Opinião

Opiniao 15826

Literatura indígena:

Expoentes da cultura artística e enfrentamentos no Brasil

Éder Santos

A ocupação em espaços artísticos literários pelos povos indígenas permite um mosaico que tem estética e conteúdo vinculados às lutas pelos direitos garantidos na Constituição Brasileira e pela afirmação da imagem positiva ontológica do ser indígena. Percebe-se que os campos artísticos têm provocado interesse dos indígenas que, organizados em entidades, organizações e movimentos, vem contribuindo para o debate sobre a cultura brasileira, no contexto mundial, considerando o momento político institucional que nosso país atravessou nos últimos sete anos, quando acentuaram as ameaças aos seus direitos e aos territórios, assim como os desmontes das leis ambientais patrocinados pelo estado e pelo mercado. O fascínio mundial da extrema direita pelo domínio e controle dos territórios e dos corpos, por meio da violência, é só mais um capítulo do processo autoritário de tantos outros que são enfrentados há mais de 500 anos pelas populações autóctones.

Em uma sociedade pluridiversa, como a brasileira, é possível que se reflita na cultura, a partir de cenários construídos historicamente e socialmente, fenômenos que permitem perceber a necessidade de criação de espaços formais e não-formais participativos, incluindo conselhos, comitês, fóruns e consultas populares destinadas a ampliar o conhecimento prático da cultura. Em muitos estados, como em Roraima, a cultura ainda é percebida pelas elites políticas apenas pelo viés economicista, deslocada da educação, ciência e tecnologia, comunicação, política e do desenvolvimento humano. Um pensamento reducionista que não trata a cultura como ela é. O trabalhador e trabalhadora da cultura precisam de incentivos sim, mas a cultura vai além: ela constrói nossos significados de cidadania e alteridade, centrais para emancipação social.

Neste processo, um fenômeno que tem enriquecido a sociedade com suas narrativas e cosmologias a favor do Bem Viver é a literatura produzida pelos povos indígenas. Ao acessar o mercado editorial, a partir de um olhar crítico e propositivo, as lideranças indígenas oferecem um conjunto de teorias e perspectivas que nos ajudam a pensar os mundos [no plural] e a nossa própria existência.

Dentre os escritores indígenas de destaque, o roraimense Cristino Wapichana é destaque absoluto. Exímio violonista, formado em Música e diretor de cinema combativo, formado em Direção Cinematográfica (RJ), Cristino escreveu livros baseados em histórias indígenas que hoje chegam em várias partes do mundo, dentre eles: A Onça e o Fogo, A Oncinha Lili, Sapatos Trocados, A Boca da Noite e O Cão e o Curumim. O reconhecimento nacional veio pela coleção de prêmios que alcançou nos últimos anos, como: o prêmio Jabuti de Literatura Infanto-Juvenil, o maior do Brasil. O reconhecimento nacional e internacional é resultado de uma compreensão intercultural do mundo.

Como exemplo pedagógico do sucesso literário de Cristino, basta citar os prêmios de sua obra “A Boca da Noite” (Zit Editora). Em 2014, recebeu menção honrosa no concurso Tamoios FNLIJ/UKA, que tem como objetivo dar visibilidade às práticas de valorização da literatura escrita por indígenas no país. Foi selecionado para o catálogo da Feira do Livro Infantil de Bolonha, Itália. Em 2017, recebeu o Prêmio Jabuti, o mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro; ganhou o Prêmio FNLIJ Ofélia Fontes, de Melhor Livro para Criança; o Prêmio FNLIJ – de Melhor Ilustração, de Graça Lima.

O livro foi finalista do Prêmio Peter Pan na Suécia; recebeu o Selo Altamente Recomendável intitulado Selo White Revens, da Biblioteca de Munique, na Alemanha. Foi traduzido e publicado para a língua Sueca e Dinamarquesa. Em 2018, recebeu o Prêmio Peter Pan – Estrela de Prata (2º Lugar), na Suécia. Este último possivelmente um dos mais importantes, pois foram 10 livros finalistas, sendo: três da França, dois da China, dois do Canadá, um da Holanda, um da Alemanha e o único representante da América Latina: do povo Wapichana! Até, então, somente uma brasileira, a escritora Ana Maria Machado, havia recebido o prêmio, no ano de 2014. Cristino foi o escritor brasileiro escolhido para figurar na lista de honra do IBBY 2018 (International Board on Books for Young People), presente em 60 países, sob indicação no Brasil da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ).

