Iconoclastia mal-educada – Ronaldo Mota*Em torno do século VII, o termo iconoclasta designava os adeptos do movimento de contestação à veneração de ícones religiosos. De fato, iconoclasta significa literalmente “quebrador de imagem”, derivado do grego eikon (imagem ou ícone) e klastein (quebrar). Contemporaneamente, este termo passou a ser aplicado também a qualquer um que quebre dogmas, convenções ou mesmo que desdenhe das regras estabelecidas.
O neurocientista Gregory Berns, ao final da década passada, lançou o livro O Iconoclasta, cujo conceito é atualizado e passa a ser aplicado também a uma pessoa rebelde que interpreta a realidade de uma maneira não usual e faz aquilo que o senso comum julga impossível ou não aconselhável de ser feito. Neste especial sentido, é permitido se referir como iconoclasta a alguém inovador e que, pela sua provocação e ousadia, gera avanços e questionamentos. Na perspectiva de Berns, enquanto uma pessoa comum percebe o mundo baseado na história passada e naquilo que lhe é relatado, o iconoclasta, antes de tudo, arrisca enxergar o diferente, assumindo os riscos das discordâncias, dos pioneirismos e das visões divergentes sobre temas supostamente bem estabelecidos.
Se, por um lado, podemos chamar a iconoclastia criativa de Berns como positiva, há igualmente a iconoclastia puramente resultante da má educação e da disposição permanente de descumprir regras estabelecidas, caracterizada por não respeitar os demais, por desacatar as normas gerais de convivência social e reflete, de alguma forma, elementos de percepção de superioridade em relação aos outros. Nesta categoria estão comportamentos que refletem nosso passado, ainda tão presente em nosso hábitos e costumes do dia-a-dia, nos quais as rebeldias podem ter um viés puro de egoísmo e de desrespeito ao coletivo. A iconoclastia mal-educada pode ser evidenciada em pequenos delitos, os quais findam por respaldar e dar guarida aos grandes defeitos.
Vejamos um frugal e simples exemplo: aos domingos e feriados, em várias cidades do país, como a que eu vivo, o Rio de Janeiro, a orla tem uma das pistas fechada ao tráfego de automóveis, permitindo aos pedestres e ciclistas desfrutarem de espaço urbano essencial e prazeroso. Funciona assim: há uma pequena pista dedicada exclusivamente aos ciclistas, nas quais se anuncia aos pedestres que a evitem, bem como há uma faixa maior reservada aos pedestres, onde é explicitamente informado a todos que somente crianças com menos de oito anos a utilizem de bicicleta.
Ainda que não faltem avisos, é extremamente comum observar a dificuldade dos ciclistas de conviverem em harmonia com os pedestres. Muitas vezes vemos pessoas caminhando na ciclovia, não raro em duplas, dificultando por completo a mobilidade das bicicletas, bem como observamos muitas bicicletas trafegando perigosamente no meio dos pedestres na faixa, em tese, a eles reservada. Bastaria que as proibições fossem respeitadas e todos, tanto ciclistas como pedestres, aproveitariam bem melhor seus respectivos espaços. Ao contrário, na prática, resultado da má educação, amplificam-se os conflitos e não raros desentendimentos surgem, transformando aquilo que deveria ser prazeroso em disputas e transtornos sem sentido.
Seria aconselhável que um policial ou autoridade municipal tentassem impor as regras, mas as chances de insucesso, infelizmente, seriam altas. Esta iconoclastia mal-educada não tem nenhum vínculo com a iconoclastia criativa de Berns, mas sim está atada ao que existe de pior em nossa cultura e é fruto da descrença nos governantes, estando ancorada nos estímulos às práticas individualistas de usufruir do máximo que puder, mesmo que em detrimento do coletivo. São exemplos triviais, mas que guardam profunda correlação com uma possível transformação, via boa educação, que moldasse para melhor a formação cultural de um povo que soubesse, de forma coletiva e solidária, definir bem seus destinos.
*Diretor executivo de Educação a Distância da Estácio—————————————
Revólver ou fogos de artifício – Vera Sábio*Há muitas coisas nesta vida com utilidades diversas, sendo boas ou más, conforme quem as manuseiam, dentre elas, conhecemos a pólvora e suas distintas finalidades.
A pólvora que faz o revólver ser um instrumento de morte e destruição, revela a chegada da alegria, da vitória, da festa, etc através dos fogos de artifício. Também sabemos que em vários setores do nosso Estado, muitos são as pólvoras preste a explodirem, e aqui citarei algumas.
