O anjo das pernas tortas – Walber Aguiar*
Quero trazer à memória o que me pode dar esperançaLamentações 3:23
De repente lembrei o velho e insubstituível Arão, o anjo das pernas tortas, o homem com cara de moleque, o motorista número um de Josué da Rocha Araújo. Uma lembrança boa, fruto de um surto nostálgico, de uma vontade incontrolável de estar lá, na geografia santa de um lugar inesquecível.
“Cadê o porco, Zé?“, era a senha da molecagem, dos pés descalços no barro do velho campinho, da devocionalidade simples e cheia de um desejo de que aqueles dias nunca mais acabassem. De que o culto da fogueira nos reaquecesse a alma, sempre.
Eram dias de banho no igarapé de águas profundas, de afundar panelão no poção das cobras, de procurar a dentadura do Manel, de enfrentar os medos com saltos loucos e intrepidamente desafiadores. Carioca estava lá, cheio de marra e marcas da queda, Agostinho também trazia no rosto as marcas da inocência que só os índios podem ter. Jessé, Júnior e Emerson ainda eram projetos de gente, com seus corpos “sarados”, na expectativa de que os músculos surgissem.
O velho Arão, embora vivesse brincando, armava-se de enorme reverência no momento em que fazíamos fila para nos alimentarmos da palavra de Deus. Sério, sóbrio, circunspecto era o anjo das pernas tortas. Menos quando estava debaixo da “xambeca”, o carro que fez de Josué Araújo um mecânico teimoso e autêntico. Ali Arão era um mestre, um santo sujo de graxa, como no episódio em que tentou ligar um motor a noite inteira, quase sem sucesso. Isso porque contou com a ajuda de seu Hélio e Josué, na escuridão do Maranata.
Sempre lembro o grande e insubstituível Arão, com suas pernas de Garrincha, suas molecagens, seus improvisos, sua vontade de viver. Isso porque, mergulho de madrugada, sozinho, nas águas geladas do igarapé mais encantador e misterioso de que se tem notícia. Isso porque, salto na direção de Deus e da amizade, da fé simples e do desejo de me embrenhar na mata, naqueles dias de amizade e contemplação da verdadeira vida.
Irmão João concordando com tudo, até em vender a igreja presbiteriana e mudar o culto para depois do fantástico, era uma das principais diversões do velho Arão. Depois a gozação com Fernando, o hino a Lameque, a teimosia com Zé “bichin”, a construção das grandes fogueiras na última noite de retiro.
De repente lembrei o anjo das pernas tortas. De uma das pessoas mais lindas em autenticidade que já conheci. Chorei de madrugada, pois acordei do sonho mais fascinante que já tive. O de mergulhar no peito de Deus e sentir a cruviana gostosa da sua bondade, de um prazer que não pensei estar disponível aos mortais… ainda assim, ri com o velho Arão, Moisés, Samuel, Dadá, velho Eugênio e chamei o “Hilário”…
*Advogado
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‘Igrejas milagreiras’ – Marlene de Andrade*
É um absurdo atrelar as bênçãos de Deus às ofertas dos fiéis. O que ocorre dentro de algumas “igrejas” é um verdadeiro mercantilismo criminoso, pois alguns “pastores” vêm se enriquecendo a custa da boa-fé dos fiéis. Apesar de não ser advogada, penso que essas barganhas se caracterizam como crime, pois a lei a este respeito afirma: é crime obter, para si ou para outro, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil ou qualquer outro meio fraudulento.” (Título II, Capítulo VI, Artigo 171)
Alguns “pastores” têm a coragem de oferecer envelopes na hora da oferta solicitando enormes quantias em dinheiro e assim tentam enganar o povo fazendo-lhes crer que quanto maior for a oferta, mais Deus vai operar naquela vida e que o milagre para acontecer necessita do nosso sacrifício financeiro. Apesar de dizimar e ofertar ser algo correto, a Graça não se obtém pagando por ela. Dizimar e ofertar é uma maneira de demonstrar a Deus a nossa gratidão, mas isso nada tem a ver com mercantilismo.
E tem mais: a maioria dos “milagres” nessas “igrejas” são completamente subjetivos. Eu quero ver é um cadáver ressuscitar através desses “pastores” que se acham “poderosos”. Por que será que isso não ocorre? A gente vê as pessoas dizerem que entraram no culto com uma dor aqui e acolá e que durante a ministração do “pastor” a dor sumiu. Isso é, ou não, subjetivo?
Acredito em milagres e sei que Jesus ressuscita mortos, mas, tudo isso ocorre dentro da providência de Deus. Jesus cura, claro que cura, porém mais importante que uma cura física ou aquisição de bens materiais, é a cura da alma doente e condenada a morte eterna.
Milagres ocorrem sim, mas quando Deus quer operar e não quando os ‘pastores’ querem que o milagre ocorra. Quem somos nós para determinar alguma coisa para Deus? Além do mais, ser próspero é um conjunto de coisas e uma delas é ter sido salvo por Jesus. Prosperidade não é só ter riquezas materiais e sim ter a paz que excede a todo entendimento, paz essa, a qual vem somente de Jesus. Prosperidade é ser feliz tendo muito ou pouco, vivendo em um palacete, ou em uma favela onde as condições são precárias.
Igreja que assalta o bolso dos fies não prega o verdadeiro Evangelho. A Bíblia diz que o povo erra por falta de conhecimento e o pior é que a Bíblia não é mais lida e nem estudada nessas denominações mercantilistas.
