Opiniao 16 07 2018 6577

À luz da consciência – Tom Zé Albuquerque*

A cada ano que passa, observo uma mudança assustadora na sociedade. A banalidade tem invadido o convívio, as análises críticas são feitas de forma superficial; a busca pelo inédito tem sido algo tedioso, e emitir opinião passou a ser algo tenebroso em face dos melindres sociais vigentes. O essencial, invisível aos olhos, se desintegra.

O espírita Chico Xavier passou quase toda sua vida pregando a importância de darmos valor à essência humana, sobretudo suas qualidades, sem se desprender da melhoria contínua através da autocrítica, que enobrece e faz o homem ascender em seu meio. Dizia ele sobre o tema que “Não só a beleza da máscara fisionômica, mas igualmente a formosura e nobreza dos sentimentos; não apenas a eugenia que aprimora os músculos, mas também a educação que aperfeiçoa as maneiras; não só o domicílio confortável para a vida física, mas também a casa invisível dos princípios edificantes em que o espírito se faça útil, estimado e respeitável”.

Emmanuel transmitia que se “As energias parecem esgotadas e as esperanças se retraem apáticas (…) instalar-se-á a sombra, dentro de nós, como se espessa noite nos envolvesse”. Mas nos lembra, adrede, que toda planície recebe a enxurrada, sem revoltar-se, convertendo-se em adubo precioso; que a árvore de frondes quebradas ou feridas regenera-se, em silêncio, a fim de produzir novas flores e frutos; que a terra sofre com o enlodamento costumeiro, mas se projeta na fertilidade comum.

Irradiava também o mesmo espírito que pode o homem guardar inúmeros títulos de posse, mas não sendo ele dono de si, todo seu patrimônio não passará de introdução à loucura. Que caso tenha o homem o peito coberto de medalhas honoríficas, aumentando exponencialmente o número de admiradores que o aplaudirem, assemelhar-se-á ele a um cofre de bens prescritos, se não estiver sobressaído em seus pensamentos, falas e ações, além de tudo, a luz da sua reta e etérea consciência.

Não existe felicidade plena; ser feliz é algo pontual, efêmero. Assim como a tristeza também é. Atualmente qualquer angústia, demorado desânimo, ou infelicidade momentânea é diagnosticada como depressão, algo grave e que pela sua repercussão nas vidas das pessoas precisa ser metodicamente investigado. E a síndrome do pânico só assim é definida porque é de complexa averiguação. O que seria e para qual e onde iria o pânico? O que há muitas vezes, sem réstia de dúvidas, em menor ou maior termo, são momentos de profunda exaustão em nossas reservas mais íntimas.

Ora, cada qual com seus caos, seus enigmas; e o desencorajamento pela queixa, a aspereza vergasta do verbo e a observação maldizente só ababelam os ambientes e desaprumam as energias que regem, controlam e organizam o corpo humano. As doenças físicas são, majoritariamente, decorrentes do desarranjo incorpóreo. Precisamos respeitar isso. É cósmico. É científico.

*Administrador

Órfã de pai vivo – Antonio de Souza Matos*

Aninha acabara de completar três anos. Não sabia que o pai havia abandonado a família. Pensava que ele saía para trabalhar toda vez que se despedia depois de uma visita relâmpago. Numa noite fria, ele apareceu, e o coraçãozinho da menina palpitou e aqueceu-se de contentamento.

Assim que ele entrou em casa, ela se acomodou nos braços dele, como de costume. No entanto, mal ele se sentou no sofá, começou a teclar no celular, deixando a criança desapontada. Embora não soubesse o que estava acontecendo entre os pais, ela desconfiava que alguma coisa não ia bem, pois não os via mais trocar beijos nem abraços. E, toda vez que ele entrava em casa, a mãe se refugiava no quarto. 

Naquela noite, Aninha parecia estar intrigada com esse distanciamento dos pais. Ela lembrou que os dois costumavam deitar-se com ela, sorrir um com o outro e contar-lhe muitas histórias. Sentia falta desses momentos. Por isso, insistiu para que o pai fosse até o quarto, mas ele deu uma desculpa esfarrapada. Disse que estava muito ocupado e continuou teclando com a amante. 

A garota ficou impaciente. Foi até o quarto, sentou-se num banquinho, de frente para a parede, e segurou o queixo com as duas mãozinhas. Ficou assim por um bom tempo, pensativa. Depois, retornou à sala decidida. 

