Opinião

Opiniao 14958

Analógico e digital como metáforas para percepção e cognição em Fred Dretske

João Paulo M Araujo

Professor no curso de filosofia da UERR

Na obra de Dretske intitulada Knowledge and the Flow of Information (1981), o conceito de informação desempenha um papel crucial em suas considerações sobre a percepção e a cognição. Nas palavras de Dretske (1981, p. 135) “a informação pode ser entregue e disponibilizada aos centros cognitivos sem que ela mesma se qualifique para atributos cognitivos – sem ela mesma ter o tipo de estrutura associada ao conhecimento e à crença”. Em seu modelo explicativo, totalmente aliado às ciências cognitivas e a teoria da informação, Dretske toma emprestado metáforas informacionais em torno do analógico e do digital.

Considerando a codificação analógica e digital da informação, sua distinção tem por objetivo estabelecer uma diferença no modo como “as informações são transportadas sobre uma propriedade, magnitude ou quantidade variável: tempo, velocidade, temperatura, pressão, altura, volume, peso, distância e assim por diante” (DRETSKE, 1981, p. 136). Em outras palavras, trata-se de uma representação contínua para informações analógicas e uma representação discreta para informações digitais. Como exemplo de informação do tipo analógico, Dretske descreve o velocímetro de um carro clássico, no qual os ponteiros do velocímetro representam uma codificação analógica de informações ligeiramente variável. Em cada posição, o ponteiro oferece distintos graus de representação. Por outro lado, “a luz do painel que registra a pressão do óleo, (…), é um dispositivo digital, pois possui apenas dois estados informacionais relevantes (aceso e apagado)” (DRETSKE, 1981, p. 136). Neste sentido, “aceso e apagado” são, para Dretske, estados discretos, uma vez que não existem outros estados intermediários de informação que sejam relevantes entre o estar aceso e o estar apagado.

Essas considerações sobre o analógico e o digital objetivam oferecer uma descrição de propriedades que possam marcar os diferentes modos de representação de estados de coisas no mundo. Portanto, segundo Dretske (1981, p. 137), na forma digital, uma estrutura, evento ou estado carrega a informação de que s é F, se e somente se, o sinal não carrega nenhuma informação extra para além do que já está informado em s ser F. Em contrapartida, se houver alguma informação extra no sinal de s, ou seja, se houver alguma informação que não estiver armazenada na forma s é F, a informação que o sinal carrega é analógica e não digital. Isso significa dizer que o sinal analógico é muito rico e detalhado se comparado com o sinal digital, pois “a informação mais específica que o sinal carrega (sobre s) é a única informação que ele carrega (sobre s) na forma digital. Todas as outras informações (sobre s) são codificadas na forma analógica” (DRETSKE,1981, p. 137).

Na tentativa de tornar mais clara a diferença entre o analógico e o digital, Dretske usa como exemplo a distinção entre uma declaração em nossa linguagem natural e uma imagem ou fotografia. Ele pede para imaginarmos uma situação na qual alguém deseja comunicar a informação de uma xícara contendo café. Se esse indivíduo declara que “a xícara contém café”, este sinal acústico, carrega, segundo Dretske, uma informação digital; nada mais além dessa declaração é fornecido, nada foi informado sobre a quantidade de café na xícara, sua cor, textura, tamanho da xícara, dentre outras possíveis propriedades. Por outro lado, se alguém fotografa uma xícara com café e mostra a imagem para a mesma pessoa, a informação de que a xícara contém café é, de acordo com Dretske, transmitida de forma analógica. Ocorre, portanto, uma maior riqueza de informações acerca de todas as possíveis propriedades mais imediatas da xícara contendo café.

A partir dessa caracterização do analógico/digital, Dretske lança mão de uma discussão em torno do processo de conversão das informações contidas no sinal analógico para a informação digital. A importância do entendimento dessa conversão, segundo Dretske, reside numa melhor apreciação para entender a distinção entre processos perceptuais (analógicos) e cognitivos (digitais). Para ilustrar esse ponto, ele usa como exemplo uma espécie de máquina que converteria um sinal de velocidade analógico num digital. Em resumo, essa máquina conseguiria converter um rico input analógico que possui uma escala de velocidade que vai de 0 a 100 km num output que se resumiria em uma fração de 4 escalas. Cada uma dessas 4 escalas informaria uma fração da velocidade em sentido ascendente. Em cada fração de velocidade um tom é ouvido começando por um tom mais grave no primeiro estágio (0 a 25 km, por exemplo) e na medida em que ocorre a mudança progressiva de estágio, o tom do dispositivo se torna mais agudo.

