Opiniao 19 06 2018 6411

Histórias do tio Zé – Walber Aguiar*

Eu ponho fé é na fé da moçada, que não foge da fera e enfrenta o leão. (Gonzaguinha)

Podia ser um dia qualquer naquele verão. Podia fazer quarenta graus. Mas ele estava lá. Homem honesto e trabalhador. Homem que tirava um fio de bigode na hora de honrar a palavra dada. Muito melhor que o cartão de crédito e o cheque especial. Garimpou, desceu nos barrancos, tentou encontrar a riqueza de forma inusitada. Pedras e pepitas brilhavam em suas mãos, quando se tratava de sustentar a família. Lapidou o caráter como quem transforma pedra bruta em pedra de anel. Passou por muitos reveses na vida, mas conseguiu sobreviver a todos eles. Um dia a barra da vida se desprendeu. Mesmo assim, ele resistiu bravamente.

Lembro da tarde em que ele achou um pedaço de pau e uma gilete dentro de um pão. Peregrinou pela cidade com esse “presépio”, com todos esses artefatos. Foi à TV Roraima, que depois fez uma reportagem completa em sua casa, na velha Coronel Mota.

Ele podia ter ficado calado diante desse acontecimento estranho, mas resolveu denunciar em nome da saúde, do bem-estar coletivo.

Tio Zé também cuidou de canteiros. Teve paciência para semear e colher. É tanto que semeou muita gente por aí. Gente que não se acha num canteiro qualquer da vida. Casado com Dona Zélia, lapidou Paulo, menino que se deixou esmerilar pela força do Sagrado, do princípio bíblico. Outra riqueza deixada por ele foi Magno David dos Santos, o tricolor que seguiu na esteira de Paulo Freire, que se deixou envolver pela educação e seu enorme poder de transformação da realidade. No garimpo da existência ele deu brilho a tantas outras pedras. Deusdete, o “deusin”, Amadeu, o pedagogo, Nadir, a ternura em pessoa, Necy, a menina espontânea e cheia de amor pra dar. De Zé Chico também descendeu Nádia, a educadora, Nair, a funcionária pública, e Nelândia, a nossa “nequinha”. Doninha também faz parte dessa extensa prole, onde a vida parece não terminar nunca.

Todos nós vamos sentir saudade daquele banquinho debaixo do pé de coco, onde o vento batia com força, onde “Camiranga” tomou sete copos de cachaça, onde a turma se reunia para conversar coisas deste e do outro mundo. Sentiremos falta do babaçu e das mangueiras enormes, do cafezinho bom e do chiquerador feito de couro de boi.

Era um dia quente, um dia de verão, um dia para amar e sentir saudade. Adeus tio Zé, um dia a gente vai sentar debaixo de um coqueiro, tomar um café bem quente e lembrar de tudo o que valeu a pena…

*Advogado, poeta, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de Letras. [email protected]

Shopping dos patuás – Marlene de Andrade*

Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus; eu te fortaleço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha justiça. (Isaías 41:10)

Cristão não pode ir a uma “igreja” para participar de campanhas de curas e revelações entregues por alguns “pastores” em línguas estranhas, muito menos onde eles vendam amuletos da sorte, lenços “ungidos”, pedaços de pedras “santas”, água do Rio Jordão, estola sacerdotal, sal grosso, óleo “ungido”, canetas “ungidas” e ainda uma tal de fogueira santa, práticas essas, totalmente pagãs, devido ao sincretismo que se instalou no meio do povo de Deus.

Infelizmente, muitas pessoas vão à igreja querendo apenas a bênção e não o Deus abençoador e aí o culto passou a ser banalizado e nessa esteira a Palavra de Deus é usada totalmente em textos fora de contextos. Cadê o Culto Solene de adoração e o ensino da Palavra de Deus? Sumiu!

Todas as instituições, sejam elas Igreja Católica, Igreja Evangélica, Maçonaria, Centro Espírita, ONGs e entre outras, alcoólicos anônimos, precisam, é óbvio, de dinheiro para sobreviverem, porém essas instituições não podem se locupletar às custas dos seus membros. Tem igrejas que se dizem cristãs, porém existem para roubar à mão desarmada o dinheiro dos seus fiéis. A Igreja Católica que vendia indulgências, velas, braços, pernas, cabeças de cera e entre outros amuletos, pedaços da roupa de um “santo” qualquer, perde longe para essas “igrejas empresariais”. Muitas pessoas que vão assistir um culto nessas “igrejas”, ali acabam sendo enganadas, visto que os “pastores” conseguem tocar no emocional dos fiéis para extorquir dinheiro e outros bens materiais dos mesmos, com muita facilidade.