– Pai, vem comigo! – disse estendo-lhe a mão direita.

– O papai não pode agora, meu bem!…

– Por que, papai?!…

–Papai está muito ocupado, querida!… 

Aninha respirou fundo, deu meia volta e retornou ao quarto. A mãe, absorta, nem notou a aflição da filha. A garota sentou-se novamente no banquinho e, desta vez, além de segurar o queixo com as duas mãozinhas, balançou a cabeça várias vezes.

Algumas lágrimas começaram a rolar pela face da criança. Chorava baixinho. Era como se entendesse que a mãe sofria e não quisesse agravar-lhe a dor. 

Depois de alguns minutos, a mãe, finalmente, notou o que estava acontecendo. Controlou-se para não deixar transparecer a aflição.

– O que você quer, querida?!…

– Por que o papai não vem contar história pra mim?! Por que não vem deitar com a gente?!…

– Calma, meu amor! Ele vem, sim! É que agora está ocupado… Por que você não vem deitar-se com a mamãe?…

– Eu quero o papai!… Eu quero o papai!…

Não podendo convencer a filha, a mãe foi até a sala e contou ao ex-marido o que estava acontecendo. Ele, então, foi até o quarto e fingiu que tudo estava bem. Deitou-se com as duas. Os três sorriram, tiraram fotos com o celular e, claro, o pai contou algumas histórias para a filha – as de sempre. Depois de meia hora, a pobrezinha adormeceu. O rostinho brilhava de alegria. 

Na manhã do dia seguinte, acordou mais uma vez sem o pai. 

*Professor e revisor de textos. E-mail: [email protected]

Ele não é eu, nem eu sou ele – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Quando você se preocupa muito em mudar sua aparência é porque você quer mostrar o que você não é”.

O que você pensa que você é? Somos o que pensamos, mas nem sempre o que pensamos que somos. Então, vamos viver cada momento no que realmente somos. Ou você ainda é dos despreparados que se valorizam pelos cargos que ocupam? Bastam ocupar um cargo importante e se julgam importantes. E não são mais do que pobres coitados que nem mesmo sabem o valor que têm sem saberem que têm.

No início da década dos oitentas, assistia a uma cena que comprova essa verdade. Estávamos em Caruaru, e observei. Na entrada para uma exposição de artesanato, estava um quadro com uma foto curiosa: no meio do quadro, uma foto do Mestre Vitalino. Do lado dele estava uma do Governador do Estado; do outro lado, a de um Deputado. Quase todas as pessoas que entravam para a exposição paravam e ficavam olhando para a foto. Fiquei observando e notei que ninguém estava interessado nas fotos do Governador nem na do Deputado, mas na do Mestre Vitalino. E a diferença ap
arente entre os três era notória, em termos de elegância e postura.

O que realmente faz de você uma pessoa importante? Nada, além de você mesmo. Você é o que você faz para ser. O julgamento vem na análise que a sociedade faz. E é por isso que devemos nos preparar para o mundo em que vamos viver. Nós fazemos o que devemos fazer para melhorar o mundo, fazendo o melhor que podemos fazer no que fazemos. Então vamos fazer o melhor. Mais importante do que saber que país você quer para o futuro, é saber que país você está construindo para o futuro.

Vamos construir nosso futuro com respeito, simplicidade e muito amor. Não nos esqueçamos de que nossa educação se inicia ainda no ventre da mamãe. Tudo vai depender do tratamento que recebemos no que merecemos. Sem educação não há como construir um país próspero e civilizado. Deixe a arrogância de lado e plante o carvalho para a sombra de amanhã. Construa o país que você quer, e não fique esperando que os outros façam o que você mesmo deve fazer. 

Somos todos superiores quando não nos julgamos inferiores. O que indica que somos todos iguais nas diferenças. Vamos sair dessa gangorra da cultura da submissão. Vá pensando nisso enquanto as eleições não chegam. Não adianta ficar anulando voto, quando não somos educados para o voto facultativo. Então vamos lutar por ele. Mas é preciso que nos eduquemos para merecer o voto facultativo porque só ele vai nos levar à condição de cidadãos. Converse com seu candidato sobre isso e veja se ele está com você, para você estar com ele. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460