Intervenção dos policiais militares nas escolas públicas – Clhinger de S. Thomé Guedêlha*O sistema educacional agora virou “caso de polícia”. A imposição de ensinamento no molde militar requer fazermos a indagação de quem fracassou para se ter a intervenção dos policiais militares nas escolas públicas. A Secretaria de Educação juntamente com o governo do estado que não conseguiu cumprir seu papel de ensinar as crianças, ou foi a própria polícia que não consegui conter a violência que deveria estar no lado de fora (da escola)?
Sim! Um Colégio Militar segue uma estrutura hierárquica não democrática, que visa promover a obediência, e não a crítica, que uniformiza corpos, vestimentas, adereços, comportamentos, e não forma para a pluralidade e diversidade. A formação para hastear a Bandeira e cantar o Hino, as proibições de cortes de cabelo, tinturas, brincos e piercings, gestos e posturas são dispositivos de discriminação, homogeneização e reprodução de valores.
O que estes dispositivos formam? Disciplina, dizem os defensores de tal regime. Mas o que é a disciplina militar se não um mecanismo de controle? É preciso disciplina e controle para aprender, criar, construir algo – dirá nosso interlocutor. Não um controle exterior – respondemos – é preciso autodomínio, desenvolvimento de uma ordem interior que nos permita parar, ouvir, aprender, nos exercitar, persistir diante das dificuldades, respeitar os outros, construir conjuntamente. Esta tarefa precisa ser encarada sem que abramos mão do respeito à liberdade e à dignidade humanas. Além disso, professores e demais funcionários que não concordam ou que não se adaptam às novas regras da escola são transferidos para outras unidades escolares.
O número crescente de escolas públicas que estão sendo transformadas em colégios militares no Brasil é alarmante. Não se trata simplesmente de mais um modelo escolar com seus valores próprios que deveria, em um sistema democrático, poder coexistir com outros modelos. Trata-se do uso dos recursos públicos (prédios e equipamentos, professores e funcionários) para um modelo educacional antidemocrático que se apresenta como solução aos inúmeros problemas que a educação de nosso tempo nos coloca, mas que, em realidade, apenas os mascara, tamponando as tensões inerentes a uma vida comunitária plural, o que tende a gerar explosões. “Paz sem voz não é paz, é medo.”
As péssimas condições das escolas e do ensino público foram escancaradas ano passado com as greves de professores da rede de ensino estadual. Para o governo a resposta a este problema é simples: Polícia Militar dentro das escolas. O mesmo governo que promove a precarização da educação agora passa a utilizar a repressão como forma de encobrir os seus verdadeiros problemas, isso porque não são capazes e, sobretudo, não lhes interessa uma educação de qualidade.
Os professores que todos os dias encontram os olhares cheios de significados dessas crianças e jovens dentro das salas de aulas, tentando sempre tirar o que eles podem oferecer de melhor, precisam mais do que nunca sair em defesa da juventude e dar uma verdadeira para a educação pública, para que seja laica, livre da PM e de qualidade.
Em um momento em que a militarização da polícia está sendo colocada em questão inclusive por muitos policiais, tomara que a comunidade boa vistense diga em alto e bom som, assumindo a liberdade que lhe é tão própria: “Não sou nem obrigada”!
*Acadêmico do Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Roraima——————————————Reflexão sobre sexualidade – Flávio Melo Ribeiro*Como psicólogo sou questionado sobre o comportamento humano e comumente se as crenças populares são verdadeiras. Dentre elas as referentes ao relacionamento amoroso e ao sexo estão entre as mais questionadas. Uma vez um jovem cliente me questionou o que ele poderia fazer para conquistar sexualmente sua namorada. Isto me motivou a fazer uma pequena pesquisa entre clientes e mulheres que participavam de grupos em quais coordenava e o questionamento era o que a deixava mais propícia ao sexo junto ao seu companheiro. Em resumo foi possível agrupar as respostas em três pontos:
A importância de detalhes carinhosos: Desejava sentir-se especial, a partir de pequenos cuidados durante o dia: um bilhete, uma mensagem, uma flor, um beijo ardente de bom dia, um abraço que a faça sentir-se viva, mostrasse que ela, entre milhares de outras, era a escolhida. E que esses mimos, fossem expostos de forma que a fizesse pensar com carinho no outro durante todo o dia.
