OCRIM Brasil – Tom Zé Albuquerque*O nosso país está refém de uma organização criminosa, abreviadamente chamada de ORCRIM. Instalou-se o maior sistema criminoso da história do Brasil envolvendo os poderes constituídos, partidos políticos, empresas privadas, instituições bancárias, homens públicos… o efeito é cíclico e cruel.
A exploração colonizadora, a partir do descobrimento, não foi absolutamente nada comparada ao que passamos atualmente. O impeachment do ex-presidente Collor de Melo deu-se primordialmente em razão do desvio de 25 milhões de dólares e um simples veículo, o Elba; hoje, os rombos nos cofres públicos só se referem a bilhões de reais. Tenho saudade daquele tempo de corrupção intimidada. Há uma desonestidade endêmica, institucionalizada pelo partido dos trabalhadores. Antes, se locupletar do que é público era exceção. A partir de 2003 essa prática foi ampliada, amplificada e tornada comum, especialmente no meio político.
Enquanto isso, a sociedade brasileira agoniza com a precariedade dos serviços e, principalmente, com a extorsão de seu salário de forma direta, com uma carga tributária desumana, e indireta, com a forçosa necessidade de o povo ter que recorrer a serviços privados, sobretudo saúde, segurança e educação, diminuindo assim ainda mais o seu poder de compra. Nesse mesmo prumo, as ideologias, os ideários partidários, os interesses particulares em sobreposição à necessidade da coletividade vão destruindo o país, pelo mesmo e único interesse daqueles que saqueiam: se apropriar indevidamente de pecúnia e bens, além da tara insana de perpetuação do poder, para qual esta serve para sustentar o outro.
O documentarista José Padilha tem tecido lúcidos comentários sobre o mecanismo de exploração da sociedade brasileira, a partir da operação lava-jato. Cita, entre outros argumentos, sobre as quadrilhas de fornecedores do Estado e dos prostitutos partidos políticos, através de seus afiliados; a abrangência desse mecanismo em todas as esferas do poder público, principalmente no governo federal; nos legislativos com a formulação de legislações indevidas a grupos empresariais dispostos a pagarem por elas; no Executivo operando via superfaturamento por empresas específicas de obras e de serviços prestados ao Estado e às empresas estatais.
Padilha cita ainda que o mecanismo tem captação, seleção, desenvolvimento e ascensão, tal qual toda facção criminosa, e quem não aderi-lo ou a ele se fidelizar não angaria recursos para o político se eleger nem reeleger; nesse rumo, o mecanismo é restritista quanto a pessoas inteligentes e honestas, posto que podem atrapalhar o negócio pela acuidade e pela probidade. Completa argumentando que a administração pública brasileira está alicerçada em acordos e conluios relativos à repartição dos recursos desviados pelo mecanismo, e as mudanças provocadas por um novo político só podem ocorrer se não ferir ou colocar em xeque o funcionamento do mecanismo.
Este ensaio do documentarista nos leva a enxergar que políticas públicas e práticas administrativas que possam levar ao crescimento e sustentabilidade econômica são incompatíveis com o mecanismo de exploração, pois gerará um Estado cronicamente deficitário e, embora o mecanismo não possa conviver com um Estado eficiente, ele também não pode deixar o Estado falir, pois assim morre também o mecanismo. Como as leis são feitas por congressistas corruptos, e os magistrados das cortes superiores são indicados por políticos eleitos pelo mecanismo, é natural que tanto a Lei quanto os magistrados das instâncias superiores tendam a ser lenientes com a corrupção.
Nessa barafunda, faz-me lembrar o discurso do ex-presidente Lula, em 17/07/2005, durante entrevista em Paris, reconhecendo na cara lisa o crime de caixa dois no país que governava: “O PT fez, do ponto de vista eleitoral, o que é feito no Brasil sistematicamente”. A corrupção, como se vê, virou técnica de gestão na seara pública brasileira. Tanto é assim que 12 anos depois dessa canalhice dita por este energúmeno, esse mesmo crime fora banalizado pela corte maior do país. É ou não é organizado esse jirau? Se é… *Administrador
Viva em paz – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho”. (Gandhi)É simples pra dedéu, cara. Por que ficar procurando a paz quando ela está em você mesmo? É só aprender a viver com ela, numa convivência sadia. Se você é dos filósofos que acreditam e dizem que o tempo não passa, problema seu. Lá no mundo racional, de onde viemos, não há unidade de tempo. Logo, o tempo não existe. Mas nós, aqui, ainda estamos rastejando. Então vamos aprender a viver a felicidade.Você vai envelhecer. Vou te contar um acaso. Só não vou dizer quem é o personagem, pra você não rir dele. Quando você estiver na idade dele, vai entender como ele se diverte com os acontecimentos da idade. Ele tem mais de oitenta anos de idade e sua esposa tem mais de setenta. Recentemente ela estava arrumando as coisas na cozinha e de repente gritou:
– Sinho!!… Nessas horas ele sai correndo para socorrê-la. Aí ela pediu:
– Por favor, abaixe-se aí e veja se encontra a panela preta. Aquela média. Ela sumiu. Só estão aqui a pequena e a grande. A média sumiu.Nessas horas ele não discute. Não discutiu, ajoelhou-se e com muito sacrifício começou a retirar panelas da prateleira de baixo, no balcão da pia. E tira panelas, tira peneiras e sei lá o que mais e nada de a panela aparecer. Balcão já vazio. O remédio era mesmo desistir. O que foi feito. Só que continuaram procurando a panela pela cozinha, geladeira, debaixo do fogão, até a canseira chegar e começar a lamúria. Onde aquela panela, daquele tamanho, teria se metido ou desaparecido? Ele se retirou e foi respirar no quintal. Afinal, na idade dele, ficar ajoelhado procurando uma panela na prateleira da pia não é fácil.Enquanto ele descansava e respirava debaixo daquela árvore grande, que não vai citá-la pra você não identificá-la, ela, a mulher, foi lavar a louça. De repente ela gritou, e agora mais apavorada: – Sinho!!!… Vem cá! Depressa!!Ele saiu quase correndo, apesar de já conhecer, por décadas e décadas, aquele alarme. Ele chegou, ela pôs as mãos cobrindo o rosto pra esconder o riso e falou apontando para dentro da pia:- Eu não acredito! O Quintella tem razão. Isso acontece com você.O cara deu um passo à frente, esticou o pescoço e olhou para dentro da pia. E lá estava a panela esperando pra ser lavada. Ele fez uma força titânica para não disparar o riso, olhou para a mulher tentando fingir que estava aborrecido, mas não resistiu. Foi respirar debaixo da árvore grande e procurar se lembrar de quantos episódios, iguais a esse, já aconteceram nas seis décadas de convivência. Pensamentos e recordações fizeram-no muito feliz. Pense nisso.
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