Opinião

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Crença, verdade e justificação

João Paulo M Araujo

Professor do curso de filosofia da UERR

Desde o Teeteto de Platão nos é conhecida a famosa definição de que o conhecimento é uma crença verdadeira e justificada. Boa parte das discussões epistemológicas em filosofia contemporânea vão se caracterizar como uma análise direta ou indireta dessa definição. Esse tipo de investigação que ficou conhecida como análise tripartite do conhecimento visa clarificar, ao menos conceitualmente, o que é uma crença, o que é verdade, e o que é justificação. Grosso modo, dois caminhos (ou uma mescla de ambos) são possíveis, um toma como ponto partida uma perspectiva mais apriorística, trata-se da ‘filosofia de poltrona’, duramente criticada por não se comprometer com a experiência e o seu papel no conhecimento humano, evocando apenas aspectos conceituais pela via racional como se a justificação de nossas crenças dependesse apenas do que se passa em nossas mentes; a outra, amplamente conhecida por naturalismo, é a visão segundo a qual a justificação em torno do conhecimento humano não é algo exclusivo da filosofia (em particular da metafísica). Na perspectiva naturalista, ao menos como foi proposta por W. O. Quine (1969) em seu artigo Epistemologia naturalizada, o conhecimento humano não passa em última análise de um capítulo da psicologia empírica. Obviamente que o naturalismo possui diversos matizes a e versão de Quine seria uma versão mais radical cujos os ecos remonta ao Círculo de Viena. Curiosamente, Quine realiza uma crítica ao Círculo de Viena em seu texto Dois dogmas do empirismo (1951), mas, por outro lado, parece incorrer (num sentido mais fraco) no mesmo tipo de dogma (o do reducionismo) quando desloca o lugar de explicação do conhecimento da filosofia para as ciências naturais. Tal postura também pode ser denominada de naturalismo substitutivo.

Mas deixemos a epistemologia naturalizada de Quine de lado e vamos nos concentrar na definição do conhecimento como uma crença, verdadeira e justificada. A intuição mais básica nessa definição é: um sujeito S possui conhecimento sobre alguma coisa se, e somente se, 1) S possui uma crença, 2) essa crença se revela verdadeira segundo algum critério e 3) S possui uma justificação (razões, explicações etc.) para endossar a verdade dessa crença. Naturalmente que a justificação do conhecimento não é uma tarefa das mais fáceis. Qualquer teoria do conhecimento que tenha minimamente um comprometimento com essa definição precisa apresentar uma resposta razoável para os questionamentos céticos que surgem quando iniciamos esse empreendimento. Por outro lado, de um ponto de vista mais pragmático, ninguém nega que conhecemos as coisas; nesse sentido em particular, o conhecimento passa a ser observado sob a ótica da utilidade. Na verdade, em nosso senso comum o que constatamos diariamente é que grande parte das coisas ao nosso redor é fruto do conhecimento humano, isto é, de sua ação transformadora sobre a realidade. Usamos smartphones, realizamos viagens de automóveis e aeronaves, tratamos uma série de enfermidade que até dois séculos atrás não haviam cura. Portanto, em nossos dias atuais é um truísmo afirmar que seres humanos conhecem as coisas uma vez que vivemos na era dos prodígios da engenharia genética e computacional, juntamente com uma série de outras ciências que alcançaram graus sofisticados de descrição no universo observável. Qualquer pessoa que for questionada sobre isso, dificilmente irá negar que o conhecimento humano é possível, muito pelo contrário.

O problema é que do ponto de vista filosófico, justificar o conhecimento humano é uma tarefa mais rigorosa do que imaginamos. Apesar de definirmos o conhecimento como crença verdadeira e justificada, não é de todo claro o que é crença, verdade e justificação. No que diz respeito as crenças, como podemos caracterizá-las? Seria a crença um traço lógico do conhecimento humano? Um estado psicológico complexo? O fato é que nossa mente é repleta de crenças, os seres humanos são seres de crenças. Possuímos crenças políticas, religiosas, científicas, filosóficas, estéticas etc. Dentre toda essa miríade caleidoscópica de crenças, possuímos crenças justificadas, crenças injustificadas e crenças que sequer pensamos a respeito em termos de justificação. Muitas de nossas crenças tendem a mudar com o tempo, revisamos, ajustamos ou as abandonamos completamente. Nossas crenças possuem um caráter intencional, isto é, são sempre sobre alguma coisa, possuem um objeto intencional ao qual se referem. Isso não significa que nossas crenças precisam ser conscientes, podemos ter crenças inconscientes também. Em termos metafóricos, podemos afirmar que: visto todo o conjunto de crenças que possuímos, as crenças que agora não estão performando algo no meu campo mental consciente estão todas em modo de “stand by”, como disposições à espera de um momento para se manifestarem no teatro da consciência. Poderia usar como exemplo, a minha crença de que “2+2 = 4”; até então, esta crença não fazia parte de meus estados mentais conscientes.