Fundamental sentir-se escutada: poder falar dos seus projetos, do seu trabalho, dos seus estudos, saber que está sendo valorizada como pessoa. Perceber que o companheiro está também enxergando sua alma, seu conjunto de valores, conhecimentos e projetos que desenvolve no mundo. Que é considerada como mulher, como cidadã, com alguém que decide e é levada em consideração. Sentir que o companheiro tem orgulho dela.
Escutar coisas bonitas a seu respeito e que não sejam falsas. A mulher já é crítica e detalhista, não precisa alguém ficar apontando seus defeitos; por si só sabe distinguir e já se incomoda o suficiente para mais alguém apontar algum defeito. Mas quer sim escutar que é bonita, quer sentir que é atraente ao outro, que é desejada, que excita o outro. Porém quer saber isso através de atitudes, por carícia, por frases que a faça desejar continuar na relação. Quer ter confiança em si através do seu corpo, saber que o outro se excita como ela é. Que a faça ter certeza que essa relação vale a pena. Tendo essas três coisas, o sexo vem naturalmente.
*PsicólogoCRP12/[email protected]——————————————–Procurando-me – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Saudade é a presença da ausência”. (Laudo Natel)Minha vida sempre foi uma procura incessante. Andei terras, vi gentes, conheci desconhecidos, busquei o desejado no indesejável. Vi gente que não devi ser vista, vi coisas inesquecíveis. Andei por adar. Caminhei, pisei, fui pisado. Sonhei sem ser sonhado. Fui inconsequente, sofri, sorri, cantei, chorei, vivi. Infância bonita, vivida, sofrida, desentendida e incompreendida. Incompreendido, continuo buscador de mim mesmo.
Explorador explorado. Ave questionadora de suas rotas, quase sempre sem farol. Pé no chão. Chão nem sempre plano em veredas quase sempre ínvias. Entre rosas e espinhos, risos e lágrimas, tão incontidos quanto escondidos. Dias claros e noites escuras e menos sombrias. E assim cheguei aqui, onde nem sei se estou. Alegrias e sofrimentos. Aquelas mais do que estes. Mescla de vida que faz viver mais intensamente quando se quer viver. Eu quero.
Três mil quilômetros me separavam de minha esposa e do meu primeiro filho com apenas um mês de idade. Maior do que a distância era a impossibilidade de vê-los. Tempo indeterminado. Minha alma viajava pelas ruas barulhentas, à procura dos dois amados. Meu corpo físico driblava os cipós, espinhos e imprevistos da floresta implacável, indomada, bruta e desafiadora. O sono começava a fugir quando eu mais precisava dele. Manhãs muito longas antecipadas pela ausência do sono. Saí mais cedo da maromba. Ninguém viu. Andei a esmo. Caminhei entre o milharal e comi vinga verde e crua. O friozinho matinal mexia com meus músculos. Eu caminhava mais célere; pensava mais lentamente. Equilibrava os sentimentos. O sol ainda não dava o ar de sua graça. Nem tinha graça esperar por ele. Mas ele não conseguia esconder sua chegada.
Tive dificuldade em entender se aquilo era incompetência ou exibicionismo dele. E lá vinha ele, tirando-me do torpor, máscara do meu medo. Atravessei o campo de soja e entrei pelo esplendor do nada. Nada, no entanto, livrou-me do espanto do esplendor nascente sobre o lençol furta-cor nos pendões no trigal.
Parei estático, embevecido. Uma visão sem par; sem paralelo; sem igual. Um momento de vida que faz viver até os que não sabem viver. Cenário do arrozal em Barra do Bugres, em Mato Grosso. Para mim, a ressurreição do que não morreu. A luz multicor do sol-nascente, fundindo-se na brisa matutina. A fusão das duas formou um mar verde que já não podia ser verde. Que importa que cor fosse aquela? Ela criou um espetáculo que jamais se me apagará da memória. Nem mesmo quando de mim só restar a memória. Fui feliz naquele dia. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460