Manifestação bolsonarista: uma escolha vazia e patética
Sebastião Pereira do Nascimento*
Primeiro de janeiro de 2023 será a posse do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva. O presidente atual pode até fugir da cerimônia de posse, mas não poderá levar a faixa para casa. Também terá que deixar para trás o poder de barganha política, as mordomias e a proteção do foro privilegiado. A constituição brasileira não oferece blindagem a ex-presidentes. Portanto, fora do cargo presidencial, Jair Bolsonaro ficará ao alcance da justiça federal, à mercê de procuradores e juízes de primeira instância.
Fora do planalto, Bolsonaro tem medo de ser levado ao cárcere, junto com alguns de seus lacaios e até seus filhos. Esse medo não é à toa, pois o presidente e sua corja sabem das barbáries e corrupções que cometeram durante os quatro anos de desgoverno. E por conta desse medo e para continuar na mamata, Bolsonaro, em conluio com sua trupe, fez de tudo — trapaças e artimanhas — para tentar a reeleição. Clamou até ao seu deus para que lhe desse uma ajudinha, pregando reiteradamente que se deus quisesse ele seria reeleito. Mas para sua decepção e de seus pares: Deus não quis.
Portanto, para quem acredita em deus, a derrota de Bolsonaro é uma prova patente de que deus é justo e bondoso com quem realmente acredita nele, isto é, deus não só teve compaixão do povo brasileiro como evitou que Bolsonaro continuasse fazendo barbáries no país. Com isso, podemos suspeitar que o deus de Bolsonaro, e de seus lacaios, não é o mesmo deus da absoluta maioria do povo brasileiro, a qual foi representada por mais de 60 milhões de eleitores que votaram no Lula, sendo a maior votação obtida por um candidato à presidência desde a redemocratização do país.
Usando o poder de barganha, Bolsonaro fez de tudo para evitar o impeachment e fugir das mãos da justiça, chegando a “comprar” a cumplicidade de muitos políticos (presidente da Câmara e líderes do centrão) com os bilhões do orçamento secreto, considerado um dos maiores esquemas de corrupção no Brasil. No jurídico, Jair Bolsonaro nomeou um procurador-geral e dois ministros do STF, todos omissos e subservientes. Agora, ao deixar a presidência, sem a proteção de Arthur Lira e do procurador geral Augusto Aras, ele terá que responder por seus atos, e não faltarão motivos para julgá-lo e prendê-lo.
Quanto as manifestações vazias e patéticas que vêm ocorrendo em alguns pontos do país, elas têm o propósito de criar confusão, uma vez que Bolsonaro derrotado nas urnas — através do sufrágio livre e democrático — e sem foro privilegiado, restou a uma minoria (chamada de patriotários) armar o circo e a partir de atos invasivos pedir intervenções das Forças Armadas, num esforço ilegal de resguardá-lo de uma futura prisão. E diante desse cenário vergonhoso, o mandatário mesmo decadente e silenciosamente, continua incentivando a violência institucional.
Essa minoria da minoria finge, cinicamente, que o país esteja navegando num mar de rosa, mas que vive pendurada no cheque especial, quando no final do mês não têm como pagar suas contas e, atordoada existencialmente, passa externar o que tem de pior dos humanos (racismo, antissemitismo, homofobia, transfobia, sexismo, misoginia, discriminação social, entre outras forma de intolerância). E como também não tem argumentos para justificar suas atitudes vazias, as quais desembocam nos atos antidemocráticos, repetem as idiotices vociferadas por Jair Bolsonaro. Sendo todos esses gestos revelarem a maneira grotesca e violenta que esses sujeitos sempre tratam o país e a própria sociedade.
Essa massa de alienados sociais, quando fala de lutar pela liberdade desconsidera que vive num país livre e laico, regido sob os princípios de igualdade e da liberdade das associações políticas. Ela esquece também que os seus ataques às instituições e os pedidos de intervenções militares ferem profundamente o sentido da própria liberdade e da isonomia.
Essa gente hipócrita, quando fala de corrupção, esquece que muitos dos seus amotinados que conseguiram algum tipo de patrimônio, muitas vezes obtiveram de forma corrompida. Essas pessoas quando falam da pátria, esquecem que nunca foram realmente patriotas, pois não valorizam a nação, a cultura, a arte e o povo brasileiro (a exemplo do que falam do povo nordestino, dos povos indígenas, etc.) e, além de viverem de impropriedade e cupidez, sonegam impostos e desrespeitam a própria constituição.
