A economia boa-vistense pede socorro – Erasmo Sabino*O Brasil fechou mais de 1 milhão de postos de trabalho com carteira assinada nos últimos 12 meses. Do total de vagas fechadas, a construção civil foi responsável pelo maior corte de empregos. Esses números reforçam a preocupação dos empresários, tendo em vista a importância que tem esse setor, aliado aos empreendimentos do mercado imobiliário, como gerador de emprego e renda. A construção civil é a única atividade empresarial que tem capacidade de oferecer postos de trabalho aos roraimenses.
Diante dessa constatação, é justa a reivindicação dos empresários do setor ao pedir aos poderes públicos que encontrem alternativas legais que possam, num momento de grave crise como a que vivemos agora, dar alento à construção civil. Claro que não se pede que seja feito algo que vá de encontro à lei, confrontando as normas que regem atividades, por exemplo, como a de empreendimentos imobiliários. Eles são o pulmão da construção, pois sem eles não há nada que possa substituí-los como instrumentos de produção de riquezas ao movimentarem a economia roraimense.
Há que se buscar saídas, pois caso contrário vai-se estimular a irregularidade e como conta a história de Boa Vista, loteamentos clandestinos, à margem da lei. Que não são mais admissíveis numa cidade que preza pela modernidade, inclusive como modelo de gestão da administração pública.
Portanto, não arredo pé da necessidade de lutar para que a expansão urbana de Boa Vista, com mais áreas liberadas e mais loteamentos implantados, possa aliviar o aperto da falta de moradias em uma cidade que vem crescendo assustadoramente como vimos nos últimos trinta anos. Hoje, Boa VIsta caminha para se tornar uma metrópole, cercada por outros aglomerados urbanos à sua volta.
Embora as reivindicações do empresariado tenham sido contestadas, com o argumento de que o poder público só irá liberar os empreendimentos que atendam rigorosamente o que está escrito na lei, não é esse o caminho para a solução dos problemas. O que se pede é uma união de esforços entre os dois lados a fim de que todas as necessidades – as das empresas e as do poder público – sejam objeto de medidas capazes de eliminar obstáculos simples, mas que, atualmente, travam o crescimento econômico e social da população.
Radicalizar numa hora em que milhares de seres humanos vivem momentos de desesperança só ira agudizar ainda mais essa grave realidade que se abate sobre todos nós. Bom sendo é o caminho. Basta querer fazer, saber fazer e, principalmente, não deixar de fazer.
*Empresário————————————-Diferenças: o elo entre as pessoas – Flávio Melo Ribeiro*Numa tarde, alguns anos depois de formado, atendi dois novos pacientes com o mesmo tipo de queixa “dificuldade de relacionar-se com os outros: o primeiro sofria pelo seu egocentrismo e o outro pela solidão, que beirava a depressão. Até começar a atendê-los não tinha ideia do quanto eles iriam possibilitar um novo direcionamento nos atendimentos.
14 horas: entrou no consultório um rapaz de aproximadamente vinte e dois anos, moreno, olhos tristes, cabelos cacheados, sorriso que mostrava sofrimento. Durante a psicoterapia ficou tenso e inclinado para frente. Falava com arrogância, mas seu discurso apontava sua insegurança. Sua queixa era que não conseguia manter um namoro. Relatou que depois de alguns meses e diversas DR (discutir a relação) o relacionamento acabava. Entendia o que acontecia, mas não saia desse ciclo vicioso.
No decorrer dos atendimentos ficou claro o quanto desejava que as pessoas mudassem para que ele fosse feliz e pudesse tanto amar e ser amado, mas não fazia o básico: mudar a si próprio. Ele era egocêntrico: nas conversas adorava falar de si, das atividades que fazia e gostava, bem como interromper a fala do outro para expor suas opiniões. A ânsia em falar de si deixava pouco tempo ao outro, consequentemente, não conhecia com profundidade seus familiares, amigos e as namoradas que teve. Percebia com muita facilidade os defeitos dos outros e os apontava, por vezes o fazia de forma engraçada, mas não menos agressiva. Nos namoros não era diferente, percebia e apontava o quanto a namorada não lhe agradou, ou ficou distante, mas pouco percebia seus defeitos. Exigia atenção o tempo todo e para isso justificava que se dedicava inteiramente a namorada. Isto era verdade, mas não se dava conta que o fazia por carência, por medo de ficar sozinho e não de forma equilibrada.
Para quase tudo tinha uma justificativa e quem tudo justifica não consegue enxergar seus próprios erros, por conseguinte, deixava suas “namoradas” na defensiva, não encontravam nele um ombro amigo, ele era mais um filho do que um namorado.
