Opinião

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Vamos retomar a cultura de paz nas escolas

Por Sandra Regina Cavalcante*

Os casos recentes de ataques em escolas nos mostram que é urgente discutir o enfrentamento das causas que produzem a violência na sociedade civil. Os espaços escolares precisam colocar a cultura da paz como parte do currículo, como fazem alguns países. A escola é o lugar mais importante de transformação social que nós temos, lugar onde vamos construir a possibilidade de viver com os outros.

Diante desta epidemia de violência e desagregação social, precisamos pensar em vacinas de encantamento na pedagogia das virtudes, com noções de solidariedade, ética, entretenimento saudável, clima de paz e coletividade fortalecida. O pânico é desagregador, por isto é preciso haver uma resposta coletiva centralizada pelo poder público.

É legítimo sentir medo neste momento, mas se trancar em casa não vai resolver, pois segurança tem a ver com produzir pertencimento e acolhimento para as pessoas, construir uma rede comunitária para confrontar esta narrativa de ódio.

Quanto às redes sociais, é preciso cobrar das empresas de tecnologia sua responsabilidade no ambiente digital. A Constituição Federal e o ECA já impõem a todos a obrigação prioritária de zelar pela saúde e educação de crianças e adolescentes, assim como protegê-las da exploração e opressão, portanto também incluídas as corporações que ganham milhões à custa do engajamento de crianças e adultos em suas plataformas.

O Código de Defesa do Consumidor estabelece outras obrigações aos fornecedores de serviços, por exemplo, a proibição de publicidade voltada ao público infantil, cuja promoção é considerada crime porque é abusiva.

Estas empresas não podem se esquivar do debate citando um artigo do Marco Civil da internet que atrela a obrigação de retirar uma publicação à ordem judicial. Se eles criaram o problema e faturam alto com tal venda de espaço para publicidade, é óbvio a necessidade de usarem seu poderio algorítmico para manter o espaço livre de abusos.

Neste momento, a mensagem mais importante é: não compartilhe publicações que incentivem os ataques, denuncie. Há espaços como o www.gov.br/mj/pt-br/escolasegura criado recentemente para reforçar esta rede de monitoramento e segurança, mas instituições como a SaferNet existem há anos para receber denúncias e orientar sobre casos de crimes cibernéticos.

Mesmo na dor, é importante mudar o foco para algo positivo e construtivo. Escolas de todo o Brasil estão se mobilizando para celebrar o dia 20 de abril como Dia da Compaixão, do Amor e da Gratidão no Ambiente Escolar. A ideia é favorecer espaços saudáveis para que crianças e adolescentes compartilhem histórias positivas e reflitam sobre motivos pelos quais são gratos. É uma maneira de trazer a paz novamente para a escola e estendê-la para cada casa deste país.

Sandra Regina Cavalcante é professora de Direito do Trabalho e Direito dos Vulneráveis e autora da obra coletiva “ECA – Entre a Efetividade dos Direitos e o Impacto das Novas Tecnologias” (Almedina Brasil).

Doença de Chagas: devemos falar dela todos os anos

* Por Sandra Gomes de Barros

   

Sim, 14 de abril já passou, mas sempre é tempo de falar sobre a conscientização que a o Dia Mundial da Doença de Chagas propõe. Afinal, embora seja uma doença antiga, com mais de 120 anos de história registrada, a Doença de Chagas permanece contagiando muita gente e, em mais casos do que deveria, matando milhares de pessoas em todo o mundo. Presente em mais de vinte países somente no continente americano, estudos mostram que 90% das pessoas portadoras da doença desconheçam sua condição por falta de acesso a um diagnóstico adequado, o que revela que, além de tudo, ela também continua negligenciada pelas políticas de saúde em muitos lugares. 

A doença de Chagas afeta mais de 6 milhões de pessoas em todo o mundo, a maioria delas na América Latina. Entretanto, devido ao aumento da mobilidade da população, a doença é cada vez mais detectada em outros países e continentes. Cerca de 30 mil novos casos e 10 mil mortes são relatados na América Latina a cada ano. No Brasil, o número médio de casos e óbitos é relativamente baixo, mas como as mortes se concentram em apenas um estado do país (no Pará), é importante ressaltar a importância da criação de políticas públicas regionais específicas para reduzir a proliferação da doença no Norte do Brasil. 

Embora muitos acreditem que a Doença de Chagas é transmitida pela picada do barbeiro, não é isso que ocorre. A transmissão acontece quando a pessoa que foi picada coça o local e as fezes eliminadas pelo barbeiro penetram pela pequena ferida da picada. As fezes do barbeiro contêm o protozoário chamado Trypanosoma cruzi, é ele que gera a doença.   

A transmissão pode também ocorrer por transfusão de sangue contaminado e durante a gravidez, da mãe para filho.   

Ao ser infectado, o novo portador da Doença de Chagas pode apresentar sintomas como febre, mal-estar, inflamação e dor nos gânglios, vermelhidão e inchaço nos olhos, aumento do fígado e do baço. Porém, como muitas vezes a a febre tende a desapare
cer rapidamente, muitas pessoas não dão a atenção necessária para o problema. Em alguns casos, os sintomas não são percebidos e a pessoa descobre a doença 20 ou 30 anos depois de ter sido infectada.   

