Opinião

Opiniao 21 04 2016 2317

Os Treze Trabalhos de Hércules – Ruy Chaves* Não me lembro se foi exatamente assim, mas meu amigo Hércules, o mais extraordinário herói grego, enfeitiçado pela deusa Hera, ficou completamente louco e matou sua mulher e seus filhos. Depois, para recuperar sua honra, recebeu do oráculo de Delfos a missão de realizar 12 trabalhos absolutamente impossíveis aos homens comuns.

A maior epopeia do universo começou com o Leão da Neméia, monstro que comia todo mundo, especialmente quem o enfrentava com espadas, lanças e flechas. Nenhuma arma era capaz de matá-lo, porque sua pele era impenetrável a não ser por suas próprias garras. Então, Hércules o estrangulou, tirou suas garras e cortou belo casaco que usou em muitas aventuras. Criada por Hera para matar Hércules, a Hidra de Lerna era uma terrível serpente-dragão com nove cabeças que regeneravam quando cortadas e que matava somente com seu bafo, mas Hércules ao cortar cada cabeça queimou imediatamente suas feridas impedindo que renascessem. A belíssima Corça de Cerinéia, chifres de ouro e pés de bronze, que corria mais que o vento e nunca se cansava, não foi páreo para Hércules que a perseguiu por um ano até capturá-la e levá-la nos ombros ao reino de Eristeu.

Capturar vivo o Javali de Erimanto, que devastava plantações inteiras, foi tarefa simples para Hércules, assim como limpar os estábulos do rei Áugias que acumulavam trinta anos de urina e de fezes de três mil bois: nenhuma dificuldade para desviar dois rios. Os trabalhos voltaram a esquentar e ele matou aves gigantescas com cabeças, asas e bicos de ferro, que interceptavam a luz do Sol, e em seguida humilhou o aterrorizante Touro de Creta ao montá-lo e levá-lo vivo a Euristeu. Depois, foi a vez de derrotar Diomedes, com seus cavalos que cuspiam fogo e que comiam estrangeiros que chegavam com as tempestades.

A saga continuou. Hércules venceu as Amazonas apossando-se do cinturão mágico da rainha Hipólita e, em seguida, matou o gigante Gerião, que tinha três corpos, seis braços e seis asas, e tomou seu rebanho que era protegido por estranhas criaturas, um cão de duas cabeças e um dragão de sete cabeças.  Sustentando o céu nos ombros no lugar de Atlas, após a morte do dragão de cem cabeças, Hércules colheu os pomos de ouro do Jardim das Hespérides e finalizou seus lendários trabalhos trazendo vivo, do mundo dos mortos, o seu guardião, o Cão Cérbero.  

Caríssimo amigo Hércules, socorro! Teus trabalhos estão incompletos. Precisamos absolutamente de teus super poderes. A situação no Brasil parece filme de terror, monstros por toda parte comendo gente, cuspindo fogo, muitos estábulos por limpar! São seres das trevas, traiçoeiros e venenosos, mais perigosos que o Leão e a Hidra, cabeças de cavalo e de touro em corpos de gente, bichos homens que correm como a Corça, devastam ainda mais que o Javali, que se apossaram até do Sol. Ajude-nos, amigão, no maior desafio de sua vida. Seu próximo trabalho dará muito mais trabalho que seus 12 trabalhos anteriores somados, super herói! Panta rei.

*Diretor na Estácio e da Academia do Concurso—————————Pano sujo – Vera Sábio*Às vezes, a gente coloca tantas palavras bonitas, busca citações de pessoas destacadas e encontra metáforas interessantes para relatar e embutir consciência a respeito do que é certo e errado, moral e imoral, honesto e desonesto etc., de acordo com nossa verdade. Porém, foi colocando em prática a tarefa simples, a qual aprendi na adolescência, a de limpar a casa, que de repente: “Eureka, descobri”!

Nos pequenos gestos também somos corruptos, pois independente do modo que cada um segure e passe o pano, a regra básica está em esfregar o pano no chão e sempre lavá-lo, com a certeza de que, mesmo o chão parecendo limpo, ele somente estará limpo quando não sujar mais o pano que o esfrega.