Com a verdade acontece algo semelhante. Quando alguém afirma que sua crença é verdadeira, o que exatamente pretende dizer com isso? Qual o critério de verdade é utilizado para legitimar uma crença em particular? A depender do jogo de linguagem, ao afirmar a verdade de uma crença precisamos minimamente esclarecer qual o sentido de verdade está sendo usado naquela afirmação. A epistemologia não se compromete com um conceito de verdade unilateral ou como costumam dizer, uma verdade absoluta (monista). Todas as vezes que usamos a palavra verdade é sempre bom ter em mente que “verdade” é sempre em relação a alguma coisa (ou conjunto de coisas) em particular, e nunca em relação a toda e qualquer coisa. No fundo, a concepção de verdade em termos absolutos carece de sentido. Sendo assim, os epistemólogos ao longo dos séculos estabeleceram alguns critérios, uns mais objetivos como a teoria da verdade por correspondência, outros mais lógicos, em termos formais de coerência entre premissas e conclusões, outros mais pragmáticos pautados na utilidade etc. O fato é que afirmar que algo é verdadeiro, é sempre afirmar segundo algum critério, isso, por seu turno, faz da própria ‘verdade’ também um problema semântico.

Todavia, a cereja do bolo em termos de uma definição tripartite do conhecimento é a justificação. Não importa se minha crença se mostrou verdadeira segundo algum critério, se eu não tenho boas razões para endossar a verdade dessa crença, não posso afirmar que tenho conhecimento (justificado). Por exemplo, poderia agora declarar que: Eu acredito que meu irmão está em João Pessoa – PB, sentado em sua poltrona tomando café. Vamos supor que para constatar isso eu faço uma chamada de vídeo que, p
ara minha surpresa (ou não), confirmo que ele está em sua poltrona tomando café. Como eu sabia disso? Do fato de minha crença ter se revelado verdadeira, isso não é suficiente para concluir que eu sabia sobre o atual estado de coisas do meu irmão. Porém, vamos supor que apresento algumas razões para convencer vocês de que eu sabia disso, como, por exemplo, a justificação de que conheço os hábitos do meu irmão e sei que ele tem uma rotina kantiana de realizar todos os dias as mesmas tarefas na mesma sequência e, por isso, sabia que naquele momento ele estaria tomando o seu café. Nada mal, não é? O problema é que os meandros que envolvem a justificação epistêmica são muito mais problemáticos do que imaginamos.

Na epistemologia contemporânea, qualquer teoria do conhecimento que trabalhe no horizonte da definição tripartite do conhecimento precisa resistir aos chamados contraexemplos (counterfactuals) de Gettier. Em seu artigo É o conhecimento uma crença verdadeira e justificada?, Edmund Gettier (1963) inaugura uma crise na epistemologia, sobretudo, no que diz respeito a justificação. Como vimos, dentro da concepção tripartite do conhecimento, alguém só conhece algo se os três elementos da definição são satisfeitos. O insight de Gettier é demonstrar que existem casos em que temos uma crença verdadeira e justificada, mas, apesar disso, não temos conhecimento. Em seu texto ele apela para três exemplos (experiências de pensamento) para provar o seu ponto de vista. Como tomaria muito tempo descrever cada um dos exemplos, apresentarei aquilo que considero um exemplo mais intuitivo para entender a questão de Gettier. Vamos supor que tenho duas alunas irmãs gêmeas, uma se chama Maria e a outra Joana. Durante uma sequência de mais de dez aulas percebo que tanto Maria quanto Joana estabeleceram como hábito sentarem-se cada uma nas extremidades da sala, uma na primeira cadeira do lado esquerdo (Maria) e outra na primeira cadeira do lado direito (Joana). Um belo dia passando pelo corredor da universidade observo muito rapidamente através da porta Joana sentada no lugar de Maria. Percebam que eu não vi as duas irmãs na sala, em minha perspectiva, vi apenas Joana e naquele momento não sabia que era Joana, muito pelo contrário, acreditei tratar-se de Maria. Poucos passos à frente sou interpelado pelo aluno Pedro, que me pergunta se eu vi Maria. De imediato respondo que sim, afirmando que Maria está na sala de aula. Ao chegar na sala de aula Pedro confirma que minha afirmação é verdadeira, pois, Maria realmente está na sala de aula.