Por outro lado, a terra de Makunaima, seu estado de origem (Roraima), ainda convive com uma política cultural coronelista, mandonista e paternalista do século XIX, que não abre espaço para os saberes e fazeres ameríndios. Cristino optou morar em São Paulo (SP) com a família. Faz uma carreira de sucesso, pois ao organizar-se coletivamente com os demais autores indígenas de vários estados brasileiros, reconstrói histórias fascinantes de seu povo, narradas pelo seus ancestrais, os Wapichana da região de fronteira norte. Cristino tem sua própria equipe para contar histórias em muitos palcos de São Paulo e do Brasil, composta por talentos como a atriz Sandra Maurami e o músico Zezinho Rodrigues, este bem conhecido na cena musical roraimense por ser multi-instrumentista de carisma acima da média.

Sendo um estado amazônico novo, dirigido por oligarquias que agem com hostilidade e preconceito, cuja ignorância é reproduzida nas estruturas de poder, Roraima parece que ainda não entendeu onde está sua maior riqueza. Está sobre o solo e não no subsolo. Reconhecer seus talentos autóctones e a contribuição cultural dada ao Brasil, requer qualidade em qualquer gestão pública. Em um estado de práticas conservadoras, percebe-se a veneração à glória de um garimpo praticado ilegalmente em terras indígenas. Valoriza-se em Roraima, a arrogância de narrativas das famílias ditas ‘tradicionais’ ou ‘pioneiras’. No setor produtivo, tem-se uma monocultura bem abastecida de incentivos, isenções e afagos que recebe da classe política. Por tal motivo, percebe-se a mesma complacência para com a hostilidade contra os povos indígenas.  

Tem-se no Brasil, governos estaduais que falam que os indígenas não podem viver em áreas contínuas como se estivessem em um ‘zoológico’, desumanizando-os e escondendo o verdadeiro interesse do estado em conluio com os latifundiários que é tomar suas terras. Ou ainda aqueles que dizem que os ‘Yanomami precisam parar de viver como se fossem animais e ser civilizados’. Uma violência que não é só simbólica – é psicológica, física e patrimonial. Essa dura realidade tem no enfrentamento dos povos indígenas nossa maior inspiração. É pela arte indígena que o Brasil se libertará das mazelas do colonialismo cultural.

Éder Santos é cineasta, jornalista, sociólogo, doutorando em Geografia Humana pela UNIR, presidente da Associação Roraimense de Cinema e Produção Audiovisual Independente, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Modos de Vidas e Culturas Amazônicas (GEP Cultura/UNIR) e da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP). E-mail: [email protected].

Energia solar: ainda vale a pena investir?

*Por Thiago Rossoni

Em janeiro deste ano, entrou em vigor o Marco Legal da Geração Distribuída, que passou a cobrar os custos de distribuição de quem utiliza fontes renováveis como a energia solar. A Lei nº 14.300/2022 trouxe mudanças relacionadas ao pagamento de uma taxa que altera a composição total da conta de luz – também chamada de “taxação do Sol”. Esse tributo só passou a ser incluído em projetos homologados a partir de 7 de janeiro de 2023.

Com a regulação, muitos interessados no sistema questionam se sua instalação continua valendo a pena. A resposta é sim. Tendo em vista que o produto dura mais de 20 anos e que o tempo de retorno do investimento deve subir pouco, variando nas diferentes regiões do país. Na prática, o período aumenta em média de quatro anos e meio para cinco anos, segundo estimativas de entidades do setor.

Entre as vantagens, estão a baixa manutenção dos equipamentos; a conta de energia protegida da inflação energética; a valorização do imóvel, uma vez que imóveis sustentáveis valorizam até 30%; e a independência energética, em que o consumidor reduz sua dependência e custos com as redes de energia elétrica de concessionárias.

No cenário nacional, esse tipo de fonte energética é a segunda maior, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar). Ainda, segundo a entidade, em 2022 houve um crescimento de 64% na categoria em relação a 2021.

As projeções da IEA (Agência Internacional de Energia, na sigla em inglês) mostram que o Brasil terá mais de 66 gigawatts de capacidade solar instalada em 2027, ou seja, triplicará a sua atual capacidade operacional em energia solar (22,9 GW). Uma notícia que só reforça a relevância desse investimento de longo prazo e o impacto crescente que trará ao longo dos anos.