O problema é que “descrever um processo no qual uma informação é convertida da forma analógica para a digital é descrever um processo que envolve necessariamente a perda de informação” (DRETSKE, 1981, p. 141). Grande parte das informações analógicas são perdidas ou ignoradas porque o objetivo é obter uma resposta sem muito grau de variação às semelhanças que realmente importam. Em toda conversão, bits de informações são perdidos, mas a conversão se torna efetiva se as características essenciais forem preservadas. Um exemplo prático seria se pegássemos um arquivo de música em formato WAV e a convertêssemos para o formato MP3, essencialmente ouviríamos a mesma música, mas numa ligeira comparação ao ouvir cada um dos formatos, logo perceberíamos uma perda em sua qualidade, volume sonoro e até mesmo tamanho em megabits.

Essa distinção entre analógico e digital pode ser útil para um melhor entendimento da distinç
ão entre processos perceptuais e cognitivos. A partir de então, Dretske (1981, p. 142) define percepção como “um processo por meio do qual a informação é entregue dentro de uma rica matriz de informação (portanto, na forma analógica) aos centros cognitivos para seu uso seletivo”. Por outro lado, o que caracteriza a atividade cognitiva é uma conversão bem-sucedida das representações sensoriais (analógicas) na forma cognitiva (digital). Quando fazemos uso dos nossos sentidos, tudo aquilo que experienciamos tem por finalidade encontrar uma conversão cognoscível segundo a qual podemos compreender o que está se passando ao nosso redor. Portanto, de acordo com Dretske (1981, p. 142), “se a informação de que
s é F nunca é convertida de uma forma sensorial (analógica) para cognitiva (digital), o sistema em questão talvez tenha visto, ouvido ou cheirado um s que é F, mas não viu que é F – não sabe que é F”. Isso nos leva a concluir que “a atividade cognitiva é a mobilização conceitual da informação que chega, e esse tratamento conceitual é fundamentalmente uma questão de ignorar as diferenças (…). Trata-se, em suma, de fazer a transformação analógico-digital” (DRETSKE, 1981, p. 142).

O modo perceptual e fenomenológico de como primariamente somos afetados pela realidade sensorial, é algo profuso e rico em informações, enquanto que nosso conhecimento, por outro lado, é seletivo e exclusivo. Nessa perspectiva, a maneira como nossa cognição explora as informações sensoriais é precariamente limitada, como já foi mencionado, há uma perda de informação na conversão do analógico para o digital. O objetivo de Dretske (1981, p. 143) é mostrar que “a diferença entre nossa experiência perceptiva, a experiência que constitui nosso ver e ouvir coisas, e o conhecimento (…) que normalmente é a consequência dessa experiência é, fundamentalmente, uma diferença codificadora”.

Imagine que você está numa situação perceptual bem complexa onde você tem uma privilegiada visão da avenida Ville Roy cheia de carros, e do outro lado um grupo de torcedores de futebol em frente ao Estádio Flamarion Vasconcelos, popularmente conhecido como Estádio Canarinho. Numa situação como esta, Dretske afirmaria que vemos mais do que conscientemente tínhamos percebido. Vamos supor que haviam dezesseis pessoas no local, e muito embora você tenha visto todas elas, você não sabia quantas viu. Talvez se alguém lhe perguntasse quantas pessoas estavam em frente ao estádio naquele momento você respondesse que haviam umas doze pessoas. Em outras palavras, você viu as dezesseis pessoas no estádio, “mas esta informação, informação numérica precisa, não se reflete no que você sabe ou acredita. Não há representação cognitiva desse fato” (DRETSKE, 1981, p. 146-147). Devido ao rico input analógico sensorial, durante a conversão e tradução do sinal para nossa representação interna, algo foi selecionado de modo que limitasse o campo de atuação cognitiva de reconhecimento, identificação, quantificação, etc.

