Opinião

Opiniao 15173

KinoMakunaima 2:

A afirmação da imagem positiva do indígena no filme Palasito

Éder Santos

Sob inspiração de obras do escritor Howard Phillips Lovecraft e do cineasta Jhon Carpenter, o premiado filme Palasito (ficção, 2021, 25 min. RR), dirigido por Alex Pizano, é exemplo da antropofagia cultural contemporânea à brasileira que tem na construção da imagem positiva dos povos indígenas a potência da narrativa para além-do-humano. H. P. Lovecraft, nascido em 1890 nos EUA, com suas obras literárias de horror e fantasia, influenciou a literatura e o cinema. Entretanto, no caso de Roraima, o notável escritor recebe uma invertida pedagógica de valores amazônicos no filme Palasito, fenômeno que demonstra a força da criatividade do cinema autoral de fronteira caribenha.

É no sonho poético que os povos autóctones constroem suas epistemes, permitindo, em tempos de agressões aos seus corpos-territórios, a defesa da vida e das tradições por meio do xamanismo. Assim, o filme Palasito demonstra, ao mesmo tempo, a influência de Lovecraft com seu horror cósmico e suas histórias assombrosas, mas, por outro lado, permite-se “indianizá-lo”, pois a ficção roraimense envereda para o caminho da valorização ontológica do ameríndio. Se a nova série da HBO, Lovecraft Country, traz para o debate o racismo e a luta dos negros, subvertendo as obras do escritor, nas terras de Macunaima, Pizano constrói a narrativa fílmica valorizando a cultura indígena. No século XXI, o Lovecraft é negro e indígena!

Lovecraft, com o brilhantismo de suas obras aterrorizantes, pode ser percebido criticamente como um “homem branco de classe média americano do século XX”, mergulhado em um pensamento colonial moderno. É, portanto, pelo Lugar de Fala e na Análise de Discurso que, possivelmente, suas narrativas possam ser descontruídas, denunciando o seu tom imperialista, fato comum na indústria cultural norte-americana. Lovecraft é apontado por críticos como autor de uma literatura de tom preconceituoso, xenofóbico, que racializa mestiços e diminui outros grupos sociais.

Películas sob influência de suas obras como: o Enigma do Outro Mundo (1983); Re-animator: a hora dos mortos-vivos (1985); Dor Além (From Beyond, 1986); A Beira da Loucura (In the Mouth of Madness, 1994); The Call Cthulhu de 2005, (que também inspirou a banda Metallica, instrumental premiado do álbum Ride the Lightning, 1984) e; A Seita Maligna (The Void, 2016) e outras grandes obras do gênero (sobretudo, do versátil Jhon Carpenter) são filmes, por vezes, interpretados como meras adaptações da literatura, constituindo-se produtos sem maiores novidades de conteúdo. São reproduções que podem até ser atrativas para os amantes do cinema do suspense, fantasia e terror, entretanto, localizam-se no campo do “mais-do-mesmo”.

Palasito traz a novidade. Essa talvez seja a diferença e o sucesso do curta. A história ocorre em torno de pesquisadores e forasteiros que estão em busca do Palasito, um raro e valioso meteorito. A pequena rocha cai nos arredores do município mais indígena de Roraima, o Uiramutã, na terra indígena Raposa Serra do Sol, marco da conquista territorial recente para as populações indígenas na Amazônia. Além da monumental paisagem montanhosa e dos vales do norte de Roraima, a obra traz a figura da indígena xamã para uma posição de destaque na trama.

O fantasmagórico Palasito, a partir da ganância humana, tem a capacidade de subverter o comportamento das pessoas que testemunharam sua queda (característica central nas obras de H.P. Lovecraft). Inicia-se assim uma luta no interior do grupo para ver quem vai comercializar a rocha na comunidade científica mundial. Nesse conflito, a xamã surge em cena como um oráculo guiado pelos saberes ancestrais, pois havia sonhado com o episódio e tem a lúcida interpretação das desgraças que virão, caso não deixem a rocha em paz. Trapaças, mortes e ganância se misturam ao longo o curta com personagens em transe. A rocha tem sua humanidade, uma agência que aos poucos deixa de ser lovecraftiana e adota uma vingança telúrica das terras de Makunaima, pois para os indígenas, a natureza não é uma mera mercadoria e não há ‘enigma de outro mundo’ que não possa ser debelado pelo xamanismo!