A missão da psicoterapia foi torna-lo adulto e um conhecedor do ser humano e suas necessidades. Ele precisou conhecer quem estava ao seu redor, perceber suas necessidades e saber o que os motivavam, bem como, identificar o que no seu comportamento era maléfico nas relações. Aprendeu a ouvir mais do que falar, a respeitar e ser humilde; com o tempo se deu conta que precisava amar para então ser amado. Com essas mudanças foi possível aprofundar os aspectos subjetivos e emocionais que lhe apareciam como barreira
Às 15 horas entrou na sala um homem de 26 anos, solteiro, engenheiro, com dificuldade de manter olhar e seguidamente ficava cabisbaixo ao relatar o quanto sofria com a solidão. Considerava um fardo muito grande as responsabilidades que estavam sob suas costas, tanto profissionais como familiares. Relatou que é o irmão mais velho de uma família de três filhos. Seus pais tinham casado cedo e dedicado ao sustendo da família. Ele percebia que desde novo já tinha ultrapassado a condição dos seus pais, tanto financeira quanto intelectual. Sabia que não seriam eles que lhe direcionariam na vida moderna, mas o inverso, os pais esperavam dele o apoio. Ele por sua vez, sempre apresentou sonhos grandiosos e gostaria de realiza-los, mas nunca tinha se dado conta do peso que isso representava. Ao mesmo tempo que sonhava, lamentava sua condição e sua solidão, à medida que isso ocorria mais as pessoas se afastavam dele.
Ao descrever suas relações apareceu a visão que os outros tinham dele: uma pessoa que reclamava, culpava os outros e no fundo não tinha condição de realizar o que sonhava. Em vez de congregar afastava as pessoas, mesmo assumindo profissionalmente posição de liderança, não liderava, não era exemplo, nem inspirava os colaboradores a lhe seguirem. No decorrer do processo psicoterapêutico percebeu que procurava a solidão e o fazia para evitar o confronto e as responsabilidades pelas suas escolhas.
Ele tinha vários predicados para se dar bem na vida e no desenvolvimento dos seus projetos, mas pecava no mais básico, não sabia lidar com o ser humano. Não se interessava e não incentivava seus colaboradores, não sorria e não demonstrava o quanto seus colaboradores eram importantes e o quanto colaboravam nos seus projetos. Com seus familiares reclamava que nenhum o ajudava, que precisava pensar e fazer sozinho.
Nesse caso foi importante descrever o contexto social da sua infância, como foi educado e principalmente o que ele fez dessa educação. Porque mais importante do que como fomos educados é o que fazemos dela, isto é que define com mais profundidade o que seremos e consequentemente o que faremos e construiremos. Em paralelo foi visto maneiras mais adequadas de como lidar com as pessoas que o rodeiam e possibilitar uma mudança sincera da sua personalidade.
Esses dois pacientes nunca se encontraram, mas eu sabia que caso conseguissem discutir em conjunto seus problemas, a superação dos mesmos seria mais rápida e todos sairiam fortalecidos. Foi refletindo sobre esses atendimentos que consegui montar grupos de psicoterapia. Pois vejo o quanto é significativo o paciente receber apoio de outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema e o quanto é importante ele se ver ajudando o outro.
*PsicólogoCRP12/[email protected]———————————
O quanto evoluímos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Nunca, em todas as civilizações, a vida humana alcançou um nível tão avançado de evolução quanto hoje”. (Waldo Vieira)
Evoluímos muito, mas não o suficiente para vivermos como seres evoluídos. Ainda nos quedamos sobre o celular, como se ele fosse o ápice da evolução. Ainda temos muito para evoluir. Mas ainda continuamos marchando como recrutas do século dezenove. Ainda temos muito a aprender para alcançar um grau de evolução condizente com nossa origem. Mas estamos caminhando. Só ainda não conseguimos entender o que é realmente evoluir. Ainda estamos tentando resolver problemas atuais, que vêm originados pela evolução desentendida, com soluções anacrônicas e jurássicas. Soluções que nem mesmo conseguiram solucionar problemas simples de civilizações de antes do dilúvio.
Caminhando pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro e prestando atenção ao comportamento de seus habitantes, ficamos tristes. Procuramos ver o melhor, mas, mesmo sabendo que ele está ao nosso lado, não conseguimos vê-lo. E você não imagina o quanto me sinto um João-das-couves, tendo que levar esse papo chato pra você, num final de semana. Lamento, mas não posso fugir da realidade. A degradação da civilização está explícita até mesmo nos engravatados. Percebemos isso atravessando a Praça João Mendes, e vendo cultos e elegantes atravessando a Praça, chocando-se com mendigos deitados na calçada, acariciados por cachorros também de rua.
Diante de tudo isso, pergunto-me: quando vamos realmente evoluir? Aí me lembrei de um caso esclarecedor, simples e banal, ao qual ninguém deu atenção. Recentemente a televisão alardeou os acontecimentos já banais, de ladrões ali no Braz. Depois das justificativas ridículas dos responsáveis pela segurança, no dia seguinte vimos alguns policiais por lá. Um policial estava sobre a calçada e fumando. O carro chegou para pegá-lo. Ele foi até ao carro, abriu a porta, jogou o cigarro sobre a calça, entrou no carro e saíram. Deu pra sacar? Como podemos garantir a segurança sem educação? Como poderemos dar exemplo de educação atirando pontas de cigarros nas calçadas. E o mau exemplo vindo de um policial em serviço é de entristecer. E mais ainda quando isso parece banal para o cidadão que reclama pelo respeito que não lhe e dado por quem tem o dever de lhe garantir. Simples pra dedéu.
Vamos fazer nossa parte pela evolução da humanidade, da qual fazemos parte no que somos e fazemos para ser o que devemos e queremos ser. Sem educação nunca seremos um povo civilizado; e continuaremos nadando no lamaçal da incompetência administrativa. Pense nisso.
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