Confissões do poeta – Walber Aguiar*
Sempre precisei de um pouco de atenção, acho que nem sei quem sou, só sei do que não gosto. RenatoRusso
Era o dia 16 de janeiro. Dia de andar por aí sem fazer nada, tentando encontrar alguma coisa que ficou perdida no tempo. Dia de entender o ininteligível e desentender o cartesiano. Tempo de perceber o lado cinza do azul e o lado azul do cinza. Momento de enxergar com os olhos fechados.
Minha vida sempre foi marcada pela simplicidade e pela força do desapego, usando as coisas e amando as pessoas; nunca fiz questão de amealhar o distante, nunca quis possuir o impossível. Tendo aprendido a ler aos quatro anos, entendi que andar pelo labirinto das letras me faria bem. Nunca fui afeito a números, mas persegui a composição, o jogo de palavras, a superposição vocabular. Longe de tudo e de todos, perdido entre a imensidão do Negro e o mistério do Solimões, aprendi que a vida exige mais que páginas frias de um livro. Ela nos lança no caos urbano e no melancólico mundo racional.
Daí ter afirmado Salomão que quem aumenta ciência, aumenta tristeza. Isso porque, quanto mais sei mais sofro, mais entendo que as coisas poderiam ter tomado um rumo diferente. Aprendi com José Barbosa Júnior que o conhecimento tem que servir para alguma coisa, não pode ser apenas elucubração filosófica ou cosmético de intelectual. Carece de dinamicidade pra se transformar em felicidade e experiência.
Em Boa Vista conheci a “caverna de Platão”, em Manaus percebi a sombra que se espreguiçava sobre ela. Descobri que a multidão delira, podendo ser transformada em qualquer coisa moldável, envolvida por esquemas de manipulação política e econômica. Por isso sou um ser a caminho, uma espécie de inteiro metade, de grande pequeno, de alguém que tenta se descobrir sem pressa e sem atropelos. Hoje, depois de muito apanhar, aprendi com os caimbés a recomeçar sempre.
Seu Genésio me ensinou a ler, dona Maria me deu lições de vida. Drummond e outros me ensinaram a fazer a leitura poética do mundo. Dorval Magalhães me mostrou a importância do ouvir e os pastores Josué e Caio Fábio me iniciaram nas sagradas letras, na singularidade do Evangelho de Jesus. Aí veio pastor Raimundo, com toda sua ternura filosófica, e preencheu a lacuna que faltava.
E era 16 de janeiro. Dia de acenar para todos os portos da vida, na expectativa de que a felicidade esteja a caminho, não no destino final. Dia de celebrar a vida e esquecer a morte. Dia de chutar o balde e colher as flores vermelhas da poesia. Até que a morte ou o esquecimento nos separe…
*Advogado, poeta, professor de Filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de [email protected]
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Praga em cima de pragas – Marlene de Andrade*
O vírus zika apareceu no Brasil em 2015, sendo que os primeiros casos ocorreram primeiramente no Nordeste. Essa doença tem sido, muito embora nem tenhamos nos dado conta, um problema grave de Saúde Pública. O quadro clínico cursa com manchas pelo corpo, às vezes, coceira intensa, febre, conjuntivite, dor de cabeça, dor muscular e aumento de gânglios. Alguns pacientes também se queixam de tontura. Outra característica dessa doença é a presença de edema nas articulações, principalmente de punhos, o qual muito prejudica a movimentação das mãos.
O paciente fica “bom” em poucos dias, mas aí é que reside o perigo, pois começaram ocorrer o que ninguém esperava que acontecesse, ou seja, a presença de microencefalia em recém-nascidos de mães que tiveram zika durante a gravidez.
A microcefalia é doença grave e sem perspectiva de cura e a criança que a possui pode precisar de cuidados por toda a vida se tornando dependente para se alimentar e se locomover. A doença faz com que a cabeça e o cérebro das crianças fiquem menores que o normal, influenciando no seu desenvolvimento mental, e tal fato é grave.
Outro problema sério e que parece ter correlação com esse vírus é o aparecimento da síndrome de Guillain-Barré. Essa doença neurológica é raríssima, no entanto, ela vem ocorrendo em alguns portadores de zika.
A síndrome de Guillain-Barré é uma doença caracterizada por fraqueza progressiva nas pernas, acompanhada de paralisia muscular. Ela acomete indivíduos que apresentaram alguma doença infecciosa e está associada a vários vírus, inclusive ao vírus da zika.
O sintoma preponderante dessa síndrome é a fraqueza muscular progressiva, podendo ser acompanhada ou não de alterações da sensibilidade e dormência. A fraqueza se manifesta inicialmente nas pernas e atinge outras áreas do corpo, podendo ocorrer paralisia com flacidez muscular. Com a evolução dessa doença, a fraqueza pode atingir o tronco, braços, pescoço, os músculos da face, e, em casos graves, afetar o sistema respiratório, a deglutição e levar o paciente à morte.
Tudo isso poderia ser evitado se o povo tivesse cuidado com o meio ambiente. Infelizmente, em nosso país parece ser cultural tudo se jogar no chão como, por exemplo, copos descartáveis, marmitex, sacos plásticos e entre outros, latas de refrigerantes.
