Agora é a hora
Para que o tempo não passe em vão, é fundamental que o agora se torne altar de compreensão e ação, pensamentos e sentimentos que influenciam e modificam a realidade desejada. Cabe a cada um fazer a sua parte. De aproveitar os segundos para viver de forma a desenvolver os hábitos prósperos da riqueza, não na limitação material, mas na conquista dos valores e virtudes que possibilitam uma existência plena. No agora está a oportunidade de superação dos obstáculos, da ressignificância dos eventos, de transformar crises em oportunidades, de olhar de maneira compreensiva e esperançosa os empecilhos. De ter uma palavra amiga, um gesto de carinho a quem precisa até mesmo a permitir ser mais tolerante e generoso com as imperfeições alheias e de si próprio.
Não é na construção de muros ou de amor ao poder que se levará ao progresso geral, mas o contrário. É a quebra de paradigmas e de separatismo que aproximam os sentimentos e corações. O que permite conversas e diálogos produtivos para todos. É o poder do amor, amor-terapia que auxilia na movimentação dos recursos em prol das realizações que vão ultrapassar as fronteiras do tempo.
Por meio do agora temos as escolhas, os diferentes caminhos e opções. Cabe a cada um se conscientizar do seu papel e acender sua luz interior. De se aprimorar no presente para que no futuro não venha a faltar nada, em especial os entes queridos. No agora se planeja e executa. Felizes daqueles que amam e trabalham, estudam e ajudam com vistas às conquistas das glórias eternas.
Paulo Hayashi Jr. – Doutor em Administração. Professor e pesquisador da Unicamp.
Uma luz sobre a equidade de gênero na área tecnológica
Carmen Lúcia Petraglia (*)
O recém-criado Ministério das Mulheres promete inserir as mulheres no mercado de trabalho, criar políticas públicas para combater o assédio moral e buscar a equiparação de salários entre gêneros. Sabe-se que não será uma tarefa fácil, especialmente no que se refere à área tecnológica, onde a dominação de gêneros fica evidente.
No ano passado, como parte do Plano de Ação Anual (PAA) do Grupo de Trabalho do Programa Mulher Crea-RJ, foi encomendado à pesquisadora Maria Salet Novellino o estudo “As Profissionais com Registro/Visto no Crea-RJ: Levantamento e Análise de Questões Relacionadas às suas Atuações Profissionais”, que serviu de base para o Censo Mulher Crea-RJ. O estudo foi desenvolvido a partir do universo dos profissionais cadastrados no Crea-RJ, um total de 138.097 indivíduos, dos quais 23.185 (16,79%) são mulheres e 114.912 (83,21%) são homens. De início, uma triste observação: o percentual de mulheres no Crea-RJ fica abaixo da média nacional do Confea (Conselho Federal de Engenharia e Agronomia), que é de cerca de 20%.
A pesquisa apresentou evidências de que os percentuais das estudantes e das profissionais nas engenharias e afins vêm aumentando, mas a participação delas no campo de trabalho ainda é consideravelmente menor do que a dos homens. Participação menor não só quantitativamente, mas também qualitativamente, visto que as posições de comando são ocupadas majoritariamente por homens, o que reforça a dominação masculina no campo de trabalho.
Entre as diferentes graduações do universo dos profissionais registrados no Crea-RJ, as mulheres apresentam percentuais mais altos em Meteorologia (42,42%), Geografia (38,27%), Geologia (24,20%), Agronomia (22,19%) e Cartografia (20,53%). Nas engenharias, esse percentual é de 16,48%.
Quanto às especialidades das engenharias, os percentuais de mulheres são superiores às dos homens em: Alimentos (66,18%), Bioquímica (64,71%) e Biomédica (52,38%). Os percentuais de mulheres aproximam-se dos 50% em Agroindustrial (46,15%), Sanitária (43,74%) e Química (40,75%). Abaixo de 10% de mulheres tem-se na Elétrica (9,50%), Minas (9,17%), Mecânica (6,35%), Aeroespacial (4,61%) e Industrial (2,78%). Na Civil, que tem o maior contingente de profissionais (47.769), as mulheres representam 19,09% do total.
Nas três etapas do estudo, vários dados chamaram a atenção. Pode-se observar a divisão sexual horizontal do trabalho em determinadas especialidades da engenharia, como a Civil, Minas, Metalurgia e Mecânica; e em atividades de campo, canteiros de obra, fábricas e siderúrgicas, onde há forte resistência à presença de mulheres, tanto por parte dos operários quanto por parte dos profissionais de nível superior.
Essa resistência teria como justificativa as características das atividad
es, que, no imaginário masculino, só poderiam ser executadas por homens devido ao ambiente rude, trabalho pesado e sujo. Em canteiros de obra, fábricas e siderúrgicas caberia às engenheiras e afins atividades dentro dos escritórios. Imaginariamente haveria então uma separação entre atividades masculinas e femininas, as mulheres atuando mais em tarefas burocráticas e os homens no campo e na produção. Pode-se, também, observar a divisão sexual vertical do trabalho pelo número reduzido de mulheres em cargos de gerência. Essa desigualdade, no ideário masculino, é justificada na resistência que operários teriam em aceitar autoridade feminina, e que os empregadores prefeririam homens em posição de comando.