O povo de Deus precisa voltar-se para o Evangelho puro, o qual é simples e na sua simplicidade tem a capacidade de nos transformar para melhor.
Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras… nem ladrões, nem avarentos…trapaceiros herdarão o Reino de Deus. (1 Coríntios 6:9-10).
*Especialista em Medicina do Trabalho-ANAMT/AMB https://www.facebook.com/marlene.de.andrade47
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Recordar é viver – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Boa memória tem quem se lembra do que tem que lembrar. Má memória tem quem esquece o que tem de lembrar e lembra o que tem que esquecer”. (Canuto Mendes de Almeida)
Quando você cultiva sua boa memória consegue ser feliz. É quando você relembra os bons momentos passados. Mesmo que eles sejam simples e aparentemente insignificantes. O importante é que eles lhe tenham trazido alegria e felicidade. E você pode viver, ou reviver, tais momentos em ambientes e lugares simples. Vivi isso recentemente, caminhando por lugares antigos e que me alegraram num passado não esquecido.
Passando por ruas e praças que lembram minha juventude, nos momentos alegres de uma juventude alegre, sinto-me alegre e feliz. Pode parecer pieguice, mas não é. É aquilo que o Laudo Natel define como saudade:
“Saudade é a presença da ausência”.
Se você conhece esse centrão de São Paulo, conhece a Praça João Mendes. Faz um tempão que existe ali um mercadinho onde eu comprava o queijo para o lanche da tarde. Dia desses, passando por lá, lembrei-me do dia em que ri muito com a reação do balconista que me atendeu. Já contei isso pra você. Ontem pela manhã a dona Salete deu a ordem:
– Para tudo. Preciso comprar uma sandalia.
– Mas eu tenho que fazer o trabalho do jornal…
– Não faz mal, você faz quando voltarmos. Eu tenho pressa.
Saímos e quando passávamos pela Catedral da Sé, ela deu nova ordem:
– Vamos entrar. Eu preciso fazer uma oração.
Não discuti e entramos. A oraçãozinha demorou uns quinze minutos. Saímos e, atravessando a Praça da Sé, ela novamente deu a ordem:
– Não deixe de olhar bem para o chão.
Estranhei a ordem e ela retrucou:
– Não se lembra mais da última vez que passamos por aqui?
Lembrei-me e ri alto. Foi aquele dia em que atravessávamos a Praça quando ela me puxou pelo braço e me fez parar. Parada, ela apontou para o chão e bem debaixo do bico do meu sapato havia uma cédula de vinte reais. Peguei a cédula, saímos rindo e olhando para o chão. E nada de nova cédula.
Uma das melhores terapias para a dona Salete é andar por dentro de lojas e shoppings. Faz bem à saúde dela. E por isso deixei-a caminhando por entre o estoque de sandálias e fui dar uma caminhada pela Rua Direita. Como diria minha nora, verdadeira festa de índio. Mas não importa, o que importa é que a Salete se sente bem dentro da loja e eu me sinto ótimo caminhando pela Rua Direita. Coisas simples que me fazem feliz. Que me fazem recordar e reviver velhos tempos. Tempo em que Jânio Quadros colocava guardas nas esquinas e o transeunte só podia caminhar pela calçada da direita. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460
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ESPAÇO DO LEITOR
OPERAÇÃO “São válidas as operações que estão sendo realizadas aos fins de semana na ação integrada dos órgãos de Segurança para coibir a criminalidade nos bairros, a exemplo da operação Sétimo Mandamento. Mas gostaria de deixar como sugestão que não ocorresse a interrupção da mesma, ou até mesmo realizar um rodízio entre os bairros, já que tem alcançado bons resultados. Além de garantir segurança, são tirados de circulação inúmeros veículos irregulares e até de furtos, portanto, é uma ação importante que não pode deixar de ser realizada”, escreveu a leitora Mônica Andrade.
PONTELeitor que pediu anonimato enviou a seguinte reclamação: “Todos os dias cruzo a ponte dos Macuxi e, apesar de já ter denunciado inúmeras vezes, o local continua no escuro, representando perigo para quem trafega à noite. Se pelo menos tivessem o cuidado de pintar com tinta florescente as laterais e colocassem a sinalização horizontal, já seria uma medida paliativa, pois pelo visto está difícil colocarem a iluminação, conforme reivindicam os moradores do Santa Cecília”.
ESTACIONAMENTOSobre a matéria “Traficante é preso com drogas no Estádio Canarinho”, a estudante Eronilde Moura comentou: “Até que enfim a polícia tomou uma atitude em relação a essa comercialização de drogas naquele local. Por diversas vezes, já tinha denunciado este delito, mas nada era feito, em razão de estudar em uma universidade bem próxima e, quando saía, sempre presenciava esta movimentação e comercialização de entorpecentes. Espero que agora reforcem esta fiscalização, já que são inúmeros jovens neste local, com maior aglomeração na sexta-feira”.
MULTIRÃOO leitor Emerson Araújo ([email protected]) enviou o seguinte comentário: “Enquanto ocorre uma mobilização de dezenas de pessoas contra os terrenos baldios que estão acumulando lixo, no sábado, conversando com os membros do Exército que passaram pela minha residência, localizada no bairro Mecejana, tive a confirmação de que ainda são os prédios e locais sob responsabilidade dos órgão públicos que concentram a maioria da sujeira e falta de limpeza. Um absurdo, já que estamos fazendo nosso dever de casa”.