De olho nesse contexto, e considerando papel essencial do setor financeiro na transição para uma economia de baixo carbono, o Sicredi, instituição financeira cooperativa com mais de 6,5 milhões de associados e atuação em todas as regiões do Brasil, possui uma equipe atenta às oportunidades para apoiar seus associados. Dessa forma, tem um compromisso firmado para colaborar com iniciativas que fomentem a sustentabilidade ambiental e econômica nas milhares de comunidades onde se insere.

Entendemos que energia solar é para todos e temos cooperado para isso. Hoje, mais da metade dos novos sistemas são investimentos de associados Sicredi de famílias de classe B e C. Até mesmo a presença das pequenas e médias empresas como grandes consumidoras de energia solar aponta que os painéis já não são para poucos.

Como possível reflexo dessa tendência, o financiamento para energia solar atingiu o total de concessão de 50.355 novos créditos, totalizando o valor financiado de mais de R$ 2,7 bi em 2022. Os estabelecimentos que mais procuram o produto são os mais diversos, como de cultivo de soja, criação de bovinos, restaurantes e similares, condomínios prediais, minimercados e armazéns.

No geral, além de ser sustentável, o uso da energia solar é atraente por conta da economia que gera. Com um negócio ou produção sendo movido por um sistema fotovoltaico, as despesas podem reduzir drasticamente e, com isso, é possível realocar essa economia para novos investimentos e aumentar sua competitividade em seu mercado de atuação. No dia a dia, vemos com entusiasmo a ampliação de iniciativas para o desenvolvimento sustentável, aquele que gera impacto positivo não apenas econômico, mas social, ambiental e climático.

*Thiago Rossoni é superintendente de Crédito e Negócios do Sicredi

Se somos capazes, façamos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Os homens habitualmente usam apenas pequena parte dos poderes que possuem e que poderiam usar em circunstancias apropriadas”. (William James)

Não dá para se imaginar como seria o mundo hoje se cuidássemos da nossa evolução. Não sei se seria nem mesmo possível imaginarmos o que seriamos hoje. Mas a verdade é que continuamos caminhando lentamente, por veredas e vias espinhentas. Mas o mais importante é que observemos com mais critério, o que ainda temos para fazer para nossa evolução. Sei que falar disso é meio perigoso, porque acabamos recebendo a boa medalha de tonto.

O importante é que aprendamos a viver a vida. Porque ela é bem curtinha, não importando, nem interessando, o quanto vivemos sobre a Terra. O importante é que vivamos.

Hoje pela manhã, antes de me levantar preguiçoso, fiquei viajando pelos velhos tempos de minha longa vida. Deixei os tempos mais passados, e resolvi dar uma caminhada pelos dias de minha chegada a Roraima, em 1981. Não sei se você já leu meu livro, “O Caçador de Marimbondos”. Falo muito sobre minha vida, ali na Confiança I, no Cantá. Foram dias inesquecíveis, sobretudo pela experiência que adquiri com os contados inesquecíveis dos amados vizinhos que me fizeram muito feliz. Mas os tempos e as coisas foram mudando, os filhos procuraram outra vida, baseados na vida que tinham no Rio de Janeiro. E o cara aqui, ainda resistiu teimosamente em ficar nos lotes da Confiança, tentando fazer o que havia planejado. Mas uma crise renal que o deixou imóvel por uma semana dentro da mata, obrigou-me a ser mais sensato e me juntar aos filhos, em Boa Vista.

O tempo correu, como ele sempre faz, e acabei me afastando da propriedade, com visitas apenas de um dos filhos que era policial, de serviços na área. E foi assim que as coisas foram rolando, ribanceira a baixo, até que a área foi invadida. E continuo lutando pelo retorno àquele ambiente que amo de verdade. E espero que um dia ainda esteja criando minhas abelhas bonitinha e doces.

Tudo bem, vamos seguir em frente, acreditando na topada que dei, deixando para o amanhã, o que deveria ter feito no momento. Espero ter aprendido mais a presta mais atenção aos poderes que como ser humano tenho para dirigir minha vida como ela deve ser dirigida. E como a luta é renhida, vamos continuar lutando para a realização de um sonho que vem se arrastando por décadas. Mas o importante é que o tempo passa. E enquanto nós, seres humanos, também passamos, vamos aproveitar o tempo, vivendo a vida. O dia hoje está convidativo para pensamentos positivos. Vamos em frente que a onça vem atrás. Pense nisso.

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99121-1460

    

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