Assombrologia

João Paulo M Araujo

Professor do curso de filosofia da UERR

No início do manifesto do partido comunista de Marx & Engels (1848) é célebre a expressão: “Um espectro ronda a Europa – o espectro do comunismo”. A partir de então, esse espectro deixa de ser um espectro e passa a se tornar algo de real e palpável, portanto, “reconhecido como uma força por todas as forças da Europa” (MARX & ENGELS, 1848). O resto dos desdobramentos da história conhecemos relativamente bem, sobretudo como o termo “comunismo” foi usado e empregado em nome de importantes revoluções pela Europa, Ásia e América Latina. Com a queda do muro em 1989 e com a chamada dissolução do bloco soviético em 1991 o “comunismo” incorpora literalmente a condição de um espectro, sua ontologia deixa ocupar um lugar concreto na vida das pessoas. Com a ascensão do neoliberalismo escancarado nas ominosas declarações de Margaret Thatcher “Não há alternativa” e “Não existe essa coisa de sociedade” assistimos os duros golpes deferidos contra toda e qualquer forma de organização popular e sindical em prol dos trabalhadores. A oposição proletariado/burguesia cada vez mais enfraquecida nos dias atuais, passara a ser uma luta completamente desacreditada. Consequentemente, a palavra “comunismo” passa a ser fortemente veiculada como um recipiente no qual a extrema direita aloca todos os seus ressentimentos e falácias, simplesmente com o objetivo de crescer ideologicamente, vendendo, assim, a imagem de um espantalho. Dessa forma, o sentimento que implicitamente circunda o discurso das pessoas é a ideia de que o capitalismo venceu, não há outro sistema capaz de concorrer com ele, para o bem ou para o mal, é a única coisa que nos resta, como diz o ditado popular “ruim com ele, pior sem ele”.

Esse tipo de pensamento, aquilo que Milton dos Santos (2000) chamou de “pensamento único” opera em nosso imaginário a crença de que tudo que poderia ser feito já foi feito, que não existem mais alternativas para a nossa condição. Os efeitos catastróficos desse pensamento, tornou a própria esquerda resignada. Lentamente assistimos o socialismo perder terreno para uma social democracia que só reafirma o labirinto sem saída do capital. Enquanto isso, seguimos vivendo, anestesiados para as desigualdades, questões ambientais, representatividade política, direitos trabalhistas dentre uma série de outras pautas cujos danos lentamente minam nossa existência. Todavia, vez ou outra somos assombrados pela a imagem dos mundos possíveis, de “como as coisas seriam se…”, algo parecido com a música Imagine de John Lennon; nossas utopias parecem, ainda que por um breve momento, saltar à nossa introspecção como um horizonte a ser buscado. Mas por que assombrologia? Onde esse conceito se encaixa e o que isso significa exatamente? No que esse conceito pode ser útil na retomada de nossas utopias?

O termo “assombrologia” foi descrito pelo filósofo francês Jacques Derrida em um texto chamado Espectros de Marx (1993). O texto completamente antenado com o espírito do tempo, diagnosticava cirurgicamente a condição pós-moderna que o mundo se encontrava no início da década de 90. Portanto, o conceito vem do francês hantologie, um neologismo formado por duas palavras hante e ontologie (na versão inglesa ficaria hauntology) que, por seu turno, encerra a ideia segundo a qual elementos do passado cultural tendem a retornar ou persistir como uma espécie de espectro ou fantasma: uma assombração. Vale ressaltar, que inicialmente o termo estava originalmente conectado ao pensamento de base marxista, isto é, com o objetivo de denotar a natureza atemporal (e necessária) do pensamento de Marx como um insistente ponto de inflexão, ao menos, enquanto houver modo de produção capitalista. Por outro lado, de um ponto de vista mais genérico, desde sua aparição na obra de Derrida, o conceito passaria (sobretudo, a partir dos anos 2000) a habitar outras áreas do saber como música, artes visuais e literatura. Em suma, assombrologia ganharia novos contornos (muito embora pouco consistentes), e uma figura central nessa nova leitura do termo seria Mark Fisher.