O Tribunal Regional Eleitoral, em nome de uma maior democracia, conquista o direito ao 2º turno nas eleições municipais deste ano, retirando a certeza da vitória daqueles que tudo fazem no final do mandato, para permanecerem no poder. E dá a chance de a união revelar a força que transforma e traz uma nova realidade com outras perspectivas.
Enfim, também a fedentina dos esgotos que abertamente são derramados no nosso abençoado rio Branco é sentido pela justiça competente, em aplicar punições adequadas e principalmente medidas que acabem com este crime ambiental.
E a grande pólvora da destruição continua na penitenciaria, onde a revolta dos presos é total, o acúmulo de pessoas aumenta a tensão e medidas urgentes devem ser tomadas, ou todos sentiremos um pavor maior.
Acredito que a visão básica desses 3 tópicos faz refletirmos um pouco sobre o que deveremos fazer com a pólvora que cada um possui dentro de si.
-É importante acendê-la com criticas improdutivas e falar e falar e quando o voto nos permitir agir, apagar este fogo iludindo-nos outra vez?
-É necessário acendê-la nos revólveres da ganância, da corrupção, dos interesses próprios e não construir solidariedade, justiça e paz?
-É preciso deixar as pólvoras, do amor mutuo, da honestidade, do cumprimento das leis, da empatia e da justiça; acender a coragem, a luta, a determinação e a consciência que somos responsáveis por tudo que fizermos e por tudo que não fizermos?
Pense nisto e descubra para que serve a pólvora que cada um trás dentro de si…
*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega CRP: 20/[email protected].: (95) 991687731————————————–
Você se conhece? – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Se você pensa que o autoconhecimento exige muito esforço, tente evoluir com a ignorância”. (Waldo Vieira)Todos nós somos ignorantes de nós mesmos. Logo não se magoe pensando que o Waldo está sendo grosseiro. Longe disso. A esmagadora maioria da humanidade é composta de pessoas que não se conhecem a si mesmas. E nós dois fazemos parte desse grupo. Mas vamos falar sério. Temos, atualmente, cerca de sete bilhões de habitantes sobre a Terra. E não é tão grande o número dos que têm o autoconhecimento. Geralmente dirigimos nossas vidas seguindo orientações dos que vivem na doce ilusão de que são competentes para nos dirigir. O que nos leva a crer que não necessitamos de orientações. Ou mais precisamente, não deveríamos necessitar. Ainda não evoluímos o suficiente para saber que somos os donos dos nossos próprios destinos.
Se se prestar atenção à desordem que nos mantém no curral da irracionalidade, veremos que não somos tão racionais assim. Que preferimos dirigir nossas vidas de acordo com o que os orientadores nos dizem. E nosso autoconhecimento, onde fica? Perdido na ignorância quanto à irracionalidade. Somos todos de origem racional. Mas vivemos todos no pantanal do desconhecimento sobre nossa origem. Viemos todos do Universo Racional. E é para lá que todos voltaremos. E não atingiremos nosso autoconhecimento, enquanto não entendermos isso e continuarmos marionetes das fantasias que nos impõem. Simples pra dedéu.
Pare de franzir a testa. O que estou dizendo é que devemos nos valorizar mais para que consigamos ser o que realmente somos. Porque ainda acreditamos que somos uma escultura de barro.
Todo o poder de que você necessita para vencer na vida está dentro de você. Mas você tem que acreditar nisso, senão vai continuar dependendo dos outros para conseguir apenas parte do que você realmente merece. Reflita um pouco a cada dia, no seu dia a dia. Onde estiver e o que quer que esteja fazendo, pare um pouco e pense em você mesmo, ou você mesma. Lá de onde você veio e para onde irá, não existe diferença de sexos. Logo, você não precisa espernear para fazer que acreditem no seu valor como um ser de origem racional, independentemente do seu sexo.
Mantenha sua autoestima elevada. Nada justifica um momento de aborrecimento quando nos respeitamos e nos valorizamos. E só nesse patamar não baixamos nossas cabeças, cedendo ao descontrole emocional, como sinal da ausência da racionalidade. Sempre que o aborrecimento, a tristeza, ou o que quer que faça você se sentir infeliz chegar, pare e reflita. Só os fracos curvam-se diante das ameaças. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460