Opinião

Opiniao 21 05 2016 2458

Uma questão de honra – Erasmo Sabino*Em qualquer atividade humana todos os atos devem ser balizados e sustentados por valores que regem a moral, a ética e os bons costumes, aqueles que trazemos do berço, que nos ensinaram nossos pais. Isso se chama educação familiar, transmitida de geração a geração, e que, pelo seu enraizamento, acaba sendo também o canalizador de todos os valores que compõem o comportamento geral de uma sociedade, de uma nação e dos seus patrimônios culturais.

Esses elementos são, igualmente, a base de todos os relacionamentos pessoais e, por via de consequência, dos atos que praticamos na vida profissional. Trago essas referências desde quando me dei por gente, já na primeira infância, por obra e graça de meus queridos pais, Severina e Chico Fumeiro, este já de eterna saudade, que nos deixou recentemente depois de 89 anos de uma vida exemplar.

Rememoro essas considerações para reforçar tudo o que tenho dito: ninguém se faz sozinho na vida. Só alcança estabilidade pessoal e profissional a partir da consolidação de seus conceitos morais. As consequências dessa trajetória são o crescimento na vida singular e o sucesso na vida coletiva, aquela que desenvolvemos no seio da sociedade à qual pertencemos.

Muitas vezes só muito tarde percebemos a força desses valores e quase sempre descobrimos o quanto eles fizeram falta quando tivemos tomar decisões críticas, quase sempre dolorosas, por envolverem seres humanos. Ou então quando nos damos conta de quanto bem podemos fazer ao agir com honestidade e lealdade, respeitando os direitos daqueles a quem, no mercado imobiliário, conquistamos como clientes. Pessoas que, por serem tratadas com a dignidade que merecem, acabam se fazendo nossas amigas e quase sempre por toda a vida.

Nestes meus mais de 35 anos de atividade empresarial sempre fiz questão de fazer dos ensinamentos que herdei dos meus pais a base de todo o meu comportamento, seja no plano pessoal, seja no plano do empreendedorismo. Foi assim que conquistei uma legião de clientes aos quais pude me dedicar como parceiro de negócios e exercer com muita responsabilidade a tarefa de lhes proporcionar oportunidades de aquisição de patrimônios que puderam se transformar em herança para várias gerações.

Mais importante, no entanto, foi fazer dessa relação uma questão de honra, sedimentando amizades que me tornam um homem rico, porque quem tem amigos tem o que a vida oferece de melhor: a grandeza de se saber que felicidade é algo muito mais que a assinatura de um documento de compra e venda.

*Empresário ————————————-Nem Dilma, Nem Temer – Jaime Brasil*De um lado, segundo notícias veiculadas, o Partido dos Trabalhadores divulgará uma resolução, a primeira depois do afastamento de Dilma, reconhecendo erros e fazendo autocrítica.

Pelo que li, o PT disse assumir que deveria ter priorizado as reformas política e tributária e que deveria ter insistido na democratização dos meios de comunicação. Segundo o documento, erros políticos e econômicos fizeram com que a direita se fortalecesse.

Mas, é claro. Será que não dava para ver isso quando eles estavam no poder?

Imaginem um governo que dá os maiores lucros aos bancos em toda a história, que dá incentivos fiscais às montadoras de automóveis e subsidia a nossa custa os baixos juros ao grande agronegócio. Que teve como ministra uma líder dos chamados “ruralistas”. Pense em uma governante que disse ter inaugurado “com orgulho”, ao lado de Katia Abreu, a desastrosa hidrelétrica de Belo Monte. Imaginem um governo que não fez a reforma agrária e que a custa da deterioração da educação e da saúde sustentou os especuladores da ciranda financeira, dando-lhes próximos 50% dos recursos de todo orçamento anual, enquanto a saúde não chegava a 5% e a educação a 4%. Imagine um governo que sustentou o tempo todo o tripé neoliberal, a saber: superávit primário (dinheiro para banqueiro), câmbio flutuante e meta inflacionária. Imagine um governo que manteve intacto o oligopólio midiático, não governou com o povo na rua, mas, sim, trocando favores com parlamentares e com grandes empresários. Some-se a isso a inexistência de uma política de Estado que tirasse o nosso país da eterna posição de exportador de matérias-primas, já que para isso teria sido necessário o investimento maciço em educação, ciência e tecnologia. Pois bem, você chamaria um governo como esse de um governo de esquerda? Eu não.

Os governos Lula e Dilma foram neoliberais do começo ao fim, de cabo a rabo. Claro que houve algumas políticas sociais compensatórias, mas que nem de longe apontavam para a construção de uma nova sociedade.

As políticas de compensação para os mais pobres fazem parte da estrutura neoliberal, eis que o desemprego estrutural causado pelo avanço de novas tecnologias que substituem o trabalho humano por máquinas exige dos governos providências que não deixem os mais desprotegidos sem nada, sob pena de uma convulsão social atrapalhar os lucros. Isso é básico. Tanto assim, que foi FHC, o neoliberalíssimo, quem começou com essas compensações na chamada campanha de Betinho contra a fome, incorporada em seu governo.

Além de neoliberais, os governos Lula e Dilma adotaram as mesmas práticas nefastas e antiéticas de seus antecessores, e, para garantir a chamada governabilidade todos os meios eram utilizados para se atingir a finalidade de se manter no poder.

Nesses 14 anos a histórica e mundialmente famosa desigualdade social brasileira, do ponto de vista estrutural, manteve-se intocada.

A autocrítica do PT vem tarde, muito tarde. E nada garante que será efetivada na prática, algum dia.

O PT e aliados deram as costas ao povo e se aliaram à burguesia. Agora a burguesia dá as costas ao PT e aliados.

