Aeroporto pelo mundo (2)
Na semana passada ocupei o nobre espaço deste jornal para falar dos aeroportos pelo mundo por onde andei. Contei de minha fascinação por aeroportos, e escrevi o artigo do aeroporto internacional de Miami, enquanto aguardava o voo de volta para o Brasil, após duas semanas na Flórida. Estou em casa, na Ilha do Amor.
Três amigos queridos, após lerem o artigo, me enviaram mensagens, recordando de fatos ligados a voos e aeroportos.
Teresa Telles, amiga dos bancos escolares do Colégio Batista, residente no Rio, me contou de sua primeira primeira viagem de avião, aos seis anos de idade, em 1964, com os pais e algumas irmãs. “Minha família toda estava se mudando para o Rio de Janeiro. Lembro da turbulência do avião, um Caravele de 4 motores. Parecia que estávamos em uma estrada muito esburacada, pois a aeronave voava nas alturas das nuvens”, me escreveu ela em mensagem de texto. E, acrescentou: “Muitas vezes, estive no aeroporto de São Luís para receber ou embarcar algum parente. Subíamos no segundo andar do aeroporto para ver o avião que estávamos ansiosamente aguardando, pousar. Era muito emocionante e logo descíamos, com pressa, para o portão de desembarque para, finalmente dar o abraço de boas vindas”. Ela termina dizendo: “Teu texto acabou me fazendo viajar pelas memórias”.
O dileto amigo Francisco Brandão, português do Porto, me ligou, do outro lado do Atlântico, para falar de seu primeiro voo para o Brasil. Ele tinha 14 anos quando fez sua primeira viagem ao Brasil, país que tanto ama e adotaria como segundo pátria. Saiu do aeroporto internacional de Lisboa, em um Constellation da extinta Panair do Brasil. O voo fez escala na Ilha do Sol em Cabo Verde. Segundo ele, o aeroporto de Lisboa lembrava um barracão de cowboy. O voo era chamado de “Voo da Amizade”, pois metade da tripulação era portuguesa e metade brasileira.
Ana Cristina me enviou um e-mail, após ler o artigo, dizendo da tristeza de ir ao aeroporto de Curitiba buscar o corpo do companheiro, que havia morrido em uma excursão pela Patagônia Argentina. Falou da alegria de Jorge, em partir para mais uma aventura, que tanto amava. Próximo à Perito Moreno teve um infarto fulminante. A equipe que o acompanhava, se encarregou dos preparativos fúnebres e o translado do corpo. Ana falou da “tristeza em buscar o corpo do amado”. O aeroporto que sempre fora motivo de alegria, já que ama viajar, se transformou em tristeza. No aeroporto de Brasília, em uma escala para Cidade do Panamá, sentei-me próximo de uma jovem e seus dois filhos pequenos. Ouvi sua conversa pelo celular, e após desligar, perguntei o que ocorrera. “Foi meu marido que morreu nesta madrugada, o corpo está indo de carro para Belo Horizonte”. Ela seguia de avião com os filhos pequenos, que nem sabiam que ficaram órfãos.
Em minha primeira viagem aérea para o Rio de Janeiro, -como todo maranhense que se preza, levei farinha d’água para meu tio Francisco Aragão Nunes, que me hospedaria. No desembarque no aeroporto internacional do Galeão, enquanto aguardava a bagagem, vi que a sacola com a farinha se prendera na lateral da esteira rolante, e se rasgara. A sacola passou por mim, jogando farinha como folguedos juninos. Vi a cena de soslaio. Por lá mesmo ficou a sacola com a farinha. Não tive coragem de apanhar o que havia restado do farináceo.
Aeroportos são mini cidade, onde você, caro leitor, amiga leitora, assim como eu, passamos em viagem, ou vamos buscar ou deixar amigos e familiares. É lugar de passagem. Situação bem diferente para um grupo de afegãos, que teve de morar no aeroporto de Guarulhos por mais de um ano.
