Nem tudo é TPM!
*Eliane Bodart
Já nos queimaram nas fogueiras e, ainda assim, resistimos bravamente.
Nosso pecado não era a magia, se fosse, as chamas se apagariam com algum feitiço, ou teríamos nos transformado em pássaros e voado para longe.
Nosso crime era sangrar todo mês, saber a arte da sedução, gerar vidas, ter intuição, saber a alquimia dos alimentos e das ervas. Enfim, nos queimaram não por sermos bruxas, mas por sermos mulheres!
Sobrevivemos, mas não incólumes. As características femininas continuaram a ser mal vistas e temidas por pura ignorância e desconhecimento, então passaram a usá-las como armas contra nós.
E, para facilitar, resumiram nossos amores e humores, quando indecifráveis, como “TPM”. Em tudo, para tudo e por tudo, se encerra a discussão nos acusando de estarmos na TPM.
Como se fosse uma insanidade temporária que justificaria nossa exacerbada sensibilidade, a capacidade de verter lágrimas e ignorar nossos argumentos, por mais razoáveis e fundamentados que sejam.
Sim, nós temos TPM. Somos um receptáculo de hormônios e ciclos para que possamos gerar outras vidas.
Certa vez li em uma camiseta: “se o homem parisse, aborto seria um direito”. Se o homem menstruasse, a humanidade estaria extinta.
Não são todas, mas há mulheres que sofrem intensamente antes e durante a época da menstruação. Enxaqueca, inchaço, cólicas, hemorragias e até desmaios.
Olhe bem ao redor e me diga um homem que passaria ileso por isso todo mês, dos 12 ou 13 anos até os 48 ou 50 anos. Não perca seu tempo. Esse homem não existe.
Agora imagine a cena: a mulher acorda, levanta, respira fundo, faz o café da manhã, leva as crianças para a escola, chega no trabalho depois de enfrentar um trânsito caótico. Tem uma apresentação importantíssima para toda a diretoria nada amistosa, diga-se, projeto que, se aprovado, leva toda a sua equipe para outro nível. A cabeça explodindo de dor.
Mas antes, precisa pagar algumas contas, marcar a revisão do carro e consultas para a mãe. Engole um comprimido, arma-se do seu melhor sorriso e enfrenta a reunião. A apresentação é impecável, mas não há tempo para comemoração.
Aproveita o horário de almoço para resolver algumas outras questões urgentes. A cabeça agora lateja. Precisa enfrentar mais duas reuniões.
As crianças ligam pedindo autorizações para passeios da escola, o banco manda mensagem que seu cartão de crédito foi clonado e só indo à agência ela conseguirá resolver.
Volta para casa assim, carregando o mundo nas costas. Quer apenas um banho, um jantar e um pouco de afago. Mas a realidade é outra. As crianças não fizeram a lição ou tomaram banho. Estão famintas e é ela que precisa preparar a refeição. Enquanto descasca batatas, começa, silenciosamente, a chorar. As lágrimas descem pelo seu rosto como uma cascata.
O maridão, que estava refestelado no sofá tomando sua cervejinha, vendo o jogo de futebol da terceira divisão, entra na cozinha para perguntar que horas sairá o jantar, a vê chorando e pergunta:
— Ih, tá na TPM de novo?
Eliane Bodart é ex-juíza de Direito, conselheira para relacionamentos amorosos e sexuais e autora de seis livros, incluindo “Estilo Ageless: histórias da mulher +”
Com quem está a inteligência, na verdade?
Afonso Rodrigues de Oliveira
“As pessoas inteligentes aprendem mais dos tolos do que os tolos das pessoas inteligentes”. (Marcus Cato)
Afinal o que é ser uma pessoa inteligente? Na maioria das vezes as tolices saem dos que se julgam inteligentes por terem alcançado altos níveis sociais. E nem sempre percebem por que chegaram onde estão. Muitas vezes não foi pela inteligência que pensam que têm. Certamente você já conhece a historinha do Cabo Sivirino. Pelo nome do cara já dá para entender o nível cultural que ele tinha. No entanto, ele deu uma lição que realmente mostra o quanto somos inteligentes, independentemente do nosso nível cultural.
Vamos debulhar rasteiramente, como a coisa aconteceu. Contam que um certo navio de turismo navegava em alto mar, por volta da meia noite. Dentro do navio era uma festa só. Muita bebida, muito papo furado, muito divertimento. E foi aí que o timoneiro do navio alertou o comandante, comunicando que lá muito à frente apareceu uma luzinha, bem no rumo do navio. A distância era grande, mas a preocupação era bem maior. Afinal, uma luzinha aparecendo à meia-noite sobre as águas de um mar quase revolto, é realmente preocupante e assustador.
O rebu formou-se dentro do navio, enquanto o comandante tomava sua iniciativa. Rodeado por um bando de curiosos preocupados, o comandante mandou um recado em direção à luzinha:
– Você está na minha rota! Afaste-se!
Não houve resposta e já quase furioso o comandante repetiu o aviso, e agora com mais vigor:
– Estou avisando… você está na minha rota! Afaste-se.
Depois da terceira ou quarta mensagem, e sem nenhuma resposta, já bastante irritado o comandante gritou:
– Aqui quem fala é o Comandante! Você está na minha rota e se não se afastar, dentro de cinco minutos eu mando abri fogo contra você!
Só aí chegou a primeira resposta muito simples e tranquila, vinda lá da luzinha que já se aproximava do navio:
– Aqui quem fala é o cabo Sivirino. Se você não desviar quarenta graus, vai colidir com o farol.
O temor quase pavor virou risadas. Talvez pela euforia da festança o comandante não percebeu estar navegando em direção ao farol. Porque é exatamente isso quando não somos capazes de perceber quem está certo, se é o comandante ou o cabo. Às vezes a inteligência naufraga ou colide com o erro quando não somos inteligentes. Então vamos ser, fazendo sempre o melhor no que fazemos. O Swami já disse: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa, mas pela maneira de ele executá-la”. E não importa se se trata do médico ou do assistente do médico. O paciente vai notar qual o mais inteligente. Pense nisso.
99121-1460