Manter nossa casa e cidade bem limpas, além de ser obrigação da gente, é muito aprazível. Telar as janelas e portas de nossa residência é uma obrigação, porém poucas pessoas levam isso em consideração.Se não fosse tanta sujeira pelos quintais afora, talvez esse vírus não tivesse chegado até nós com suas nefastas consequências.
“Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no Jardim do Éden para cultivá-lo e o guardar” (Gênesis 2.15).
*Especialista em Medicina do Trabalho (ANAMT)https://www.facebook.com/marlene.de.andrade47
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Detrás da moita – Afonso Rodrigues de Oliveira
“É impressionante como a humanidade consegue esconder-se atrás dos seus grandes erros”. (Eugênio Singer)
Mais difícil do que discordar é entender. Por isso todo mundo discorda ou tenta ignorar. Eu ainda era criança e já criticava meu pai, sempre que ele me mandava comprar uma lima-triângulo para amolar o serrote. Eu detestava quando ele me recomendava: “Traga SKF. Nada de lima nacional”. Eu sabia que as SKF eram bem superiores às nacionais, mas não gostava da “discriminação”. Depois fui entendendo que não era discriminação do meu pai, mas zelo pela qualidade do seu trabalho. Foi aí que comecei a ficar arara com o hábito que tínhamos de ficar detrás da porta, esperando que os outros melhorassem para podermos melhorar.
Alguém tinha que inventar para que inventássemos. Foi assim que deixamos de ser os inventores do rádio. Conhece esse capítulo vergonhoso da nossa historia? A muito custo começamos a chegar antes, mais muito tarde. Mas, pelo caminho cometemos muitos erros que permaneceram e continuam alimentados até hoje. E pelo que vejo, continuarão nos travando até quando, sabe Deus. Estamos sempre querendo fazer a coisa certa. Mas continuamos alimentando o velho ditado, que o matuto chama de velho deitado: “Pau que nasce torto morre torto”.
O deputado estadual de São Paulo, Arnaldo Jardim, publicou certa vez, uma matéria genial, numa revista especializada. Num trecho da matéria ele diz: “A questão do lixo é problema de saúde pública, de preservação dos nossos recursos hídricos, do solo e de saneamento básico, enfim, da herança que queremos deixar para nossos filhos”. Lembrei-me disso ainda há pouco quando passei ali pela esquina e vi aquele acúmulo de lixo na rua. Será que a administração pública conhece os princípios expostos pelo Deputado paulistano? O que cada um de nós pensa do lixo que produzimos no nosso dia a dia? O que será que você pensa quando joga um papel no chão? Ainda vamos e continuamos nos escondendo por trás dos nossos tradicionais erros; esperando os outros fazerem para imitá-los.
Quando será que vamos acordar para a nossa burrice e livrarmos-nos dela e começar a ser um povo civilizado? Acho que vai ser no dia em que acordarmos para a incoerência do absurdo do concurso público. Você já teve o desprazer de observar o quanto o serviço público perdeu em qualidade desde que começou a avalanche dos concursos públicos, feitos sem critérios de qualidade? Se não, então pense. Nada contra os concursos. Tudo contra a maneira irresponsável como eles são feitos. Até um dia alguém acordar e levarmos décadas para corrigir. Pense nisso.
*[email protected] 99121-1460
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ESPAÇO DO LEITOR
TRÂNSITO“Casa de ferreiro, espeto de pau. A mudança no Código de Trânsito Brasileiro (CTB) foi feita pela Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015, que cria a política Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, em que os motoristas teriam uma conta mais cara para pagar a partir de janeiro de 2016 em multa, por estacionar em vagas destinadas a pessoas com deficiência e idosos, o que não acontece no próprio Detran de Roraima. É rotineiro os carros estacionados em local reservado para deficientes e idosos. Ninguém faz nada para intimidar esse ato devasso, nem mesmo os agentes e diretores daquele órgão, pois existem câmeras e presença frequente de agentes. Mesmo assim passa despercebido”, escreveu o leitor Marinaldo Brito Costa ([email protected]).
DENÚNCIAInternauta que pediu anonimato denunciou a existência de loja de artigos militares, que confecciona bordados, vendendo camisas pretas e confeccionando bordados com o distintivo da Polícia Federal sem solicitar a identidade funcional do comprador. “Assim, em breve, poderão existir barreiras policiais falsas em nossa cidade”, alertou em e-mail enviado.
ENERGIAEm correspondência enviada por moradores da Vila Nova Colina, das vicinais 01, 02 e 16, em Rorainópolis, eles reclamam de descaso com os pequenos produtores e moradores daquela região: “Se ocorrer um problema de energia na sexta-feira, por exemplo, o responsável pela Cerr [Companhia Energética de Roraima] não tem autonomia para resolver nada. Em tempo de seca, quando os moradores precisam de água dos poços, é fundamental ter energia para ligar as bombas que puxam água para as criações beberem. Uma localidade que tem uma densidade demográfica bem povoada, com praticamente todos os moradores vivendo de seus trabalhos rurais, é praticamente um descaso por parte do governo e da Cerr. Pedimos que deixem um caminhão munck na Nova colina, pelo menos nessa época de queimadas, pois o motivo desta denúncia é pelo fato de o fogo ter queimado três postes de madeira e pela demora em solucionar os problemas com a energia, os quais só são resolvidos após os fins de semana. Que descaso!”.