Convívio e falcatruas – Adilson Roberto Gonçalves*
O jornalismo de qualidade deverá criar e praticar os instrumentos para coibir as fake news, lembrando que boa parte dessas antinotícias tem origem nos próprios veículos de informação. Cabem uma reflexão e uma análise profunda em relação à decisão da Folha de S. Paulo de não mais publicar conteúdo no Facebook. A rede social, conhecida por “fakebook” e que tem o F de fofoca, perpetuará ainda mais a mentira e o boato. Informação jornalística de qualidade tem um custo e as pessoas estão fazendo a opção pela omissão. Uma vez que a crença em um fato já está estabelecida, não é necessária sua confirmação. Espero que a estratégia leve à maior busca pelo conteúdo, mas o real não é o ideal. A ciência tem introduzido as boas práticas de conduta e muitos artigos têm sido retirados – ou despublicados – em função de fraudes. Causa mal-estar e alvoroço, mas é melhor cortar na própria carne do que ter suas vísceras abertas por terceiros.
Como exemplo de que nem sempre o que é público é publicado, Carta Capital fez denúncia sobre o envolvimento de integrantes do governo federal – presidente à frente – em desvios no porto de Santos, questão que já se arrasta há um bom tempo. A enorme lista dos envolvidos em mais uma falcatrua e patacoada do governo que se apossou de Brasília é apenas indicação de que não vai dar em nada. A regra, nestes sombrios dias correntes, é tornar tudo tão podre que o roto se torna muito bom. Que se consiga manter a energia para continuar a apurar situações como essa. Ao mesmo o registro histórico estaria garantido, já que democracia e gestão pública foram às favas.
Em outro aspecto corrente, Veja fez uma edição sobre o convívio entre homens e mulheres. A reportagem foi feliz desde a capa, pois se tratam de regras a serem estabelecidas – e seguidas –, e não necessariamente de determinismo biológico. Da mesma forma que misturamos inadequadamente outras questões pessoais no âmbito público e profissional (religião é uma delas), a abordagem amorosa e sexual precisa ter seus limites.
A revista aproveitou a efeméride de seus 50 anos de existência. Assim, 1968 é o ano que não terminou. Das transformações mundiais restou-nos o AI-5, com ares de ressurreição nestes tempos incertos. Que aprendamos também com nossa história, iniciando pela consulta ao acervo da semanal – plasmada nesse mesmo ano – para não repetir os erros. *Pesquisador no IPBEN – Unesp de Rio Claro, membro da Academia Campineira de Letras e Artes e da Academia de Letras de Lorena
VENEZUELA
“QUEM TEM FOME, TEM PRESSA!” – Dolane Patricia*
“Quem tem fome tem pressa”, é o que dizia o sociólogo militante Herbert de Souza, que, dentre outras coisas, criou em 1994 no Rio de Janeiro, a organização não governamental Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e pela Vida.
“Não tem coisa mais indigna que a fome”, outra frase importante dita por Benedita da Silva, que já foi governadora e já morou na favela. Benedita já comeu apenas fubá puro no almoço e no jantar.
A situação dos venezuelanos ainda é pior. Durante anos o Brasil procurou combater a fome dos brasileiros, mas agora se depara com a situação em que vê pessoas jogadas numa praça tomando sol e chuva e se considerariam de certa forma até felizes, se tivessem fubá no almoço e no jantar!
Acontece que essa praça fica em Roraima, Extremo Norte do País, longe dos holofotes de Brasília. Estamos falando da praça Simón Bolívar, mais conhecida como “Trevo”!
Com a crise na Venezuela, milhares de venezuelanos fugiram da fome e vieram para Roraima, grande parte a pé, em busca de melhores condições de vida. Assim, houve um número imenso de venezuelanos que passaram a residir do outro lado da fronteira.
Alguns já afirmam sem mencionar dados oficiais, que somando os legais com os ilegais, os refugiados do país vizinho, quase já se iguala ao número de habitantes existentes na capital do Estado.
Nos sinais, nas praças, nos abrigos, nos igarapés, em toda parte se pode encontrá-los. Precisam de ajuda? Sim. De toda população, no entanto, as autoridades não podem dar as costas para as necessidades dos roraimenses. A vida dos moradores locais foi visivelmente afetada.
O que assusta é o silêncio das autoridades, das pessoas competentes, são crianças com fome e até bebês no sol quente, jogados nas ruas e nas praças, dormindo no chão. A população ajuda, mas até quando quem tem o poder vai se calar?
Foi noticiado que Filippo Grandi, o chefe do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados), ONU, comprometeu-se a pedir à comunidade internacional ajuda ao Brasil na questão dos refugiados venezuelanos. Mas o Presidente Michel Temer veio a Roraima e foi testemunha ocular da situação desses refugiados e o que mudou?
O Jornal do Comércio noticiou que “Grandi chegou ao Brasil ontem para uma viagem oficial de dois dias. Ele participará da reunião de consulta da América Latina e do Caribe sobre o Pacto Global para Refugiados, que está sendo discutido pelos estados-membros das Nações Unidas com o objetivo de enfrentar as crises humanitárias globais”.
O jornal informa que a ONU valoriza a cooperação com o Brasil e com os demais países latino-americanos e caribenhos em seus sistemas de proteção a refugiados:
“A América Latina e o Caribe têm sido um exemplo de solidariedade, hospitalidade e cooperação em relação a essas pessoas que fogem de conflitos, de perseguições não só aqui como fora da região”, declarou. O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Aloysio Nunes, reiterou, na abertura da Reunião de Consulta da América Latina e do Caribe como Contribuição para o Pacto Global sobre Refugiados, a disposição do Brasil em manter abertas as portas aos refugiados.” (grifei, sim eu grifei!)
