Canção Outonal das Folhas de Boa Vista
Daniel Severino Chaves*
Perdoa-me, folhas de Boa Vista, não posso esquecer de ti. Não chores, minha escolhida; não desanimes, quando a vida for luta renhida, pois não podemos viver sem ti: Vim para ser escritor neste mundo, e até do antigo jornal me perdi. Vivia em luta, uma vida que os escritores combatem, que os fracos abatem, digo das folhas do Caburaí.
Como escritor amamos o crepúsculo da aurora, a mansa viração que o bosque ondeia, o sussurro da fonte que a escrita serpeia, uma imagem risonha e sedutora. Nesta terra entre as estrelas brilhas, presa a meu sonho, sensível à beleza que és e não sabes, porque sempre me escutas mesmo que não te agrades. Como se lê num espelho, Pude ler nos olhos seus! Os olhos mostram a alma, que as ondas postas em calma, também refletem os meus.
Os fortes, os bravos, só podiam te exaltar, o que serviu pra tecer flores pelas areias do antigo Jornal, quando caiam chão. Na folhagem havia gente dormindo sobre o seu próprio coração. E, pois que eras uma menina, que meus brios revestiu; Paraguaçu já nasceste, tempo que não pude levantá-la! Choro dos primeiros momentos, pelo que por ti não fiz, valente sempre eras e na minha fraqueza eu sempre quis, hoje me sinto triste e também sei que sou feliz. Pelos vinte e cinco anos em tuas folhas e os trinta nos quadros de giz.
Sê duro guerreira, robusta, fragueira, brasão dos tamoios, na guerra e na paz. Perdoa-me, folha seca! Meus olhos fugaz, sem força estão, velando e rogando aqueles que não se levantarão. Porém se a fortuna, traindo teus passos, tu será a folha de outono voante pelo jardim. Deixo-te a minha homenagem, a seus trinta e cinco anos, sendo a melhor parte de mim.
Por mais que um tempo longe de ti pareça, tiveste sempre na minha lembrança, tiveste sempre na minha cabeça, sendo o vale da minha esperança. Em cismar, sozinho, à noite, mais prazer eu encontro às suas notícias ler; meu notebook esta conectado, em tudo que venhas escrever. A mensagem que eu te levava desprendeu-se e caiu de mim: e só talvez eu ainda viva dentro destas águas das escritas sem fim.
Te arroja nos laços, da notícia falaz! Na última hora teus feitos memora, tranquilo nos gestos, impávido, audaz. E vou por este caminho, certo de que tudo não será vão. Que tudo é menos que o vento, menos que as folhas do chão. Eu canto porque o instante existe, e a minha vida está completa de alegria e dor. Não sou alegre nem sou triste: sou apenas um poeta escritor.
*Homenagem do Pensador Prospectivista à Folha de Boa Vista, parodiando Cecília Meireles e a Gonçalves Dias.
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O Eu obscuro, o Eu patente: Oh, luta cruel!
Tom Zé Albuquerque*
Nas lidas do dia a dia somos chamados a todo tempo à tomada de decisões, seja de cunho pessoal ou em lastro profissional. E, sem restrições, o âmago de cada um de nós é instigado, e confrontado com as banalidades e os interesses artificiais do externo.
Ante esse dilema, resta-nos minimamente entender quais as melhores maneiras de procedermos atendendo aos nossos anseios e nossa satisfação sem, com isso, atingirmos negativamente ao semelhante. E então, um pilar extraordinário de estudo para esse foco chama-se Logosofia. Consta registrado no www.logosofia.org.br a definição “Logosofia é uma ciência nova, que revela conhecimentos de natureza transcendente e concede ao espírito humano a prerrogativa de reinar na vida do ser que anima. Apresenta uma concepção original do homem, em sua organização psíquica e mental, e da vida humana em suas mais amplas possibilidades e proporções”.
Em verdade, apenas em 1930 o tema ganhou força através do Pensador e Humanista argentino, Carlos Bernardo González Pecotche, para qual traçou os objetivos da Logosofia em: evolução consciente do Homem; o conhecimento de si mesmo; a integração do espírito; o conhecimento das leis universais; o conhecimento do mundo mental; a edificação de uma nova vida e de um destino melhor; o desenvolvimento e o domínio profundo das funções de estudar, de aprender, de ensinar, de pensar e de realizar. Observemos, nesse bojo, a predominância do Eu, da responsabilidade encarcerada ao próprio indivíduo, eliminando a costumeira mania nossa de culpar a outrem as nossas falhas, nossos defeitos.
Reconhecer as nossas intempéries pessoais a partir de comportamentos alienados e periclitantes não é tarefa fácil. A alça que alavanca o autoconhecimento pelo reconhecimento individual da fraqueza humana nos é afastada quando deixamos de ser, em essência, para utilizarmos os métodos sociais costumeiros, pela intolerância e tara em se superiorizar em qualquer ambiente, com qualquer pessoa. Ora, ancora-se na raça humana um direito inato de sermos nós mesmos e, por mais absurdo que pareça, abrimos mão dessa prerrogativa. A Logosofia nos conduz a buscarmos soluções em nosso íntimo, em exercitarmos a virtude em prol da sociedade, tal qual apregoa Pecotche, “A Logosofia prefere manter intacto o livre arbítrio, porque é bem sabido que cada qual há de responder sempre com firmeza aos ditados de sua consciência”. Auto superação é um termo crucial para quem batalha diariamente para a construção de um mundo melhor, pela equidade e pela visão totalizada universal; não é à toa que o método logosófico mira a aplicação à vida e o aperfeiçoamento das aptidões adquiridas, pois, proporcionando o enriquecimento da consciência individual. Ah, como são tristes as condutas humanas que degradam e aniquilam o bem. Ah, quão pobres são os procedimentos humanos que visam o regozijo pela prática do mal. Ah, como são dignas de pena as pessoas que para se sentirem melhores alvejam injustamente a hombridade dos semelhantes. Causa de tudo isso: ausência do “Conhece-te a Ti mesmo”, tal qual difundia o Pai da Filosofia moderna, Sócrates, há 2.400 anos “…se conhecermos a nós mesmos, também conheceremos os cuidados que deveremos ter para conosco; senão, não os conheceremos jamais”.
