Opinião

Opiniao 19 07 2018 6603

As lições que a Tailândia nos deixou – Flamarion Portela*

Há poucos dias, o mundo vivenciou uma das situações mais trágicas e ao mesmo tempo comoventes dos últimos tempos. O caso dos 12 meninos e o técnico do time chamado “Javalis Selvagens”, que ficaram perdidos dentro da caverna Tham Luang Nangno, no norte da Tailândia, desde o dia 23 de junho, e só foram localizados após nove dias por dois mergulhadores britânicos, foi um exemplo para a humanidade.

A mobilização em torno do resgate, que só terminou no dia 10 de julho, com a montagem de uma complexa operação envolvendo mais de 1.000 pessoas, sobretudo mergulhadores, espeleólogos, médicos e vários outros profissionais, além de voluntários, foi uma demonstração de que, mesmo numa situação de tragédia, quando todos se unem em torno de um bem comum, a vitória é certa.

Além da união de todos, outro fato que chamou a atenção foi a atitude do técnico que acompanhava os meninos. Uma verdadeira lição de desprendimento, abrindo mão da própria alimentação para garantir que os garotos sobrevivessem por mais tempo.

Ekkapol Chantawong, de 25 anos, tem uma história de vida comovente. Foi o único sobrevivente da família, que morreu durante uma epidemia em 2003. Depois disso, passou uma década em um templo budista se preparando para ser monge. Fatores como o seu preparo físico e mental podem ter sido fundamentais para o controle emocional e psicológico do grupo e sua consequente sobrevivência.

Mas, que lição nós brasileiros podemos tirar desse episódio na Tailândia? O que primeiro me vem à cabeça é que parece que milhões de brasileiros estão confinados numa “caverna”, vivendo na escuridão e sem muitas perspectivas de sobrevivência.

Essa caverna onde os brasileiros estão presos não é de pedra, nem muito menos intransponível. Esses milhões de brasileiros estão trancafiados na escuridão do analfabetismo, na desnutrição de nossas crianças, em trabalhos insalubres e de quase escravidão, na falta de segurança, na falta de remédios nos hospitais entre outras mazelas, provocadas em grande parte pela corrupção e o desvio de dinheiro público.

A grande lição que podemos tirar de toda essa história comovente ocorrida na Tailândia é que precisamos de um esforço concentrado de todos para banir da nossa política todos aqueles políticos corruptos, que se apropriam do dinheiro público enquanto milhões de pessoas morrem à mingua.

Que o desprendimento do técnico dos Javalis Selvagens, a coragem dos garotos, a determinação dos mergulhadores, o poder de decisão das autoridades e o senso de humanidade de todos os profissionais e voluntários, nos sirvam de exemplo para que saibamos escolher os políticos que possam honrar os nossos votos.

*Presidente do Iteraima e ex-governador de Roraima

OS FEDERAIS – Luiz Maito Jr*

Queria aqui parabenizar os federais, por se importarem com o futuro, com a educação, pensar nos espaços vagos dentro da construção de pessoas dotadas de perspectivas. Sim eles que ao dizer – Venha, há espaço! Mesmo que desocupados, há espaço. Ah, esses Federais que teimam em não querer deixar ocioso o espaço, mas não é o espaço geográfico, que eles querem que sejam ocupados, deixados por motivos mil que nos atravancam o conhecimento. Os federais querem as carteiras ociosas ocupadas, os federais querem o conhecimento divulgado, os federais querem a diversidade ocupando os lugares onde não conseguimos chegar.

Como podem ver estou me utilizando de uma técnica corriqueira da grande mídia para que você possa ler o que estou escrevendo, utilizar uma imagem ou um título que remete a outro assunto de característica mais popular para falar de uma coisa que talvez não te chamasse a atenção, sim estou falando da polêmica da utilização das vagas ociosas nos cursos de graduação da Universidade Federal de Roraima por refugiados estrangeiros aqui em Roraima, em última análise um grito de alerta, há vagas ociosas, e elas devem ser preenchidas, e se os brasileiros não conseguem ou não podem por motivos vários ocupar, por que não oferecer dentro de um processo limpo a esses refugiados?