Tudo o que nos referimos como aparência, som e sensação das coisas, ou seja, tudo que diz respeito à nossa experiência perceptual, é caracterizado por Dretske como uma grande estrutura portadora de informações. Dessa forma, “percepção é um processo (ou, se preferir, o resultado de um processo) no qual a informação sensorial é codificada de forma analógica em preparação para a utilização cognitiva” (DRETSKE, 1981, p. 153-154). Em resumo, essas considerações têm por objetivo demarcar o que é objeto da percepção e o que é objeto da cognição, isto é, de como passamos de um estado perceptivo para um estado cognitivo. Trata-se da diferença, por exemplo, entre perceber um som de um instrumento musical e saber, reconhecer ou identificar esse som como sendo um Bb, ou de ter uma experiência visual de ver um grande rio serpenteando as redomas da cidade de Boa Vista, e além disso, saber que se trata do Rio Branco. Quando sabemos o que é um Bb, ou o que é o Rio Branco, estamos literalmente imersos no terreno da cognição. Portanto, acompanhando o raciocínio de Dretske (1981, p. 154), estados cognitivos possuem um conteúdo proposicional, sabemos que s é F, e isso implica em classificar, categorizar, julgar, identificar, acreditar ou pensar que s é F.

A pior preguiça

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Você sabia que, em média, as pessoas passam 70% do seu tempo vivendo o passado, 20% vivendo o futuro e somente 5% vivendo o presente”?

Uma das maiores dificuldades no entendimento entre as pessoas é o entendimento em si mesmo. Quando estamos começando a nos inclinar para o entendimento, balançamos a cabeça e jogamos tudo para o ar. E a primeira coisa que nos vem à cabeça, é: por que perder tempo pensando em coisas esquisitas? E nem nos tocamos que nós é que somos esquisitos. Que ainda não nos mancamos para fato de que o futuro não nos pertence; o passado já nos pertenceu, mas faz parte do passado; que apenas e só o presente nos pertence e que devemos aproveitá-lo, minuto a minuto, até que ele deixe de ser presente. Que quando ele sai o futuro chega, mas já como presente. E é aí que devemos fazer tudo que pudermos fazer para o futuro que é amanhã. Não balance a cabeça. Não jogue fora esse pensamento que é fundamental para seu crescimento. Prendendo-se a ele você descobre que seu tempo não é infinito como você pensa. Tudo o que você tiver que fazer para o futuro, faça agora.

Faça tudo o que tem para fazer, da melhor maneira que você puder fazer. É o resultado do que você faz hoje, que vai lhe dar o que você quer, no futuro. E repetimos: o futuro é amanhã. E quer saber de uma coisa? Você nunca esteve nem aí para seu futuro. E isso acontece mesmo com os que vivem se estafando para criar um futuro promissor. Precisa se estafar não. É só fazer o que deve fazer como deve ser feito, e pronto. E como deve ser feito, você já sabe. É só fazer bem feito o que quer que você faça. Já lhe falei aqui, daquele faxineiro de uma empresa paulista onde eu trabalhava. Numa manhã, estávamos numa reunião de lideranças na gerência-industrial. Por um acaso o diretor da empresa estava presente à reunião. Num mero e simples comentário, o gerente industrial
disse estar precisando de uma pessoa confiável para ocupar uma vaga de auxiliar num determinado setor. Num lance, o diretor da empresa levantou o indicador e falou:

– Taí… Pega aquele faxineiro da portaria. Todos os dias eu passo por ali e o observo. É um funcionário exemplar.

Todos nos olhamos sem entender. Mas foi assim que aquele faxineiro foi promovido e nunca soube que fora indicado pelo diretor da empresa. E não era uma empresa pequena. Claro que ele foi submetido a testes de competência, mas aprovado em todos. E está provado que sua competência você a prova fazendo com competência o que quer que você faça. Não importa se é na diretoria ou na faxina da empresa. O que importa mesmo é como você faz bem, no que faz. Pense nisso.

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