Opinião

Opiniao 15908

Precisamos nos preparar para a amortalidade

Raul Canal*

A palavra “amortal” significa aquele cuja vida durará para sempre (do ponto de vista biológico e por meio da manipulação fisiológica), desde que não seja vítima de um traumatismo fatal. Portanto, “amortal” tem um significado diferente de “imortal”, esse último é designado à pessoa que não morrerá, independente do que aconteça.  

O biogerontologista britânico Aubrey de Grey, em sua obra “O Fim do Envelhecimento”, explica como surgiu o conjunto de ideias que ele batizou de Strategies for Engineered Negligible Senescence (SENS), em português “Estratégias para a Senescência Negligenciável Projetada”, que é um conjunto de propostas de terapias para rejuvenescer o corpo, sendo que cada uma delas repara um dos tipos de danos moleculares e celulares, como privação de oxigênio; isquemia; agentes físicos, como queimaduras e radiação solar; agentes químicos, como álcool e medicamentos; e agentes infecciosos, como vírus.  

Inúmeras empresas já estão se aprofundando nas propostas do pesquisador britânico, a fim de tornar disponível, nos próximos anos, uma nova geração de medicamentos e de terapias contra o envelhecimento não apenas externo, mas, principalmente, o interno e profundo, que tanto afeta nossa saúde e nos faz padecer das doenças associadas ao envelhecimento do organismo humano.  

Já faz mais de 20 anos que se sabe que as marcas epigenéticas têm um papel relevante no envelhecimento. A descoberta recente é que a reativação de quatro genes que estão ativos apenas em células embrionárias é capaz de erradicar as marcas epigenéticas de células envelhecidas, transformando-as em células jovens.  

Ainda em 2011, a pesquisadora Laure Lapasset, do Instituto de Genômica Funcional de Montpellier, reproduziu um experimento utilizando células humanas provenientes de indivíduos centenários, demonstrando que a ativação desses genes também rejuvenescia células humanas de qualquer idade.  

Como se sabe, à medida que envelhecemos, a capacidade de reparação tecidual declina. Diversos pesquisadores testaram a técnica em animais saudáveis de meia idade, nos quais as células responsáveis pela produção de insulina haviam sido removidas, ou naqueles com lesão muscular provocada por veneno de cobra. Mais uma vez ficou comprovado que a ativação desse conjunto de genes embrionários provocou uma melhor recuperação dos distúrbios metabólicos e, consequentemente, uma recuperação mais rápida do tecido muscular.  

Chega-se, portanto, à conclusão de que a ativação controlada de genes embrionários, levando à erradicação parcial das marcas epigenéticas, pode provocar o rejuvenescimento de, pelo menos, alguns órgãos e tecidos. Porém, é de suma importância lembrar que a erradicação das marcas epigenéticas pode reverter as células às suas características embrionárias e modificar sua capacidade reprodutiva, aumentando a possibilidade de ocorrência de tumores, notadamente os teratomas.  

Assim, a possibilidade científica da amortalidade parece estar cada vez mais próxima. Não se trata de teorias acadêmicas ou achismos diversos, mas de ciência pura, estudos com células-tronco, inteligência artificial, regeneração tecidual e terapias imunológicas. No meio científico, essa hipótese não é tratada como “se”, mas, sim, como “quando”. Diante disso, o que se torna imperativo é o início da discussão sobre as diversas questões éticas e de direito advindas deste futuro cada vez mais próximo.

 

*Presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem), especialista em Direito Médico e mestre em Regeneração Tecidual pela Unifesp

Domínio interior

Quem se conhece bem sabe da sua missão de vida, seus erros do passado e prioridades e, por isso, não se desperdiça. Para Sêneca, filósofo estoico contemporâneo de Cristo, o tempo é um instante e fazer deste momento amizade para sua consciência maior representa sair-se vitorioso da própria vida. A existência deve ter como meta não o descanso, tampouco o descaso. Mas, o esforço constante contra seus vícios, arestas e imperfeições. Neste sentido, já observava Sêneca: “os perigos mortais estão dentro de mim”. 

