Navegando Em Si Mesmo – Luiz Marcello de Almeida Pereira* A gente, hoje em dia, vive tentando encontrar um motivo para tudo, explicar pelo menos os acontecimentos que são importantes. É a maldição de Sócrates, que inventou a razão como panacéia universal. Mas obviamente tem coisas que não conseguimos explicar, que nos escapam por entre os tentáculos da racionalidade – o instrumento não é adequado, os critérios não se aplicam, a vida é maior que tudo que eu penso sobre a vida.Foi assim que eu assisti “Cast Away” (“O náufrago”, na tradução brasileira): espantado, sem instrumentos para entender todas as emoções que sentia. Confesso que sempre tive um certo preconceito contra o ator Tom Hanks – conforme a vida passa, mais me reconheço como um homem cheio de preconceitos e julgamentos irracionais, cada vez acho mais surpreendente que ainda possa falar alguma coisa inteligente.Voltando ao filme, saí do cinema incomodado. O que nos propulsiona à vida? Qual é a mola que nos leva a trabalhar, ler um livro, lavar a louça ou nos sentirmos apaixonados?No mundo civilizado e cosmopolita do personagem principal este tipo de pergunta simplesmente não se coloca. Vive-se pelo bem da empresa, a entidade que substituiu o clã e o Estado como fator de identidade dos grupos sociais e como fator de segurança na materialidade da própria existência do indivíduo. O sujeito contemporâneo cada vez mais depende deste tipo de entidade para manter a certeza da sua própria vida.Vivendo submerseAs religiões já estiveram sozinhas nesta função de garantir aos indivíduos que eles existem, elas fazem isto de dois jeitos muito importantes: reconhecendo em cada indivíduo um membro de seu rebanho e mostrando para eles os modelos de comportamento. Notem o mecanismo da coisa: se todos acham que eu tenho um papel a desempenhar, se Deus quer que eu repita os personagens passados e repassados pelos meus pais e avós, então eu existo enquanto represento estes papéis.Quando atuamos de acordo com os moldes tradicionais isto tem efeito sobre todo mundo ao nosso redor, inclusive sobre nós mesmos. É com base nestes modelos que nos tornamos inteligíveis, nossas ações são valorizadas e passamos a fazer parte do grupo. Toda a mitologia, tudo o que é verdade sobre a vida e a morte, todos os grandes feitos (bons e maus) preenchem minha vida de sentido e me impulsionam a fazer parte deste todo grandiloqüente.Com o advento da modernidade, o Estado e a história também passaram a desempenhar esta função junto com os mitos religiosos. O espírito empreendedor de Sílvio Santos; os exemplos dos grandes intelectuais, como Raymundo Faoro ou (dum jeito bem diferente) Ruy Barbosa; o talento de homens das letras como Carlos Drumond de Andrade ou Machado de Assis; até mesmo a vida privada de esportistas, atores, políticos e músicos; enfim, as grandes figuras do passado e do presente nos dão modelos de comportamento e enchem de significado nossas ações, da mesma forma que Aquiles fazia com os gregos.*Professor de Teoria Geral do Estado e Direito Constitucional na Universidade São Marcos, advogado e mestrando em Filosofia do Direito na PUC/SP, é editor do Jornal Bem Legal——————————-‘Lembra-te do dia de sábado, para o santificar’ – Dolane Patrícia*A Bíblia relata em vários momentos que existe um dia que devemos guardar. De todos os lugares das Sagradas Escrituras onde o sábado é mencionado, nenhum chama mais atenção do que os Dez mandamentos de êxodo 20.Os mandamentos, também conhecidos como “A Lei de Deus”, são na verdade uma cerca de proteção para que os seres humanos vivam mais felizes, amando a Deus e ao seu semelhante.Dentre os preceitos existentes, de acordo com o livro de Êxodo, capitulo 20, podemos destacar os seguintes: “Não terás outros deuses além de mim, não farás para ti nenhum ídolo, nenhuma imagem de qualquer coisa no céu, na terra, não tomarás em vão o nome do Senhor. Honra teu pai e tua mãe. Não matarás. Não adulterarás não furtarás. Não dirás falso testemunho contra o teu próximo. Não cobiçarás a casa do teu próximo, não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem seus servos ou servas, nem seu boi ou jumento, nem coisa alguma do seu próximo”.Podemos observar que a maioria das normas existentes começa com a palavra não. Entretanto, o quarto mandamento, constante no mesmo capítulo do Livro de Êxodo. traz uma expressão intrigante, senão, vejamos: “Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor, o teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os estrangeiros que morarem em tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou.”Assim sendo, quando frisamos que alguém precisa se lembrar de alguma coisa, é porque imaginamos que poderá se esquecer em algum momento. A expressão “lembra-te” deixa claro que havia a possibilidade dos filhos de Deus esquecerem desse mandamento. Não fosse assim, tal expressão não seria necessária.O Sábado é um dia observado por poucas religiões, destacamos aqui os Adventistas do Sétimo Dia. Eles guardam o sábado (separam), o consagram a Deus. Nesse dia não trabalham e nem estudam, para que dessa forma possam dedicar