Estou tratando disso, porque o paradoxo acontece na nossa outra Universidade do Estado, a UERR tem tido um posicionamento diverso, ao perceber que as vagas ociosas estão acontecendo em vários cursos, tem cancelado vestibulares e até mesmo finalizando cursos de maneira permanente, vagas que nunca mais retornarão. Vagas que simplesmente deixam de existir, alunos aprovados no último vestibular foram impedidos de cursar a Universidade porque sobraram vagas demais, muito embora ele tenha conseguido preencher os requisitos mínimos exigidos para ingressar numa Universidade Pública. Então aqui neste momento brasileiros foram impedidos de estudar mesmo que essas vagas estivessem à sua disposição.

Lembro-me de uma manifestação desses estudantes tentando garantir seu direito conseguido de maneira regular, lembro-me de uma repercussão na imprensa, sobre isso, mas não me lembro de tamanha revolta com a usurpação do direto daqueles brasileiros que passaram nos vestibular da UERR, aqueles brasileiros ocupariam vagas ofertadas que por uma decisão da UERR simplesmente deixaram de existir, não é que ficaram ociosas, deixaram de existir, durante um ano pelo menos cinco ou seis cursos não terão estudantes em sala de aula.

Portanto é preciso celebrar nossos federais, porque eles sim têm uma perspectiva de futuro, uma perspectiva de olhar para um quadro irreversível, de que já não há mais só brasileiros por aqui, e que pelo menos uma geração, sim, essa, a nossa conviverá com uma diversidade cultural muito maior que conhecíamos a quatro ou cinco anos atrás, o processo não tem volta e em muito breve seremos algo que nunca fomos. E os federais estão dando o primeiro passo para que esse processo seja pacífico.

*Pós-graduando em História da Amazônia

Marinheiro de água doce – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Os negativos sentem-se como as pessoas na sua primeira viagem de navio: ficam enjoados o tempo todo”.

Tive um amigo, no Rio de Janeiro, que serviu na Marinha Brasileira por cinco anos, sem nunca entrar num navio. Quando já desiludido, surgiu a oportunidade de uma viagem para o exterior. O Brasil tinha vendido um navio velho, para um país vizinho, e meu amigo foi escalado para a equipe que levaria o navio. Foi sua primeira viagem de navio, no navio rebocado do cais da Marinha até o cais do Estaleiro, onde passaria por alguns pequenos consertos. O navio permaneceu por mais de um mês no cais do estaleiro, até que o comprador desfez o negócio e o navio foi desmontado. 

Meu amigo ficou terrivelmente decepcionado, desapontado e triste. Cinco anos de marinha e sua única viagem de navio fora de um cais para outro, num navio velho e rebocado. Aborrecido, ele afastou-se da Marinha. Demitiu-se e, coincidentemente, foi trabalhar no Estaleiro. Éramos colegas no escritório. Ele se sentava a uma mesa em frente à minha, do outro lado da sala. Ele usava óculos e sempre, pela manhã, ficava esperando aparecer algum trabalho, e olhando para a parede, por cima de minha cabeça. Era a cara do desânimo. O pessimismo em pessoa. 

Cearense de Fortaleza, ele adorava falar de sua terra.
Sempre que eu percebia que ele estava navegando na saudade, ia até sua mesa e batíamos um papo legal. Naquele dia ele chegou ao trabalho meio por baixo. Fui até lá e ele estava preocupado com um mendigo que dormia na porta de um bar nas proximidades do estaleiro. Ele criticou o prefeito da cidade, por não dar assistência aos mendigos. Depois de nossa conversa ele se atentou que não é bem por aí. Convenceu-se do meu argumento e acabou se tornando, não apenas um admirador meu, mas quase um devoto.

Aquilo me preocupou pra dedéu. A cara enjoada de pessimista mudava automaticamente quando eu chegava. Juro com sinceridade, preocupei-me. Até que um dia cometi mais um erro. Ele estava indo a São Paulo pela primeira vez e perguntou-me como pegar um ônibus para Ermelino Matarazzo, logo que descesse na rodoviária.

Àquela época eu conhecia aquele trecho como a palma da minha mão. Dei todas as dicas ao cara, ponto por ponto até o ponto do ônibus. Ele foi, deu certo, e quando voltou, aí sim, eu passei a ser “o cara”. Foi o maior sufoco. Separamo-nos quando saí do estaleiro para vir para Roraima. Nunca mais soube dele. Era um pessimista, derrotista, mas, um dos caras mais extraordinários que já conheci como amigo. Era como se minha amizade fosse uma religião para ele. E isso me preocupava muito. Pense nisso. 

*Articulista [email protected] 99121-1460