Opinião

Opiniao 22 11 2017 5201

PEDOFILIA NO SEIO FAMILIAR – Dolane Patrícia* e Marcelo Freitas**

Micaela é uma adolescente hoje com 17 anos. Ela criou uma página no facebook para compartilhar sua experiência e ajudar pessoas que passam pela mesma situação. Ela conta como ocorreram os abusos sexuais praticados pelo seu pai biológico durante 12 anos.

Os abusos foram descobertos 12 anos depois, pelos professores de Micaela, que notaram que a menina tinha um comportamento incomum na escola. Pouco depois, ela e sua mãe deixaram a casa onde viviam em Buenos Aires e denunciaram o abusador, que ela chama de “assassino de almas”. A mãe descobriu tarde toda a história, e, apesar de acompanhar a filha nas terapias, não deseja ver o ex-marido preso por necessitar da pensão que ele paga.

Micaela conta que foi abusada sexualmente desde os quatro anos. “Ele tinha um gorila e uma ursinha de pelúcia, e me dizia que os dois eram noivos, e que ele iria me ensinar a brincar. Joguei Chicho, o gorila, longe mil vezes, na esperança que tudo fosse terminar“. Na página do facebook ela escreveu: Por Una Infancia Sin Dolor (“Por uma Infância sem Dor”).

No Brasil, o número de abusos sexuais infanto-juvenil é assustador, e continua aumentando. E no meio desses números, não é incomum encontrarmos casos em que o pedófilo é membro da família, indo na contramão do disposto no art. 227 da magna carta de 1988.

A família tem um papel de suma importância, o qual engloba proteger a criança de toda espécie de dor, no entanto, quando a violência acontece dentro da própria família, a criança muitas das vezes, prefere se calar a denunciar um parente próximo. Pesquisas apontam que, infelizmente, a maioria dos casos de pedofilia acontece dentro do âmbito familiar.

Uma pesquisa realizada pelo portal R7 de comunicações, junto à Secretaria Especial de Direitos Humanos, com a psicóloga Lis Arantes Radicchi, especialista em saúde mental, afirma que “existem alguns sintomas comuns da criança violentada, como insônia, falta ou excesso de sono, medo aparentemente infundado, pesadelos, tremores noturnos, ganho ou perda de peso, agressividade e atitudes como morder, chutar, gritar e chorar.”

Entretanto, a psicóloga ressalta que a presença desses sintomas não significa que a criança sofreu um abuso sexual. A psicóloga Lis fala que “Isso pode ser um sinal de qualquer tipo de violência ou distúrbio que ela vivenciou.”

A criança violentada nem sempre conta o que aconteceu, muitas vezes por medo, vergonha ou até mesmo sentimento de culpa, assim, carrega esse trauma pelo resto de sua vida. Nesse sentindo, é muito importante que a família preste atenção em certos sinais, que a família supervisione, converse e oriente a criança, pois quando abusadas, podem transparecer sintomas físicos e psicológicos.

Segundo De Mause (1975 apud GUERRA,1998, p.54), a violência contra crianças e adolescentes esteve presente na história da humanidade desde os mais antigos registros, em uma visão bastante pessimista:

Para a psicologia, a pedofilia é um tipo de parafilia ou pedossexualismo, ou seja, o pedófilo tem um transtorno, que o leva a ter interesse em crianças e adolescentes, geralmente crianças.

O ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) estabelece: “É dever de todos zelar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor”.

Mas a realidade do nosso país, infelizmente, ainda está muito distante do que o Estatuto almeja. Existem pessoas dispostas a comercializar crianças e adolescentes, ou até mesmo fotos e vídeos pornográficos destes menores, para que os pedófilos possam saciar suas fantasias.

Esses indivíduos também são punidos pela legislação, a depender de sua atitude, se ele comercializou material impróprio que continham cenas pornográficas com menores, ou se agenciou o encontro de uma criança com o pedófilo propriamente dito.

