Promessas x Realidade
Flamarion Portela*
É muito comum, em anos eleitorais, 0candidatos a algum cargo eletivo fazerem diversas promessas, com o objetivo de convencer os eleitores a votarem neles. Mas, todos sabemos, que muitas dessas promessas não chegam a ser cumpridas.
Existe, inclusive, a Lei nº 12.034, aprovada em 2009, que entre outras mudanças, prevê que candidatos a cargos do Executivo, como prefeito, governador e presidente, entreguem à Justiça Eleitoral uma plataforma ou plano de governo, onde devem estar descritas as ações que o candidato pretende executar ao longo dos seus quatro anos de mandato.
Mas, nem tudo que é prometido está nesse documento. Existem aquelas promessas que são feitas apenas para ludibriar o eleitor. São aquelas que, normalmente, se referem a algum fato ou problema que está sendo debatido no período eleitoral e o candidato aproveita para garantir que irá resolver a situação, de forma a deixar seu provável eleitor convencido de que ele será o “Salvador da Pátria”.
Tivemos, recentemente, dois casos, um em nível nacional e outro local, que demonstram claramente que nem todas as promessas de campanha são cumpridas pelos candidatos eleitos.
Durante sua campanha à presidência, o então candidato Jair Bolsonaro disse em várias oportunidades que reduziria o número de ministérios para 15. Porém, ainda em dezembro, antes mesmo de sua posse, já havia definido 22 pastas para a Esplanada dos Ministérios.
Por aqui, o então candidato ao governo do Estado Antonio Denarium disse que manteria todos os concursos em andamento e aqueles que já estavam em processo de aprovação. Mas, o que todo mundo viu foi, logo no começo de sua gestão, o cancelamento de quatro concursos (Setrabres, Sejuc, Polícia Civil e Polícia Militar), frustrando milhares de pessoas que investiram seu tempo e dinheiro na esperança da estabilidade no serviço público. A Justiça teve de intervir para que o governo voltasse atrás de sua decisão, mas mesmo assim, apenas aos da PM e da Setrabes será dada continuidade.
Esses dois casos emblemáticos, ocorridos logo no início da gestão do governador e do presidente, nos mostram que promessas eleitorais são consideradas mais intenções do que compromissos, até porque sempre dependerá de orçamento, da composição do Legislativo e de uma série de fatores que não são decisão, nem escolha da pessoa eleita, incluindo aí até a falta de conhecimento do próprio candidato com relação à real situação do seu município, do Estado ou do próprio País.
A população tem um papel muito importante, que é acompanhar e fiscalizar seus representantes e exigir que as promessas sejam cumpridas ou que sejam justificadas aquelas que se tornaram inviáveis.
Fiquemos de olho!
*Ex-governador de Roraima
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Você tem nome e identidade, você é alguém
Wender de Souza Ciricio*
Em 1994 morre, em acidente automobilístico, um dos maiores ídolos do País, Ayrton Senna, piloto de Fórmula 1, muito querido pela habilidade, carisma e visibilidade que dava ao Brasil lá fora. Nosso país parou, lamentou e chorou muito. Senna era um mito, ícone e um dos poucos que, fora daqui, apresentava um modelo mais simpático de Brasil. Pelas lentes de Ayrton Senna, o Brasil era apreciado e benquisto.
No mesmo dia que o Brasil chorava pela morte de Ayrton Senna no Rio de Janeiro, mais precisamente na Avenida das Américas, Barra da Tijuca, uma mulher morreu atropelada, seu corpo estendido no chão foi massacrado por vários carros que passavam por cima sem qualquer interesse em prestar socorro. Essa mulher foi reconhecida somente por meio das digitais. Tratava-se de Rosilene de Almeida, de 38 anos, que estava grávida e trabalhava como empregada doméstica.
