Foco no que interessa ao brasil – Michel Temer*
Nesta segunda-feira, estarei em Nova York onde faço o discurso de abertura da 72ª Assembleia-Geral da ONU. Em outros compromissos, buscarei investimentos para o Brasil. Terei encontros com bancos e formadores de opinião para falar sobre as oportunidades econômicas que nosso país oferece, além de reafirmar o compromisso do meu governo com a agenda de reformas. Promover nossa economia no exterior se tornou uma tarefa muito mais simples agora que saímos da recessão e adotamos políticas necessárias para modernizar o país e dar sustentabilidade ao crescimento. Na minha visita mais recente à China, no início deste mês, tive uma série de reuniões com autoridades e investidores internacionais e pude sentir, de perto, o entusiasmo com o novo momento econômico do Brasil.Desde que meu governo assumiu, há 16 meses, aprovamos projetos essenciais para alavancar mudanças que, há tempos, eram ansiadas: o teto para os gastos públicos, a renegociação de dívidas estaduais, a modernização da reforma trabalhista e a regulamentação do trabalho terceirizado, para citar apenas os de maior impacto econômico. Já estamos colhendo os frutos da adoção dessa agenda, com a melhora de, praticamente, todos os indicadores da economia. Nos primeiros três meses deste ano, nosso Produto Interno Bruto cresceu 1% após nada menos do que oito trimestres seguidos de queda. No segundo trimestre, a economia teve novo crescimento e de forma mais generalizada, por setores. A inflação, que chegava próxima aos 10% ao ano quando assumimos o governo, corroendo perversamente o poder de compra dos trabalhadores, fechou agosto no patamar mais baixo desde a implantação do Plano Real: 1,62% em 12 meses. Essa queda expressiva já se reflete nos dados do consumo. Há quatro meses que as compras no varejo crescem na comparação com o mesmo período de 2016, segundo o IBGE. Antes disso, o resultado foi negativo por 24 meses seguidos.
Também temos avançado nas nossas relações com o exterior. O saldo comercial acumulado até agosto — US$ 48,1 bilhões — já supera o superávit de todo o ano de 2016 e é mais do que o dobro do obtido em 2015. Esse crescimento tem se dado com alta do fluxo de comércio, ou seja, tanto as exportações como as importações têm crescido. Mas, de todos os indicadores que têm sinalizado recuperação da economia, os que mais nos animam são os do emprego. Em julho, a taxa de desemprego recuou pela primeira vez, desde 2014. Em agosto, uma nova queda na taxa comprovou a consistência da melhora do mercado de trabalho. Dados do Ministério do Trabalho e do Ipea também mostraram um aumento do emprego formal e alta dos rendimentos. Criação de empregos, inflação baixa, crescimento da economia, promoção de investimentos: são esses objetivos que o país precisa mirar; são nessas questões essenciais que meu governo está focado. O Brasil tem pressa em avançar no caminho da recuperação e ainda temos muito trabalho pela frente.*Presidente da República
A busca latente do vazio embriagante – Tom Zé Albuquerque*“Gerações se influenciam e é assim desde os primórdios da humanidade. E é muito evidente como a leniência da geração parental em relação ao álcool tem prejudicado as gerações futuras. Os jovens estão cada dia mais dependentes e assíduos quando se trata de álcool, o que acaba muitas vezes uma auto-sabotagem para o futuro promissor que os esperava e que é acarretado aos vícios. O determinismo social dos amigos e até mesmo dos pais em função da autoafirmação cria um sentimento de necessidade de sentir-se incluso ao meio da cultura do álcool. A educação negligenciada dos pais para com sua prole permite que a cultura do álcool permaneça enraizada nos valores da sociedade…”O texto acima foi escrito por uma adolescente de 14 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio de uma escola particular em Boa Vista. É um conteúdo preocupante, que toca num problema visceral que acomete a sociedade, que não deveria estar vitimada de tamanha disfunção social, pois, o amplo e crescente consumo de álcool entre jovens, adolescentes, sejam