Opinião

Opiniao 15128

Triste Fim de Jair Messias Bolsonaro

Sebastião Pereira do Nascimento*

Triste Fim de Policarpo Quaresma, clássica obra de Lima Barreto (1881-1922), publicada no ano 1911 através de folhetins no Jornal do Comércio, no Rio de Janeiro. Com uma literatura realista, o autor compôs um belo romance cujo enredo ambientado no final do século XIX, conta a história do major Policarpo Quaresma, nacionalista extremado, cuja visão soberba do Brasil é motivo de zombaria e escárnio. Interessado em defender causas próprias, major Policarpo é, sobretudo, um “falso” “patriota”, o qual pensa em defender — não sabe de que — a sua nação a todo custo. O patriotismo insidioso, que só causava problemas, leva o protagonista a se envolver em projetos cujos oscilam entre o sarcasmo e a malícia, e que mais tarde constituem-se em sua própria derrota.

No romance, Policarpo Quaresma, como um funcionário público vive de um idealismo nacionalista alimentado por uma imagem distorcida do país. Policarpo, cansado da vida pública, decidiu ser agricultor, mas como não era muito afeito ao trabalho duro, logo desistiu alegando que as terras brasileiras não eram férteis para plantar. Partindo para outro embuste, o falso major se alista como soldado voluntário numa revolta armada, em 1893, quando mais uma vez se decepciona, dessa vez com os idealizadores do movimento e ao criticá-lo, é preso. Quando Quaresma se dá conta de sua postura quixotesca, está prestes a ser executado pelo próprio exército que falsamente defendia. Como resumo, esse foi o “triste fim de Policarpo Quaresma”.

Fazendo uma analogia do romance de Lima Barreto com a realidade atual do país, vemos em Jair Bolsonaro, algumas semelhanças entre a literatura barretiana e os fatos atuais, ainda que as discrepâncias temporais sejam notáveis. Portanto, é preciso procurar sentido ou dar algum sentido às narrativas barretianas que se insinuam diante da nossa realidade, passando na frente dos nossos olhos, e deixando evidências de que realmente a arte imita a vida! Ou no caso de Bolsonaro, seria o contrário?

Aqui o mais provável é que Jair Bolsonaro possa imitar Policarpo Quaresma, o qual era apelidado de major, enquanto Bolsonaro é chamado de capitão, o qual foi julgado incapaz de servir o exército com honradez, e o exército atenuando suas condutas, o transferiu para a reserva com o posto de capitão — em 1993, em entrevista a Fundação Getúlio Vargas, o ex-ditador Ernesto Geisel, classificou Bolsonaro como: “…um indivíduo completamente fora do normal, inclusive sendo um mau militar.” Portanto, se o personagem Policarpo é falso “major”, Bolsonaro foi oficialmente apelidado de “capitão”. E agora é chamado “mito”, apelido apropriado que vem do adjetivo mitômano (pessoa com hábito patológico de mentir compulsivamente — mitomaníaco).

Outra coincidência marcante entre o personagem Policarpo Quaresma e Jair Bolsonaro vem do falso nacionalismo alimentado por uma imagem distorcida do país. Onde Bolsonaro, assim como o personagem de Lima Barreto, é um patriota fajuto que se diz defender o país mas odeia a diversidade cultural do povo brasileiro. O atual presidente se diz nacionalista mas destruiu o patrimônio brasileiro entregando a grupos estrangeiros. Bolsonaro se diz moralista, mas flerta com a imoralidade, onde não respeita as normas e leis constitucionais.

Também como paridades entre o capitão de araque e o falso major, vem a   incompetência, a preguiça e a inépcia, quando o falso major decide ser agricultor, mas da inabilidade e alma preguiçosa, desistiu antes da primeira colheita, com argumento vazio de que as terras brasileiras não eram férteis. Enquanto Bolsonaro com o pretexto de disfarçar sua preguiça e suas inabilidades (que lhes são peculiares), procurava alimentar conflitos para mascarar suas inércias.  

