Opinião

Opiniao 15109

Macumbelança: “Por que você não entende a minha música”?

Celso Luiz Prudente

Éder Rodrigues dos Santos

O pensamento ocidental de linearidade acumulativa esforça-se para submeter os diversos modos de ver o mundo ao barulho ensurdecedor da sonoridade axiológica da logica acumulativa, sem cor do euro-hétero-macho-autoritário, comunicado por um canto triste, que é marca do anacronismo histórico, incapacidade filosófica, moral e ética de um modelo de sociedade exaurida, na qual o lucro doentio da mais-valia não dá lugar à perspectiva onírica, a beleza e a poesia. Essa perspectiva criativa faz parte do enfrentamento telúrico, de raiz íbero-ásio-afro-ameríndia que, com sua relação biointegral, permite a harmonia da espécie humana, extra-humana e o ambiente natural. Comunica assim, uma riqueza monumental, mediada por um soundscape dionisíaco de cores vivas, que é a marca da união de dois mundos: o visível e o invisível.

A leitura de mundo vista na estética artística musical sob o devaneio poético da esfericidade e tamboralidade da cosmovisão africana traz para o palco da vida uma pedagogia para além das estruturas estruturantes do capitalismo vazio provenientes dos países colonizadores. Desta forma, temos na musicalidade brasileira a possibilidade de compreensão de mundos e naturezas em devir, contribuição dos complexos ontológicos afro-ameríndios em suas construções epistêmicas que projetam cosmovisões necessárias para ver o mundo no plural: o (s) mundo (s). Neste sentido, o caráter profundamente não-linear da cultura africana determinadas por relações lúdico-sagradas, em que a magia norteia a consciência da biodiversidade nas relações de comunicação, que permanecem entre o vivo e o morto, elimina a ideia superficial de dança ou música enquanto produtos de uma sociedade consumista acostumada à indústria cultural.   

O futebol e o samba localizam-se entre os mais importantes fenômenos culturais no Brasil que marcaram o século XX. A ginga esférica afro-brasileira percebida nos dois contextos são permeadas por uma série de outros fenômenos artísticos identificados no mesmo século, como o Modernismo, Tropicalismo, Cinema Novo, Bossa Nova e Jovem Guarda. Nestes contextos, o negro e o ameríndio se mostram expressivos, pois tem nessa estética artista e revolucionária a expressão de sua luta e enfrentamento para a ocupação de espaços fundantes na construção da brasilidade. Assim, a africanidade e a indianidade permitem a visão sistêmica que tem na arte seu mais profundo reflexo criativo de mundos e possibilidades.  

A paisagem sonora brasileira tem na expressão conceitual aqui proposta de ‘Macumbelança’, em que o valor de uso se dá na dinâmica teleológica africana e ameríndia das relações comunais que marcam a dimensão existencial da tamboralidade afro-ameríndia, cuja teluricidade desconhece a propriedade e se dá no plexo de relações existenciais. Nesse sentido, o fenômeno da alegria da corporalidade negra e indígena como um elemento substancial da brasilidade tem como subjacência o ritmo ancestral da macumba e da pajelança, dimensões não compreendidas pela fria tristeza do protestantismo euro-caucasiano que tem a estrutura impregnada do som do valor de troca, em que o ritmo mercadológico do ‘ter’ sobrepõe letalmente a musicalidade no jardim do ‘ser’.  

Tal proposta conceitual localiza-se na possibilidade de virada ontológica na musicalidade nacional, que enfrenta o insuportável ruído monótono industrial e colonizador do euro-hétero-macho-autoritário, colocando em primeiro plano da cena artística: o batuque tocado em tercina nos terreiros afro-brasileiros; os atabaques da orixalidade nacional; a virilidade congolesa-brasileira do ganzá; a condução acentuada dos repiques das escolas de samba; o berimbau das rodas de umbigada e capoeira; assim como o maracá indígena, que é o chocalho dos primeiros habitantes do continente, que com suas indumentárias sagradas, cantos tradicionais e o uso de grafismos corporais purificam o espaço vivido e a corporalidade ancestral. Traços da esfericidade característica na estrutura do espírito estético e axiologia afro-ameríndia presentes nas festas, rituais de cura, no xamanismo e na comunicação entre-mundos.   

Celso Prudente é Livre-Docente em Cultura, Cinema e Hermenêutica pela Faculdade de Educação da USP – FE/USP. Doutor em Cultura pela Universidade de São Paulo – FEUSP. Pós-Doutor em Lingüística pelo Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/UNICAMP. Professor Associado da UFMT. Antropólogo, Cineasta. Curador da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP). Pesquisador do Centro de Estudos Latino-Americanos sobre Cultura e Comunicação – CELACC ECA USP. Apresentador e Diretor do Programa Radiofônico: Quilombo Academia, da Rádio USP, FM 93,7 de São Paulo.

Éder R. dos Santos é jornalista, cineasta, sociólogo, doutorando em Geografia pela UNIR, editor de publicações da UFRR, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Cultura e Modos de Vidas Amazônicos (UNIR) e da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP).

Buscando a força que temos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Há uma coisa muito mais forte que o capricho das crueldades políticas: é a opinião pública de uma nação livre, próspera, feliz, moralizada”. (Rui Barbosa)

Na euforia das festas de fins de ano esquecemos o futuro. Continuamos esperando que a ajuda caia do céu. Quando na verdade não precisamos de ajuda, mas de ação. E a ação depen
de de cada um de nós. Na euforia dos festejos não percebemos nem notamos os perigos das ações. Ainda continuamos querendo resolver os problemas políticos com arrufos e burburinhos, sem percebermos que o que nos falta é educação necessária para construirmos uma política civilizada. E o que estamos vendo é que não caminhamos um metro se quer, para a construção de uma política civil e democrática.

Daqui a pouco estaremos entrando em um novo ano que não nos parece vir com mudanças. Mas não nos preocupemos com isso, mas cuidemos disso. Vamos nos educar politicamente para que possamos ter um país tranquilo, vivendo uma democracia realmente respeitável. Porque a democracia que temos no momento não nos leva a lugar nenhum. Vamos continuar gritando, esperneando, mas não dando a menor bola para a educação. Ainda não nos educamos suficientemente para entendermos que não há democracia com obrigatoriedade no voto. E vamos, por isso, como marionetes de “políticos” manipuladores.

Mas nunca mereceremos o voto facultativo enquanto não formos educados para merecê-lo, usando-o com sabedoria e respeito pela Nação. E como tudo começa pelo começo, vamos começar educando-nos para sermos um povo civilizado e merecedor do respeito universal. Vamos iniciar o novo ano preparando-nos para as mudanças que o Brasil necessita para sermos o que queremos e devemos ser: um povo realmente brasileiro. E não nos esqueçamos que cada um de nós é responsável, mesmo sem saber, pelo futuro do nosso País.

Considere seu valor como cidadão, preparando-se para a cidadania. E só seremos cidadãos quando entendermos o valor que realmente temos. Comecemos por entender que o administrador não paga seu salário. Ele faz o pagamento, com o dinheiro que amealhou, dos impostos que você pagou. O que significa que você, como cada um de nós, é que paga o salário alto do seu administrador público, independentemente da função que ele exerce. Escolha sempre com sabedoria, o político que você vai eleger para administrar sua Nação, mesmo iniciando pelo menor Município do seu Estado. Vamos ser mais racionais nas nossas propostas. Afinal somos responsáveis pelo que construímos para o nosso futuro. Que o novo ano nos seja próspero e sejamos merecedores do que construímos. Pense nisso.   

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