A mulher sem idade
*Eliane Bodart
Glória Maria não permitia que ninguém divulgasse sua idade.
Em resposta a Fábio Porchat, disse que em sua lápide não haveria aquela história “nasceu em tanto, morreu em tanto”. Queria ser lembrada com a seguinte frase: “A mulher sem idade”.
Para seu desgosto, essa foi a primeira informação que divulgaram quando ela não podia mais se defender.
E qual o motivo de uma mulher de tanto sucesso, uma unanimidade em competência e excelência, cheia de namorados, mãe, que lutou contra a discriminação racial e é inspiração para pessoas de todos os extratos sociais, esconder sua idade?
Ouso arriscar que mesmo ela não queria ser nivelada por algo tão simplório quanto seus anos de vida.
Vivemos em uma sociedade que preza esse elemento e te julga por ele.
Tem mais de 40 anos? Parece que se tornou imprestável como profissional e, muito pior, como mulher. Passa a ser “uma velha” que deve se recolher em sua insignificância.
A mulher acima de 40 anos normalmente já adquiriu independência financeira. E isso não quer dizer que ela ganha tanto ou quanto o homem, mas tem o suficiente para se sustentar e, muitas vezes, sua casa, seus filhos e seus pais.
Essa mulher teve experiências amorosas suficientes para descobrir o que lhe dá prazer. Já sabe quais são suas qualidades e convive harmoniosamente com suas imperfeições.
Muitas vezes nessa faixa etária está em transição de carreira ou se lançando em novas frentes. Portanto, não aceita o papel de “meia-idade”, de “senhora”, de “avozinha”, nos conceitos estereotipados de uma sociedade ainda machista.
Não falar sua idade, portanto, não é vaidade, é defesa. É nossa insurreição contra todos os “nãos” que nos impõem simplesmente por sermos mulheres.
— Não tem mais idade para isso.
— Nessa idade usando cabelo assim ou assado?
— Isso é roupa que uma mulher da sua idade usa?
— Não acredito que você está pensando em namorar com essa idade?
Creio que é por essas e outras que Glória Maria lutou tanto contra a divulgação dessa informação. Ela não queria passar por uma menininha, e com tudo o que fez na vida, nem poderia. Ela apenas não queria ser julgada por um número.
A idade de uma mulher é um único elemento no universo infinito de possibilidades desse ser multifacetado que somos.
Nós não temos nenhum problema em assumirmos nossa idade. Apenas somos muito mais que isso.
Eu sou Eliane Bodart, tenho 56 anos e minha idade não me define.
Eliane Bodart é ex-juíza de Direito, Master Love e autora de seis livros, incluindo o lançamento “Estilo Ageless: histórias da mulher +”
Um grande dia
Afonso Rodrigues de Oliveira
“O maior dia na vida de qualquer indivíduo é quando ele começa pela primeira vez a perceber a si próprio”. (Norman Vincent Peale)
Na verdade, é quando nos encontramos no que somos. Alguém já disse que do primeiro ano de vida até os dezoito anos de idade, nós ouvimos cem mil vezes a palavra não. E se considerarmos que o não nem sempre é negativo, caímos na ribanceira das dúvidas. E fica difícil pra dedéu a gente começar a nos conhecer a nós mesmos. Talvez esteja aí o descontrole social que vivemos, sobretudo com o crescimento desvairado da população mundial.
A tarefa não é fácil, embora seja simples. E nada é mais difícil do que identificarmos a simplicidade. A tendência do ser humano é complicar. Você já deve conhecer aquele caso do marido que assustou a esposa com uma notícia simples. Ele chegou a casa e a esposa estava lavando louça na pia. Ele parou e falou:
– Bem… você nem imagina a cena linda a que assisti ali na esquina. Fiquei encantado.
A mulher não fez nenhum gesto e continuou lavando a lo
uça. No dia seguinte ele chegou, ela lavava a louça e ele falou:
– Bem… você nem imagina o acidente a que assisti quando vinha!
A mulher soltou o prato na pia, levantou os braços, virou-se assustada e quase gritou:
– Pelo amor de Deus! Morreu alguém? Onde foi isso? Fala, homem!
Mas vamos adoçar o assunto. Acabei de me lembrar de outro caso que nos adverte para o controle ou descontrole que temos em nossas mentes. Mas esse caso é divertido. Conta que um marinheiro estava há trinta anos na marinha e nunca conseguira ir além do posto de cabo. Até que, inadvertidamente, ele foi promovido a sargento. E quando chegou a casa a mulher estava lavando a louça, na pia. O novo sargento tentou ser surpreendente e ficou caminhando de um lado para outro. A mulher estranhou e falou:
– Vamos… desembucha! Tá escondendo alguma coisa. O que é?
O novo sargento respirou, sorriu e falou contente:
– Mulher… termine aí e vá se cuidar. Arrume-se bem porque hoje você vai dormir com um sargento da marinha!
A mulher virou-se lentamente, olhou firme para o marido e perguntou:
– Mas, ele vem aqui, ou eu tenho que ir lá?
Nem sempre somo, como pensamos, os donos e dirigentes dos nossos pensamentos. Estamos sempre fazendo confusão no que pensamos. E se você pensa que não é, é porque está confundindo. No momento que começamos a perceber a nós mesmos, começamos a dirigir o barco da vida. E é aí que nos tornamos os timoneiros da vida. Inicie a tarefa com parcimônia, amor e muito respeito. Porque só quando nos respeitamos é que somos capazes de respeitar os outros. O respeito vem em troca. Pense nisso.
99121-1460