Duas mortes, duas contradições e uma inquietação: o que precisamos fazer ou ter para que os outros nos percebam? O ser humano dotado de inteligência é também dotado de sentimento e vontades. Temos necessidade de sermos valorizados, vistos, tocados e amados. Larry Crabb, um notável escritor norte-americano, PhD em psicologia, retrata que as duas necessidades básicas do ser humano são segurança e significado. A primeira necessidade, de segurança, tem relação com o que comemos, onde nos abrigamos e o que vestimos. A segunda necessidade, significado, nos leva para o campo da valorização, de sermos aceitos, vistos e amados, porém amados incondicionalmente. Isso significa sermos amados independentemente de nosso status social, de nossa condição financeira, de nosso porte físico e de nossa nacionalidade, amados como somos, sem imposições e sem ter que se adequar ao padrão do outro. Enquanto tivermos que trajar a roupa que para o outro é a adequada, ter o linguajar que os agrada e se adaptar sempre ao que é externo a nós, não seremos completos e felizes. Viveremos no desespero em alcançar tudo que a sociedade impõe como belo ideal e agradável e seremos escravos em busca de uma felicidade artificial e sem o toque do que clama nosso coração. Ayrton Senna tinha, sem questionar méritos, o estereótipo do que a sociedade entendia como ideal e isso lhe dava significado e holofotes. Rosilene era apenas mais uma no meio da multidão, sem status e por isso morreu sem fazer falta. Luto e tristeza por um, indiferença e desprezo por outra. Ser humilde culmina, às vezes, em ser deixado de lado.
Existem muitas pessoas com o perfil Rosilene tentando ser Ayrton Senna. Tentam a todo custo chamar a atenção para si, lutam para suprir a necessidade de significado vivendo o que não são para serem aceitos e valorizados. Estão indo em academias para ter o corpo da atriz de cinema e de lutador de MMA, comprando em lojas o que não podem pagar para dizer que são gente. Muitos estão desesperados atrás de esteticistas, cirurgias plásticas e para isso vendem suas casas, contraem enormes dívidas e vivem uma vida que não lhes é própria simplesmente para terem holofotes e importância para os outros.
Ter corpo bonito, vida confortável, status e nome na praça não é de todo ruim, porém tem que se perguntar o motivo disso. Se for para ser aceito por outros, vou lhe avisando: isso um dia acaba. Não se pode condicionar a felicidade em ter que fazer o que a sociedade impõe como padrão de felicidade. Seja você, se aceite como é, lute por aquilo que faz bem ao seu coração e não ao outro. O outro, que suga de você o que você não é, um dia acaba, sai de sua vida e seu coração permanece, por isso lute por você e saiba que você tem significado, você é gente, é alguém mesmo que não tenha um padrão econômico gigante, uma beleza de parar o trânsito e o status de alguém de televisão. Se não acreditar em mim, pergunte a Deus, em oração, o que Ele acha sobre isso. Te desejo o melhor.
*Psicopedagogo, historiador e teólogo
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Como criticar alguém
Flávio Melo Ribeiro*
É bastante comum pess
oas criticarem os outros, porém quando são criticadas não gostam e geralmente tentam se justificar para salvar a sua imagem, ao invés de prestarem atenção no que estão lhe apontando. O interessante é que as empresas de sucesso gastam fortunas fazendo pesquisa a fim de saber a opinião dos clientes, já que sabem que a permanência no erro pode custar ainda mais caro. E em geral as pessoas desperdiçam uma consultoria gratuita, que é a crítica, para se tornarem melhor. No entanto, o problema pode residir na forma como a crítica é feita, fazendo com que o criticado se arme para não se sentir rebaixado. Sendo assim, tem alguma maneira de criticar alguém para que a pessoa reflita sobre si e agradeça por lhe apontar suas falhas?
