Memórias de um samaritano – Walber Aguiar*
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã Renato RussoTrês horas da madrugada. Uma figura atravessou a rua, caminhou na direção do posto médico. Barba por fazer, roupa simples, coração entregue ao silêncio da noite. Ele seguiu, matutando em seus pensamentos. Romeu não temia o desconhecido. Temia apenas a ingratidão de quem deveria amar, o desprezo de quem deveria acolher.
Depois de dormir no posto do Mecejana, ele enfrentou a fila e o mau humor de atendentes despreparados. Contudo, ele seguiu sua missão: levantar os feridos e humilhados, estimar os velhinhos e crianças, sorrir para os estranhos como se conhecidos fossem.
O dia amanheceu. Romeu esfregou os olhos e massageou o afeto. Esteve em paz consigo mesmo, carregou no coração a simplicidade e o desejo de ajudar, a vontade de transformar a dura realidade daqueles que não tem a quem recorrer nas horas da dor e do desamparo. Recusou ajuda, embora soubesse que também estava doente. Não trocava seus favores por dinheiro, mas recebia qualquer coisa que viesse sob o signo da generosidade.
Andarilho, tratou a todos com enorme carinho e gentileza. Sabia reconhecer um sorriso sincero. Fez amizade com todos, tratou de mano, mana, tio, tia, pai, mãe. Ele não precisava trair, mentir, enganar, se corromper, como fazem os homens públicos, que desconsideram os desgraçados fora do período de eleição. Ele vai fazer muita falta. Na hora do bom papo, da profundidade filosófica, da consulta a ser marcada pelos que não enxergam, não ouvem, não conseguem andar direito. Para aqueles de coração adoecido e mente confusa. Para os que frequentavam o bar do “Mineiro”, do “Bispo” e daqueles que caminhavam pelas ruas do Mecejana e Cambará.
Cansado de curtir e ser curtido pela solidão urbana, seguiu para o interior. À semelhança de Thoreau, filósofo americano que foi à floresta porque queria viver intensamente. Ironicamente, foi tragado por ela. Perdeu-se onde mais desejava se encontrar. Nunca mais retornou ao convívio de amigos e irmãos que amava.
Seu corpo foi coberto pelo barro vermelho do cemitério, sua alma leve voou para o céu dos samaritanos. Descanse em paz, meu irmão. Seu nome vai ficar entre nós como uma lenda viva. E, quando o vento frio da madrugada soprar no rosto dos velhinhos esquecidos, dos andarilhos errantes, dos bêbados e enlouquecidos pelo amor, alguém vai lembrar você com ternura, saudade e devoção. Tiau, um abraço…
*Poeta, advogado, professor de filosofia, historiador e membro da Academia Roraimense de [email protected] —————————————————–Blitz já! – Marlene de Andrade*Minha mãe tem 86 anos, porém é muito ativa. Ocorre que ela fraturou há mais ou menos 15 dias o colo do fêmur de sua coxa esquerda e isso a tem deixado muito triste, porém a mesma está jogando o jogo do contente conforme preconiza o livro Poliana Menina.
Por incrível que pareça ela está bem, mas o problema que está ocorrendo é que o plano de saúde dela não pôde operá-la ainda porque o hospital onde ela está internada não tem vaga na UTI.
Os governos constituídos desviam muito dinheiro da verba da saúde, porém o problema é números. Todos os dias ocorrem acidentes de trânsito em um número que nos deixam a todos perplexos. Não adianta colocar mil vagas na UTI, se o cidadão roraimense não se convence que as avenidas e ruas não são pistas de corrida. É inadmissível a pessoa correr e dirigir embriagado, contudo esse é o nosso dia a dia. Cabe então uma pergunta: cadê as blitz?
Apesar da fratura de minha mãe não ser grave seu médico ortopedista, Dr. Jesus, não quer e nem pode submetê-la a um procedimento cirúrgico sem que haja uma vaga na UTI disponível para ela no hospital onde a mesma está internada. Minha mãe está sendo muito bem tratada, mas cadê a vaga de UTI?
Gostaria também de falar acerca do número excessivo de venezuelanos e guianenses que à Boa Vista chegam para se internar no HGR. Sei que sou cristã e que nós temos que ter caridade com esses nossos vizinhos internacionais, mas se já estamos sobrecarregados e com os leitos sempre ocupados por que temos que recebê-los? Esses nossos vizinhos não pagam um centavo ao SUS. Alguma coisa tem que ser feita a esse respeito. Quando a UNIMED interna alguém no HGR, tem que pagar a conta ao SUS e por que os venezuelanos e guianenses não?
Quando me reporto aos venezuelanos e guianenses não estou me referindo aos que habitam aqui legalmente e sim daqueles que vêm de lá para cá para serem tratados aqui sem pagar um real sequer. É claro que não se pode negar socorro a nenhum de nossos semelhantes, sendo assim, penso que o presidente da Venezuela e o da Guiana deveriam pagar essa conta. Roraima já tem problemas demais para ter que atender toda a demanda desses nossos países vizinhos. É verdade que Deus nos manda amar ao próximo com a nós mesmos, porém cada país deve arcar com seus problemas, pois caso contrário o caos na saúde só vai piorar.
