecer o que é válido na busca do conhecimento, sem deixar de mencionar um aspecto que consideramos problemático nessa concepção, ao atribuir à lógica o papel de se ocupar com “operações do intelecto”, tanto pelo caráter genérico dessa expressão (o intelecto tem muitas operações diferentes), quanto porque as operações mentais não são propriamente objeto dessa área do conhecimento.
Irving Copi apresenta uma definição preliminar da lógica como “o estudo dos métodos e princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto” (1968, p. 20). Aparentemente, esta concepção não difere da de Lalande, mas, ao analisarmos com mais atenção, perceberemos que Copi não se refere a “operações do intelecto” no sentido mais geral, mas a uma operação específica: o raciocínio. Ou seja, este autor traz uma definição um pouco mais precisa e explícita sobre qual é a operação do intelecto com a qual a lógica se ocuparia.
Wesley Salmon, no início de seu pequeno livro sobre Lógica, escreve que “a Lógica elabora técnicas para a análise de argumentos”, e que “Um de seus propósitos básicos é apresentar métodos capazes de identificar os argumentos logicamente válidos, distinguindo-os dos que não são logicamente válidos” (Salmon, 1987, p. 13). Esta definição, como podemos ver, contém a noção de “validade”, que destaquei na citação da passagem de Lalande, e traz uma precisão ainda maior, quiçá uma correção, à concepção de Copi, ao colocar o “argumento”, no lugar de “raciocínio”. Melhor que definir a lógica como o estudo dos métodos e princípios para distinguir os raciocínios corretos dos incorretos é defini-la como o estudo dos métodos e princípios que nos permitirão distinguir os argumentos corretos (ou válidos) dos incorretos (ou inválidos).
Mas, por qual razão é melhor definir a lógica a partir da noção de argumento que de raciocínio? Por conta de uma ressalva que o próprio Copi faz, em relação a este último (embora defina a lógica como o estudo dos métodos e princípios para distinguir o “raciocínio” correto do incorreto). Ele alerta que o raciocínio, por ser uma espécie de pensamento, faz parte do material de estudo do psicólogo, não exatamente do lógico, que está interessado na “correção do processo racional uma vez que este esteja completado” (Copi, 1968, p. 21). E, eu diria que o raciocínio “uma vez que esteja completado”, e expresso, é exatamente o que chamamos de “argumento”.
Nesse sentido, concordo com Nolt & Rohatyn que, de uma forma muito direta, sintética e precisa, escrevem que “A Lógica é o estudo de argumentos” (1991, p. 1). Segundo esses autores, o argumento é o principal objeto da lógica, tese que é corroborada tanto por Salmon (como vimos acima), e Copi, se levarmos em conta o pequeno ajuste com o qual eu terminei o parágrafo anterior. O argumento pode ser definido como um discurso no qual encadeamos proposições com o objetivo de sustentar uma conclusão. Ou, dizendo de outro modo, é um conjunto de proposições, sendo que algumas são premissas (antecedentes) das quais se pretende concluir alguma coisa.
Posso argumentar, por exemplo, que “todo boa-vistense é brasileiro, pois todo boa-vistense é roraimense e todo roraimense é brasileiro”. Este é um exemplo de uma forma muito tradicional de argumento, o dedutivo. Nesse caso, conclui-se que “todo boa-vistense é brasileiro” a partir das premissas “todo boa-vistense é roraimense” e “todo roraimense é brasileiro”. Se quisermos visualizar esse argumento de uma forma mais sistemática, para que ele fique mais claro, podemos construí-lo assim:
Todo roraimense é brasileiro.
Todo boa-vistense é roraimense.
Logo, todo boa-vistense é brasileiro.
Esse é um exemplo de argumento válido, o que pode ser percebido sem muita dificuldade, pois se todo boa-vistense é roraimense, e todo roraimense é brasileiro, não há como negar a conclusão de que todo boa-vistense é brasileiro. Ou seja, “todo boa-vistense é brasileiro”, no caso do argumento acima, é uma consequência lógica das premissas enunciadas.
Mas, e se alguém quiser argumentar que: “todo brasileiro é boa-vistense, pois todo boa-vistense é roraimense e todo roraimense é brasileiro”. Vejam que nesse caso tenta-se concluir que “todo brasileiro é boa-vistense” a partir das premissas de que “todo boa-vistense é roraimense” e “todo roraimense é brasileiro”. As premissas são verdadeiras, mas a conclusão é falsa (obviamente, existem brasileiros que são manauaras, paulistanos, curitibanos, entre tantas e tantas outras opções).
Há uma regra na lógica que determina o seguinte: “se um argumento dedutivo tem premissas verdadeiras e conclusão falsa, o argumento é inválido”. É o caso do último exemplo, que não obedece a essa regra. Mas, se analisarmos o argumento com um pouco de atenção, poderemos perceber que a conclusão “todo brasileiro é boa-vistense” não se segue das premissas enunciadas, independentemente de ser verdadeiro ou falso. E isso ficará mais claro que reconstruirmos o argumento tal como fiz com o exemplo anterior:
Todo boa-vistense é roraimense.
Todo roraimense é brasileiro.
Logo, todo brasileiro é boa-vistense.
