Opinião

Opiniao 15556

Viagem no tempo: uma experiência de pensamento

João Paulo M Araujo

Professor do curso de filosofia da UERR

Do nascimento até à morte, nossas vidas transcorrem através do tempo. Isso implica em afirmar que tudo o que nós fazemos e realizamos ao longo de nossa existência ocorre dentro de uma temporalidade. Mesmo sem sabermos exatamente o que o tempo é, lidamos com ele seja de uma maneira mais objetiva, quando estipulamos durações de horas, dias, meses, anos etc., ou quando mergulhamos na subjetividade da consciência do tempo, quando nos sentimos entediados e o tempo parece se arrastar. Tanto em termos objetivos quanto subjetivos, o tempo parece ser de uma natureza intangível, que carece de algum tipo de substância mais elementar. A partir disso, J. M. E. McTaggart (1908) afirmou que o tempo era irreal e que nossas teorias sobre ele eram contraditórias, circulares e até insuficientes. Aqui pretendo me deter apenas a uma pequena linha de discussão em torno da filosofia do tempo, que é a viagem no tempo.

O nosso imaginário sobre a possibilidade da viagem no tempo foi moldado basicamente pela ciência, cinema e literatura. Essas noções nunca encerram algo intuitivo que podemos apreender de modo coerente; muitas delas estão envoltas em paradoxos (ver D. Lewis, 1976; S. Baron & K. Miller, 2019). O que a filosofia tem a dizer sobre isso? Teria a filosofia algo a contribuir para o debate acerca de questões que envolvem a viagem no tempo? Ou seria apenas a ciência natural detentora de uma explicação mais elementar sobre essa questão. Vale ressaltar que apesar da ciência teorizar sobre o tempo, as questões que envolvem viagem no tempo são essencialmente metafísicas. Em nossa cultura há amplamente disseminado uma certa descrença com a ideia de que filósofos possam contribuir para discussões que envolvam uma descrição razoável da natureza da realidade. O problema é que essa ideia não é algo apenas presente em pessoas de fora da filosofia, mas também pelos próprios filósofos. Ao longo do nosso passado século XX, existiram alguns casos emblemáticos desse tipo de postura. Basta pensarmos nas concepções anti-metafísicas do círculo de Viena, no projeto de epistemologia naturalizada proposto por W. V. Quine (1969) ou até mesmo no eliminativismo filosófico idealizado pelo casal Churchland nos anos 80.

Existe uma tremenda diferença entre o tipo de atividade desenvolvida pelo cientista e o tipo de atividade desenvolvida pelo filósofo. Não que em alguma medida não seja esse também o caso da ciência, mas, a principal atividade da filosofia é o pensamento. Por pensamento, entenda algo metódico e rigoroso, não pode ser qualquer pensamento descuidado. A história da filosofia está cheia de exemplos de como os filósofos executam sua tarefa que é o pensar. Aqui podemos formular a seguinte questão: Nosso conhecimento sobre a realidade é algo que só pode ser obtido através da experimentação e observação? Ou podemos também conhecer algo sobre a realidade apenas raciocinando? Com a ampla disseminação do naturalismo na filosofia esse tipo de atividade desenvolvida pelos filósofos ganhou o apelido pejorativo de filosofia de poltrona (armchair). Mas será mesmo o caso que os chamados “argumentos de poltrona” não têm nada a contribuir para o nosso conhecimento?

Apresentarei agora um típico caso de argumento de poltrona que pode ser bastante útil quando pensamos nas questões que envolve viagem no tempo. Trata-se de uma experiência de pensamento cujo objetivo é mostrar a incoerência que implica a possibilidade de podermos viajar até o passado e com isso, alterar o curso dos eventos. Por outro lado, quando falamos em viagem no tempo é preciso determinar o que precisamente estamos entendendo por isso. Ora, numa certa medida a viagem no tempo é algo corriqueiro em nossas vidas, ao caminhar, pedalar, dirigir um automóvel ou até mesmo voar numa aeronave, estamos literalmente viajando no tempo, cada pessoa estará mais ou menos acelerada no tempo em relação a outras pessoas. Uma pessoa que viaja numa aeronave está mais acelerada no tempo do que alguém que está caminhando numa avenida. Isso é tão intuitivo que podemos determinar com um absoluto grau de confiança que dado duas pessoas que pretendem chegar ao mesmo destino, a que está munida de algum veículo chegará mais rápido do que aquela que estaria apenas caminhado. Em outro sentido, é possível também falar de viagem no tempo quando mergulhamos em nossas memórias e revivemos uma série de eventos que de alguma forma tornaram-se significativos. Sobre este último ponto, parafraseando o título do livro de Dean Buonomano (2017), poderíamos afirmar que o nosso cérebro é uma espécie de máquina do tempo.

