Opinião

Opiniao 22 11 2018 7273

A água não tem forma

Oscar D’Ambrosio*

O filme ‘A forma da água’, de Guillermo del Toro, parece ter sido feito como uma luva para a cidade contemporânea. O amor entre uma sedutora criatura fantástica, espécie de Iara masculina, presa em um laboratório dos EUA nos anos da Guerra Fria, e Elisa, faxineira muda com uma vida cotidiana sem maiores atrativos, torna-se um relicário.

A obra tem tudo para ser venerada, pois conta uma história de entrega entre dois seres que parecem estar muito além das vicissitudes contemporâneas, em que o discurso produtivo caminha ao lado da desconstrução das sensibilidades e onde a discordância é interpretada como resistência.

Contam que o escritor argentino Jorge Luis Borges, ao ser perguntado como se sentia ao assumir a direção da Biblioteca Nacional de Buenos Aires, respondeu apenas que havia se preparado a vida inteira para isso e que, ao ser chamado para dar uma palestra sobre William Shakespeare, apenas disse o nome do bardo inglês, se levantou e saiu.

Temos dois personagens que se encontram na plenitude por parecerem feitos para isso. Suas histórias anteriores, que pouco conhecemos, os formaram assim – diferentes; e fortes em suas aparentes fragilidades de prisioneiro e de empregada.

E eles também não precisam de palavras. A criatura misteriosa acorrentada numa piscina urra de dor ao ser torturada e Elisa não pronuncia palavra alguma. Mesmo assim, ambas comunicam um universo de possibilidades de entendimento do mundo. Seus não falares são inteligências do cotidiano a serem desvendadas. 

O filme nos lembra ainda o piloto Nelson Piquet em dois episódios. Ao ser perguntado sobre a quem dedica seu primeiro título mundial, disse: “A mim mesmo” e, certa vez, em uma entrevista que o incomodou, o filho tirou da tomada o cabo de luz dos refletores de iluminação.

Elisa e a criatura representam essa ambiguidade. Sozinhos por natureza, aparentemente não tem com quem contar. No entanto, para conseguirem realizar o seu amor, necessitam de três ajudas: um publicitário homossexual com desenhos vistos como ultrapassados perante a entrada da fotografia na área; um cientista russo, que coloca o conhecimento acima das rivalidades ideológicas, e uma colega faxineira que começa a descobrir que pode se libertar do estigma de ser mulher, trabalhadora e negra. 

Sim, a água não tem forma. A forma é dada por nós e por nosso conceito de humanidade, qualquer que ele seja.

*Jornalista, mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da Unesp, é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura.

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Roraima tem o maior índice de violência contra a mulher no País

Flamarion Portela*

Na semana passada, tratamos neste espaço sobre o crescimento da violência em nosso querido Estado de Roraima. Desta vez, voltamos ao tema, mas abordando um nicho mais específico: a violência contra a mulher. 

De acordo com o Atlas da Violência 2018, organizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), Roraima tem a maior taxa de homicídio de mulheres não negras do país. Para piorar o cenário, também fomos destaque no número de casos de estupro e morte de jovens. 

O levantamento aponta que a taxa foi de 21,9 assassinatos de mulheres não negras, contra 6,1 de homicídios de mulheres negras. Foram 25 mulheres não negras mortas no Estado, o que representa uma taxa de 10 homicídios por 100 mil mulheres. No Brasil, o total foi de 4.645 mulheres assassinadas.

Os dados são referentes a 2016, mas apontam uma crescente nos casos. Já havíamos atingido picos de assassinatos de mulheres em 2013 (14,8 por 100 mil habitantes), e em 2015 (11,4 por 100 mil habitantes). Nos demais anos, a taxa de homicídios de mulheres foi superior à taxa brasileira.

Um dado relevante apontado pela pesquisa, de acordo com informações dos relatórios da ONG Human Rights Watch e do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) é que do total de mulheres assassinadas no último ano, 14 foram indígenas.

Roraima também foi destaque negativo com relação a estupros. Segundo o Atlas, em 2016 foram registrados 1.468 estupros no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), mas somente 234 foram notificados à polícia. Isso demonstra que ainda existe um certo tabu ou mesmo receio por parte das mulheres em denunciar esses casos, muitas vezes, com medo de exposição. 

É importante lembrar que, embora os casos de homicídios acontecerem de forma recorrente, as ameaças lideram as denúncias de violência contra a mulher em Roraima. Os casos mais comuns, de acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública (Sesp), são as lesões corporais, injúria, difamação, calúnia, constrangimento ilegal, maus-tratos, sequestro e tentativa de homicídio. 

Desde a instituição da Lei Maria da Penha (Lei nº 11.340/06), temos observado um crescimento dos índices de denúncia de abusos e violência contra a mulher, mas é preciso uma conscientização ainda maior por parte delas, para que percam o medo de levar ao conhecimento dos órgãos de proteção, como as delegacias, a Defensoria Pública, o Ministério Público, os juizados e conselhos, os casos em que se tornaram vítimas.

Historicamente, as mulheres foram oprimidas ou vítimas de algum tipo de violência. É preciso mudar essa triste realidade em nosso Estado e em nosso País.

