A maldade só vem aumentando
Marlene de Andrade
“Levantarei os meus olhos para os montes, de onde vem o meu socorro. O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra.” (Salmo 121: 1e 2)
Nos tempos de Noé, as pessoas eram frias e muito perversas, sendo assim, o dilúvio ocorreu como castigo. Com o correr do tempo o caráter das outras gerações, as quais foram se sucedendo, mundo afora, só iam piorando cada vez mais. Ocorre que, a maldade humana continuou aumentando tanto que na sociedade greco-romana a violência era muito perversa também. Quanto mais matavam, mais se sentiam felizes. Era um ódio obsessivo pelo derramamento de sangue. E hoje? Será que isso mudou? Não mudou, pois a violência tem alcançado níveis assustadores, visto que há pais matando filhos, inclusive através do aborto e filhos matando pais em proporções inimagináveis. Se não bastasse tudo isso, a corrupção de políticos no Brasil é exageradamente grandiosa.
Nisso tudo, o mais espantoso é ver criminosos sendo considerados vítimas, pois passam a ter direito, quando presos, a saidinha, ajuda de custo mensal, visitas íntimas e, entre outras regalias, serem considerados vítimas da sociedade, o que não deixa de ser também uma violência contra a população de bem.
Estupro? Parece até que essa prática virou moda. E o que mais preocupa é perceber, que a justiça da terra não é justa, pois os assassinos, ladrões, estupradores e tantos seres humanos criminosos, como os políticos corruptos, estão aí soltos e livres como se nada tivessem praticado. Então o que mudou desde os tempos da antiguidade? Nada, e muito pelo contrário, só vem piorando.
É verdade que as sociedades, em geral, sempre foram violentas e a primeira e a segunda guerra mundial mostraram muito bem a capacidade que alguns seres humanos possuem em relação à violência que vem destruindo todo e qualquer valor humano, diga-se de passagem, é o que está ocorrendo hoje em Cuba, Venezuela e, por exemplo, Argentina, pois nesses países as pessoas estão vivendo o caos inimaginável.
Diante dessa realidade, esperar o que deste mundo, onde o mau vem imperando cada vez mais e com uma velocidade astronômica? Nesse sentido a Palavra de Deus nos diz o seguinte: “Não te mandei eu? Sê forte e corajoso; não temas, nem te espantes; porque o Senhor teu Deus é contigo, por onde quer que andares.” (Josué: 1: 9). Essas palavras consoladoras nos deixam mais tranquilos e preparados para toda e qualquer adversidade que tenhamos que enfrentar, inclusive o Bolsonaro não ter ganhado no primeiro turno.
Médica formada pela UFF
Pós-graduação em Medicina do Trabalho-Gama Filho
Especialista em Medicina do Trabalho/ANANT
Perita em Tráfego/ ABRAMET
Perita em Perícias Médicas/Fundação UNIMED
Especialização em Educação em Saúde Pública/UNAERP
Técnica de Segurança do Trabalho/SENAI-IEL
CRM-RR 339 RQE 341
A cor ou o brilho?
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos haverá guerra”. (Bob Marley)
Somos o que somos, e não o que queremos que os outros digam ou achem que somos. Está ficando cansativo, essa tentativa de mostrarmos o que somos, com a nossa aparência. Mera e pura tolice. Já falei pra você, daquele dia em que eu estava à mesa, no café da manhã, quando ouvi um barulho de apresentação, lá na Praça da Sé. Fui até a janela e notei o movimento. Peguei o elevador, desci e fui até lá. O ambiente em frente à Catedral da Sé estava lotado por pessoas negras. O motivo do protesto encantou, e fiquei ali a manhã toda, ouvindo discursos de negros intelectuais, protestando conta a lei de Cotas nas Faculdades. Encantei-me com o movimento.
Vamos ser o que somos no que somos. Nosso valor está em nós e não na nossa aparência. O importante é que nos conheçamos no que somos, que é quando percebemos que somos todos iguais. O importante é que evoluamos na caminhada para e imunização racional. Observemos com mais atenção, o Victor Hugo: “Devemos ser o que não somos, mas sem deixar de ser o que somos”. Que é quando evoluímos mentalmente. E quando nossa mente evolui não há por que ficarmos nos preocupando com o que não é preocupante. Deveríamos dar mais atenção a falas de quem sabe o que diz. O Rui Barbosa nos alertou: “Quanto mais corrompida a República, mas leis”. Há leis criadas para nos valorizar, que acabam nos ridicularizando.