A discriminação de gênero em relação às mulheres pode se manifestar de várias maneiras, entre elas: ser impedida de falar ou ter a fala desqualificada, dificuldade de ser ouvida em reuniões; o masculino sempre dominando a conversa, usando tons mais altos procurando desqualificá-las em discussões técnicas; falas e ações constrangedoras, como piadas e brincadeiras sexistas, ou até de assédio moral e sexual; e quando as mulheres ascendem na hierarquia da empresa, a alusão de que tal fato é devido a possíveis favores sexuais. Existe ainda a expectativa de que as mulheres se vistam e se comportem de modo a ficarem invisíveis como mulheres. A discriminação pode ainda se manifestar tanto no machismo quanto no paternalismo, na ‘proteção’.
Várias foram as formas descritas pelas profissionais para enfrentar a discriminação: aceitar o machismo e o paternalismo como elementos ‘naturais’; assumir uma postura dura calcada no padrão masculino de comportamento; e exigir mais de si própria em relação ao desempenho, desta forma se adiantando a uma possível discriminação e evitar o conflito.
Para atuarem e serem aceitas em um campo predominantemente masculino, espera-se que as mulheres incorporem e reproduzam características tidas como masculinas, como competitividade, objetividade, individualismo, frieza e rigidez disciplinar. As qualidades tidas como femininas: atenção, cuidado, dedicação, seriam vantajosas para o exercício de atividades limitadas, mas desvantajosas para atuarem no campo em posições de comando. Esta visão não é mais aceitável na prática da sociedade atual, evolutiva, diversa, igualitária, tecnológica e digital.
De acordo com a pesquisadora Maria Novellino, pode-se concluir que o campo das engenharias e afins continua sendo, em termos numéricos, predominantemente masculino, mas vem aumentando a participação de mulheres. A necessidade de reestruturação do cenário tecnológico brasileiro é uma realidade. No Programa Mulher, do Crea-RJ, o tema Equidade de Gênero tem sido uma das pautas prioritárias e tem reafirmado a importância do protagonismo da mulher enquanto profissional da área tecnológica. Precisamos avançar no viés de raça, orientação sexual e violência e focar nas questões de apoio à maternidade e à primeira infância.
A igualdade de gênero não é apenas um direito humano fundamental, mas a base necessária para a construção de um mundo pacífico, próspero e sustentável. Agora, como Conselheira Federal do Confea pelo estado do Rio de Janeiro e Presidente da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas — ABEA Nacional, espero contribuir ativamente para que este objetivo seja alcançado.
* Carmen Lúcia Petraglia é Engenheira Civil, Sanitarista e Ambiental, Presidente da Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas – ABEA Nacional; ex-diretora do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura — Crea-RJ – e, atualmente, Conselheira Federal do Confea.
Não mate a formiguinha
Afonso Rodrigues de Oliveira
“Vocês riem de mim por eu ser diferente, e eu rio de vocês por serem todos iguais”. (Bob Marley)
Sei que você não pode ver uma formiguinha, sem sentir a ânsia de matá-la. É como se ela fosse um monstro mais monstruoso do que o ser humano. Falo sério, adoro as formiguinhas. Todos os dias, e a todas as horas, que entro no banheiro, ela está ali, rodeando, como se estivesse procurando alguma coisa. Ela é tão pequenininha que quase não a vemos se não prestarmos atenção. Raramente ela está acompanhada de outra que roda tanto quanto ela. Já me acostumei a ficar assistindo a aquele show.
Ontem, quando a procurei, lá vinham as duas, numa batalha que me apaixonou. As duas arrastavam algo que tive dificuldade em identificar. Era outra formiga de outra raça, porém pequenininha. Só que estava morta. Uma formiguinha puxava a formiga morta, pelo cabelinho do nariz. Enquanto isso a outra empurrava a morta, ajudando a que puxava. Era um movimento tão interessante, que você não deve perder a oportunidade de assistir, caso encontre algo tão raro. A tarefa não era fácil para as duas batalhadoras. Fiquei assistindo à batalha até que as duas já tinham caminhado, pelo menos, meio metro. Saí e as deixei sem saber para onde elas iam.
Cuidei dos cachorros, varri a calçada, fiz uma porção de obrigações que me obrigam a fazer. Lembrei-me das formiguinhas batalhadoras. Fui até ao banheiro, entrei com cautela para não machucar as guerreiras. E lá estavam as duas na mesma batalha. Mas já tinham caminhado pouco mais de um metro. Confesso que só não as ajudei porque tinha
certeza que iria atrapalhá-las. Aí saí. Curiosamente voltei lá bem depois e elas já tinham sumido. Certamente levaram a formiguinha morta para o almoço dos filhotes e família no grupo. E se é assim, por que matá-las, se elas estavam na delas?
Você pode até pensar que sou um João-das-couves, mas não sou não. Só sei que quando digo que somos todos iguais, não me refiro só ao ser humano. Sempre respeitei os animais considerados irracionais, tanto quanto respeito os considerados racionais. Já falei pra você dos meses que passei entre o Pantanal e a Barra do Bugres, em Mato Grosso. Da manhã que fui escalado para matar a caça para o almoço. Fiquei vários minutos apontando a arma para o animal e acabei gritando para ele: saia daí boboca, senão eu atiro! O animal pulou e se mandou. Voltei pra casa dizendo que não encontrei animal nenhum. O pessoal riu e saíram para caçar. Já matei vários animais, mas por necessidade. Afinal de contas também somos todos animais, cada um no seu grau de evolução racional. Pense nisso.
99121-1460