Vale ressaltar que o curta coleciona diversos prêmios que chancelam a qualidade de Palasito. O filme foi destaque nos festivais internacionais: Universal Film Festival (Alemanha); Rotterdam Independent Film Festival (Holanda); Lift-off Global Network (Reino Unido); San Francisco Arthouse Short Festival (EUA); Universal Film Festival (EUA); Ekurhuleni International Film Festival (África do Sul); Venice Indie Festival (Itália) e; Festival Internacional Paris International Short Festival 2022 (França), neste último, ganhou o prêmio de melhor fotografia.

No Brasil, o filme levou a imagem de Roraima para o Faci Festival de Cinema (GO); 6º Festival Curta Canedo – Mostra Curta Macabra (GO); Mostra de Curtas Independentes da Oficina Cultural Oswald de Andrade (SP); V Mostra Sesc de Cinema; 5° Festival de Cinema de Jaraguá do Sul (SC), onde foi escolhido o melhor curta-metragem, recebendo
dois outros prêmios
: melhor fotografia e figurino. O curta produzido pela Biosphere Audiovisual, com coprodução da Platô Filmes, reuniu uma equipe de 25 pessoas de Boa Vista e do Uiramutã, sendo financiada com recursos da Lei Aldir Blanc. Segue circulando, prometendo colecionar mais prêmios e participações.

O curta Palasito, mesmo com reduzido orçamento de produção, demonstra sucesso absoluto na dimensão competitiva do audiovisual. E mais que isso: tem um encanto de imagens que dialogam [ou superam?] as paisagens da Nova Zelândia projetadas em filmes como “O Ataque dos Cães” (2021), vencedor do Óscar de melhor direção (2022) ou da franquia “O Senhor dos Anéis” (2001), cuja série custou 500 milhões de dólares. Por esse motivo, se faz urgente que o estado brasileiro e o mercado invistam no cinema roraimense. Tal proposta vai permitir a ampliação da produção da sétima arte e, além disso, vai demonstrar a potência socioambiental que existe no extremo norte do Brasil, atraindo o olhar do mundo para o turismo especializado, para a importância da conservação dos territórios, para as histórias e para o respeito aos povos originários.

Lovecraft, falecido em 1937, tem seu valor reconhecido na literatura e no cinema mundial, porém, não há dúvidas de que o escritor norte-americano tinha muito a aprender na Amazônia e com quem vive aqui. Palasito é rocha que voa, subverte a ideia de uma sociedade do consumo, faz uma crítica sofisticada ao capitalismo e amplia o olhar sobre a necessidade de novas visões de mundo.

Éder Santos é jornalista, sociólogo, doutorando em Geografia Humana pela UNIR, editor de publicações da UFRR, presidente da Associação Roraimense de Cinema e Produção Audiovisual Independente, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Modos de Vidas e Culturas Amazônicas (GEP Cultura/UNIR) e da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP). E-mail: [email protected].

As contribuições da biotecnologia para um mundo carbono neutro

William Yassumoto*

Todos nós estamos vivendo e sentindo as mudanças intensas no clima. Sabemos dos impactos que os combustíveis fósseis geram nos ciclos climáticos naturais do planeta, contribuindo para o aquecimento global, além de outros fenômenos como desertificação, incêndios florestais, elevação do nível do mar e extinção de espécies.

Ainda assim, o mundo é baseado em paradigmas que têm como base o combustível fóssil. Em 2020, a energia gerada a partir de fontes fósseis recebeu 70% dos subsídios globais para o setor, e apenas 20% desses subsídios foram destinados às fontes renováveis de energia. Para que tenhamos um avanço nas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, o mundo precisa acelerar rumo a uma sociedade neutra em carbono.

Soluções baseadas em biotecnologia são parte da resposta a alguns dos maiores desafios do mundo. Elas nos permitem imaginar um mundo carbono neutro, no qual indústrias e comunidades tiram o máximo proveito de matérias-primas e recursos. Muitas das soluções já existem e têm um potencial de crescimento sustentável enorme. Mais de 85% das vendas da Novozymes, líder global em biotecnologia, em 2021 foram geradas a partir de soluções que reduzem o uso de recursos fósseis, permitem que a agricultura e os setores alimentares produzam mais com menos e possibilitam uma melhor saúde em todo o mundo.

A forte presença da indústria na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27), realizada este ano no Egito, segue mandando a mensagem de que o setor privado está preparado e quer uma transição sustentável para uma economia independente de substâncias de alta intensidade emissora de carbono. A Novozymes esteve presente no evento com a participação de nossa CEO global, Ester Baiget, e um time de especialistas da empresa para trabalhar com stakeholders de diversos setores, indústrias e comunidades a fim de garantir que deixemos um planeta saudável e viável para as próximas gerações.