Assim que cai na circulação sanguínea, o Trypanosoma cruzi imediatamente afeta os gânglios, o fígado e o baço. Em seguida, atinge coração, intestino e esôfago e vai deixando suas marcas. Nas fases crônicas da doença, pode haver destruição da musculatura desses órgãos, além de flacidez provocada pelo crescimento, e um aumento substancial do coração, do cólon e do megaesôfago. Essas lesões são definitivas e irreversíveis.   

A doença de Chagas pode não provocar lesões importantes em pessoas que apresentem resposta imunológica adequada, mas pode ser fatal para outras. Por isso, é extremamente importante atentarmos para o diagnóstico. O período de incubação dura de cinco a 14 dias após a infecção pelo protozoário e o diagnóstico é feito através de exame de sangue, que deve ser prescrito, principalmente, quando o paciente vem de zonas endêmicas e apresenta os sintomas acima relacionados. 

Caso se confirme que a pessoa é portadora, o tratamento deve ser iniciado imediatamente – vale destacar que essa intervenção costuma ser satisfatória na fase aguda da doença, que ocorre enquanto o protozoário ainda está circulando no sangue. As medicações que combatem a doença de Chagas – nifurtimox e o benznidazol – devem ser ministradas em hospitais devido aos efeitos colaterais que elas podem causar.  

Na fase crônica, que ocorre após a aguda, essas medicações não têm a mesma eficácia, então o tratamento passa a ser direcionado às manifestações da doença, a fim de controlar os sintomas e evitar complicações.   

Infelizmente, não existe vacina para a doença de Chagas. Desta forma, o único caminho que temos para romper o ciclo da doença é conscientizar a população. As pessoas precisam conhecer os fatores de risco de infecção, ter acesso a protocolos de manejo clínico atualizados, contar com profissionais de saúde treinados e a disponibilidade, pelo Serviço Público de Saúde, principalmente, de insumos para a oferta de diagnóstico e tratamento. Esta é uma questão de saúde pública que afeta milhares de pessoas e representa um grande impacto socioeconômico para todo o mundo, por isso devemos falar da Doença de Chagas todos os anos, até que ela deixe de nos impactar. 

   

* Sandra Gomes de Barros é infectologista e professora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa   

O caminho da educação

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Educação não é uma questão de falar e ouvir, mas um processo ativo e construtivo”. (John Dwey)

Continuamos naufragando no mundo da educação. A sabedoria no princípio da educação não está nas escolas, mas nos lares. Já torci o nariz de muita gente, quando digo que as escolas não educam, elas ensinam. Nada contra as escolas, ao contrário. Elas são, como sempre foram, indispensáveis para a formação na sociedade. E não seria nada extraordinário substituir o Ministério da Educação, pelo do Ensino. As escolas ensinam. Com certeza, as coisas mudariam se as escolas ensinassem, como educamos no lar. Porque, na verdade, a educação no lar não necessita de ensino. Ela vem através da evolução racional. E esta está enraizada nos princípios da evolução racional. O que vamos menosprezando, a cada dia, levados pela ilusão do avanço na tecnologia.

O Napoleon Hill vem nos falando disso há muito tempo, quando nos diz: “A sabedoria verdadeira se percebe, geralmente, pela modéstia e pelo silêncio”. E isso podemos notar na simplicidade da educação. Minha querida mãe, uma mulher de pouca instrução, sempre falava, quando os filhos estavam discutindo muito: “Quem muito fala, muito erra”. Nunca prestamos, quando crianças, atenção à importância da fala da dona Vitalina. Mas ela nunca saiu da minha cabeça, desde meus tempos de criança. Faça isso com seus filhos. Você não precisa gritar com eles, nem os tratar com a arrogância que não tem nada a ver com educação. Mas, muito cuidado com o excesso de carinhos. Ele pode estar escondendo o que deveria estar florindo: a Educação.

Vamos repetir o que já conhecemos e repetimos várias vezes. O Gibran Khalil Gibran escreveu esta pérola, no livro O Profeta, há mais de um século: “Vossos filhos não são vossos filhos. São filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de vós, mas não de vós. Embora vivam convosco, não vos pertencem”. Quando não estamos realmente preparados na educação familiar, encontramos dificuldade em entender a fala do Gibran. Ainda não entendemos que nossos filhos vêm através de nós. A semente é posta lá dentro para que a plantinha nasça e a tiremos de lá para criá-la. Simples pra dedéu.

Mas não vamos ficar refletindo sobre isso. Apenas entendamos que somos seres humanos porque chegamos aqui e ficamos porque quisemos ficar. Encaramos a realidade de que chegamos a um mundo em evolução. O que nos levou a evoluir dentro dos padrões racionais. E a educação é a arma mais poderosa para nossa evolução. Então vamos educar as crianças para que elas possam contribuir para a evolução da humanidade. Pense nisso.

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