Por exemplo, durante a pandemia, como falta de competência administrativa, classificou como “frescura” as lamentações pelas mortes decorridas da pandemia, além de justificar a crise pandêmica pelo fato do isolamento social. Nessas situações se via claramente a indolência do presidente e sua inabilidade para o cargo. E como um verdadeiro psicopata — distúrbio mental grave em que o indivíduo apresenta comportamentos antissociais e imorais sem demonstrar remorso, incapacidade de se relacionar com outras pessoas com laços afetivos profundos, egocentrismo extremo e incapacidade racional — saia às ruas (com outros psicopatas) fazendo passeatas em plena desordem moral, diante de uma tragédia que até agora ceifou a vida de quase 700 mil brasileiros.

Voltando à analogia entre o protagonista de Lima Barreto e Bolsonaro, uma das disparidades entre ambos é que o falso major, apesar de ufanista e trapalhão, não era um psicopata como o capitão de araque, e nem era o presidente do país — Policarpo era um mero funcionário público. Talvez se Lima Barreto tivesse puxado para esse lado, ambos mostrassem mais simetrias. Como, por exemplo, Bolsonaro, assim como Policarpo é um falso patriota que idealizava um país à sua maneira que, para todos os efeitos, não estava nem um pouco preocupado com honra nacional, povos tradicionais ou costumes folclóricos. Ambos vão além disso, uma vez que passeiam pelo mesmo modus operandi do infralegalismo autoritário. No caso de Bolsonaro, ao invés de encampar alterações de leis na constituição, o presidente lançou mão de medidas infralegais, como decretos, para avançar no desmonte de políticas públicas em diferentes pautas: ambiental, armamento, etcéteras…

Jair Bolsonaro, governou mal o país, teve péssimos auxiliares, nunca demonstrou apetite para o exercício do cargo e, no lugar de buscar soluções para os graves problemas brasileiros (alguns criados por ele mesmo), passou todo o mandato sabotando os interesses públicos e provocando conflitos. Bolsonaro não sai só como um mau presidente, mas como um governante que arrombou as contas públicas, elevando a 30 trilhões a dívida brasileira.

O mais assustador é que Bolsonaro é um sujeito mau, perverso e desumano. Ele, sim, deseja que as coisas ruins aconteçam com as pessoas. Ele como presidente, nada fez para que as coisas piores não acontecessem. Bolsonaro, segundo pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas, sai como o pior presidente do Brasil comparado até pior do que os mandatários da ditadura militar. A pauta administrativa de Bolsonaro também é inferior à de seus antecessores desde a redemocratização do país, revelando que a maioria dos projetos aprovados foram de iniciativa do legislativo e nem um terço partiu do executivo (dados da FGV).

Como anda circulando por aí, a imprensa mostrou o então presidente Jair Bolsonaro chorando em diversas ocasiões: mas, por que o Bolsonaro chora? Bolsonaro chora porque sabe que vai ser preso, mas, logo se refaz quando lembra que alguns comparsas seus também vão ser presos; Bolsonaro chora porque não conseguiu concluir o seu sórdido plano de destruir o país, mas, logo se cala quando lembra da pensão de 42 mil que vai receber; Bolsonaro chora porque foi desprezado pelos seus pelegos, porém, logo se refaz quando lembra que ainda terá um cargo de “honra” no PL em que vai receber mais dinheiro do fundo partidário; Bolsonaro chora porque perdeu a mamata de fazer farra com cartão corporativo, porém, logo se cala quando lembra das propinas que tem a receber das mineradoras, das indústrias de agrotóxicos e armamentistas; Bolsonaro chora porque teve de deixar o residência oficial, onde fazia gastos exorbitantes com dinheiro público, mas, logo se refaz quando lembra que sua família acumulou mais de cem imóveis com dinheiro de rachadinhas, propinas, etc; ao fim, Bolsonaro chora de alegria quando pensa que vai fugir do Brasil, deixando seus patriotários: derrotados, humilhados, abestalhados e, os mais extremistas, na prisão.

Além disso, Bolsonaro saiu pateticamente de uma eleição e durante esses dois meses passou a liderar um pequeno grupo de terroristas: uma coisa que ele mesmo sempre quis ser, ou foi. Agora seu silêncio pode significar coisas terríveis, que vão desde o incentivo aos seus comparsas continuarem com suas violências até à vontade dele de dizer a seus comparsas: “perdeu patriotários”, agora me deixem em paz, fui pra merda, ou melhor, pra América.