Dada à sua recalcitrância, em sua nova forma de existência, a assombrologia passaria a se referir a uma forma de reciclagem do passado, principalmente no campo da música, onde é possível perceber a presença de uma estética retrô, que na visão tanto de Mark Fisher quanto de Simon Reynolds pode ser compreendida como a incapacidade da contemporaneidade de escapar de velhos padrões socioculturais. Isso, por sua vez, criaria a sensação de que nada de novo poderia ser criado, e tudo não passaria de uma repetição (uma retromania – para usar a expressão de Reynolds) ou recauchutagem do velho para produzir uma aparência (ou simulacro) do novo. Inspirado pelo filósofo italiano Bifo Berardi, Mark Fisher a partir dessa nova leitura da assombrologia de que não conseguimos escapar do oroboros do qual nossa cultura global é atravessada, avança na ideia segundo a qual as repetições e releituras do passado cria e nós a sensação de que o futuro está perdido, como se tudo o que está ocorrendo no atual presente fosse a mais notável expressão de um lento cancelamento do futuro.

Aqui, não nos enganemos, apesar do conceito de assombrologia ter sido direcionado por Fisher para um diagnóstico de que nas artes “o novo nunca vem”, seu pano de fundo ainda permanece político, como crítica àquilo que ele chamou de realismo capitalista. Em seu texto Fantasmas da minha vida, Fisher (2022, p. 46) chama atenção para o seguinte: “somos induzidos pelas relações públicas onipresentes a falsamente superestimar o presente, e aqueles que não conseguem se lembrar do passado estão condenados a revendê-lo para sempre.” Apesar desse nefasto diagnóstico, no pensamento de Fisher ainda há alternativa e ele nos convida o tempo todo a não desistir do fantasma. Dessa forma, “o espectro não permitirá que nos acomodemos pelas satisfações medíocres que podemos colher em um mundo governado pelo realismo capitalista” (FISHER, 2022, p. 42). Para Fisher (2022), o que está em jogo na assombrologia desse novo século é o desaparecimento de uma tendência que ele chamou de modernismo popular. Trata-se de uma série de referências culturais que em seus anos de juventude foram diretamente responsáveis por moldar seu pensamento crítico como, por exemplo, a imprensa musical, programas de radiodifusão da BBC dentre uma série de outros elementos de formação que nos dias atuais perderam o norte e não possuem forç
a alguma na formação (diga-se de passagem, meramente técnica) desinteressada de uma ampla parcela da juventude.  

Como uma espécie de Walter Benjamin do séc. XXI, Fisher evoca uma certa melancolia em todo esse processo, uma melancolia assombrológica. Esse tipo de melancolia condicionada pelo modo de vida contemporâneo do qual Fisher fala, consiste “em uma recusa a se ajustar ao que as condições atuais chamam de “realidade” – mesmo que o custo dessa recusa seja que você se sinta um desajustado em seu próprio tempo…” (FISHER, 2022, p. 44). Há uma preocupação no texto de Fisher sobre se essa assombrologia com traços melancólicos não é apenas um outro nome para nostalgia. Apesar de evocar traços característicos de um passado que comparado ao presente era muito mais engajado e capaz de mudanças, Fisher tem consciência de muitas limitações que ali também existiam, por essa razão, esse passado não pode ser identificado como uma mera nostalgia. Olhar para o passado deve ser um exercício de justiça ao que deve ser preferível e execrado: “Na década de 1970, certamente a cultura foi aberta à inventividade da classe trabalhadora de uma forma que agora dificilmente é imaginável; mas que também foi uma época em que o racismo, o sexismo e a homofobia eram características casuais e rotineiras do mainstream” (FISHER, 2022, p. 47). Esse mainstream, diga-se de passagem, ainda é lugar comum em nossos dias atuais; mesmo com o avanço de pautas minoritárias no pensamento político, a realidade ainda se apresenta perturbadora, sobretudo, quando refletimos sobre a representatividade concreta das minorias na vida pública político-partidária.  