A metodologia mais comum é iniciar a conversa com um elogio sincero de algo que a pessoa já faz bem feito. Isso serve para evitar uma reação refratária diante da crítica que será feita em seguida. A crítica propriamente dita inicia-se indicando a situação ou um ocorrido de forma breve e, logo após, aponta-se o objetivo, a meta ou o desejo que o outro gostaria de alcançar e que não está alcançando em função do seu respectivo comportamento. Dessa forma, chama-se atenção para um sistema de recompensa. Desde a infância aprendemos a nos orgulhar das vitórias, então sempre que se chama atenção para a pessoa conquistar algo que deseja e não está conseguindo, ela tende a se motivar e a escutar o que será falado.
Uma vez tendo a atenção do outro, está na hora de sugerir ações para que o mesmo alcance seu objetivo. O ideal é, ao citar as alternativas, complementar com exemplos, visto que nem sempre quem foi criticado sabe como fazer. Agindo dessa maneira, o criticado fica satisfeito, pois percebe que o que lhe foi apontado não foi contra a sua pessoa, mas uma forma construtiva de ajudá-lo na realização do seu projeto. Em vez de ficar chateado e querer se justificar, tende a agradecer e sai motivado a corrigir.
*Psicólogo – CRP12/00449
E-mail:[email protected],
Contatos:(48) 9921-8811 (48) 3223-4386
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Faça sempre por amor
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“O que se faz por amor sempre se faz para além do bem e do mal.” (Nietzsche)
Fazer por amor não significa uma dedicação específica. Só quando amamos a vida a vivemos plenamente. E viver plenamente é viver cada momento com amor. Você pode ser feliz sentindo-se feliz mesmo numa pequena observação. Vez por outra eu o observava levemente, daqui da varanda, sempre à tarde. Admirava-o e sorria com seu comportamento simples, no seu caminhar tranquilo. Até que um dia a vizinha, conversando com a Salete, falou sobre o comportamento dele, no caminhar pela praça. Interessei-me e prestei mais atenção.
Todas as tardes ele sai pela rua, entra na avenida, atravessa a pista, com o comportamento aparentemente humano. O movimento de carros não é tão pequeno. Ele para na calçada, espera os carros passarem, atravessa o asfalto e entra na calçada da praça. Caminha pela calçada e dá uma caminhada até o outro lado da praça, volta, faz o mesmo trajeto e atravessa a rua, novamente, mas em direção ao Espaço Cultural Plínio Marcos. Passeia pela calçada do prédio, circula pelas laterais. Sai da calçada, caminha pelo gramado, vai até a árvore perto da parede, faz xixi no pé da árvore e volta para a calçada. Volta em direção ao Centro de Saúde. Vai até a calçada do prédio, fica olhando para o prédio e volta. Faz o mesmo trajeto inicial e volta para sua rua.
Ele é um cachorro muito bonito. Mas, mais bonito é seu comportamento diário no passeio, como uma caminhada diária. E só aí verifiquei que ele mora num prédio localizado por detrás do onde moramos. Continuei observando-o na sua rotina. Comecei a admirá-lo. Todas as tardes, aproveitando que estou dentro de casa por conta das chuvas constantes, vou observá-lo na sua caminha e procedimento. Estes são os mesmos todas as tardes. Aí fiquei pensando por que será que nunca fomos tão atentos aos procedimentos dos animais que consideramos irracionais? Será que eles são? Ou será que ainda, como racionais, como somos considerados, ainda não somos capazes de entendê-los?
Depois que cheguei à Ilha, comecei a observar o comportamento dos cachorros pela praia. Às vezes, fico com receio de falar sobre eles, com receio que me julguem como um influenciável de mente vazia. Mas não é, porque não sou. Mas só agora comecei a observar o quanto o ser humano está se concentrando mais na existência dos animais irracionais. E, sobretudo, dos cachorros. Alguém já disse que eles, os cachorros, sabem exatamente quando você está com medo deles. Vamos prestar mais atenção, porque eles, os considerados irracionais, também estão na sua fase de evolução. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460