Assim, é o domínio interior que retrata a primeira e maior realização do indivíduo. É ser liberto das más inclinações para depois mirar as conquistas e realizações que tragam benefícios e progresso geral.  Quem aprende a se dominar controla legítimo corcel de possibilidades que é o corpo carnal. 

Mais do que um simples aparato, o corpo humano é o aparelho que o espírito utiliza para angariar as experiências necessárias para o seu polimento e avanço rumo à perfeição. Obter melhor, em original produtividade da existência, o alcance das experiências e conhecimentos que fornecem discernimento, compreensão e simpatia do ser para com todos configura a tarefa basilar. Vencer-se então é a tarefa primária, para depois seguir no mundo como exemplo e inspiração para a transformação dos demais. É ser carta-viva de Cristo, cujas lições e semeaduras baseiam-se na caridade desinteressada, no perdão incondicional e no amor à todas as pessoas e criaturas. Portanto, quem se conhece e faz o bem, expande as luzes da virtude e da felicidade no mundo.

Paulo Hayashi Jr – Doutor em Administração. Professor e pesquisador da Unicamp.

A maioria pensante

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A maior parte das pessoas pensa demais na quantidade do que na qualidade de seu trabalho. Tentam fazer demasiado e acabam por fazer tudo malfeito”. (Og Mandino)

É a maioria dos que não se atentam para a verdade de que a qualidade está no melhor que fazermos, e não só no quanto fazermos. Por isso às vezes vale repetir o que nem sempre foi notado. E por isso voltamos ao Swami Vivecananda: “Não se mede o valor de um homem pela tarefa que ele executa, e sim pela maneira de ele executá-la”. Nós nos representamos na qualidade do que fazemos, mais do que pela quantidade se esta foi de má qualidade. Então vamos prestar mais atenção à qualidade do que fazermos seja lá o que for. Porque mais importante do que o que você faz é como você faz. Cometemos um erro grave em não prestarmos mais atenção nas coisas aparentemente simples que fazemos. E estas podem estar no nosso comportamento tanto no trabalho quanto na conversa ou na convivência.

Seus gestos, seu riso, seu modo de falar, e sobretudo o seu comportamento diante do comportamento das outras pessoas, no grupo. Muitas vezes a simpatia está no silêncio e não no falar. Nada de críticas numa conversa. A opinião só deve ser dada quando solicitada. Que é quando ela é realmente aceita. Seja mais comedido ou comedida numa conversa. Mesmo quando não concordar com o que foi dito, contenha-se. O interlocutor sempre busca sua reação nos seus olhos. Mas isso quando ele receia da sua aceitação. Se não houver receio, fique na sua. Não tente ser simpático ou simpática, simplesmente seja. O que requer muita cautela no falar, no ouvir e sobretudo na forma de se comportar.

Mas, não fique preocupado com o outro, e sim com você mesmo ou mesma. E a preocupação pode ser nula com a simplicidade. Nunca fique centrado na preocupação em ser o que os outros querem que você seja. O importante mesmo é que você seja o que verdadeiramente é e deixe o julgamento por conta dos que o observam. E nunca se esqueça de que onde quer que você esteja, há sempre alguém observando você. E essa observação oculta, pode lhe trazer um ponto negativo ou positivo. E qualquer um dos sois, com certeza, vai influenciar em sua vida, mesmo sem você perceber. Então tome cuidado com seu comportamento como uma indicação do seu desenvolvimento na evolução racional. Porque querendo ou não, você está nessa lida.

Faça sempre o melhor no que você faz. O que importa realmente é a qualidade e não a quantidade. Mire-se sempre no seu espelho interior e se veja como você realmente é. Porque só assim você poderá se corrigir, caso haja necessidade, e sempre haverá. Pense nisso.

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