Essa massa dissimulada, quando fala de família, esquece que muitas vezes despreza as crianças, agride as mulheres, trai a cônjuge ou o cônjuge e desabona os pais. Ela esquece ainda que, de modo geral, vive no epicentro de uma família desequilibrada: existencialmente e moralmente. E essas criaturas quando falam em querer retomar o Brasil para si, a pergunta é única: tomar o Brasil de quem? Do povo brasileiro? De suas próprias mãos? Isso é um tanto vazio e patético!
Portanto, essas são algumas das muitas contradições sustentadas pelo bolsonarismo. Um grupo de perturbados liderados por Jair Bolsonaro, o qual tentou fundamentar no país uma política nacional predatória. Como, por exemplo, a política de negação dos direitos humanos, a qual contribuiu para a escalada do racismo estrutural. Onde, Danilo Rabelo — especialista em direito e relações raciais — avalia também que “o cenário racista é agravado porque os movimentos negros não são reconhecidos”. E Bolsonaro, acabou fortalecendo isso colocando uma política destrutiva “mais próxima dos senhores de escravos do que dos escravizados. O racismo é estrutural e a forma como a história é contada passa a ideia de que o povo negro não lutou, como se não tivesse buscado a sua liberdade”. Danilo ressalta ainda que o racismo sempre esteve em pauta na realidade do Brasil. “Embora as pessoas preguem que não somos um país racista por sermos multiculturais, sempre tivemos barreiras de cor. O nosso racismo foi calcado na eugenia, na ideia de branqueamento [da população brasileira]”, resume.
Ainda que não seja a vontade geral da população, essa espúria manifestação no país, financiada por empresários inescrupulosos, seria cômica se não fosse trágica. É algo q
ue podemos entender como caricata e burlesca e, acima de tudo, muito grave, pois é um atentado direto à democracia e bastante constrangedor para o Brasil, como uma das maiores democracias do mundo.
*Filósofo
Palavras do Miguel
Afonso Rodrigues de Oliveira
“No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. (Miguel Couto)
Recebemos esse recado do médico carioca, Miguel Couto, no início do século passado. E continuamos sem dar valor ao valor da fala. Continuamos os mesmos, em relação à educação. Mas vamos abrir, não só os olhos, mas a mente, e prestar mais atenção à verdade que sofremos por não a ver. Educação e cultura, no brasil, continuam penduradas no cabide do descaso. Sei que estou ficando chato com esse assunto, mas não consigo ficar por trás da cortina. Seria bom se todos nós atentássemos para o problema que vimos encarando sem perceber, há séculos.
Tudo bem, vamos fazer nossa parte fazendo o melhor que pudermos fazer para abrir a mente dos dorminhocos. E cada um de nós pode fazer o melhor. É só abrir nossas mentes e prestar mais atenção ao crescimento da população da Terra. Pelo que ouvimos pela televisão, acabamos de alcançar os oitos bilhões de habitantes. É gente pra dedéu. E continuamos com os mesmos pensamentos e atitudes de séculos passados. A tecnologia está avançando, mesmo que em passo de tartaruga, e mesmo assim ainda não estamos realmente preparados para ela. Continuamos usando a tecnologia para as barbáries em vez de usá-la para o nosso engrandecimento.
Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo. Chegamos aqui e ficamos porque quisemos ficar. E isso há vinte e uma eternidades. Progredimos como animais racionais, mas ainda não atingimos um nível que ratifique nossa racionalidade. Ainda não conseguimos elevá-la ao nível que justifique nossa origem. Mas, mesmo assim continuamos responsáveis pela nossa evolução. Ainda não entendemos que enquanto não evoluirmos o suficiente, não sairemos desse balaio de caranguejo, em que vivemos. Vamos nos educar o suficiente para que possamos nos posicionar no degrau da evolução racional.
Vamos dirigir nossas vidas com amor. Mas precisamos evoluir para não confundir amor com desejo. Quando desejamos precisamos nos amar para poder buscar o que desejamos. E a evolução racional é um desejo para os que já se encontram na caminhada da racionalidade. E ser racional significa estar no caminho certo para o retorno ao nosso mundo de origem. E não se preocupe, porque isso ainda vai demorar eternidades. Ainda não sabemos quantos dilúvios ainda viveremos até eles não nos atingirem mais. Vamos viver nosso dia, hoje, com amor, felicidade e sabedoria, independentemente dos acontecimentos ruins que possam ocorrer. Vamos nos concentrar no melhor e viver o melhor. Todo poder este em nossas mentes. “O reino de Deus está dentro de nós”. Pense nisso.
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