A afirmação que se pretende concluir aqui, de que “todo brasileiro é boa-vistense”, não é uma consequência lógica das premissas “todo boa-vistense é roraimense” e “todo roraimense é brasileiro”. Ainda que as premissas sejam verdadeiras, não se segue delas o que se apresenta como conclusão. A invalidade desse argumento é tão evidente quanto a validade do argumento apresentado antes. Mesmo que não fôssemos capazes de conhecer de imediato a falsidade da conclusão, nesse caso, não é difícil perceber que a afirmação conclusiva não é uma consequência lógica das premissas desse argumento.
Com o estudo da lógica conhecemos métodos, regras e princípios que nos permitem distinguir um argumento válido de um inválido, e também entender as razões pelas quais um argumento é válido ou não. Os dois exemplos trazidos aqui são muito simples, cuja validade de um e invalidade do outro são facílimas de identificar, não exigem muito esforço. No entanto, existem argumentos mais complexos, que podem ter uma aparência de validade, e ser inválidos. Quando isso ocorre, temos o que, em lógica, é chamado de falácia.
Eis no que consiste a importância do estudo da lógica! Ele permite que conheçamos as formas de argumento válidas, que saibamos distinguir as corretas das incorretas, e identificar as falácias, os argumentos aparentemente válidos, pelos quais podemos ser enganados por alguém que tenha interesse em estabelecer um discurso sem justificativa coerente e, assim, sem sentido. A lógica é constituída de um grande número de conceitos, princípios, métodos e teorias muito interessantes, importantes e úteis. Quem tiver interesse em conhecer mais sobre o assunto pode consultar algumas das obras introdutórias, como as que foram citadas nesse artigo (cujos títulos estão relacionados abaixo, nas Referências), algumas facilmente encontradas para baixar na web. E, aquelas e aqueles que pretendem estudar o assunto com um pouco mais de profundidade, pode ingressar num curso de Filosofia, como o da Universidade Estadual de Roraima!
Referências:
ARISTÓTELES. Órganon. Trad. de Edson Bini. Bauru: Edipro, 2010.
COPI, Irving M. Introdução à Lógica. Trad. de Álvaro Cabral. São Paulo, Mestre Jou, 1978.
LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. Trad. de Fátima Sá Correia, Maria Emília V. Aguiar, José Eduardo Torres e Maria Gorete de Souza. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MORTARI, Cezar A. Introdução à lógica. São Paulo: Ed. UNESP, 2001.
NOLT, John & ROHATYN, Dennis. Lógica. Trad. de Leila Zardo Puga e Mineko Yamashita. São Paulo: McGraw-Hill, 1991.
SALMON, Wesley. Lógica. Trad. de Leônidas Hegenberg e Octanny Silveira da Mota. Rio de Janeiro: Editora Guanabara, 1987.
Pairando no passado
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Quando ela canta me lembra um pássaro. Não um pássaro cantando, mas um pássaro voando”. (Ferreira Goulart)
Foi como me senti ontem pela manhã. Ainda estávamos no café da manhã, quando o Alexandre ligou o aparelho de som e ouvimos a Zizi Possi cantando. Era uma música suave, num verdadeiro alento. Que é o que estamos precisando atualmente, em toda a sociedade. Aí lembrei-me da Nara Leão. Quando ela canta sinto-me pairando no ar. E o Ferreira Goulart falou essa frase aí encima, exatamente se referindo a Nara Leão. Porque quando ela canta é como se estivéssemos vendo um pássaro voando. E por que será que deixamos para trás o que temos de melhor na música brasileira?
A felicidade está na calma causada pela tranquilidade no espírito. Quando nos preocupamos com o silêncio o problema está em nós e não no silêncio. Em 1988 fiz um exame para um pré-vestibular, em São Paulo. A examinadora me fez a seguinte pergunta: “O que é que torna a música clássica”? Olhei para ela e não me lembro que resposta lhe dei. Mas deve ter sido válida. Mas ouvindo a Zizi e a Nara, penso em qual a diferença entre as músicas das duas, e as do cantor clássico. Recentemente ouvi uma seleção de músicas, do Mestre André Rieu, e a orquestra de músicas clássicas tocava uma música do Roberto Carlos. O que indica que o clássico está na qualidade.
Que tal se voltássemos ao que costumam chamar de sofrência? O coração bate mais forte sem bater. É quando sentimos a presença do amor, muitas vezes, no som que ouvimos, quando ele nos traz a felicidade, não em voar, mas de pairar no ar da tranquilidade. Vamos fazer o melhor que pudermos fazer para nós mesmos, mantendo nosso espírito no universo da tranquilidade. O Anthony Robbins diz: “O que fazemos na vida é determinado pelo que comunicamos a nós mesmos”. Então vamos comunicar a nós mesmo o que queremos para uma vida saudável e digna de ser vivida. E só podemos fazer isso com amor.
Estamos vivendo, a meu ver, um momento desesperador de desequilíbrio mental. O que ouvimos todos os dias sobre o descontrole na caminhada da racionalidade, é desesperador. Estamos
confundindo amor com desejo irracional. Não devemos confundir o que temos de melhor, com o pior que nos atormenta que é o ciúme. Porque o ciúme não é mais do que um desequilíbrio mental. Você numa vai ver um ciumento, mentalmente equilibrado. Assim como não há uma pessoa mentalmente equilibrada e ciumenta. Reflita sobre isso e veja em que grupo você está incluído. Analise-se e viva sua vida dentro da racionalidade para que possa colaborar para o desenvolvimento da humanidade. Pense nisso.
99121-1460