 *Ex-governador de Roraima

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Porque não doar um pouquinho da dedução do IR

Ranior Almeida Viana*

A Planejadora financeira CFP (“Certified Financial Planner”) e autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu Dinheiro”, Marcia Dessen, em sua coluna na última segunda feira (19), no jornal Folha de São Paulo, nos dá dicas importantes para doar parte mínima de nosso Imposto de Renda. Parte mínima, pois é permitido até 8% do que pagaremos ao leão.

Vamos fazer uma conta simples, por exemplo, quem recebe de R$ 1.903,99 até R$ 2.826,65 mensais, paga 7,5% de alíquota e tem dedução de R$ 142,80, ou seja, poderia doar até R$ R$ 11,42, parece pouco. De 2.826,66 até R$ 3.751,51, 15% de alíquota e tem dedução de R$ 354,80 e 8% é igual R$ 28,38.

Pagamos muitos impostos e se pudéssemos direcionar parte desses como é possível realizar, basta que saibamos escolher as instituições. A colunista explica os trâmites e critérios: “As doações devem ser identificadas por meio de depósito na conta-corrente da entidade, com o número do CPF do doador. Mantenha o recibo de doação com o número de ordem, seu CPF, a data da doação, o valor doado e o ano-calendário a que se refere à doação.”.

A quem pode se doar? Fundos de Amparo à Criança e ao Adolescente (Func
ad); Fundos de Amparo ao Idoso; Incentivo à Cultura (Fundo Nacional de Cultura) ou apoio direto a projetos e ações sociais cadastrados no Programa Nacional de Apoio à Cultura; Incentivo à Atividade Audiovisual (patrocínios e investimentos em projetos cinematográficos credenciados pela Ancine); Incentivo ao Desporto (doações ou patrocínios no apoio direto a projetos desportivos e paradesportivos previamente aprovados pelo Ministério do Esporte); Incentivo ao Programa Nacional de Apoio à Atenção da Saúde da Pessoa com Deficiência (Pronas-PCD); Incentivo ao Programa Nacional de Apoio à Atenção Oncológica (Pronon).

A quem diga com relação à doação para essas instituições: “não doarei, pois nunca sabe qual delas é séria ou não. Caí no conto da doação uma vez. Doei meu suado din-din a uma entidade e, pouco depois, foi revelado o escândalo do desvio”, se há indícios de desvio de conduta dentro destes fundos, concordo plenamente. Porém temos que acreditar sempre que existem pessoas e instituições sérias em que possamos confiar e afinal de contas dependendo do valor da dedução esse valor é irrisório.

*Sociólogo – CRP 040/RR. [email protected]      

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Brasil esse colosso imenso

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Enquanto a cor da pele for mais importante do que o brilho dos olhos, haverá guerra.” (Bob Marley)

Será que não estamos vivendo uma guerra cultural, cívica e até moral? Claro. A Educação está no fundo do poço. E vai continuar por muito tempo. E um dos maiores problemas é que continuamos a julgar a Educação como um problema apenas do ensino básico. Na verdade o problema começa aí. O número de faculdades cresceu assustadoramente em poucas décadas. Mas ninguém se preocupou com a qualidade no ensino nas faculdades. Recentemente ouvimos dados de especialistas preocupados com a saída dos médicos cubanos, que oitenta por cento dos médicos formados no Brasil, não sabem ler uma radiografia.

Há muitos anos estudos nos mostram, e nos dizem que oitenta e cinco por cento dos advogados formados no Brasil não conseguem exercer a profissão porque não passam no exame da OAB. E a verdade é que estamos mais preocupados com a futilidade na divulgação fútil. Acabamos de viver mais um feriadão. Pouca gente sabe do prejuízo que um feriado traz para o País. Mas o que isso importa para quem não se lembra mais do porquê dos feriados? Quem se lembrou, no dia 20 de novembro, feriadão, que o dia 19 de novembro foi o dia da Bandeira do Brasil? Qual o professor que lembrou para os seus alunos, a importância do dia 19 de novembro?

Já falei pra você que na década dos sessentas, um maravilhoso intelectual paulistano entrou com uma campanha, na televisão, para mudar a letra do Hino Nacional Brasileiro. E a alegação do sabichão era que a letra do Hino Nacional é clássica e os jovens não conseguem entendê-la. A verdade é que estamos negligenciando com nossa cultura. E, sobretudo, com nossa civilidade. E não vai ser fácil corrigir os erros que vêm se arrastando há décadas. Mas vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita. Mas não nos esqueçamos de que a Educação é a base de tudo. E ela deve começar no berço. Vamos parar de esperar que os professores eduquem nossos filhos. Isso não é função deles, mas dos pais. Ou educamos nossos filhos, ou eles continuarão sem condições de serem cidadãos de fato e de direito. A situação do Brasil está preocupante. Nossa história recente está decepcionante. Mas, cabe a cada um de nós corrigir as distorções. E isso requer maturidade e civilidade. Amor à Pátria e respeito ao Brasil. Tão importante quanto a cor da nossa pele são as cores da nossa Bandeira Nacional. Ponhamos todas as cores no cadinho da civilidade e seremos todos iguais nas diferenças. O respeito é confirmado no que somos e não no que queremos mostrar que somos. Pense nisso.

*Articulista

[email protected]

99121-1460