São de Grandi as seguintes palavras: “Eu os parabenizo por manterem as fronteiras abertas, e gostaria de incentivá-los a manter. O Acnur está pronto a ajudar esses países e a simplificar os procedimentos. Continuem fazendo isso, respeitando as garantias e incluindo o princípio e o direito de solicitar asilo”. UOL
Dar os parabéns por manter as fronteiras abertas contemplando os fatos de longe é muito fácil, queremos ver medidas emergentes, queremos ver ação! Incentiva a manter? E fará o que para matar a fome e dar a eles um teto?
Enquanto as autoridades discutem e incentivam, é a população que tem ajudado a matar a fome dos refugiados, enquanto viajam para cá e para lá sem tomar nenhuma medida eficaz, mais venezuelanos chegam, sem ter a menor noção do que fazer de suas vidas, sem ter o que comer ou onde dormir. As autoridades são lentas, são omissas ao sofrimento e perda da dignidade de muitos venezuelanos.
Mas, não é apenas isso, a vida do roraimense foi afetada, não se pode mais sair nas ruas à noite, a violência aumentou, os hospitais estão lotados e a vida pacata dos moradores locais não é mais a mesma.
A situação dos refugiados venezuelanos, que têm entrado no Brasil deve integrar as discussões com autoridades em Brasília, mas é necessário partir para a prática, é necessário que as autoridades se envolvam com a urgência que o caso requer. Convidamos a ONU para vir até Roraima para entender porque a situação merece mais do que “discussões”.
Além disso, é necessário que o governo federal se prontifique a ajudar. Medidas serão tomadas para que passem pela fronteira com os documentos em dia? E depois? Vai usar esse documento pra quê? Pra emissão da certidão de óbito? Qual perspectiva existe para a multidão de venezuelanos que adentram o nosso País diariamente e se alojam nas ruas de Boa Vista? Vão redistribuir para outros Estados? Quando? Quantos já foram distribuídos desde que o Presidente Temer regressou para Brasília? Qual medida prática e urgente já foi tomada?
“Parabéns por manter as fronteiras abertas?” “Eu os incentivo a manter?” Venham morar na fronteira!
Milhares de pessoas passaram por essas mesmas fronteiras e estão passando fome no Brasil! Reajam, tomem medidas urgentes, saiam da mesmice, parem de falar e passem a agir!
“Quem tem fome tem pressa!”
*Advogada, juíza arbitral, mestranda em Desenvolvimento Regional da Amazônia, Personalidade da Amazônia e Personalidade Brasileira. Acesse: dolanepatricia.com.br.
Rumo ao futuro, arrastando o passado – Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Ainda há milhões e milhões de pessoas que ainda vivem em verdadeira preguiça mental. São as que não evoluem mental nem espiritualmente. Não conseguem pensar por si mesmas.”
Com certeza você não estará evoluindo enquanto não for capaz de pensar por si mesmo. Pensa que é feliz porque os outros lhe dizem como, e o que você deve pensar. Na verdade somos o que pensamos. Quando não sabemos pensar não sabemos viver. E é aí que embarcamos nas pirogas, muitas vezes furadas, dos que querem que pensemos como eles pensam que pensam. Simples pra dedéu. Na maioria das vezes nem percebemos que continuamos remando no barco do passado, tentando levá-lo para o futuro. A maioria das pessoas faz isso todos os dias a todas as horas, sem perceber. Até mesmo nos mais simples papos do cotidiano.
Conheço uma mulher maravilhosa de uma personalidade fantástica e cativante. Mas é o maior exemplo do que estou falando. Em qualquer conversa com ela, percebemos que ela não se desliga do passado nem um minuto, mesmo sem saber que está grudada ao passado. Recentemente, e propositadamente, registrei, na minha memória, uma conversa dela, que foi exatamente assim: “Sabe de uma coisa? Se fosse eu que fosse fazer esse trabalho, fazia assim, oh: eu tirava aquela árvore, mandava botar uma parede ali; tirava aquela forquilha e botava uma cobertura até ali. Depois tirava tudo isso daqui e mandava botar ali”. Deu pra perceber que ela viajou o tempo todo no passado do verbo, pensando em como construir o futuro? Analise quantas vezes você faz isso durante o dia, todos os dias. E acredite também, como isso prejudica seus planos para o futuro.
Como seres humanos em processo evolutivo, somos muito influenciados pelo negativo. Tanto que nos influenciamos facilmente pelo que pensamos, mesmo quando nem percebemos que estamos pensando. Simples pacas. É só prestar atenção. Por que temos que usar os verbos no passado quando estamos pensando no futuro? Você sabe que seu subconsciente é a maior força que você tem em você mesmo. E que ele é surdo, mudo e burro. Mas poderoso. É o verdadeiro deus que você tem dentro de você. E que você se comunica com ele através dos seus pensamentos. E estes estão no que você pensa e não no que você diz.
Dona Vitalina era uma mulher sem instrução, e que me ensinou coisas tão divinas quanto simples, como: “Quem muito fala, muito erra”. Cuidado com a coordenação do que você fala com o que você pensa. Seu falar pode muito bem estar influenciando no seu futuro. Nem sempre está, mas pode estar. Tudo depende de você no que você pensa e como pensa. Pense nisso.