garotos, sejam também garotas, meninas vulneráveis e desnorteadas.Não se vê ações contínuas e amplificadas por parte do poder público em buscar as causas e conter o avanço dessa anomalia. E isso é cruel. Ao contrário, basta dar uma volta pela cidade e observar centenas de jovens menores de idade consumindo bebidas alcoólicas livremente, sem nenhum pudor ou responsabilidade dos fornecedores, sem quase nada de fiscalização que possa pelo menos atenuar tão bárbaro distúrbio. Consideremos que, cientificamente, o consumo de álcool é uma ponte pavimentadora para outras drogas. Aliás, o álcool é uma droga, só que… lícita. Tragicômico isso tudo.A família, muitas vezes se omite, se cala, ou até avaliza tamanho despautério, às vezes por comodidade, às vezes por irresponsabilidade, por machismo e também por não querer conter o mau exemplo de, os pais em geral, serem consumidores vorazes de álcool. E são estes mesmos que lotam os consultórios de médicos, psicólogos, psiquiatras, casas de recuperação pra seus filhos gastando muitas vezes fortunas para tentar reparar erro que poderia ser evitado.O alcoolismo entre pessoas de baixa idade é um problema de toda sociedade, e não pode se restringir em sala de aula, numa redação responsavelmente redigida por uma adolescente, enquanto boa parte da sociedade dá as costas para seríssimo infortúnio. Vê-se quão sombrio se desenha o futuro da juventude. Macabra futuridade…
*Administrador
Encanto no canto – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Quando ela canta me lembra um pássaro. Não um pássaro cantando, mas um pássaro voando.” (Ferreira Goulart)É claro que Ferreira Goulart escreveu essa jóia homenageando a Nara Leão. Mas a frase me bateu forte, ontem, ouvindo a Clara Nunes. Ela foi uma das maiores cantoras brasileiras que nos deixou muito cedo, e nos deixou muita saudade. Uma pena que grandes nomes da música popular brasileira de alta qualidade não sejam lembrados o quanto deveriam ser. Clara Nunes é uma das maiores expressões da música. Porque mesmo não estando entre nós, não deixa de nos emocionar quando temos a felicidade de ouvir sua maravilhosa e inesquecível coleção.
Quem viveu os momentos de transformação em mudanças, na música, nos anos cinquentas, do século passado deve ser comedido. Não há como fazer críticas à música atual, sem se levar em consideração às mudanças na música daquela época. O ser humano ainda não está preparado para as mudanças. Paulinho da Viola, Martinho da Vila, Maria Bjetânia, Caetano Veloso, e tantos outros grandes cantores da MPB, foram severamente criticados por âncoras, tanto da TV quando do rádio, à época. Tínhamos um âncora da TV paulistana, que hoje é nome de rua, na Espraiada, que se referia à Maria Bhetânia, assim: “Essa aí nunca vai passar de uma Maria Carcará”. Pra você, jovem, que certamente não está entendendo, a música Carcará foi o primeiro sucesso da Maria Bhetânia, em Sampa. Outro âncora paulistano sempre que se referia a Caetano Veloso falava assim: “Esse palhacinho que apareceu por aí, Chamado de Caetano…”
Tudo isso, e muito mais, aconteceu com a chegada a São Paulo, dos “Novos Baianos”. Foi, inegavelmente, uma revolução maravilhosa na música brasileira, com certeza, influenciada pela revolução musical internacional. Agora me façam um grande favor; não vamos analisar esse papo como assunto técnico. Estou apenas falando sobre o que senti e me emocionou, ouvindo, ontem, a Clara Nunes. Mas seria muito bom se levássemos isso mais a sério. A má qualidade na música, sempre houve. Mas, sem querer dar uma de crítico, acho que estamos exagerando, dando mais importância, nas apresentações, à exibição do bumbum.
Vamos mudar. Mudar sempre e a todos os instantes, mas com parcimônia. A qualidade não deve estar ausente nas mudanças. E quando tratamos de música não devemos nos esquecer da importância que ela tem na nossa formação mental. Quando não somos sensíveis à música devemos procurar ver o que está errado em nós, e não na música. E ser sensível não significa ser mentalmente aleatório. Ouça mais a Clara Nunes e a Nara Leão. Pense nisso.