Mas voltemos ao tipo de viagem no tempo que nos interessa: a viagem ao passado. Mas não uma viagem a partir de nossas memórias e sim, uma viagem hipoteticamente real com nossos corpos e consciência. Seguindo os passos de Philip Goff (2020) há basicamente duas teorias que dominam a filosofia do tempo: o presentismo e o eternalismo. Presentismo e eternalismo são nomes elegantes para o que McTaggart (1927, Vol. 2) chamou de A-series e B-series do tempo. A primeira é uma teoria de senso comum segundo a qual somente o momento presente existe. As mudanças que observamos são sempre mudanças que se desdobram num descontínuo presente. Tudo o que conseguimos apreender é o momento presente. Para o presentismo há algo de muito especial nesse momento pois tudo que acontece nesse tempo presente são as únicas coisas que realmente existem.

Em contrapartida, o eternalismo afirma que todos os eventos no tempo são igualmente reais. Para apelarmos para uma entidade metafisica privilegiada, se tivéssemos a perspectiva do olho de Deus, veríamos todos os eventos em ordem, ou seja, passado, presente e futuro seriam contemplados na mesma perspectiva e, portanto, possuiriam o mesmo status ontológico de realidade. Isso significa afirmar que não existe, como no caso do presentismo, um momento especial no tempo que chamamos de “aqui e agora”. Ontologicamente, como bem coloca Philip Goff (2020), “o eternalismo defende um igualitarismo temporal”.  O que podemos concluir disso? Em defesa do eternalismo, o fato é que devido a nossa posição no tempo, isto é, de nós não sermos capazes de observar eventos passados e eventos futuros, isso não implica dizer que eles são irreais.

Dado que agora sabemos o que é o presentismo e o eternalismo, podemos dar continuidade a nossa investigação sobre a viagem no tempo. Primeiramente, como coloca Goff (2020), “se o presentismo é verdadeiro, a viagem no tempo não é possível”. Como vimos mais acima nas definições do é que o presentismo, passado e futuro não podem ser reais. Portanto, s
e só existe o presente, logo, não podemos viajar em direção a algo que não existe. Nesse sentido em particular, uma viagem no tempo em direção ao passado seria uma viagem sem volta rumo a não existência. Por outro lado, uma teoria que salvaguardaria a possibilidade de viagem no tempo seria o eternalismo.

O eternalismo cria um terreno de condição de possibilidade para a viagem no tempo, pois, como vimos, todos os eventos no tempo são igualmente reais; tudo que aconteceu no passado, acontece no presente e acontecerá no futuro, isto é, possuem o mesmo status ontológico. Isso implicar afirmar metafisicamente que passado e futuro podem ser visitados em uma viagem no tempo. Os físicos de modo geral endossam o eternalismo em termos de ontologia temporal. Por exemplo, o eternalismo é fortemente apoiado pela teoria da relatividade especial de Einstein. Publicada em 1905, a teoria da relatividade especial afirma que tempo e espaço são uma entidade geométrica unificada e não coisas independentes como supôs Newton. Mas o ponto central é que para a relatividade especial, não existe um “agora” que seja privilegiado e, portanto, especial em relação ao que passou e ao que será. Dentro do contexto do eternalismo e diferentemente do presentismo, a viagem no tempo é perfeitamente coerente.

Agora vamos ao que interessa em termos filosóficos. A intuição é a seguinte: mesmo o eternalismo criando as condições de possibilidade para a viagem no tempo, ele não permite uma coisa muito explorada nos filmes e livros de ficção científica sobre viagem no tempo, ou seja, a mudança do passado. Por que? Os filósofos via de regra são consensuais acerca da ideia de que descrições sobre viagem no tempo que envolve mudança do passado com uma ou múltiplas versões da história são irremediavelmente incoerentes. Um famoso exemplo é o paradoxo do avô (bootstrap) na qual uma pessoa viaja no tempo e termina assassinando o seu avô antes dele ter se casado e gerado filhos. O paradoxo ocorre justamente porque o assassino continua vivo. Em termos lógicos e causais, ele jamais poderia existir se seu avô não tivesse existido. No entanto, passa a existir numa linha temporal como um indivíduo que nunca foi criado.   