suas horas para adorar a Deus.Nesse dia, são realizados os cultos, além de visita aos hospitais, abrigos, procuram estar mais perto do seu criador contemplando as maravilhas de sua criação, através também da natureza. É como se fosse uma espécie de jejum do espírito, um dia para descansar de seus próprios problemas e atividades, para se dedicar a Deus e ao seu semelhante.Nesse contexto, eles entendem que os mandamentos devem ser guardados ou cumpridos, como forma de demonstrar amor ao próximo e àquele que nos amou primeiro. Entretanto, muitos dizem que após o nascimento de Jesus o sábado não deveria mais ser guardado. No entanto, os apóstolos guardaram o sábado mesmo após a morte de Jesus. É o que diz o livro de Atos, capítulo 13, versículos 42 a 44: “Ao saírem eles, rogaram-lhes que no sábado seguinte lhes falassem as mesmas palavras. Despedida a sinagoga (igreja), muitos dos judeus e novos convertidos seguiram a Paulo e a Barnabé, …e no sábado seguinte veio quase toda a cidade para ouvir a Palavra de Deus”.No livro de Lucas 4:16 está escrito: “Indo para Nazaré onde fora criado, entrou no sábado, na sinagoga, segundo o seu costume, e levantou-se para ler”.Ainda no livro de Lucas 23:54 a 56, está escrito: “Era o dia de preparação e começava o sábado. As mulheres que tinham vindo com Jesus da Galileia, seguindo viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então se retiraram para prepararem aromas e bálsamos, e no sábado descansaram conforme o mandamento”.O próprio Deus Abençoou o dia de Sábado. De nenhum outro dia, se diz: Abençoou Deus. (Gênesis 2:3). O livro de Marcos 2:27 destaca que “o sábado foi feito por causa do homem…”“A expressão o Sábado foi feito por causa do homem (genérico – ser humano) não diz que o Sábado foi feito para os judeus! Dia especial de comunhão entre o nosso Pai e nós que somos seus filhos, e entre os irmãos, e mais tempo para evangelizar os que ainda não fazem parte da família de Deus.” É o que destaca a TV Novo Tempo, Canal da Igreja Adventista que tem esclarecido muito a esse respeito.A Bíblia até hoje está lá, com a mesma expressão: “Lembra-te” do dia do sábado, para o santificar…”*Adventista do 7º Dia, advogada, juíza arbitral, personalidade da Amazônia e personalidade Brasileira, mestranda em Desenvolvimento da Amazônia Twitter: @DolanePatrícia_ You Tube: Dolane Patricia RR. Acesse dolanepatricia.com.br———————————-Volta pra mim… – Afonso Rodrigues de Oliveira*“A amizade é como as estrelas; não as vemos a toda hora, mas sabemos que existem”. (Marina de Almeida)Faz décadas que luto, não desesperadamente, mas luto, para voltar minha amizade com ela; mas ela não me dá bolas. De início eu não reclamava dela, mas ela percebia que algo estava errado. Sempre que nos encontrávamos eu ia até ela, abraçávamo-nos, eu saía e ela percebia que eu saía meio desconfiado. Mas o que ela não percebia era que eu saía desconfiado de mim, e não dela. O problema era, e estava, comigo e não com ela. Mas o tempo passou e nada mudou até que ela se aborreceu comigo e passou a me olhar com desdém.Não sei se você tem alguém ou alguma coisa que conviva nesse clima com você. Mas se você souber tirar de letra, fica legal pra dedéu. O importante é não criar ranzinzice; senão quem sai perdendo é você. Mas voltemos a papo da minha ranzinzice com ela, ou ela comigo, sei lá. Comecei aperceber nossa arenga, faz uns vinte anos. Época em que passei um período em São Paulo. Sempre que atravessava a Praça da Sé e entrava na Praça Cóvis Beviláqua, na esquina, ao lado da Catedral, há uma farmácia. Um dia percebi que quando eu passava por ali ela estava pertinho da porta e ficava me olhando. Encuquei-me, mas fiquei na minha. Na verdade, havia uma rixa entre mim e ela que eu, na minha doce ignorância, ainda não tinha percebido. Aqui em Boa Vista, meu encontro com ela não foi tão frequente, porque, ingenuamente, eu evitava. Mas mesmo assim, eu a evitava, embora nos encontrássemos vez por outra. E nos encontros percebi que ela sempre franzia a boca quando eu me aproximava. Em tom de zombaria, vez por outra eu me aproximava, abraçava-a, mas ela apenas me olhava desdenhosamente. Mas eu já estava acostumado ao descaso. Só me aborrecia com o fato de nunca ter tido, em todas essas décadas, a capacidade de satisfazê-la no meu abraço. Meu abraço, porque o abraço dela me satisfazia como resposta à minha ânsia.Ingenuamente imaginei que tudo tivesse terminado naquele dia, no encontro meu com o Dr. Getúlio Cruz, quando ele me disse que eu tinha engordado um pouco. Surpreso, com a observação, corri para me encontrar com ela. Mas quando me aproximei dela, ela me encarou como quem diz: lá vem o bobão. Mas não me intimidei. Parei, olhei pra ela, sorri, ela nem me deu bolas e eu a abracei. Foi o maior e melhor abraço que já dei nela em toda minha vida. E fiquei feliz, mesmo com a cara de desprezo que ela mantinha em relação a mim. E lentamente, ela me mostrou o número que desejei e me fez feliz; 51. Finalmente recuperei meus quinhentos gramas de peso. Pense nisso.*[email protected]
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