O que aconteceu nesse caso? A minha crença de que ‘Maria está na sala’ se apresentou como verdadeira e justificada, embora indiretamente, devido a um equívoco perceptual. Mas segundo Gettier eu não sabia que Maria estava na sala, portanto, não tinha conhecimento disso. Os contraexemplos de Gettier objetivam mostrar que a definição tripartite do conhecimento é insustentável justamente por conta de situações incomuns como o exemplo das irmãs gêmeas. Entretanto, vale ressaltar que nosso conhecimento em termos de crenças, verdade e justificação não é absoluto, o que tomamos como verdadeiro, amanhã poderá ser falso. A própria ciência opera nesse espírito (ver o falseabilismo de Popper). Outro ponto é que a certeza não é mais um critério para o conhecimento humano. Em termos lógicos, quando pensamos na implicação material, sentenças do tipo Se A, então B (A à B), não há problema em A ser falso e B ser verdadeiro. Em outras palavras, numa tabela verdade, de falsidades podemos chegar a verdades.  O exemplo das irmãs gêmeas de alguma maneira se conecta com essa noção, ou seja, de um equívoco perceptual (falsidade), concluí algo de verdadeiro. A verdade é que a epistemologia contemporânea (mesmo com as objeções de Gettier) não abandonou por completo a análise tripartite do conhecimento. Em nossas relações com o conhecimento, sejam elas rigorosas ou não, continuamos justificando nossas crenças na tentativa de provar seu valor de verdade. Nós não somos só seres de crenças, mas também de justificações e ao tentar explicar nosso ponto de vista (explícita ou implicitamente), queremos significar com isso, que o que estamos afirmando é verdadeiro e não falso.

Aprendamos nas dificuldades

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Bendita crise que vai me ensinar o que é verdadeiramente importante”. (Mirna Grzich)

Sei que o assunto já está ficando realmente enjoativo. Mas não devemos ficar indiferentes aos problemas que nos afligiram, e que nos atormentam. E o problema com a covid-19 ainda não terminou. E o importante é que não a esqueçamos, mas não lhe demos tanta importância, no que era realmente importante. Não a esqueceremos, mas não vamos continuar com a neura que ela nos trouxe. Vamos nos valorizar e dar muita importância às dicas importantes que aprendemos com ela, a crise.

Alguém já nos disse que: “Quando se corrigem os processos mentais, qualquer condição exterior se corrige sem esforço algum”. Façamos isso depois de qualquer crise. É na nossa mente que guardamos todos os instrumentos de defesa. Afinal de contas somos donos de nós mesmos. E se é assim não vamos deixar que por maior que possa ter sido os prejuízos causados pela crise, temos o poder de superação. Então vamos ser superiores sem exibicionismo. O milagre de que necessitamos para melhorar nossas vidas, nós mesmo podemos fazê-lo. Inicie sua semana pensando no futuro, porque ele, o futuro é amanhã. E o resultado que você obterá depende de suas ações hoje. Porque amanhã já será hoje, e hoje já será ontem. A vida passa rápido, o importante é que saibamos vivê-la enquanto existirmos. E nada de recorrer a quem quer que seja, para resolver seus problemas mentais.

Seu poder está na sua mente. E as crises nos apontam o caminho. Na maioria das vezes, nós é que não nos valorizamos, e por isso nos deixamos levar pelas crises. Deixemos as crises na delas e vamos viver a vida como ela deve ser vivida. Valorize-se no que você é. O Swami Vivecananda também já nos mandou esse recado: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa, mas pela maneira de ele executá-la”. Independentemente do seu sexo, não se sinta inferior por exercer uma função considerada inferior. Já vivi o prazer e a felicidade de assistir a exemplos de auxiliares que tive, e que progrediram, nas funções mais simples que exerciam. Já lhe falei daquele faxineiro da empresa em que trabalhávamos. Ele foi promovido pelo Presidente da empresa sem nunca solicitar a promoção, nem saber o porquê da promoção. Mas já lhe falei do caso, por aqui. O que importa mesmo não é o que você faz, mas como você faz. Nunca se esqueça de que você semp
re está sendo observado, onde quer que você esteja. Seu comportamento sempre é observado, dentro e fora de suas atividades profissionais, sejam elas quais forem. Faça sempre o melhor no que você faz. Pense nisso.

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