Todavia, a corrupção ocorre ao dizer que a casa está limpa, mesmo quando o pano ainda sai sujo. Este é um relato claro da política pela qual vivemos. Não tem como justificar o óbvio. A casa está suja e isto é um fato. O mesmo sabemos que a sujeira existe em muitos parlamentares como também em vários eleitores que gostam de ser iludidos e favorecidos.

No entanto, a receita para a mudança, para a limpeza, não é algo elaborado, algo difícil, algo genial. Todo ser humano sabe limpar uma casa e lavar um pano. Só precisamos admitir que isto, do pano ficar limpo, é uma necessidade urgente e essencial. Não será somente tirando a Dilma, mas se ela é agora a sujeira da superfície, só chegaremos a outras e mais outras sujeiras tendo um ponto de partida. O que precisamos é começar a limpar.

O começo é atitude de fortes, de pessoas que enfrentam os problemas, não apenas criticando, mais descobrindo soluções. Faça cada um a sua parte que quanto menos se espera a casa estará limpa.

“Intenção sem ação é ilusão. Tente e o poder lhes será dado” (Lair Ribeiro)

*Psicóloga, palestrante, servidora pública, esposa, mãe e cega CRP: 20/[email protected].: (95) 991687731———————————-Entre o justo o divino e o profano – Afonso Rodrigues de Oliveira*“Aquele céu azul que vedes nem é céu nem é azul”. (Padre Antônio Vieira)Minha janela, aqui no apartamento, fica no oitavo andar, num prédio pequeno de apenas doze andares. Deslumbra-me uma visão que nem é feia nem bonita; e é feia e bonita. Dependendo de como a vemos; adoro-a. Durante o dia divirto-me com o movimento constante das pessoas pelas calçadas feias da Rua Conde de Sarzeda. Abaixo da minha janela fica a Rua Oliveira. É, na verdade, uma ruela. Pequenininha onde, à noite, as crianças jogam bola. E assisto a casos engraçados, desagradáveis e até ridículos. Mas o que me importa mesmo é como me divirto e aprendo no que vejo.

Ontem à noite me senti realmente feliz, contemplando o cenário. Logo ali ficam quatro prédios que à noite irradiam uma beleza imensa, na iluminação; lá na frente fica o Fórum João Mendes; descendo a Sarzedas ficam, o Tribunal de justiça e o Museu da Justiça. Lá do lado direito fica Palácio da Justiça, avizinhando-se com a Catedral da Sé. O tribunal de justiça é um prédio exuberante. Todo vestido de vidro, durante o dia ele reflete as imagens de todos os prédios vizinhos. Além de ficar abraçando o Museu que foi construído ainda no século XIX.

Veja só a situação em que me encontro. Quando saio pela portaria do prédio, tomo a decisão: se saio para o divino, para o profano ou encaro a justiça. Explico: o prédio fica exatamente na divisa entre o divino e profano. Para a direita ficam as lojas e igrejas evangélicas; Para a esquerda, bares lojinhas e a entrada para o Glicério, onde o fumo e tudo mais de profano fazem a festa. Vou lá tranquilamente para comprar o pão e a banana. Quando saio para a direita contemplo os palácios da justiça e sorrio para a escultura dos dois garotos que sempre me encantaram na minha juventude: o jornaleiro e o engraxate. Eles ficam abraçados, na calçada do Fórum. O jornaleiro com os jornais debaixo do braço e o engraxate com a caixa de engraxar, pendurada ao ombro. Um estilo comum na primeira metade do século XX. Já falei deles várias vezes.

Por que perdemos nosso precioso tempo contemplando e nos aborrecendo com coisas que poderiam nos alegrar? O céu que vemos nem é céu nem é azul, mas o vemos no esplendor do azul. E é isso que nos faz feliz. A poesia está dentro de cada um de nós. Há os que a desenvolvem pelo lado triste da vida, e os que a espraiam pelas veredas da beleza eterna. Tudo depende do que decidimos; se devemos sair para o lado do divino ou do profano. A escolha é de cada um de nós. Estamos todos na mesma vereda que nos conduz aonde queremos ir. Pense nisso.

*[email protected]    99121-1460