Onde na Bíblia está escrito que paletó de “pastor” e um copo de água em cima da TV têm “poder” para curar? Mas o interessante é que esses “pastores” não fazem paraplégicos e tetraplégicos andarem, surdos ouvirem, cegos enxergarem e mortos ressuscitarem, por que será?

Nesse viés, é bom questionar: o cristão pode dar calote e deixar de pagar suas contas porque entregou seu salário numa “igreja”, a pedido do “pastor”? Assisti a um vídeo de um “pastor empresarial” afirmando que Deus tem “obrigação” de nos atender quando somos dizimistas fiéis. Que pecado abominável! Nessas “igrejas” o povo faz “campanhas” e deixa seu dinheiro tão difícil de ganhar na maior ingenuidade possível.

Ninguém precisa pagar para ser salvo por Jesus Cristo e o culto deve ser simples, solene, onde o respeito, adoração ao Senhor e a pregação da Palavra de Deus se faz necessário do início ao fim. E tem mais: culto nada tem a ver com um terreiro de macumba, espetáculo de circo e entre outros, festa de Carnaval.

*Médica Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMT/AMB/CFM e Técnica de Segurança do Trabalho/SENAI. CRM/RR339- RQE339

Qual a diferença?- Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos haverá guerra”. (Bob Marley)

A diferença tão discutida e desvalorizada nunca foi tão acirrada quanto agora. Por que damos mais importância à cor da nossa pele e ao formato do nosso cabelo do que a nós mesmo? Confesso que fico decepcionado quando vejo personalidades reconhecidas virem à televisão protestar contra o preconceito racial. Ele nunca vai deixar de existir, enquanto você o alimentar. Quanto mais o alimenta, mais ele cresce.

Já falei do dia em que eu estava assistindo à televisão, na sala, em São Paulo, quando ouvi um barulho intenso de protestos, na Praça da Sé. Peguei o elevador, desci e fui até lá. Era um grupo enorme, de negros, protestando contra a lei de Cotas nas Faculdades. Adorei o movimento e permaneci ali até o final. Vi pessoas negras de alto nível cultural fazerem protestos excelentes com argumentos fundamentados na Cultura. Um protesto que, infelizmente, não foi muito além.

Vamos acordar para a racionalidade? Afinal de contas somos todos da mesma origem independentemente da cor da nossa pele. Só o desconhecimento faz com que ignoremos a razão das diferenças de cores. O que nos leva à discussão sobre a Educação. Enquanto nos sentirmos inferiores ou aceitarmos benesses pela diferença na cor de nossa pele, não temos como nos julgarmos superiores nem iguais. As cotas nas faculdades não são mais do que um certificado de inferioridade.

Somos o que pensamos. Então vamos pensar com racionalidade. Somos todos iguais nas diferenças. E por isso não devemos per
der tempo com inferiores que nos julgam inferiores. Afinal de contas, eles também são o que eles pensam. E por que pensar como eles? Corta essa. Mostre o que você realmente é fazendo o que você faz, da melhor maneira que puder fazer. E você sempre pode fazer o melhor no que faz. Sempre. É só aceitar que o horizonte nunca será atingido. Mas você deverá ir sempre em direção a ele. É assim que vamos fazendo o melhor no que fazemos independentemente da cor da nossa pele ou do formato do nosso cabelo.

Vamos parar com a infantilidade do protesto? O protestante nunca vai encontrar seu verdadeiro caminho. Acredite nisso. Ninguém é superior a você, e por isso você não é inferior a ninguém. Então, por que ficar perdendo tempo com aborrecimentos fúteis? Levante a cabeça, olhe para frente e vá em frente. É amanhã que você vai colher o que plantou hoje. Então faça o melhor que você puder fazer no que fizer no dia de hoje. No universo de onde você veio não há unidade de tempo. E é pra lá que você irá. Vai depender de você. Pense nisso.

*Articulista [email protected] 99121-1460