*Especialista em Medicina do Trabalho/ANAMThttps://www.facebook.com/marlene.de.andrade47——————————————————Palavras e pensamentos – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A palavra é o pensamento em ação, é a ideia que se materializa”. Falar corretamente não é exibicionismo nem vaidade. Você não precisa ser intelectual para falar bem. Basta que tenha recebido uma educação adequada que o torne consciente do seu dever com seu idioma. É questão de honra que todos nós, cidadãos, temos que respeitar. E por não respeitarmos é que nossa educação está no fundo do poço. O que ouvimos de barbaridades, por exemplo, pela televisão, todos os dias e horas, é preocupante. E o problema está no descaso com que a coisa é levada ao ar. É crime? Coisa nenhuma. Falamos da simplicidade com que a coisa é praticada, vulgarizando e desvalorizando nosso idioma. E, na simplicidade com que vemos isso, vamos naufragando na mediocridade diante de povos e países realmente cultos, civilizados.
Não leia isso como uma crítica, mas como um papo de alerta. Por exemplo: se um dos nossos repórteres nos disser que o show “é amanhã, à tarde, no Parque Anauá”, tudo bem. Ninguém percebeu o absurdo; e se percebeu não está nem aí. Mas se for a apresentação de uma banda norte-americana e o repórter não pronunciar o nome da banda corretamente, vai cair no balaio da crítica. Todo mundo vai rir e ridicularizá-lo por ele não saber falar o inglês corretamente. Afinal de contas é um repórter que está mandando seu recado para multidões. Recentemente li, ali na parede de um hospital, um poema que dizia: “Eu amo a Deus”.
Não estou querendo dar uma de gramático ou entendido na língua portuguesa. Minha preocupação é para onde nossa Educação está mandando a língua portuguesa. Os concursos, inclusive públicos, estão mais preocupados com o conhecimento da língua inglesa, pelos candidatos. E olha que não é ciúme meu, é preocupação com nossa Educação que está mais preocupada em reformar prédios de escolas, velhos e degradados, do que com a qualidade do ensino. Recentemente todos nós ouvimos, pela televisão local, um professor, em greve, dizer: “… eles ainda estão afastados, mas nós se unimos”. Tenho certeza que você também ouviu isso. Se era um professor de escola do interior, não importa nem interesssa. Era um professor.
Alguns anos atraz ouvimos, num debate político, um ex-governador e candidato ao governo, dizer: “Eu trago essas garotas do interior do nordeste para ensinar, porque para ensinar essas crianças do interior o professor basta saber ler e escrever”. Infelizmente ainda continuamos pensando assim em relação à Educação. Alguém já disse: “Pensarei e falarei unicamente o necessário, de forma correta e sempre construtivamente”. Pense nisso
*[email protected] 99121-1460
——————————————————-ESPAÇO DO LEITOR PONTESSobre a matéria “Moradores do Amajari ateiam fogo em ponte”, o leitor Carlos Araújo comentou: “Não é apenas a situação das pontes em Amajari que estão em péssimas condições. No Sul do Estado a situação ainda é pior. Lá ainda é mais crítica pelo fato de os produtores dependerem unicamente da boa trafegabilidade das vicinais e pontes para o escoamento da produção da banana no Município de Caroebe. Caso nada seja feito nos próximos dias, a situação também ficará crítica e os produtores terão problemas com relação à comercialização”.NOTA FISCAL O leitor L.V.S enviou a seguinte reclamação: “Ainda faltam algumas adequações, por parte dos comerciantes, para atender com eficiência os clientes sobre o cadastramento do CPF para a emissão da nota fiscal eletrônica. Neste final de semana, ao passar as comprar em um caixa de uma rede de supermercados, tive que enfrentar outra fila, pois o serviço só estava sendo disponibilizado em um único caixa. Ao invés de facilitar o atendimento, ficam dificultando”.ESTÁGIOEstagiários dos cursos de Direito e Serviço Social, que prestam serviço no Ministério Público do Estado, reclamaram que estão aguardando o pagamento da bolsa estágio desde o dia 08 de outubro, referente ao mês de setembro. “Até a presente data não foi informado quando o valor será creditado em nossa conta. Já procuramos a coordenadoria de estágio do órgão e as duas previsões do crédito foram informadas, mas nenhuma foi cumprida”, relatou um estagiário.CONCURSOAprovados no concurso público no Município de Normandia comentaram que o certame realizado em 2014 ainda está valendo, mas a prefeitura está ignorando a recomendação do Ministério Público do Estado, que estabeleceu, inclusive, prazo para que os concursados sejam chamados e o certame tenha continuidade. “No entanto, a prefeitura prefere continuar com os temporários, e não dá continuidade ao concurso público, chamando os aprovados”, relatou um morador.