A Constituição Federal de 1988 assegura a proteção da criança e do adolescente contra qualquer tipo de abuso, em seu art. 227, § 4º: “A lei punirá severamente o abuso, a violência e a exploração sexual da criança e do adolescente.”

Quando os abusos praticados contra Micaela foram descobertos, após uma avaliação psicopedagógica, a mãe se separou do pai e o denunciou.

É por histórias como esta que precisamos falar sobre abuso sexual dentro da própria família. Micaela fez um blog para contar sua história e lá deixou registrada a sua dor, na esperança que outras vítimas fossem salvas:

“Ao meu progenitor que abusou de mim por anos, aos que querem que eu esqueça tudo e guarde silêncio, aos que foram cúmplices, aos que me deixaram sozinha quando fiz a denúncia, aos que não acreditam em mim, aos que negam o abuso sexual infantil, tudo volta. Vocês não sabem o que se sente e, por isso, preferem calar e olhar para o outro lado, mas a vida me fez olhar de novo nos olhos e, assim, tive oportunidade de perguntar por que não fizeram nada. Não nos vão calar! Nunca mais grito sem voz!”

*Advogada, Juíza Arbitral, Personalidade Brasileira, Personalidade da Amazônia mestranda em Desenvolvimento da Amazônia pela UFRR. site: dolanepatricia.com.br – whats 99111-3740**Marcelo de Freitas, Advogado, pós graduando em Direito Tributário

Quem somos e o que somos – Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Não existe preto, branco, nem amarelo. Ou dividimos a humanidade em mais de mil etnias e línguas, ou acabamos com a classificação por raças.” (Diogo Mainardi)

Cabe a cada um de nós saber o que fazer. E isso vai depender da nossa Educação. E o maior problema é que não estamos nem aí para a Educação. Preferimos continuar gritando e protestando contra a discriminação que é o maior exemplo da falta de educação. Nas relações humanas aprendemos que os superiores sabem que nunca alcançarão o patamar superior. Que nosso progresso está em como vivemos nossas vidas no caminho da imunização racional. E que tudo começa pela Educação. Então vamos nos educar para que possamos saber e mostrar o que somos no que somos.

Eu estava me preparando para esse papo com você quando a dona Salete me chamou para o almoço. O televisor estava ligado e o assunto no telejornal era o gasto abusivo do poder público com o dinheiro do cidadão comum. Aí fiquei na gangorra. Ou falaria sobre os gastos imorais na política brasileira, ou sobre o desgaste nessa discussão sobre negros ou brancos.

Almocei e vim para cá conversar com você. Aí resolvi misturar os dois assuntos, a meu ver, do mesmo saco furado. Ainda bem. Aí me lembrei do Gaston Bouthoul. Ele disse: “Reconhece-se um país subdesenvolvido pelo fato de nele ser a política a maior fonte de riqueza.” Não sei se você concorda comigo, mas pode haver coisa mais imoral do que o quanto gastamos, nós, simples cidadãos, para manter os grandes servidores do poder público? E eles são tão hipócritas que nem conseguem refletir que são simples servidores públicos, independentemente dos cargos que ocupam.

Mas não se desgaste com isso. Apenas amadureça e reflita sobre a responsabilidade que você tem com o problema. Pense em quem você é no que você é. Foi na Teia-2008, em Brasília, que me encantei com aquela faixa colocada na entrada do Museu: “Somos todos iguais nas diferenças.” E nunca seremos iguais enquanto ficarmos lutando pela igualdade. Só nos igualaremos quando aprendermos que temos que continuar no caminho da racionalidade buscando a superioridade, mesmo sabendo que nuca a alcançaremos. Porque é pelo caminho que aprendemos a caminhar.

Vamos mudar o rumo da história sabendo escrevê-la. O John Kennedy também disse: “A história depende de quem a escreve.” E se quisermos mudar a história temos que aprender a escrevê-la. E você pode fazer isso. Henry Ford também disse: “Se você acha que pode você está certo; se acha que não pode, está igualmente certo.” Nossa história vai depender de como cada um de nós a escrever. Pense nisso.

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