Ao considerarmos os fatos eternos no tempo, não faz sentido falarmos de primeira, segunda ou terceira versão da história, basta lembrarmos da analogia da perspectiva do olho de Deus que tudo vê. Nessa completa perspectiva todos os eventos são contemplados ao mesmo tempo de modo que tudo o que existe, existe do jeito que existe em cada momento no tempo. Para usar um exemplo, ao contemplarmos todos os eventos no tempo, ou o Brasil foi colonizado pelos portugueses ou não foi, ou Wittgenstein morreu em 1951 ou não morreu em 1951 e assim sucessivamente para cada evento desdobrado na temporalidade. Portanto, filosoficamente, isso torna explícita a ideia de que a descrição metafísica sobre viagem no tempo que pressupõe a mudança no passado carece completamente de sentido.

Nos labirintos que a filosofia pode nos conduzir, cada resposta pode abrir uma nova questão. Dado os pressupostos do eternalismo acerca da ontologia do passado, presente e futuro, todos os eventos físicos que julgamos com o olho humano como sendo de ordem contingente seriam desde o início causalmente determinados. Se o passado não pode ser alterado, mesmo pressupondo metafisicamente a viagem no tempo, como ficaria o reino da liberdade humana? Seriam nossas ações completamente supérfluas? Obviamente que não precisamos das reflexões sobre viagem no tempo para levantar essas questões, mas não deixam de ser questões colaterais à própria problemática da possibilidade de viagem no tempo e mudança do passado. Todavia, deixemos essas reflexões para um outro momento.

Bom mesmo é ser feliz

Afonso Rodrigues de Oliveira

“O machado é do Assis;

A rosa do Guimarães;

A bandeira do Manuel.

Mas feliz mesmo era o

Jorge, que era Amado”.

E assim é avida. A felicidade está dentro de nós. É só acreditar nisso e ser feliz. Certo dia ela chegou e entrou, já mulher linda, e me deu de presente uma camiseta com esses dados sobre grandes intelectuais que nos fizeram felizes. Ela é aquela garotinha que me ajudava a pôr os livros na minha prateleira. Hoje é a Paloma, uma mulher lindinha e o reflexo do amor. Logo mais ela me dará mais um neto que acrescentará mais felicidade a quem sabe ser feliz. Vamos em frente. Nada deveria nos impedir de ser feliz. E o mais importante é que todos nós temos o poder de dirigir o barco da vida. Afinal somos timoneiros das nossas vidas.

Não vamos perder tempo com o que não nos interessa de verdade. Porque ainda não aprendemos a distinguir o que é interesse de verdade ou fantasia. Não podemos, por exemplo, ser feliz fazendo os outros se sentirem infelizes. Simples pra dedéu. Só o amor constrói a felicidade. Nem sempre somos felizes por sermos amado, quando na verdade somos felizes quando amamos. Ser feliz com o amor de outra pessoa é egoísmo. Na verdade, somos felizes na doação, e só damos o que temos. Quando nos preocupamos mais em amar do que em ser amado, estamos doando o que realmente temos, que é o amor.

Você é ciumento ou ciumenta? Corta essa. Não há ciúme com racionalidade. O ciúme é uma expressão de dominância. Quando construímos com amor não há porque destruirmos com ciúme. O que acontece é que não soubemos construir. Talvez por termos confundido amor com desejo de posse. Deu pra sacar? Então não confunda seu amor com desejo. O desejo é apenas um complemento que não deve ser destruído pelo ciúme.

Ame para poder construir um mundo mais digo para ser vivido. Enquanto continuarmos querendo mudar o mundo com arrufos e destruições, continuaremos caminhando pelas veredas do abismo. Só quando amarmos seremos capazes de construir um mundo realmente à altura da nossa evolução racional. Ainda vivemos num planeta em evolução. Mas não estamos acompanhando a evolução do planeta. E continuamos sem dar atenção à gravidade que isso pode estar nos ameaçando de um próximo dilúvio. E se você pensa que isso é tolice, cuide-se. Porque, querendo ou não, você está ainda num processo de ir e vir. E se o dilúvio acontecer você não sabe como será sua nova vida, com o que você construiu nesta. Vamos refletir um pouco sobre a simplicidade da vida para podermos vivê-la como ela deve ser vivida. Ame e seja feliz. Mas sem confund
ir mor com desejo nem posse. Pense nisso.

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