Do outro lado, como eu havia dito em artigo anterior, está Temer eliminando intermediários entre a banca financista e o Estado Nacional. Nomeia os agentes dos banqueiros para terminar de saquear o que Collor começou a fazer, que FHC, Lula e Dilma continuaram, ou seja, Temer está lá, cercado por técnicos que pertencem, ou pertenceram, aos maiores bancos do mundo e do Brasil, e isso para transferir o que ainda resta de patrimônio público para os capitalistas, e para aprofundar a transferência de renda (via superávit primário) e de patrimônio natural (via grande agronegócio) para os mesmos especuladores. Os donos do mundo são poucos.

 Temer está lá porque o capitalismo se cansou de intermediários e busca aumentar os ganhos e acelerar a cumulação de riquezas nas mãos dos bilionários.

E não esqueçamos do magote de acusados e suspeitos que estão no front do governo Temer e que conta com o silêncio dos antes indignados contra a corrupção e com a malemolência dos noticiários da grande mídia. Independentemente do que Temer faça, a composição de seu governo é um desastre.

Só há duas maneiras de se governar: com o povo ou com os poderosos. O PT e aliados preferiram governar com os poderosos nesses 14 anos. Temer vem da plutocracia paulistana mais atrasada.

Portanto, nem Dilma, nem Temer. Eleições gerais e diretas já, isso sim, seria a solução imediata mais democrática. E não podemos esquecer de regras que evitem a imposição do poder econômico, como sempre ocorre, caso contrário serão sempre esses que estão aí a ganhar as eleições.

Precisamos é do povo no poder. O momento é delicado e de luta contra os desmandos de Temer, e muitos dos que estão lutando e resistindo agora, não estavam fazendo o mesmo contra medidas similares que Dilma tomou ou queria tomar, como é o caso do roubo dos direitos trabalhistas do ano passado e da reforma da previdência que querem nos empurrar goela abaixo.

Precisamos aproveitar esses momentos terríveis de avanço dessa direita desnuda e separar bem quem é quem.

É necessário resistir, mas resistir não é restaurar o que já sabemos que não resolverá as demandas históricas do povo brasileiro. Resistir é denunciar a catástrofe social que o neoliberalismo produz, venha de onde venha, inclusive quando vem disfarçado de “bandeira vermelha”. A Europa está cheia de “socialista” neoliberal. Aqui também.

Resistir é propormos uma nova sociedade, que não seja refém dos banqueiros. É negarmos esse sistema que reduz a existência à busca por mercadorias, que vê o ser-humano como algo a ser consumido pelo trabalho, enquanto é reduzido a mero consumidor.

Precisamos de um novo futuro, de novas lideranças, de uma nova ética, de uma nova política, de novos valores, de uma nova sociedade.

*Defensor Público——————————————Igualzinho ao dono – Afonso Rodrigues de Oliveira*“O mundo do comportamento humano é uma das poucas áreas que continua a operar com teorias e informações fora de moda”. (Anthony Robbins) Ali no início da Avenida da Liberdade, mora um mendigo, debaixo da marquise de um prédio velho e abandonado. Quando passo por lá à noite, normalmente ele está se aninhando sobre um montão de acolchoados e lençóis velhos, sujos e esfarrapados. Enquanto ele se prepara para se deitar, já está deitado, fora dos acolchoados e mais ao lado, um cachorro velho que é a cara do dono. Está sempre carrancudo. Não olha pra ninguém nem dá bolas a ninguém. Já passei por ali tarde da noite e lá estava ele, fiel e companheiro. Dia desses passei por lá, pela manhã e lá estava ele, desperto. Cabeça levantada e perscrutando o movimento da rua, enquanto o dono dormia a sono solto. E olha que já passava das oito de uma manhã tremendamente fria. Era um quadro feio numa beleza sutil. Um pintor habilidoso o eternizaria. Demorei-me pouco no supermercado e quando voltei o mendigo já arrumava os lençóis. E o cão estava lá, como se estivesse limpando a barra do dono. Foi aí que assisti ao fascinante. O mendigo jogou o lençol, não dobrado, mas embolado, onde deveria estar o travesseiro, e saiu; provavelmente à procura de algum banheiro de bar. Ao primeiro passo do dono, o cão, em um pulo, caiu sobre o acolchoado e se jogou com a cabeça sobre o lençol embolado. Encolheu-se, aconchegou-se, fechou os olhos e caiu nos braços do Morfeu. Parei e fiquei olhando. Não sei se ele dormiu, mas me pareceu estar pegando a palha.

Sempre que passo por ali, ele está lá. Mesmo quando o dono não está ele está vigiando os pertences. Afinal de contas, para eles, aqueles trens são tão importantes quanto os edredons dos granfinos. A diferença está nos donos. Não sei se seria bom. Mas muita gente teria muito a aprender sobre fidelidade, prestando atenção ao comportamento do cão para com o mendigo. Os dois são feios e paupérrimos. Porém, há neles, um quê que não sei o que é. Nem ninguém sabe. Mas, mesmo que aquela convivência não seja tão antiga nem venha a ser tão duradoura, o exemplo que ela transmite seria proveitoso à maioria das pessoas que não sabe ser solidária nem fiel. Recentemente passei por lá. O mendigo não estava. Mas o cão estava lá, deitado sobre os trapos e indiferente ao movimento intenso, de transeuntes. Ainda tentei, em vão, lhe chamar a atenção. Mas ele me ignorou. Acho que para ele o cachorro era eu. Dei no pé. Porque nem sou cachorro nem bobo. Mas passei o dia refletindo sobre o comportamento animal em relação ao animal racional. Pense nisso.

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