E lá vamos nós, na caminhada da prosperidade, mas dando importâncias às árvores caídas e atravessadas no caminho. Certa vez, quando eu era “Escoteiro do Ar”, na Base Aérea de Natal, em Parnamirim, num treinamento, perguntei a um Lobinho:
– Raimundinho, o que você faria se encontrasse uma árvore caída e atravessa no caminho?
Sem pestanejar, o Raimundinho respondeu:
– Eu pulo pu riba.
E já que estamos num papo amigável, explico: Lobinho é o escoteiro com idade pouco acima de seis anos. Mas vamos em frente. Quando não podemos pular por cima da árvore caída devemos dar volta em volta dela. Simples pra dedéu. Não há como não resolver nossos problemas antes de criá-los. A árvore caída pode não ser um problema se não a considerarmos como tal. O que indica que o problema não está com a árvore, mas, conosco. Vamos ser o que realmente somos, respeitando as diferenças. Porque nem sempre sabemos decidir quem é que é diferente. Não podemos nem devemos ser iguais. Estamos todos na caminhada para a racionalidade. E nessa tarefa cada um está no seu nível de evolução. E esta não depende da cor da pele, do formato do cabelo, nem
do sotaque. Pense nisso.
99121-1460
Memórias de Ariano
Walber Aguiar*
O nordestino é, antes de tudo, um forte…
Parece que o Nordeste é eterno, que sempre existiu. Parece que as guerras e revoluções pulsaram e pulsam nos sertões geográficos e na geografia existencial, que povoa o imaginário nordestino, que toma a poeira nos pés e racha os lábios do dia. E vivia ali a dura realidade de quem costura as vestes da vida com as linhas secas e puídas da morte.
E vivia ali Zumbi e Gangazumba, gente que sentiu no couro a dor da opressão e da miséria, sob o látego inclemente da escravidão. Daqueles que corriam mata a dentro, sob a caça e a perseguição tirana dos capitães do mato. De gente que tinha e tem na garganta o preconceito, nos olhos o ódio, na cabeça a mentalidade de seita, dos repetitivos bordões da morte.
E também estava ali o filósofo paraibano Leandro Gomes de Barros. Homem da cor do chão, da mais intensa cantilena que se arrastava entre a palavra da dor e a dor da palavra, trazendo à tona a gênese, o começo, a origem, a arché, substância primeira sobre a qual se formara e se fundamentara o universo. Estava ali o pensador que queria conversar com Deus, a fim de perguntar-lhe acerca do sofrimento e da morte, do porquê o ser humano não podia comer nem dormir feito o divino, que assim vivia satisfeito.
Ali estava Ferreira Gullar, o homem poeta, o poeta homem, que se debruçava sobre a dimensão histórica concreta da poesia, já que não eram as nuvens de algodão, nem a musa etérea, nem o pão metafísico, nem o açúcar nascera dentro do açucareiro, nem os calos, por sua vez, eram uma invenção ardilosa de quem trabalha a terra e dela vive. Ali vivia João Cabral de Melo Neto, de quem se diz duro e afeito à realidade da morte e da vida Severina, onde se herda apenas o labor, a enxada e a cova rasa pra finalmente repousar.
Também se socava naquele canto do mundo os Arianos da vida. Os loucos, os delirantes, os jagunços, “os macacos” e toda sorte de andejos, cegos, surdos e retirantes. Ariano Suassuna, um forte, um destemido, um criativo ser de Taperoá, vizinha de Cabaceiras, onde foi filmado o auto da compadecida. Era um pensador, poeta, pintor, dramaturgo e repleto de outras virtudes.
Ali, naquele lugar marcado pela fome e pela secura da terra, pelos diminutos homens gabiru, nasceu e vive até hoje a coragem, a firmeza, a honestidade, a grandeza e a dignidade de gente boa de Deus e de servir aos homens; pois “alguém é tanto mais santo quanto mais humano seja”. E ali vivia a vida genuína e latente de Ariano, da inocência, da luta que derruba tiranos e da insana arte de viver e sonhar… o nordestino é, antes de tudo, um forte…
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*Advogado, poeta, professor de Filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras [email protected]