Na semana passada o grupo de afegãos, que desembarcou no Brasil fugindo da guerra, deixou o aeroporto internacional Governador André Franco Montoro, em Guarulhos, SP. Eles finalmente foram levados para a Casa de Passagem Terra Nova, em Guarulhos, onde receberam visto para permanecerem no país.
Dados do Ministério da Justiça apontam que o Brasil já expediu, entre 1º de setembro de 2021 e 6 de dezembro de 2022, 6.302 vistos humanitários aos afegãos. Desses, entre janeiro e outubro de 2022, 3.367 chegaram ao Brasil, sendo o Aeroporto Internacional de Guarulhos a porta de entrada.
O Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) atendeu 1.035 pessoas afegãs. A maioria é composta por homens entre 18 e 59 anos (490) e mulheres na mesma faixa etária (248). Pessoas que vieram do outro lado do mundo, refazer suas vidas em nosso encantador e acolhedor Brasil.
Aeroportos são pequenos e fascinantes mundos; síntese de tudo que existe em todos os lugares. Nos aeroportos se observa pessoas exóticas e diferentes, representativas de todas as tribos e diversidades. Um laboratório humano.
Luiz Thadeu Nunes e Silva
Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista, escrevinhador e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”; o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.
Mexi no baú e na cultura
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Olinda é só para os olhos. Não se apalpa, é só desejo. Ninguém diz: é lá que eu moro.
Diz somente: é lá que eu vejo”. (Marcos Vinícios Vilaça)
Fico feliz quando isso acontece. E por isso sou feliz. Sempre que estou me preparando para esse papo, dou uma espiada na minha estante, Mas a espiada sempre vale a pena. E hoje, meus olhos viciados bateram em dos livros que adorei. Um dos livros é o “Mexendo no Baú”, do meu amiguíssimo Fernando Quintella. O livro do Quintella foi publicado em 2021. E no início do livro está essa pérola do eterno Gonzaguinha:
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a alegria de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será. Mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita!!!!
O segundo livro com o qual me deparei, foi o “Cultura e Estado”, do Marcos Vinícios Vilaça, publicado em 1985. Adelmo Silva, sobrinho da dona Salete, foi auxiliar do Marcos Vinícios, por vários anos. Sempre nos encontrávamos no Rio de Janeiro. E foi aí que ganhei o livro do Mar
cos Vinícios Vilaça.
Estou com esses dois livros importantíssimos, na minha estante. Já os li e a partir de agora vou relê-los com calma, e prestando muita atenção ao valor dos dois, para a minha vida. Porque a amizade é um instrumento para a manutenção da felicidade. E nada mais prazeroso do que poder contar com amigos que mantêm acesa a nossa chama da vida. Mantenha sempre no baú da felicidade a relação incomensurável das amizades que podem estar fazendo de sua vida realmente uma vida. Nada mais agradável do que você se deparar, pela manhã, com coisas simples que podem, na simplicidade, lhe trazer felicidade.
Vamos viver mais uma joia do livro do Marcos Vinícios: “Nordeste de Pernambuco onde as manhãs são mais limpas. Pernambuco do Recife, de Piedade, de Olinda”. Mas vamos para o final do nosso papo com um exemplo encantador, na declaração de amor da esposa do Quintella, a querida Daysy, ao seu esposo, pelas suas Bodas de Ouro, comemoradas em 2021. Ela cita o Sathya Sai Baba:
“Se houver retidão no coração,
Haverá beleza no caráter.
Se houver beleza no caráter,
Haverá harmonia no lar.
Quando houver harmonia no lar,
Haverá ordem no país.
Quando houver ordem no país,
Haverá paz no mundo”.
Um abração do tamanho do mundo para o casal Quintella e Daysy. Sei o quanto é ser feliz nas comemorações de 50 anos de casados. Senti muito, não estar presente nas comemorações. Mas as distâncias não afetam, quando o amor na amizade está sempre presente. Valeu a felicidade que deve ser e será vivida e levada para o futuro. Pense nisso.
99121-1460