Portanto, apesar dos diversos sentidos que estão em jogo nos escritos de Fisher, a palavra assombrologia representa, de uma maneira mais geral, o desejo de uma “retomada dos processos de democratização e pluralismo (…). Esses espectros – os espectros dos futuros perdidos – reprimem a estrutura da nostalgia no realismo capitalista” (FISHER, 2022, p. 47). Nas lentes usadas por Mark Fisher para entender o pensamento político atual, isto é, um pensamento dominado pelo realismo capitalista, olhar para a cultura e como esta desempenha um papel na formação das subjetividades é uma tarefa indispensável. Precisamos retomar a imaginação utópica, nossa sociedade cada vez mais resignada, perdeu a capacidade imaginar outros mundos possíveis para além do que o capitalismo tardio tem a oferecer. Parafraseando Fisher (2022), não devemos desistir do fantasma, ao menos, ele não desistiu de nós.

A criação de Deus

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Quando ela entrou na festival capela

Eu vi a virgem mergulhada em prantos

E o Cristo de marfim fitá-la tanto

Como se fosse apaixonado dela”.

(Hermeto Lima)

Tentar esconder essa verdade é querer se esconder no impossível. Não imagino como seria o mundo sem a mulher. Talvez nós, homens, ainda estivéssemos rastejando como insetos considerados humanos. Um homem nunca seria feliz se não existisse a companheira. E esta não seria companheira se não fosse uma mulher. Se você acredita que Adão foi feito de barro, imagina como ele se sentiu quando se viu isolado, sozinho, sobre essa imensidão chamada de Terra, que ainda não tinha sido batizada com este nome. Foi aí que Deus teve pena do criado e resolveu lhe dar o maior presente que um homem poderia receber: uma mulher. Aí, Ele resolveu construí-la de uma matéria superior ao barro.

Desculpem-me pela brincadeira sem graça. Mas até mesmo uma brincadeira assim não desvaloriza a mulher no que ela realmente é, na condição de ser humano. Vamos prestar mais atenção à importância que a mulher tem para o desenvolvimento da humanidade, da qual ela, a mulher, tem a mais importante função, que é elevar a humanidade na sua prosperidade. Vamos respeitar mais a mulher, independentemente da cor de sua pele, do formato do seu cabelo, ou da sua condição social. Todos esses detalhes fazem parte da evolução. Senão não seriamos diferentes. E só seremos iguais quando aprendermos a respeitar as diferenças.

Ame as mulheres, mas com amor e não com excessos de desequilíbrios emocionais. A mulher é um ser humano, assim como o homem. Suas reações podem até não coincidirem, mas não devem ser levadas à discussão. Não podemos tentar igualar as atitudes. O importante é respeitar as diferenças como de seres humanos, cada um na sua. Não podemos amar sem respeitar. Na criação do humano foi criado o quarteto, o qual não há como ignorar: são o amor, o sexo, a paixão, e o ciúme. Estes estão em todos nós, e inclusive, na mulher. São quatro aliados inseparáveis, mas diferente. Não sei se os entendidos vão concordar comigo, mas isso não me incomoda. Porque, a meu ver, no dia em que o ser humano se tocar para essa verdade, cada um ficará na sua e todos se respeitarão. É aí que a mulher irá ser vista realmente como a maior criação de Deus.

O amor é o sentimento divino; o sexo é vida, e deve ser respeitado como tal; a paixão é apenas um desequilíbrio emocional, que indica o descontrole na mente; e o ciúme é um descontrole mental. Você nunca conhecerá um ciumento com mente equilibrada. Infelizmente, isso atinge até a mulher, Criação Divina. Pense nisso.

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99121-1460

          

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