Acreditar que nossa labuta vigente beneficiará a geração atual é utopia. Mas aceitar a nossa missão espiritual em dotar o mundo de um ambiente mais favorável para as gerações futuras é algo impreterível… e confortante. Dessa forma, não nos iludiremos com o atual comportamento tacanho e infantil de muitos seres humanos que não se conhecem e apenas vagam como ovóides desvairados; em que mundo vivem, pois? Por inteligência e justiça, o Grande Arquiteto do Universo cicatrizou: “O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória”.
*Administrador
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Os sistemas geralmente vencem
Oscar D’Ambrosio*
Quantos filmes búlgaros você viu? Se a nossa curta existência terrena permitir, veja pelo menos um: ‘Glory’. Dirigido e escrito por Kristina Grozeva e Petar Valchanov e selecionado como representante do seu país ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2018, traz uma narrativa poderosa e muito próp
ria dos países em desenvolvimento. O protagonista, ferroviário, encontra uma grande quantia de dinheiro nos trilhos do trem e o entrega à polícia. Num país em crise, é transformado em herói nacional e recebe como presente um relógio de pulso da marca que intitula o filme. Antes da cerimônia, a organização do evento pede para ele retirar o relógio que utilizava, presente do pai. E aí começa o drama. O relógio pelo qual tinha imenso carinho é perdido pela responsável pelo departamento de relações públicas do Ministério dos Transportes. À medida que ele a pressiona para reaver o objeto, a funcionária oficial se descontrola. Os dois excepcionais atores conduzem essa história de sofrimento dentro de um sistema falido. O ferroviário, gago, mal consegue se comunicar. Marginal à sociedade, afunda na solidão e preconceito. A assessora, pressionada no trabalho e fazendo tratamento para ser mãe, funde seu lado profissional e mulher com dificuldade. A última cena, genialmente filmada, mostra que, ao final, os sistemas, por pior que sejam, geralmente vencem. E geram dor para todos.
*Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.
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A coisa tá preta
Afonso Rodrigues de Oliveira*
“Sempre considerei um mistério, a capacidade dos homens de se sentirem honrados com a humilhação de seus semelhantes.” (Mahatma Gandhi)
Que a Educação anda rastejando no Brasil já sabemos. O que não sabemos é até quando iremos nadar em águas turvas. As falas dos nossos candidatos, em todos os níveis, para os próximos quatro anos, têm sido decepcionantes. Eles estiveram e estão mais interessados em criticar e menosprezar. Uma baixaria decepcionante. Mas fazer o quê? Se formos analisar o despreparo dos brasileiros na política, veremos que estamos no patamar mais baixo da escada da cultura brasileira. Infelizmente não posso deixar de entrar neste assunto. Só quem viveu o início do desmando na política, a partir do início da década dos cinquentas vai me entender.
A bagunça que os sindicatos fizeram na indústria paulista, naquela época foi arrasadora. Dificilmente conseguíamos trabalhar uma semana inteira, sem paralisações nas fábricas. Na política só quem conheceu o Jânio Quadros, João Goulart, Adhemar de Barros e tantos outros que atuaram naquela época, percebe o que está acontecendo hoje. A balbúrdia nas campanhas eleitorais era exatamente como a de hoje. Mas não vamos debulhar muito, porque o espaço é restrito.
Não foi à toa que o então Marechal Juarez Távora disse, e eu vi e ouvi, pela televisão: “Quando os militares assumissem o poder neste País, terão que ficar, pelo menos, trinta anos….” E eles ficaram somente vinte e um anos.” Logo, é bom que sejamos mais espertos e paremos com esses nhem-nhem-nhens e blá-blá-blás, e façamos nosso papel de cidadãos, infelizmente ainda incipientes. Ainda vamos errar? Claro. O Bernard Shaw já disse: “O homem que nunca fez um erro, nunca fará nenhuma outra coisa.” Mas não é por isso que devemos continuar nesse erro absurdo da ignorância política.
Já estamos caminhando para as urnas. Na caminhada observe onde você está pisando. Não se esquecendo de que a maneira mais segura de se atravessar um campo minado, é ter a cautela de pisar exatamente sobre as pegadas dos que já o atravessaram. Temos muito a corrigir na nossa política. E tudo deve começar pela educação do eleitor. Vamos nos preparar para o voto, para podermos sair da polêmica hilária da urna eletrônica. Mas temos que nos educar primeiro. O que você conhece da história política no Brasil? Procure conhecer. Procure conhecer, pelo menos, o mínimo do seu direito de cidadão. Coisa que você nunca terá enquanto não for capaz de votar no voto facultativo. E este você só o terá quando cidadão, quando preparado e politicamente educado. Pense nisso.
*Articulista
99121-1460