Intestino, o segundo cérebro.
“Sou uma senhora de 75 anos, que ‘caga’ quase todas as manhãs. Uma senhora que ama café ao acordar. Não sou uma lenda, não quero ser uma lenda do rock. Foda-se Rita Lee, foda-se eu. Não dou a mínima, não projetem nada sobre mim. Sou uma senhorinha de 75 anos, curtindo seus últimos dias de vida, estou feliz com essa condição, é tão difícil aceitar isso?”.
Caro leitor, amiga leitora, peço desculpa por abrir a crônica de hoje de forma escatologia. Apenas reproduzo uma postagem da cantora Rita Lee, recentemente, em suas redes sociais.
Rita Lee é a personificação da irreverência, bem sabemos. Não poderia ser diferente. Até para falar de seu infortúnio, Rita é original.
Há três anos tratando de um câncer de pulmão, reclusa em seu sítio no interior de São Paulo, na companhia do apaixonado e parceiro Roberto de Carvalho, Rita segue sua caminhada, brigado pela vida.
Cito Rita Lee para falar de um dos órgãos mais importante que temos dentro de nós, e que pouco falamos: o intestino. Pensar no intestino é também lembrar dos barulhos constrangedores ou cheiros desagradáveis, consequências que podem ser causadas por aquilo que comemos. Contudo, seu papel vai além da alimentação. O órgão é capaz de influenciar o humor, estresse, transtornos psicológicos e declínios cognitivos.
Recentemente li uma entrevista com a gastroenterologista alemã, Giulia Enders, autora do livro “O discreto charme do intestino”.
Sabe aquela dor de barriga em momentos de estresse ou ansiedade? O cérebro e o intestino se conectam por meio de uma íntima rede nervosa em uma comunicação que ocorrer nos dois sentidos, explica Giulia Enders no livro.
“Um intestino que não se sente bem pode prejudicar nosso ânimo de maneira mais sutil, da mesma forma que um intestino saudável e bem nutrido pode melhorar ligeiramente nosso humor”, escreve Enders.
“Quando o ponto de partida é o intestino, os neurônios saem do trato gastrointestinal e chegam a áreas do cérebro responsáveis pelas emoções, pela memória e pela motivação”, diz a obra. Isso também justifica o aumento do risco de ansiedade e depressão entre aqueles que possuem diagnóstico de intolerâncias alimentares ou doenças intestinais, como a síndrome do intestino irritável.
Segundo a autora, “descobertas recentes consolidaram as ligações entre transtornos mentais e declínios cognitivos”.
“Agora nós temos estudos muito precisos ligando doença de Parkinson e depressão a mudanças nas bactérias no intestino”, afirma Giulia Enders.
A ciência já comprovou que a Helicobacter pylori, o responsável pelas úlceras estomacais, é associada a uma maior probabilidade de desenvolvimento de Parkinson. O crescimento exagerado de bactérias ruins também pode comprometer a absorção de vitaminas, aumentar o risco de alterações metabólicas em indivíduos obesos e causar doenças inflamatórias intestinais.
Os tipos de estímulos enviados ao cérebro dependem da alimentação, mas o conjunto de microrganismos que vivem no intestino é mais determinante, diz a obra. Estudos mostram que a presença de algumas bactérias no órgão, como a família de Lactobacillus, podem diminuir a quantidade de hormônios do estresse no sangue e aumentar a capacidade de sono, aprendizado e memória.
Enders afirma que o consumo de alimentos prebióticos, que alimentam bactérias boas, como vegetais ou frutas, e alimentos fermentados, como chucrute, kefir e kombucha, são mais benéficos do que o consumo diário de probióticos, bactérias isoladas em laboratórios.
Desde criança ouço falar que ciclano ou beltrano é “enfezado”.
No dicionário, enfezado é um sujeito “tomado de raiva, irritado, irascível”, mas hoje sabemos que tem haver com seu trato intestinal. Não fazer cocô regularmente, mexe com o humor.
Como sou simplista, enquanto eu estiver comendo, saboreando cada porção, e colocando para fora uma vez por dia, continuo com a alegria de viver.
Quando à Rita Lee, na semana passada, deixou o hospital na capital paulista e voltou para seu refúgio. Sua assessoria anunciou que em maio, Rita lança sua segunda biografia, narrando a doença e o período pandêmico.
À ela, desejo saúde; que continue fazendo seu cocozinho todos os dias; que possa compor coisas maravilhosas, que sua sua irreverência produz com maestria.
Luiz Thadeu Nunes e Silva.
Eng. Agrônomo, Palestrante, cronista e viajante. Autor do livro “Das muletas fiz asas”, o latino americano mais viajado do mundo com mobilidade reduzida, visitou 151 países em todos os continentes.
Prepare-os para o mundo deles
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. Embora vivam convosco, não vos pertencem”. (Gibran Khalil Gibran)
É claro que devemos viver intensamente o mundo que vivemos. Mas temos que estar preparados para saber que mundo vivemos e que mundo viverão nossos filhos. Ou pensamos que eles irão viver eternamente com o nariz colado no celular? Corta essa. Sei que é difícil pra dedéu, interpretar a fala do Miguel Couto: “No Brasil só há um problema nacional: a educação do povo”. E olha que ele fala da educação do povo. Porque no final da década dos trintas do século vinte, ele já sabia que é o povo que precisa ser educado para que seja realmente cidadãos.
Não sou especialista nem pretendo ser. Logo, vá pensando no nosso papo e peneirando o que lhe convém. Sobretudo se você tiver filhos, independentemente da idade cronológica deles. Porque isso não faz dife
rença. Estamos vivendo uma época em que as crianças já nascem olhando para você como se estivessem querendo reconhecê-lo. E quem sabe, não é isso mesmo? Vamos acordar para o mundo que vivemos, para aprendermos a pensar no mundo que nossos filhos irão viver.
Sempre que estou em algum lugar onde estejam crianças ainda de colo, fico o tempo todo sorrindo como se fosse um tolo. Mas não sou, confesso que não sou. Talvez você não acredite, mas não sou. Juro. Mas o que me leva ao sorriso é a distância entre as atitudes das crianças, e a dos seus pais. Preste mais atenção a isso e você verá que a criança acabará sempre sorrindo das atitudes dos pais. Quem já foi criança sabe exatamente por que a criança está sorrindo.
Vamos criar nosso filho no mundo em que ele está, mas preparando-o para o mundo em que ele irá cuidar de nós. Porque se ele for bem educado, quando criança, saberá que os filhos dele precisarão ser bem educados. E só assim teremos um mundo civilizado e bom de viver. Mas para ser um cidadão bem-educado precisa ser bem educado no lar, onde está se formando como cidadão. E tudo não vai além de uma brincadeira civilizada. Porque não é através de gritos e tapinhas que vamos educar para o futuro. Eu estava ali no posto de saúde. A mãe estava com a criancinha no colo. De repente a criancinha foi indo devagarzinho e enfiou o dedinho no ouvido a mamãe. Ela deu um tapa na perninha da criança e criticou rigorosa. Você faria isso? Vá refletindo sobre o que você faria se sua filhinha, de colo, fizesse essa brincadeira com você. O problema é simples, assim. E por isso requer educação. Coisa que só damos quando temos. Pense nisso.
99121-1460