Quatro anos de distúrbios! Como foi terrível para a população brasileira ter um presidente tão repugnante, um ser que dizia coisas inaceitáveis em momentos cruciais da vida nacional. Agora, com medo de ser preso, sem força moral e isolado institucionalmente, Bolsonaro foge do país. Se acovarda e prova o quão nunca foi patriota, se assim fosse, em nome da democracia e em respeito à nação, ainda que insatisfeito com a derrota, cumpriria a liturgia de seu governo, até o último instante. No entanto, Bolsonaro foge! Se apequena, fecha os olhos para o país e não “…verás que um filho teu não foge à luta”.

Quando se tem grandeza na alma, a dor da derrota costuma ser atenuada quando se cumpre, com rigor e dignidade, as regras do jogo. Não é, certamente, ao que estamos assistindo. Bolsonaro, abatido e humilhado não guarda dentro de si nenhum traço de dignidade, ao contrário, a cada gesto seu, ele amplia a sua conduta imoral e violenta. Por conseguinte, por todas essas condutas ardilosas de Bolsonaro, o Brasil não pode e nem vai repetir o erro de conceder anistia ampla e irrestrita para genocidas e corruptos como ele e seus comparsas. Em suma, sabendo que ele tem medo de ser punido a rigor da lei, não obstante, assim como foi o triste fim de Policarpo Quaresma, assim será o triste fim de Jair Bolsonaro.

* Filósofo

Valorize-se no que você é

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Enquanto a cor da pele
for mais importante que o brilho dos olhos haverá guerra”. (Bob Marley)

Há um erro chocante que se choca a todo instante: é o preconceito na negritude. Enquanto você continuar se aborrecendo porque o chamam de negro, é você que está se desvalorizando por dizerem o que você é. Então você não quer ser o que é. Já falei para você, aqui, do dia em que eu estava tomando o café da manhã e ouvi o barulho de um movimento ali, na Praça da Sé. Desci e fui até lá. Postei-me na calçada da Catedral e passei a manhã toda assistindo a um dos movimentos mais exemplares a que já assisti. A Praça, em frente à Catedral da Sé, estava totalmente tomada por pessoas negras. Eles protestavam contra a lei das cotas nas universidades, para os negros. Aquele protesto encantou-me.

Quando você aceita entrar numa faculdade protegido por uma cota, você está se desvalorizando. Já por não refletir sobre a tolice do argumento dado pelos “fabricantes” da lei. Eles alegam que a cota é porque a criança nega e pobre, estuda em escolas de baixa qualidade e não se preparam devidamente para a faculdade. O que nos leva à pergunta clara: e como ficam as crianças pobres e brancas que estudam na mesma escola? Se você tiver uma resposta condizente, segure-a com você.

Eu tenho uma netinha carioca e negra. Adoro-a e não desejaria vê-la em protestos contra a cor de sua pele. Ela já participou de várias novelas na Globo, e é uma atriz atuante. Lindinha e competente. Tenho muitos amigos negros e respeito-os no que eles são, e não no que acham que eles são. Tenhamos em mente que quem não respeita não merece respeito. Então vamos respeitar os seres humanos, nossos vizinhos da vida, para que eles se respeitem e nos respeitem.

“Não há bobo mais bobo do que o bobo que pensa que eu sou bobo”. Assim como não há idiota mais idiota do que o idiota que pensa que você é idiota, só porque você é negro ou negra. Se você se apoquentar com isso, estará desvalorizando sua pele, esquecendo-se do brilho dos seus olhos. E estes são muito mais importantes, porque indicam quem e o que você é. Seja você mesmo, ou mesma, valorizando-se no que você realmente é. Seja sempre o melhor, independentemente dos pensamentos dos outros. O que eles pensam sobre você não vai dizer o que você realmente é.

Só você e mais ninguém, tem o poder de dizer e mostrar o que você é. Valorize-se e pare de espernear, incomodado com o desprepara de quem quer que seja. Abrace firme o ano que estará chegando daqui a pouco. Viva sua vida como ela deve ser vivida, sem se incomodar com os que não sabem viver. Pense nisso.

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