Como instituição estamos fazendo a nossa parte e cumprindo com os nossos compromissos. Junto com parceiros das cadeias de valor nas quais atuamos, trabalhamos para reduzir as emissões e estamos a caminho de alcançar nossa meta de ser uma empresa carbono neutra até 2050.

Nossas metas de redução de emissões foram renovadas pela iniciativa Metas Baseadas na Ciência (SBTi – Science Based Targets initiative). Fazemos parte de uma restrita lista de empresas que estão comprometidas com o novo padrão do SBTi para metas de neutralidade em carbono até 2050. Até 2030 a Novozymes reduzirá as emissões absolutas de CO2 em sua operação em 75% e as emissões absolutas de CO2 de sua cadeia de abastecimento em 35%. Até 2050, a Novozymes alcançará a meta de ser carbono neutra.

Empresas como a Novozymes têm um papel de extrema relevância nos objetivos estabelecidos pela COP27, mas o esforço conjunto deve necessariamente envolver o poder público. Por isso apoiamos o desenvolvimento e implementação de políticas de precificação de carbono e incentivos à energia renovável como soluções fundamentais para uma transição econômica mais verde.

Entendemos que o Brasil tem uma posição essencial nessa discussão. Por ter uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, pela vanguarda no desenvolvimento e apoio ao uso de biocombustíveis e pela vasta biodiversidade, o país pode e deve atuar como líder nessa discussão.

As empresas, governos e sociedades civis devem ser ambiciosos e trabalhar juntos para encontrar as melhores soluções para nosso futuro comum. A única maneira de avançar é por meio de esforços coordenados e coletivos. A pandemia global da COVID-19 e as restrições nas cadeias de abastecimento têm enfatizado como as nações e a indústria estão interconectadas. A crise climática exige uma colaboração ainda maior.

Não vamos parar por aí. A Novozymes está pronta para trabalhar com as partes interessadas globais e locais para garantir um planeta saudável e sustentável para todas e todos nós.

*Presidente Regional da Novozymes para a América Latina e presidente do Conselho da ABBI

A magia no cantar

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Quando ela canta me lembra um pássaro. Não um pássaro cantando, mas um pássaro voando. (Ferreira Goulart)

Assistindo à homenagem prestada ao Milton Nascimento, recentemente pela televisão, despertei-me. Já fomos muito felizes ouvindo grandes músicas cantadas por grandes cantores. É uma ilusão tolice, considerar as músicas antigas como “sofrência”. Seria o mesmo que negar a importância da música clássica de séculos passados. O Ferreira Goulart escreveu essa pérola referindo-se a Nara Leão. E ele tinha toda razão.

Mas a vida não está só no encanto da música. Há muita coisa boa, agradável, e saudável, que devemos levar em consideração para podermos admirar e cultivar a beleza da música. O encanto da beleza pode ser passageiro se não estivermos preparados para ela. Então vamos nos preparar para sermos felizes em nós mesmos. E é muito simples, desde que estejamos de bem conosco mesmo. E para estarmos de bem conosco é necessário que mantenhamos nosso espírito no nível da racionalidade. E a racionalidade não pode estar em confronto com o irracional. Simples pra dedéu.

As comemorações deste final de ano foram raquíticas. E os motivos foram claros. Ainda não estamos preparados para viver a vida como ela deve ser vivida.

Há dois dias não assisto os noticiários pela televisão, pelo corriqueiro das notícias. Os noticiários estão mais ocupados com a cor do piso da sala do Palácio do que com o rumo exato que devemos tomar na política. Mas não vamos falar de política. Ainda temos muito a caminhar pelas veredas tomadas pelos políticos. E como sabemos que a responsabilidade é nossa, vamos ficar na nossa.

Vamos ser felizes não perdendo tempo com coisas nem momentos infelizes. Eles fazem parte da vida. Mas nossa vida é uma escolha nossa. Mas precisamos aprender a escolher o que queremos para nos fazer feliz. Comece por amar você mesmo ou mesma. Não é possível amar quando não sabemos nos amar. Os caminhos estão abertos para todos nós, independentemente de raça, cor, ou seja, lá o que for. Somos todos iguais. O importante é que saibamos respeitar as diferenças para que sejamos iguais sem conexão.

“Não viva para que sua presença seja notada, mas para que sua falta seja sentida”. O Bob Marley tem toda razão. Quando somos felizes fazemos os outros se sentirem felizes com nossa presença. Mas o mais importante é que sintam falta de nós, na nossa ausência. O Pelé também disse que o “Arantes do Nascimento, iria morrer, mas o Pelé, não”. Não importa o que você faz, o importante é que você faça o melhor no que você faz. Mas o fazer deve estar dentro da racionalidade. Pense nisso.

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